Jaime Cimenti
Os 11 mandamentos segundo Pondé
Os Dez Mandamentos (+ um) - Aforismos teológicos de um homem
sem fé (Três Estrelas, 128 páginas, R$ 29,90), do filósofo e professor Luiz
Felipe Pondé, da PUC-SP e da FAAP, traz comentários livres e instigantes sobre
cada um dos dez mandamentos que Deus delegou a Moisés. Há quem diga que Deus
pretendia entregar mais, que Moisés negociou e conseguiu que fossem só dez. Brincadeira
bíblica, claro. Pondé acrescentou mais um mandamento à lista, contra o
pessimismo fácil que anda por aí, como verão os leitores.
Pondé é autor de A era do ressentimento (LeYa, 2014) e O
catolicismo hoje (Benvirá , 2011), entre outros, e coautor de Por que virei à direita
(Três Estrelas, 2012). Os dez mandamentos são, para judeus e cristãos, o núcleo
da mais elevada espiritualidade e devem reger as relações entre as pessoas
entre si e com o sagrado. Eles podem ser considerados como o contrato
primordial de Deus com os homens.
Pondé analisa, um a um, os dez mandamentos e reflete sobre
sua importância para o povo bíblico e seu significado para a humanidade, ontem
e hoje.
Tomando como guia os ensinamentos dos sábios hebreus e dos
maiores pensadores modernos, como Nietzsche e Kierkegaard, Pondé lança luz
sobre questões essenciais, como o amor, a amizade, a família, a política, a
morte e, sobretudo, Deus e o valor da vida espiritual. Ao mesmo tempo que se
declara "um homem sem fé", Pondé afasta-se das religiões
institucionais, mas não encara os ensinamentos bíblicos como opressivos ou
ultrapassados. Ele não faz mera apreciação crítica dos dez mandamentos, procura
analisar a existência humana e a modernidade à luz do mistério e do milagre. Com
força e clareza o filósofo se debruça sobre a sabedoria antiga e lança novos
olhares sobre temas diversos.
Para Luiz Felipe Pondé, "Deus é o conceito mais
complexo já criado pela filosofia e enfrentá-lo é um desafio para qualquer
intelecto apaixonado pelos limites do pensamento".
Segundo ele, a espiritualidade é uma "questão urgente",
pois ela caminha para o desaparecimento, à medida em que a religião vai sendo
transformada apenas em um meio de obter felicidade e sucesso. Em nosso mundo
imerso na banalidade e no vazio, Pondé pensa que é urgente recuperar a esperança
na vida e, para isso, formulou, audaciosamente, um décimo primeiro mandamento: Terás
esperança no mundo. Ou seja, ao mesmo tempo que tece uma impiedosa crítica ao
nosso tempo, o filósofo nos exorta a recuperar o eterno, mesmo quando já não
temos mais fé.
Como se vê, os leitores estão diante de uma obra que dialoga
com o saberes antigo e moderno e que procura abrir novos caminhos e visões para
viver o mistério, o milagre e o futuro.