26
de maio de 2014 | N° 17808
EDITORIAL
ZH
OS VALORES DOS
BRASILEIROS
Num
Brasil conturbado como o atual, só a sua população, majoritariamente
bem-intencionada, pode assegurar o melhor para a Copa e para o futuro do país.
A
proximidade da Copa tem intensificado nos países com seleções inscritas para o
certame a disseminação de recomendações para turistas que acompanharão os jogos
nem sempre coerentes com a realidade.
O
Brasil tem, sim, dificuldade de cumprir prazos de obras, carências sérias de
infraestrutura, criminalidade desenfreada, desigualdade social e doenças que já
deveriam estar há muito sob controle, além de enfrentar a insatisfação de
parcela da sociedade com os gastos impostos pelo certame.
O
país costuma também ser visto preconceituosamente no Exterior como paraíso
sexual. Assim como ocorre com a população de qualquer país, porém, os
brasileiros têm suas peculiaridades, mas não merecem ser julgados pelos
estereótipos, muito menos pelos erros de seus governantes.
Entre
as características indissociáveis da população, está a de saber aproveitar bem
seus momentos de lazer, além da paixão pelo Carnaval e pelo futebol. Ainda
assim, a imagem do brasileiro está longe de corresponder à de alguém deitado na
rede, como expôs recentemente uma publicação britânica. E, se a produtividade
dos trabalhadores deixa mesmo a desejar, essa é uma questão que não se deve a
razões culturais.
Os
brasileiros têm uma jornada oficial de trabalho superior à de muitas potências
europeias – e não poderia ser diferente numa economia que precisa gerar o
suficiente para fazer o país avançar. Durante as recentes greves no transporte
coletivo, trabalhadores reafirmaram que nem mesmo sem condução se resignam a
faltar ao serviço.
Se
há problemas de produtividade, é porque ainda falta à mão de obra brasileira,
de maneira geral, mais tempo de escola, por conta de descasos históricos de
governantes com a educação. A imensa maioria dos brasileiros não desiste também
de trabalhar, mesmo arcando com uma carga de impostos entre as maiores do
mundo, sem uma adequada contrapartida em serviços públicos eficientes.
Neste
ano, os brasileiros precisarão trabalhar 151 dias – até 31 de maio, antevéspera
da Copa –, só para pagar impostos, conforme o Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação (IBPT).
A
Copa não deve ser usada para enaltecer o país e sua população de forma ufanista
e idealizada, ignorando suas mazelas. Constitui-se, porém, numa oportunidade
para os brasileiros exibirem suas qualidades, que são muitas. Uma delas é a de
que é um povo trabalhador e cumpridor de seus deveres.
Num
Brasil conturbado como o atual, só a sua população, majoritariamente
bem-intencionada, pode assegurar o melhor para a Copa e para o futuro do país.
Os ganhos serão maiores com políticas continuadas de educação,
independentemente de quem estiver no governo.
EM
RESUMO