29 de maio de 2014 | N°
17811
EDITORIAL
COMO CONTERO BRASILICÍDIO?
O crescimento da taxa de
homicídios é o dado mais revelador de que a violência se dissemina sem
controles.
O Brasil está diante de um
retrato sem retoques de uma de suas mazelas históricas. É o estudo sobre
homicídios no país, segundo o qual a taxa de assassinatos em 2012 é a mais alta
desde 1980. Foram mortas 56,3 mil pessoas, uma taxa de 29 vítimas por 100 mil
habitantes.
É a comprovação da falência das
políticas públicas na área da segurança e das deficiências dos planos de
prevenção contra a delinquência e até mesmo da insuficiência de programas de
transferência de renda. O estudo do Sistema de Informações de Mortalidade, do
Ministério da Saúde, confronta os brasileiros com uma realidade que avanços
econômicos e sociais não conseguem mascarar e que está a exigir abordagem
urgente não só das autoridades, mas de todos os que se dedicam à compreensão
dos fenômenos relacionados com a violência.
Não há, no entanto, com o que se
surpreender. A pesquisa consolida dados alarmantes, que se repetem ano a ano, e
refletem uma realidade que está nas ruas. A sensação de insegurança amplia-se
na medida em que o Brasil se transforma num país violento, com índices de
homicídio comparáveis aos de cenários de guerra. Somente entre 2011 e 2012, o
número de assassinatos cresceu 7,9%.
De cada três crimes, em dois as
vítimas são negras. A crueldade que leva a morte, às vezes em circunstâncias aparentemente
banais, passa a crescer num ritmo maior em cidades do Interior. As migrações
fortalecem e, ao mesmo tempo, degradam novos polos regionais. O tráfico, o
acesso a armas, a impunidade e a banalização da resolução de conflitos com
mortes são apenas parte das explicações.
Tudo fica ainda mais assustador,
para quem tenta compreender a desconexão entre melhorias sociais e aumento de
homicídios, quando as taxas de assassinatos do Brasil são confrontadas com as
de outros países.
No Japão, o índice é de apenas
0,3 assassinato por 100 mil, ou seja, temos aqui uma taxa cem vezes maior. Na
comparação com vizinhos, como o Uruguai, também ficamos em situação vexatória.
Os uruguaios têm um índice de nove por 100 mil, mesmo que também venham
enfrentando aumento da criminalidade. Os gaúchos não têm com o que se consolar
– a taxa no Estado é de 21,9 por 100 mil.
O estudo não se propõe a indicar
soluções, e são conhecidas as análises sobre o esgotamento das ações na área de
segurança, incapazes de contemplar as mudanças estruturais no perfil da
criminalidade. O Brasil deve admitir, a partir de análises como essa, que suas
polícias estão superadas, que o sistema penitenciário faliu e que as
instituições, inclusive a Justiça, estão com a imagem abalada junto à sociedade.
As estatísticas sobre homicídios também desafiam os candidatos a formular
propostas concretas, e não mensagens vagas e genéricas, para que o país
enfrente uma situação degradante para uma nação que aspira ser potência
mundial.