17
de novembro de 2014 | N° 17986
MARCELO
CARNEIRO DA CUNHA
A INFÂNCIA QUE A GENTE NÃO TEVE
Se
você está lendo esta coluna, chances há de que você seja um adulto. Se você é adulto,
cresceu em um mundo dominado pela televisão e pelo cinema, no qual o
videocassete (se você é beeem adulto) e o DVD (se você é razoavelmente adulto) surgiram
como alternativa ao tempo linear e independente da vontade da TV.
As
crianças de hoje crescem em um mundo radicalmente diferente, no qual o tempo
das coisas é o delas. Os bebês já sabem que existe YouTube e Netflix antes
mesmo de andar e sabem que ali há conteúdo criado especialmente para eles. Para
sorte das crianças e de adultos que se assustam vendo Galinha Pintadinha,
existem séries como a adorável Pingu.
Pingu
e sua família são pinguinzinhos em uma Antártica curiosamente parecida com uma
cidade de qualquer parte do mundo sem gelo. O pai de Pingu é um carteiro, por
exemplo, e o avô toca acordeom. Pingu é um menino levado, ou seja, um menino e
apronta as suas peraltices ao lado de sua amiga, a foquinha Robbie.
Para
aumentar ainda mais a taxa de fofice, a série é animada em massinha de modelar,
e resistir impossível é. Como no melhor do cinema mudo, as palavras são
desnecessárias, e a língua falada por eles é foquês antártico, praticamente um
esperanto que todos entendemos.
Pingu
navega pelo universo infantil de um modo tão encantador quanto autêntico. Foquinhas
podem ter seus momentos bonzinhos e momentos mauzinhos, e o que conta, no
final, é que a gente se identifica e curte, ri, sorri e derrete, qual boneco de
neve ao sol.
Se
você tem uma criança por perto, ou por dentro, aproveite o que o Netflix tem, e
curta seus momentos encantados pela foquinha mais mal amestrada do mundo e
lembre que a sua infância tinha seus pontos legais, mas a atual não fica atrás.
A infância se reinventa, e hoje ela ainda por cima escolhe o que ver, e quando.
Inveje
e veja.