23 de junho de 2015 | N° 18203
DAVID COIMBRA
Os vampiros
Todo
mundo quer ajudar os pobres do Brasil. É comovente. O ex-presidente Lula, que
secundou o ditador Getúlio Vargas no coruscante posto de “Pai dos Pobres”, foi
tão convincente em sua pregação social, que duas das maiores empreiteiras do país,
a Odebrecht e a Camargo Corrêa, aceitaram doar R$ 7,5 milhões para que ele
fizesse palestras a fim de ensinar o planeta a combater a fome. Quanto
desprendimento desses grandes homens! Lula, Odebrecht e Camargo Corrêa unidos
contra as elites brancas e a favor dos descamisados. Quem poderá vencê-los?
Outro
paladino dos pobres é o pastor Malafaia, que anda às turras com o jornalista
Boechat. Vi um vídeo em que ele (o pastor, não o jornalista) explica aos pobres
como realizar o sonho mais sonhado dos brasileiros: o tal da casa própria. É assim:
se você paga aluguel, tem de dar o valor de um mês para o Malafaia; se você fez
financiamento, tem de dar uma prestação; se você mora de favor num quarto do
apartamento de um amigo, tem de dar 30% do seu salário; se você está desempregado,
nem salário recebe, tem de dar 30% do que ganha para sobreviver, como, sei lá,
a féria da esmola.
Se
você fizer isso, Malafaia garante que o próprio Deus lhe conseguirá uma casa
quitada.
Lula,
Odebrecht, Camargo Corrêa e Malafaia. O interesse deles pela pobreza mostra
que, por menos coisas que você tiver, sempre haverá alguém disposto a deixá-lo
sem coisa alguma.
Não é
por outro motivo que as histórias de Drácula fazem tanto sucesso. Estava lendo
sobre a possível descoberta do túmulo de Vlad, o Empalador, em Nápoles. Vlad,
como se sabe, é o personagem da vida real que inspirou Bram Stocker a criar o
vampiro da ficção. O mundo se excita com tudo que cerca o homem e a lenda. É lógico:
as pessoas reconhecem a história da civilização na história do velho conde. Ele
é um vampiro, e vampiros sugam o sangue dos vivos para sobreviver. Eles extraem
das pessoas tudo o que elas têm, até deixá-las secas.
Quando
as nações foram constituídas, 10 mil anos atrás, do que elas se alimentaram
para crescer? Da escravidão e da pilhagem das guerras, como vampiros dos
derrotados. Esse sistema funcionou de forma mais ou menos amadora, até o
surgimento da mais extraordinária e funcional máquina militar e administrativa
da História, o Império Romano, formador do Ocidente. Os romanos sofisticaram a
instituição da escravidão, a ponto de um nobre contar, às vezes, com 3 mil
cativos. Três mil pescoços para um único par de presas.
Com
a vitória do cristianismo, porém, a escravidão perdeu sua base filosófica. Como
um povo cristão aceitaria escravizar outros povos, se todos os homens são irmãos,
filhos do mesmo Pai? Foi então que os vampiros descobriram um homem que, para
eles, era menos humano: o negro. E o sumo da vida do negro foi extraído até a última
gota, sobretudo pelos dois grandes países da América, Brasil e Estados Unidos,
igualados em sua sede de sangue africano.
E
hoje, quem são as vítimas dos vampiros?
Os
substitutos dos escravos da Antiguidade, dos servos da Idade Média e dos negros
da era mercantilista, no século 21, são os chineses que trabalham quase de graça
sob o tacão do Partido Comunista, para gáudio das empresas de todo o Globo. Além
dos miseráveis de vastos nacos do mundo, que acreditam que serão salvos por
Pais dos Pobres ou por pastores que falam em nome de Deus.
Se
você está em busca de ajuda, preste atenção: quando um partido, um líder ou um
sacerdote se apresentar como Salvador, fuja correndo: ele é um vampiro.