Jaime
Cimenti
Está difícil a vida de
cronista?
A
coisa não está fácil para ninguém, se é que algum dia esteve fácil, neste mundo
de Deus. Antigamente tinha umas “facilidades” de Direito aí nas cidades do
interior, o cara ia lá fazer as provas e, depois de algum tempo, tudo correndo
bem, pegava o canudo, se fantasiava de doutor com terno e gravata, colocava um
anelão de ouro e rubi no dedo e saía garganteando bem por aí, com certa
facilidade.
Hoje,
para os cronistas “autorreferentes”, a coisa está até bem, o cara fica falando
das joias, dos brilhantes e do ouro de seu maravilhoso umbigo, das abelhas da
casa da infância, das rendas da vovó e outros assuntos ou falta de assuntos
relevantes. Nem precisa ler os jornais do dia e ouvir as falas das pessoas nas
ruas e praças para analisar, comentar e opinar sobre temas espinhosos.
Na
época do FHC, muitos cronistas dormiam tranquilos para, de manhã, escreverem
contra ele. Era mais fácil. Com a chegada do Lula à presidência, eles ficaram
viúvos do FHC e uns acharam até que acabariam desempregados.
Nesse
Fla-Flu que virou a política e a vida nacionais, vamos combinar que está
complicado para os cronistas opinativos. Se o cara é a favor do governo, os da
oposição e os vinte e poucos por cento de brancos, abstenção e nulos ficam de
marcação, cobrando coisas. Se o cara ataca o governo, a patrulha governista
fica patrulhando, questionando. Se o cronista fica em cima do muro, mandam o
cara ir trovar e escrever lá na Muralha da China. Se o cidadão elogia o governo
na segunda-feira, critica na terça e não fala nada na quarta, é porque não tem
coerência e tal. Complicado, não é? Vai saber.
Vai
ver estão certos os escribas “autorreferentes”, desligados de compromissos e
engajamentos e atentos só ao que se passa nas pontas de seus narizes. De mais a
mais, especialmente lendo a crônica do dia, tem muitos leitores sábios que
preferem temas mais leves e querem apenas digerir o café da manhã em paz.
Alguém pode ser contra?
Muitos
leitores querem ver o circo, os palhaços, os domadores, os tigres, os elefantes
e os cronistas pegarem fogo. Cada um na sua. Cada um no seu quadrado, com seus
gostos e direitos.
Pois
é, o tempo passa, sempre passa, e os cronistas vão seguindo com sua missão de
biografar o cotidiano, registrar algumas coisas e opinar sobre outras, que esse
negócio de contar histórias e palpitar só termina quando o homem terminar. Deus
nos livre! Arreda, vade retro, distopia apocalíptica!
Jaime
Cimenti