26
de novembro de 2014 | N° 17995
J.A.
PINHEIRO MACHADO
Sobre a grandeza e a miséria
No
governo Prudente de Moraes (1894-1898), muitos aliados que o elegeram sentiram-se
traídos pela atuação política do nosso primeiro presidente civil, inclusive o
senador Pinheiro Machado, líder dos republicanos. Alguns descontentes, então,
articularam um plano para depor Prudente e foram oferecer ao senador Pinheiro a
chefia da conspiração, já apoiada pelo Exército, em prontidão, pronto para o
golpe de Estado. Ele seria o presidente no novo governo. Entretanto, a reação
do senador foi surpreendente. Embora desafeto e opositor de Prudente de Moraes,
repeliu com severidade o plano dos amigos:
“Sou
contra! Esse golpe de Estado vai ferir mortalmente nossa jovem República. Governos
são passageiros. Mas as instituições são permanentes e, por isso, devem ser
respeitadas, mesmo com os maiores sacrifícios”.
Os
visitantes não se conformaram com a posição do líder e disseram que não
poderiam voltar atrás: iriam em frente sem ele.
O
senador ficou indignado: “Muito bem. Já que não querem atender à razão, fiquem à
vontade. Podem ir tentar depor o governo. Eu irei, já, postar-me à entrada do
palácio presidencial, como guarda da lei, em defesa da autoridade constituída,
e ali cairei, cumprindo o dever republicano de defender a democracia”.
Só então
os conspiradores recuaram e desistiram do golpe. “Foi uma aula de boa política”,
reconheceu um deles, depois. Prudente de Morais continuou a governar, portanto,
graças a Pinheiro Machado, que, mesmo contrariado com seus atos, optou pelo
respeito ao Estado de Direito.
Pouco
tempo depois, ocorreu um atentado contra o presidente Prudente, que saiu ileso,
mas resultou na morte do ministro da Guerra, general Machado Bittecourt. Para
surpresa geral, o presidente não hesitou em apontar o senador Pinheiro Machado
como “suspeito número 1” ,
determinando sua prisão. Mas as investigações, em seguida, apontaram a evidente
inocência do senador, que foi solto. Ficou clara a insólita “vingança”: o gesto
anterior do seu adversário, impedindo o golpe de Estado e salvando-lhe o
mandato parecia imperdoável. Causara desconforto ao orgulhoso Prudente de
Morais. Toda a grandeza e toda a miséria da condição humana...
Esse
fato reforçou o ceticismo do senador Pinheiro diante da gratidão das pessoas. Certa
vez, alguém lhe contou que em São Luiz Gonzaga um vereador andava falando mal
dele. O senador, surpreso, respondeu:
“Falando
mal de mim? Mas como!? Eu nunca fiz nenhum favor a ele!”.