sexta-feira, 30 de junho de 2023


Louis Vuitton, uma saga de luxo e sucesso

O luxo moderno surgiu no século XVIII, com o desenvolvimento técnico trazido pela Revolução Industrial e aí ganhou sua dimensão sensual, de satisfação pessoal do indivíduo - em contraponto ao instrumento de diferenciação social. 'Precisar, não precisa', mas quem não gostaria de ter uma bolsa Louis Vuitton e um terno Armani?
Louis Vuitton - Uma Saga (L&PM Editores, 360 páginas, R$ 79,90, tradução de Julia da Rosa Simões) é o primeiro livro da celebrada jornalista francesa Stéphanie Bonvicini publicado no Brasil. Ela atuou em grandes veículos como a France Culture e o Canard Enchaîné e publicou três livros: Amours, histoires des relations entre les hommes et les femmes; Le Sens des choses e Consolations, além de ser escultora e autora de obras juvenis.
No início do século XIX, a França era o epicentro do poder, da moda e do bom gosto, e os burgueses em ascensão precisavam de bons baús, cofres e embalagens para explorar longas distâncias e levar seu preciosos pertences por estradas precárias e viagens difíceis.
Nesse contexto nasceu em 1821, numa pequena aldeia de Jura, Louis Vuitton. Com 14 anos, maltratado pela madrasta e apaixonado pelo trabalho com madeira, sem saber escrever e quase sem dinheiro, decide tentar a vida em Paris. Viajou a pé por dois anos, sofreu horrores até chegar em Paris, onde começa a fascinante saga da marca de artigos de luxo mais célebre do planeta. Hoje a holding de luxo LVMH é o maior conglomerado de moda do mundo.
A primeira parte da obra fala do nascimento do mito (1821-1854), a segunda trata do império Louis Vuitton (1854-1870), a terceira fala da República de Georges (1870-1885) e a quarta mostra uma bela família francesa (1892-1970). O pano de fundo é a história da França e da Europa, a monarquia constitucional de Luís Felipe, a ascensão e queda de Napoleão II, a guerra Franco-Prussiana, a Comuna de Paris, o nascimento da República e as duas guerras mundiais.

Lançamentos

• Damas de Pedra (Intrínseca, 320 páginas, R$ 59,90), de Lloyd Devereux Richard, americano que viajou por muitos países, se tornou fenômeno do Tik Tok em poucos dias e traz Christine Prusik, antropóloga forense vivida, envolvida com um serial killer que deixava uma estatueta de pedra no fundo da garganta das vítimas.
• O caçador chegou tarde (Maralto Edições, 168 páginas, R$ 44,90), de Luis Henrique Pellanda, escritor e jornalista, segue a temática do livro anterior do autor, Na barriga do lobo, que foi finalista do Jabuti de 2022. Em 62 contos, o autor captura a alma humana por meio de palavras.
• O pai das fake news (Lucens Editorial, 164 páginas, R$ 42.40), de Paulo Nascimento, escritor, diretor, produtor e roteirista, com mais de dez longas lançados, romance que mostra como as fake news são criadas e como são usadas na nossa vida sem percebermos. 

Toga, caneta, farda, religião e eternidade

Faz tempo, muito tempo, não lembro quanto tempo, que me disseram algo que eu jamais esqueci: que no mundo sempre teremos juízes, homens fardados e religiosos. Eu acrescentaria à lista homens com canetas poderosas, integrantes do Poder Executivo que tantas vezes executam a população ao invés de simplesmente executar bons planos de governo. Temos, ainda, os homens com poderes de fazer leis, que sem regras e leis não há grupo social que dure muito tempo.
Bom, não existiria a humanidade sem os contadores de histórias, seus ouvintes e leitores. Alguns escritores são imortais porque não têm onde cair mortos. Mas isso é outra história, a ser contada outro dia ou outra noite, ao redor de uma fogueira, na tela do computador, no rádio, na TV e no streaming geral. Sem falar e ouvir, os humanos não aguentam. Quem não se comunica se trumbica, como disse o grande pensador da segunda metade do século XX , Abelardo Barbosa, o Chacrinha.
Mas eu falava de eternidade e de poder. Os orientais acham que a eternidade é um pássaro que a cada 10 mil anos bica um tiquinho do Monte Everest até ele não existir mais. Os ocidentais acham que eternidade é ter filhos, fazer trabalhos que permaneçam, ganhar dinheiro, fazer coleções de tampinhas, automóveis, livros, filhos, cargos públicos, honrarias e acumular o quer der e o que não der.
Alguns poderosos das togas, das canetas, das religiões e das leis e alguns que têm bastante dinheiro para influir nos destinos de um país ou do mundo, os chamados king makers, pensam que são eternos, que não vão subir para o andar de cima daquele onde já estão. A eles recomendo a leitura, releitura e tresleitura do Eclesiastes, livro do Antigo Testamento que traz a sabedoria do Rei Salomão. Depois de uma vida cheia de tudo, poder, dinheiro, mulheres, soldados e cavalos, Salomão deixou suas mensagens para que, ao final da vida, as pessoas não se sintam infelizes e frustradas. "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade" é apenas o início do livro.
Seriam bom que os que se julgam "eternos detentores do poder" - e que acham que nunca vão morrer - ou pegassem uma cana duríssima (ou entregassem toda a sua não suada grana para os advogados caríssimos), ou lessem o Eclesiastes. Aí, quem sabe, tomariam outros rumos e ofereceriam melhores caminhos para os simples eleitores e mortais contribuintes. Os eleitores seguem com duas certezas: quem vão pagar mais impostos e morrer.
Os que se acham poderosos acham que podem ser enterrados com a toga, a caneta, a farda cheia de medalhas tipo uma garrafa de Passport ou com as vestes religiosas e que partirão para mandar no céu. Ledo e ivo engano. Para que tanta banca, doutores, para que tanta pose? O enfarte lhes pega, já avisou Bily Blanco faz tempo naquela canção.
Sempre é bom lembrar que as pessoas só morrem mesmo depois que ninguém mais lembra delas. Tem uns e outros que morrendo vão preencher uma lacuna e logo serão esquecidos. Terão imortalidade curta como coice de porco ou voo de galinha.

