quinta-feira, 25 de junho de 2015



25 de junho de 2015 | N° 18205
LUCIANO ALABARSE

TIRO NO PÉ

Desde que nasci. Desde muito antes. O Brasil vive em crise desde sempre. Nossa atual crise econômica é real, sim. Descalabros variados a explicam. Mas o que vivenciamos hoje é mais profundo. Há uma crise de liderança que contamina o país com um pessimismo apocalíptico. Recuso o catastrofismo das carpideiras de plantão, o ranger de dentes daqueles que só dizem não. Chega de inércia, chororô, paralisia. É preciso agregar valor, inventar, estimular outra onda.

O Brasil reacionário não me representa. Nem a baderna dos grupos extremistas. Nosso país não é intolerante nem vai ficar. Há que surpreender os dias brasileiros com a inteligência da alegria. Gays e evangélicos, políticos, operários: festa, trabalho e pão. O leite bom para os caretas. O pessoal da música está fazendo sua parte, com louvor. Alguns discos recentes mostram isso: Ná e Zé, que celebra 30 anos da parceria de Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik; os CDs da Gal, do Kleiton & Kledir e da Maria Gadú, surpreendentes; Gadú canta Trovoa, excepcional canção de Maurício Pereira que, sozinha, ilumina nosso apagão.

Enquanto isso, jornais dão conta dos cortes no orçamento do Ministério da Cultura: contingenciamento de 21%. Sobraram míseros 320 milhões para atender a programação, editais de fomento e circulação e Pontos de Cultura. O que já não atendia as demandas do setor, agora mesmo é que não atenderá.

Um tiro no pé. Como pode um governo, sem investir em cultura, querer reconhecimento, agenda positiva, fluxos turísticos? Ou alguém pensa que belezas naturais sejam, sozinhas, capazes de desempenhar esse papel? Cultura faz girar a roda da economia. Sempre. É só tomar o Carnaval carioca ou o Natal Luz de Gramado como exemplos. É preciso somar eventos de porte aos nossos destinos paradisíacos. Sem recortes culturais consolidados não haverá luz no fim do túnel.

Chamemos o síndico, o Batman, os malucos, os artistas, os chatos de galocha, os homens de bem. Pé na tábua. O Brasil precisa. O Brasil merece.