sexta-feira, 26 de junho de 2015


Jaime Cimenti


Os 11 mandamentos segundo Pondé

Os Dez Mandamentos (+ um) - Aforismos teológicos de um homem sem fé (Três Estrelas, 128 páginas, R$ 29,90), do filósofo e professor Luiz Felipe Pondé, da PUC-SP e da FAAP, traz comentários livres e instigantes sobre cada um dos dez mandamentos que Deus delegou a Moisés. Há quem diga que Deus pretendia entregar mais, que Moisés negociou e conseguiu que fossem só dez. Brincadeira bíblica, claro. Pondé acrescentou mais um mandamento à lista, contra o pessimismo fácil que anda por aí, como verão os leitores.

Pondé é autor de A era do ressentimento (LeYa, 2014) e O catolicismo hoje (Benvirá , 2011), entre outros, e coautor de Por que virei à direita (Três Estrelas, 2012). Os dez mandamentos são, para judeus e cristãos, o núcleo da mais elevada espiritualidade e devem reger as relações entre as pessoas entre si e com o sagrado. Eles podem ser considerados como o contrato primordial de Deus com os homens.

Pondé analisa, um a um, os dez mandamentos e reflete sobre sua importância para o povo bíblico e seu significado para a humanidade, ontem e hoje.

Tomando como guia os ensinamentos dos sábios hebreus e dos maiores pensadores modernos, como Nietzsche e Kierkegaard, Pondé lança luz sobre questões essenciais, como o amor, a amizade, a família, a política, a morte e, sobretudo, Deus e o valor da vida espiritual. Ao mesmo tempo que se declara "um homem sem fé", Pondé afasta-se das religiões institucionais, mas não encara os ensinamentos bíblicos como opressivos ou ultrapassados. Ele não faz mera apreciação crítica dos dez mandamentos, procura analisar a existência humana e a modernidade à luz do mistério e do milagre. Com força e clareza o filósofo se debruça sobre a sabedoria antiga e lança novos olhares sobre temas diversos.

Para Luiz Felipe Pondé, "Deus é o conceito mais complexo já criado pela filosofia e enfrentá-lo é um desafio para qualquer intelecto apaixonado pelos limites do pensamento".

Segundo ele, a espiritualidade é uma "questão urgente", pois ela caminha para o desaparecimento, à medida em que a religião vai sendo transformada apenas em um meio de obter felicidade e sucesso. Em nosso mundo imerso na banalidade e no vazio, Pondé pensa que é urgente recuperar a esperança na vida e, para isso, formulou, audaciosamente, um décimo primeiro mandamento: Terás esperança no mundo. Ou seja, ao mesmo tempo que tece uma impiedosa crítica ao nosso tempo, o filósofo nos exorta a recuperar o eterno, mesmo quando já não temos mais fé.

Como se vê, os leitores estão diante de uma obra que dialoga com o saberes antigo e moderno e que procura abrir novos caminhos e visões para viver o mistério, o milagre e o futuro.