segunda-feira, 17 de novembro de 2014


17 de novembro de 2014 | N° 17986
EDITORIAL

FOGO AMIGO

A presidente reeleita deveria aproveitar o momento de mudanças para redimensionar seu ministério de acordo com as necessidades do país e não apenas de sua base de apoio.

Preocupados com o ônus de serem governo, num momento delicado, parlamentares petistas decidiram cobrar da presidente Dilma Rousseff uma nova política de comunicação e um ministério mais qualificado. Ainda que seja motivada por interesses próprios de um grupo político-partidário, a preocupação coincide com a da base aliada de maneira geral e se constitui, nesta semana, no grande desafio da presidente, em seu regresso do Exterior.

O que se espera é que a responsável pela condução do país nos próximos quatro anos resista às pressões partidárias e aos interesses políticos diversos. Não há outra forma de oferecer à sociedade um primeiro escalão comprometido com os interesses maiores do país.

Diante da complexidade do momento enfrentado pelo país, tudo indica que a última palavra sobre as mudanças de nomes não deve sair de imediato. Preocupa, por isso, o fato de o primeiro escalão se encontrar num clima de despedida, com a decisão de ministros de colocarem os cargos à disposição, inclusive em áreas nas quais o país enfrenta impasse.

É o caso da econômica, na qual as mudanças anunciadas no Ministério da Fazenda já dão margem a especulações no mercado financeiro. É o que ocorre também em âmbito político. O próximo governo precisará contar com negociadores hábeis diante do impacto de denúncias como as relacionadas à Petrobras e de disputas acirradas como as que envolvem o futuro comando da Câmara e do Senado.

A presidente reeleita deveria aproveitar o momento de mudanças para redimensionar seu ministério de acordo com as necessidades do país e não apenas de sua base de apoio. Mais do que isso: tem o dever de pôr em prática compromissos assumidos durante a campanha eleitoral de reduzir as margens para tantos casos de corrupção, que desgastam o governo e a imagem do país, ao desviarem recursos que deveriam estar sendo investidos em favor dos brasileiros.

Infelizmente, dificuldades como as enfrentadas hoje em decorrência da vulnerabilidade das finanças públicas e o desgaste político gerado principalmente pelos desvios éticos reduzem as expectativas para otimismo com as mudanças. Diante das cobranças por parte de um verdadeiro fogo amigo, a presidente da República precisa definir uma base de apoio coerente, sem prejuízo aos compromissos assumidos com os brasileiros.