12/10/2014 02h00
Ives Gandra Martins
Minhas irritações com a
presidente
Em 16 de março de 2011, publiquei
nesta Folha um artigo em que apoiava a presidente Dilma e seu vice, Michel
Temer –meu confrade em duas Academias e companheiro de conferências
universitárias–, pelas ideias apresentadas para o combate à corrupção e a
promoção do desenvolvimento nacional.
Como mero cidadão, não ligado a
qualquer partido ou governo, tenho, quase quatro anos depois, o direito de
expressar minha irritação com o fracasso de seu governo e com as afirmações não
verdadeiras de que o Brasil economicamente é uma maravilha e que seu governo é
o paladino da luta contra a corrupção.
Começo pela corrupção. Não é
verdade que, graças a ela, os oito anos de assalto à maior empresa do Brasil,
estão sendo rigorosamente investigados. Se quisesse mesmo fazê-lo, teria
apoiado a CPI para apurar os fantásticos desvios, no Congresso Nacional.
A investigação se deve à
independência e à qualidade da Polícia e do Ministério Público federais que
agem com autonomia e não prestam vênia aos detentores do poder. Nem é verdade
que demitiu o principal diretor envolvido. Este, ao pedir demissão, recebeu
alcandorados elogios pelos serviços prestados!
Por outro lado, não é verdade que
a economia vai bem. Vai muito mal. Os recordes sucessivos de baixo crescimento,
culminando, em 2014, com um PIB previsto em 0,3% pelo FMI, demonstram que seu
ministro da Fazenda especializou-se em nunca acertar prognósticos.
Acrescente-se que também não é
verdade que controla a inflação, pois, se o PIB baixo decorresse de austeridade
fiscal, estaria ela sob controle. O teto das metas, arranhado permanentemente,
demonstra que a presidente gerou um baixo PIB e alta inflação.
Adotando a pior das formas de seu
controle, que é o congelamento de tarifas, afetou a Petrobras e a Eletrobras,
fragilizando o setor energético, além de destruir a indústria de etanol, sem
perceber que desde Hamurabi (em torno de 1700 a.C.) e Diocleciano (301 d.C.) o
controle de preços, que fere as leis da economia de mercado, fracassou, como se
vê nas economias argentina e venezuelana, que estão em frangalhos.
O mais curioso é que o Plano
Real, que tanto foi combatido por Lula e pelo PT, é o que ainda dá alguma
sustentação à Presidência.
Em matéria de comércio
internacional, os governos anteriores aos atuais conseguiram expressivos saldos
na balança comercial, que foram eliminados pela presidente Dilma. Apenas com
artimanhas de falsas exportações é que conseguiu obter inexpressivos saldos. O
"superavit primário" nem vale a pena falar, pois os truques contábeis
são tantos, que, se qualquer empresa privada os fizesse, teria autos de
infração elevadíssimos.
Seu principal eleitor (o programa
Bolsa Família) consome apenas 3% da receita tributária. Os 97% restantes são
desperdiçados entre 22 mil cargos comissionados, 39 ministérios, obras
superfaturadas, na visão do Tribunal de Contas da União, e incompletas.
Tenho, pois, como cidadão que
elogiou Sua Senhoria, no início –para mim Sua Excelência é o cidadão, a quem a
presidente deve servir–, o direito de, no fim de seu governo, mostrar a minha
profunda decepção com o desastre econômico que gerou e que me preocupa ainda
mais, por culpar os que criam riqueza e empregos em discurso que pretende, no
estilo marxista, promover o conflito entre ricos e pobres.
Gostaria, neste artigo –ao
lembrar as palavras de apoio daquele que escrevi neste mesmo jornal quase
quatro anos atrás–, dizer que, infelizmente, o fracasso de seu projeto reduziu
o país a um mero exportador de produtos primários, tornando este governo um desastre
econômico.
IVES GANDRA DA SILVA
MARTINS, 79, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra