26
de novembro de 2014 | N° 17995
PAULO
SANT’ANA
Das despedidas
Nem
sei por que estou lembrando (ou melhor, sei bem por quê) dos versos inesquecíveis
que foram bordão de toda a carreira de Francisco Alves, o Rei da Voz.
Os
versos desta canção lendária tiveram autoria de Silvino Neto. Ei-la:
Adeus,
adeus, adeus,
Cinco
letras que choram
Num
soluço de dor.
Adeus,
adeus, adeus,
É como
o fim de uma estrada
Cortando
a encruzilhada,
Ponto
final de um romance
de
amor.
Durante
cerca de 50 anos, Francisco Alves esculpiu no imaginário musical brasileiro
esta pérola de canção.
Vejam
como ela termina:
Quem
parte tem os olhos
rasos
d’água
Ao
sentir a grande mágoa
Por
se despedir de alguém.
Quem
fica também
fica
chorando
Com
o coração penando,
Querendo
partir também.
Da
minha parte, tenho muita dificuldade para me despedir de alguém.
E,
na verdade, tenho também grande embaraço ao me despedir de objetos que foram
caros na minha afeição.
Verto
lágrimas quando me despeço de uma pessoa, amada ou querida, assim como verto lágrimas
quando me despeço de uma caneta, de um par de chinelos ou de um amigo.
Não
consigo me despedir, sem chorar, de alguém a quem me afeiçoei, mas também
estremeço quando me despeço de uma casa de onde vou me mudar, de um quarto de
casa de onde vou me mudar, de uma rua, de uma empresa. Chorei quando bati a última
coluna numa máquina de datilografia e ingressei no mundo dos computadores.
Para
mim, despedir-me de um objeto ou de um instrumento que usei durante muito tempo
não tem diferença de despedir-me de alguém com quem trabalhei, com quem convivi
diariamente no trabalho, ou despedir-me, o que me aconteceu concretamente, de
uma mulher que tinha sido mãe de meus dois primeiros filhos.
O
mais constrangedor momento da vida de uma pessoa é quando ela tem de despedir-se
de alguém ou de algo.
Como
diz a canção que reproduzi acima, despedir-se de alguém é ver um pedaço da
gente mesmo indo embora com a pessoa partinte.