12 de janeiro de 2015 |
N° 18040
ARTIGO - CASSIO SCLOVSKY
GRINBERG*
INFELICIDADE E PRECONCEITO
Quanto mais preconceituosos, mais
infelizes somos. E somos, de fato, preconceituosos: não apenas com comidas que
nunca provamos, países que nunca visitamos e profissões que não conhecemos, mas
sobretudo com pessoas que fazem sucesso, justamente por terem investido em um
caminho que, em dado momento, julgaram imprescindível e necessário perseguir.
Somos, em resumo, preconceituosos
com tudo aquilo que o outro, e não nós mesmos, consegue com uma escolha
legítima, ignorando que muitas de nossas escolhas representam não aquilo que
verdadeiramente nos toca, mas sim o molde das opiniões prontas de pessoas e
grupos a quem imaginamos que podemos, com tais escolhas, agradar. Trata-se de
motivo contrário ao das pessoas que “chegaram lá”. E que, pior ainda: são
felizes.
Há escolhas, no entanto, tão
intrínsecas, que a elas denominamos condição: um estado tão natural que, mesmo
quando o ser humano já nasce parte, ainda assim reforça uma escolha ao optar em
valorizar e permanecer na identidade, sem deixar de ser quem de fato é. Gosto
de pensar que as “minorias” fazem parte desse contexto. E também elas caminham
felizes, mesmo que a todo tempo o mundo precise lembrá-las de que constituem
uma exceção.
Há diversas formas de lembrar a
uma minoria a natureza de sua condição, e a intolerância, que em certos casos
já é considerada crime, mas que na prática, diante da reação, por vezes
transforma agredido surpreendentemente em agressor (e agressor em vítima,
digamos, da mídia), está proliferada no que chamamos de sociedade: nas cozinhas
dos restaurantes, nos conselhos de administração de entidades e, por que não,
no nosso próprio círculo de relações mais próximas.
E por que o ser humano prefere
ser intolerante, optando pela armadura de inverdade dos preconceitos, quando
poderia se dedicar a aprender sobre a riqueza das diferenças? Talvez fôssemos
mais felizes se nos concentrássemos em criar nossa própria felicidade e não em
provocar a infelicidade dos outros, deixando de responsabilizar por nossa
brutal mediocridade aquele que conseguiu defender uma escolha, ou que é
simplesmente diferente de nós.
*Professor da
Famecos/PUC-RS, mestre em Marketing, escritor