13 de junho de 2015 | N° 18192
DE FORA DA ÁREA | Cláudio Furtado
A VÁRZEA NUNCA PERDERÁ O SEU ENCANTO
Não é campo, é campinho. A grama, um capim brabo. No miolo,
areião. Poeira alta no verão. Barro grudento no inverno. Motivos de constantes
reclamações das lavadeiras, geralmente as dedicadas mulheres dos próprios
atletas. Mas nada é mais puro, autêntico, romântico e representativo da paixão
vital pela bola do que a nossa eterna várzea.
Lá não tem o charme das narrações; do replay das melhores
jogadas; nem troca de camisetas; muito menos de patrocínios vultosos e, muitas
vezes, nem mesmo de bandeirinhas. No máximo, um juiz. E, quase sempre,
localista, amigo da turma. Mas sobram churras, cerveja e muita amizade.
Quem não para, pelos menos alguns minutos, para acompanhar
um jogo de várzea, definitivamente não gosta de futebol. Claro, entre os 22,
tem de tudo. Na extensa lista dos fanáticos pela bola estão os gordinhos,
camisetas coladas no corpo, umbigo à mostra; os perebas, geralmente os mais
esforçados e organizados da turma; os veteranos, que correm mais com a boca do
que com as pernas. Mas não se iludam os torcedores globalizados e arenizados de
hoje. Lá sempre teve, tem e terá uma verdadeira legião de craques.
Certamente a grande maioria destes craques não se torna um
Pelé, um Garrincha, um Neymar da vida. Muitos, talvez, pela força do destino;
outros, porque jogar futebol não representa a sobrevivência, o prato de feijão
de cada dia; ou, muitos, impedidos por uma lesão grave, tipo um joelho
estourado em razão de uma solada maldosa, que nem cartão amarelo virou. Mas,
uma lesão que, com passar do tempo, vira história, passada de geração para
geração nas rodas familiares ou nos encontros entre amigos, transformada em
afirmativas do tipo: “Este cara jogava um baita bolão. Só não virou
profissional porque não quis”.
O desfile semanal dos alucinados pelo futebol prossegue
semanalmente nos Ararigboias, Tamandarés, Alins Pedro e Itapevas da vida, entre
tantos outros. Na figura de Adão Borges Fortes, o maior craque que já passou
pelo Ararigboia, tradicional campinho da baixada da Felizardo Furtado, a
homenagem a todos os boleiros, aqueles que já passaram, e deixaram saudades; e
a todos que hoje correm atrás de uma bola, movidos apenas por uma única razão:
a fantástica e eterna paixão pelo futebol.