11
de dezembro de 2014 | N° 18010
LUCIANO
ALABARSE
IDEIAS
IMPRESSAS
Ao
completar 30 crônicas publicadas na Zero Hora, constato: o fascínio pela
palavra impregna minha vida, em todos os seus matizes. Esses dias, li
declarações de Gregorio Duvivier e Fernanda Torres a respeito. Diz Fernanda,
com humor: “Quando comecei a escrever, tinha medo de gente indignada com o que
eu havia escrito.
Um
detalhe pode tornar um texto vulnerável, e toda a argumentação pode cair por
descuido. Não é fácil”. Duvivier complementa: “Uma coluna em jornal talvez seja
o único gênero literário em que você corre o risco de apanhar. Ao mesmo tempo,
nunca recebi tantas declarações de amor”. Faço minhas, literalmente, todas
essas palavras.
Sem
pieguice: ver impresso o que começa na tela de um computador caseiro é
emocionante. Escrever é alimento punk e doce. É como temperar palavras com
pimenta e mel, em busca da justa medida. Textos com sabor.
Sempre
me pergunto o que irá interessar alguém aqui. Sem certezas sobre tal resposta,
necessariamente impressionista, reparto alegrias: “gastar” o CD ao vivo do Ney
Matogrosso, espetacular; ter ouvido Adriana cantar Lupicínio para uma Reitoria
lotada; estar lendo Vida e Destino, do russo Vasily Grossman, romance
excepcional. George Steiner afirmou que este livro “eclipsa quase tudo o que se
passa por ficção séria no Ocidente hoje”. Steiner tem razão. Vale cada minuto
do tempo dedicado à sua leitura.
O
tempo, aliás, tem ocupado muito dos meus pensamentos. Particular e distinto,
aninha-se em nós e em nós deixa impresso marcas e moldes. A verdade é que,
pertencente a cada um, passa insolvente e inexorável. Como li no livro citado:
“O tempo ama aqueles a quem gerou: seus filhos, seus heróis, seus
trabalhadores”. Lembrei O Tempo Não Para, do Cazuza: “Disparo contra o sol, sou
forte, sou por acaso”. Cazuza se foi cedo demais. Mas Elza Soares está viva e
seu tempo é hoje. Suas apresentações gaúchas começam domingo, com a orquestra
da Ulbra, em Canoas.
Trinta
crônicas. Já?