13
de novembro de 2014 | N° 17982
ARTIGO
- LUIS FELIPE SALDANHA*
DEFININDO UM IDIOTA
Não
costumo me manifestar sobre a opinião alheia com adjetivos da mesma família que
idiota e burro, porquanto não me parece socialmente proveitoso criticar ideias
dessa maneira. Prefiro deixá-los para as partidas de futebol, em que não fazem
real diferença. No entanto, as asseverações que se espalham pela volta da
ditadura militar me levam a reconsiderar a utilidade desses termos.
Todo
somos ignorantes em algo. René Descartes dizia que daria tudo o que sabe pela
metade do que ignorava. Eu não ousaria tal escambo, uma vez que amo o pouco que
sei, mas existe uma sabedoria valiosa em reconhecer que o mundo é maior do que
aquilo que temos dentro de nossa própria massa cinzenta. Idiota, portanto, é o
sujeito, ou grupo, que acredita veementemente que a sua maneira de ver é a única
plausível.
Existe,
porém, outro tipo de idiota: aquele que, no desespero de mostrar a
superioridade de suas ideias, destrói a si mesmo. O suicídio intelectual é pior
do que o físico. Este ainda pode tentar se justificar, por uma causa psicológica
ou cultural, mas aquele nem ao menos pesou o absurdo que é intentar contra a própria
existência. Alguns afirmam que as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki
nos livrou delas durante a Guerra Fria.
Outros,
que a intervenção militar em 64 salvou o Brasil de uma horrível ditadura
comunista. Entretanto, embora seja lógico que o horror da explosão gerou receio
em usá-las de novo, nunca saberemos o que aconteceria se a II Guerra tivesse
terminado de maneira diferente. A História não pode ser analisada por suposições.
Ao
gritar pela volta da ditadura militar, os idiotas não estão sustentando uma
explicação histórica, mas clamando por uma mordaça sobre o próprio pensamento. A
ditadura não defende o que uma parcela do povo pensa. Ela defende a si mesma. Talvez
a bomba atômica tenha livrado o mundo da bomba atômica, contudo não consigo
imaginar dois japoneses em qualquer época da História ostentando uma faixa com
os dizeres: “Explodam a bomba aqui outra vez, salvem o mundo da guerra”. Não
precisamos de outra bomba, nem de outra ditadura.
*Estudante
- LUIS FELIPE SALDANHA