01
de outubro de 2014 | N° 17939
PAULO
SANT’ANA
Os rebanhos à mesa
O
fato é que não sou vegetariano, portanto me alimento de carnes de animais que são
sacrificados.
Minha
filha de 24 anos é vegetariana por não tolerar a ideia de comer carnes de
animais que foram sacrificados. Ela não aceita a ideia de comer carnes de animais
que sofreram para proporcionar a nossa delícia nas mesas.
Tem
alguma lógica o comportamento de minha filha. Para ela, a vaca foi feita por
Deus somente para fornecer leite. A galinha foi feita por Deus apenas para
fornecer ovos para os humanos, carne jamais.
Quando
eu sento à mesa, se vou pensar na origem daquele filé que me servem, deixo de
comê-lo.
Então
eu sento à mesa e não penso de onde veio aquela carne que estou comendo. Verdade
que me resta um peso na consciência: não estarei infringindo algum princípio
estabelecido por Deus?
Isto
tudo porque não há nenhum lugar da Bíblia que noticie que Jesus comia carne de
mamíferos. Na Bíblia, só existem as passagens em que Jesus se alimentava de
peixes, pães e mel. O que me faz crer que os peixes não sofriam sacrifício
quando eram pescados e levados à mesa. Será que não sofriam?
Em
parte, os vegetarianos estão cheios de razão. Na dúvida, temos de pensar que,
assim como Jesus se alimentava de peixe e mel, seria bem possível que só comêssemos
peixe e mel – e trigo –, sem necessitarmos cometer o provável sacrilégio de
comer carne de mamíferos.
Bem
que podíamos dispensar a carne sangrenta dos animais. Afinal, quem vive de
carne sangrenta são as feras, que, não pastando, são obrigadas a matar para não
morrer.
O
caso das feras não é o mesmo caso dos humanos: nós temos centenas de
alternativas para fugir do consumo de carnes sangrentas. Só não fazemos isso
para não seguirmos o exemplo de Jesus, que comia só peixes, pães e mel.
Assim
é que guardo essa culpa comigo ao comer carnes de mamíferos.
Quando
como um churrasco, minha culpa sobressai: fica-me a impressão de que só de uma
vez estou me alimentando de mais de um animal mamífero.
E
pensar que, ao contrário dos peixes, que teoricamente são essencialmente criados
pela natureza, os homens criam os rebanhos para devorá-los.
Sendo
assim, os homens cultivam nos campos o seu pecado.
Quando
avisto um rebanho no campo, sinto um calafrio: ele será inteiramente abatido
para a alimentação do homem.
Não é
uma maldade monstruosa?