21
de novembro de 2014 | N° 17990
ARTIGOS
- CARLOS EDUARDO RICHINITTI*
MINHA CELA, MINHA
VIDA
A
Operação Lava- Jato, que desnuda a conhecida mas até então impune relação
promíscua entre grandes empreiteiras e o poder público, renova a esperança, tal
como o “mensalã”, de que essas verdadeiras aves de rapina, que háanos
enriquecem à custas da miséia de milhõs de brasileiros, estejam ameaçdas, se nã
de extinçã, ao menos de viver em cativeiro prisional.
Não
me iludo e sei que o caminho para a punição de desvios é longo. A corrupção
está institucionalizada no seio da sociedade brasileira, em especial no meio
político, há muito estruturado em premissas e condutas viciadas, que começam no
financiamento de campanhas e culminam na chantagem de só funcionar se
interesses, nem sempre republicanos, forem atendidos.
A
recém-finda campanha política é uma fotografia perfeita e acabada desse cenário
corrompido. Os candidatos ocuparam quase todo o espaço disponível não para
ganhar a confiança do eleitor com projetos ou propostas, mas, sim, para provar
qual pertence ao grupo mais corrupto.
Triste,
para dizer o menos. Surge, nesse cenário de es- curidão, uma nesga de luz. Uma
polícia estruturada, um Ministério Público ativo e um Judiciário independente
co- meçam a trabalhar em conjunto, apresentando resultados que entusiasmam.
Bendita
delação premiada, que agora começa a vingar neste país. Flagrados, criminosos,
para salvar a pele, oferecem a cabeça dos comparsas, fraqueza moral
absolutamente coerente para quem vive do ilícito.
Também,
na expectativa de redução da pena, comprometem-se a devolver parte do que foi
apropriado e agora, de forma inusitada, já admitem construir casas, não de moradia,
mas prisionais.
Quem
sabe, a partir disso, não estejamos próximos do lançamento de mais um grande
programa social – o “minha cela, minha vida”. Caso isso aconteça, tenho certeza
de que as obras não serão superfaturadas, a qualidade das construções será boa
e será um projeto de grande alcance, pois, se as coisas começarem a ser sérias
neste país, muita gente, sem dúvida, vai se “habilitar” como beneficiária do
programa.
*DESEMBARGADOR
DO TJRS