30
de novembro de 2014 | N° 17999
PAULO
SANT’ANA
A vingança da
vida
Não
sei se o que ocorre comigo acontece também com meus leitores e leitoras: eu fui
surpreendido pela minha idade, 75 anos, não percebi que ela estava se
aproximando e até hoje, ilusoriamente, acredito que tenho ainda 35 anos.
É
que nós só vemos defeitos nos outros, minimizando tudo de ruim que nos
acontece, por um também defeito de nossa vaidade.
Uma
colega minha dos tempos de faculdade se encontrou comigo e me disse que ela,
esses dias, se encontrou com um antigo ex-namorado.
E
que, depois de conversar com ele durante uns 30 minutos, saiu pensando o
seguinte: “Ele agora é careca e gordo. Não perdi nada”.
Na
verdade, o careca e gordo saiu pensando o mesmo de minha colega, ele não perdeu
nada.
Ou
seja, velhos e gordos são os outros, por isso é que escrevi no início desta
coluna que não nos damos conta de nossos defeitos e desvantagens.
Um
colega meu das minhas proximidades aqui no jornal me contou que, 25 anos atrás,
se mudou para a Tristeza, nosso querido arrabalde. E que, ao chegar à nova
casa, disse à sua mulher: “Que bom que mora na casa do lado um casal de
velhinhos”.
Pois
aconteceu a vingança da vida. Esses dias, mudou-se para a casa do lado de onde
mora meu colega um casal de jovens, e o rapaz deve ter dito para a esposa jovem
o seguinte sobre o meu colega que se mudou para o local há 25 anos: “Que bom,
querida, que mora ao nosso lado um casal de velhinhos”.
Aqui
se faz e aqui se paga.
Paulo
Brossard de Souza Pinto, colega de colunismo aqui de ZH, recebeu, na
quarta-feira passada, das mãos do ministro Gilmar Mendes, uma comenda do
Instituto Brasiliense de Direito Público, na qual se exalta a importância de
Brossard no Direito Constitucional brasileiro.
Que
merecida e adequada homenagem! E nós nem tínhamos nos dado conta por aqui. É a
tal coisa, santo de casa não faz milagre.