23
de novembro de 2014 | N° 17992
MARTHA
MEDEIROS
Luz fria
Resisti enquanto pude. Fazia estoque de lâmpadas
incandescentes em casa. Quando já não encontrava as de 100 watts, comprava as
de 60. Se não tinha num supermercado, buscava em outro. Batia ponto em casas de
ferragens, dava incertas em lojas de luminárias, enfim, uma perseguidora
incansável das lâmpadas incandescentes.
Enganando
a mim mesma, claro. Se a imprensa não parava de avisar que as lâmpadas
incandescentes estavam sendo substituídas pelas fluorescentes, mais compatíveis
com o projeto de eficiência elétrica nacional, por que eu não me rendia de uma
vez? É que, dependendo da situação, é mais cômodo se fazer de desatenta.
Só
que chega o dia em que cansa lutar contra. Essa semana, interrompi minha
resistência à novidade, resolvi sucumbir. Comprei uma lâmpada fluorescente para
o abajur do meu quarto. Na verdade, tenho dois abajures no quarto, um em cada
lado da cama. O que está do meu lado ainda possui uma lâmpada das antigas,
amarelada, acolhedora. Como a do lado oposto havia queimado, resolvi trocar por
esta nova, econômica, durável, sensacional. Devidamente atarrachada, acendi
ambas para ver se havia diferença mesmo.
Que
choque.
Sei,
não é um conflito, um problema, uma catástrofe, nada disso. Estamos falando de
lâmpadas, um troço banal. Porém menos banal para mim, que sou dependente de
luzes indiretas.
Viciada
em abajur, admito. Não suporto luz vinda do teto, excessiva, invasiva,
desumana. Eu preciso de clima, de aconchego, de atmosfera. Poderia cultivar um
luxo mais besta, mas cultivo este, que é reles. Eu gosto de luz poética,
cálida, que me faça sentir em casa, e não num escritório.
As
lâmpadas fluorescentes oferecem uma luz branca, racional, uma luz para pessoas
jurídicas. Por que devo me conformar? Eu sei, eu sei, é preciso pensar em
economia e durabilidade, mas poxa, eu trabalho tanto, gostaria de continuar
arcando com o pequeno luxo de uma luz que me acarinhe, que me romantize, que me
faça sentir num filme francês.
No
entanto, mesmo que eu reclame para o bispo, nada mudará. É preciso pensar na
coletividade. Não resta opção. As lâmpadas incandescentes foram retiradas do
mercado. Tudo pela melhora da qualidade de vida, por um mundo mais sustentável.
Desisto.
Uma
vez escrevi uma crônica chamada “Melhorar para pior”. Dei vários exemplos:
balneários com estradinha de chão batido x balneários asfaltados, cadeiras de
palhinha x cadeiras de acrílico, pousadas rústicas com o namorado x resorts all
inclusive com a família. Não falei de lâmpadas, na ocasião, porque o assunto
não estava em pauta, mas agora o século 21 completou o serviço da modernidade.
Adeus às lâmpadas arcaicas, o momento é das lâmpadas inteligentes.
Sinceramente?
Tenho vontade de parar o tempo. Evoluir é muito frio