Jaime
Cimenti
Saudade do Tom. Viva Tom
Jobim!
Ia
pedir desculpas por não falar de corrupção, política, futebol, violência,
crime, drogas e outros assuntos tão tristes, obrigatórios e dolorosamente
cotidianos. Desculpem, mas não devo me desculpar e digo logo que quero falar de
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim, um dos maiores
brasileiros do século XX, que morreu há vinte anos e segue cantando e tocando
cada vez melhor em todo o planeta. Saudade do Tom, viva ele, que apresentou uma
das melhores realizações brasileiras, a bossa nova. Talvez a melhor. Nos
Estados Unidos a melhor coisa foi o jazz, pai-irmão-filho da bossa.
Existem
muitos tons, alguns até tons de cinza, mas há um só Tom Jobim. Infelizmente um
só, mas o bastante para a música e para o mundo. Música e amor, as coisas mais
próximas de Deus. Cole Porter, os brothers Ira e George Gershwin, Charlie
Parker, Louis Armstrong, Nat King Cole, Frank Sinatra e outros gigantes devem
está fazendo o maior som lá em cima, onde Vinícius deve estar tomando um
uisquinho com São Pedro. Beleza!
Em
1994 Tom faleceu cedo, aos 67 anos, em Nova Iorque, onde tratava da saúde.
Andava descontente com a falta de delicadeza e com a violência que já assolavam
o Rio de Janeiro e o resto do País. Imagine o que ele sentiria agora, quando
temos um assassinato a cada dez minutos e um estupro a cada quatro, se não me
falha a memória. Imagine o que Tom estaria pensando e falando sobre as mazelas
do Brasil.
Bom,
eu disse que não ia falar desses assuntos terríveis. Acabei falando, me
desculpem. Que coisa. Que falta que faz o Tom. O músico, o cantor, o
compositor, nossa consciência nacional bem-humorada. Nossa dignidade, nossa
elegância, nossa civilidade. Se todos fossem iguais ao Tom, seria uma maravilha
viver...obrigado pela canção, Maestro. E obrigado pelo exemplo de pessoa, de
vida. Dizer que tu és um de nossos tesouros nacionais é pouco. Tesouro mundial.
Lá
em Ipanema está a simpática estátua do Tom, com o inseparável violão,
recém-inaugurada, nos inspirando a buscar pessoas, relações humanas e um mundo
melhor. Sempre com música da boa, claro. Música, linguagem universal da paz,
quase nunca relacionada com coisas ruins. Eu disse música, não esses barulhos
que andam por aí, que prefiro nem dar o nome. Fica com Deus, querido Tom, que
ele gosta, sempre gostou muito de ti e de música celestial.
Jaime
Cimenti