A propósito

O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente, disse Lord Acton. Todos sabem que o poder é afrodisíaco e que a loucura pelo poder é mais velha que andar a pé. Mas todo mundo sabe que, depois de algum tempo, exageros e exagerados de uma banda ou de outra dançam ao som da mesma marcha fúnebre e das canções, das palavras e dos gritos das ruas. 
Quem não leu os livros de história pode conferir que os políticos só têm medo do povo nas ruas. E isso nunca faltou, nem vai faltar. Corrupção é tão humana e antiga como outros vícios ou doenças. Tratamentos, vacinas e até curas andam pegando. Quem quer manter as boquinhas, que fique esperto e feche ao menos um pouco esses olhos maiores do que seus gordos barrigões.

30 DE JUNHO DE 2023
CARPINEJAR

Porto Alegre diminuiu

Nos últimos 12 anos, Porto Alegre reduziu sua população em vez de aumentar. De 1.409.351 habitantes em 2010, decrescemos para 1.332.570, de acordo com os dados do Censo 2022 publicados pelo IBGE na quarta-feira. São quase 80 mil pessoas a menos.

Os dados assustam numa leitura superficial. Mas de modo nenhum influenciam na qualidade de vida. Pelo contrário, a capital gaúcha nunca esteve tão bonita, tão atrativa culturalmente. A reestruturação e ampliação da orla do Guaíba reconciliou as atividades de lazer do porto-alegrense com as suas margens.

Ainda temos problemas viários - sim! -, ainda temos problemas de segurança - sim! -, mas melhoramos como conjunto turístico. Já não somos mais apenas o ponto de embarque e desembarque para Gramado como antes.

Recuperamos a estima dos passeios e dos parques, das ciclovias e das caminhadas. Ninguém mais pode protestar contra possível sujeira ou abandono das ruas e avenidas. O tamanho populacional não mais é um referencial absoluto de metrópole. Não significa ocaso de importância.

No ranking, com a atrofia de 5,45% no número de moradores, Porto Alegre passou do posto de 10ª para 11ª maior capital do Brasil, ultrapassada por Goiânia. Não dá para pensar em Z4. É uma fachada estatística que não revela a evolução, inclusive porque temos a menor média nacional de moradores por domicílio (2,37 pessoas por residência) entre as capitais.

Encolhemos para nos essencializar. Num mundo globalizado, a tendência é mesmo se espalhar. O prognóstico contemporâneo é desocupar progressivamente as capitais. O movimento atinge especialmente cartões-postais do país, santuários apinhados de visitação, como Salvador e Rio de Janeiro.

O crescimento populacional foi maior no interior - 66,58% dos habitantes se concentraram fora dos grandes centros urbanos. Até porque existe cada vez mais uma migração ao contrário com o trabalho remoto. É a preferência por um estilo mais zen e familiar.

As pessoas estão voltando para o interior do Estado, para as suas cidades de origem, dispostas a criar os filhos de um jeito antigo e presente. Buscam evitar engarrafamentos, estresse do trânsito e da pressa, e desejam a paz de sua criança ir para a escola a pé, morando apenas a algumas quadras do local de ensino.

No caso do Rio Grande do Sul, há também um deslocamento visível dos nossos conterrâneos para residir nas praias paradisíacas de Santa Catarina. Na Região Sul, Florianópolis disparou com o adicional de 28%. Pode creditar parte dessa inflação dos lares na conta da gauchada.

O que não acho justo e vejo como preocupante é o possível impacto da pesquisa na nossa representatividade política. Deveriam existir outros indicativos, como arrecadação, para a proporcionalidade eleitoral. Numa projeção, perderemos três deputados federais devido ao crescimento baixo do Estado.

CARPINEJAR

A PROMESSA DE LULA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu ontem entrevista à Rádio Gaúcha e, hoje, faz a primeira visita ao Estado após assumir o seu terceiro mandato. O principal compromisso de sua passagem pelo Rio Grande do Sul é a entrega de 446 residências do programa Minha Casa Minha Vida, em Viamão, na Região Metropolitana. Tocar obras, com o poder público voltando a ser uma espécie de indutor da economia por meio de investimentos federais, tem se mostrado uma obsessão de Lula para os próximos quatro anos.

As promessas, especialmente em relação à retomada de projetos iniciados e parados, são ambiciosas. Devem ser acompanhadas de perto, para que a sociedade possa cobrar o cumprimento dos compromissos. O presidente reafirmou, por exemplo, a intenção de retomar todas as obras paralisadas no país. Citou 14 mil nessa condição, mas a checagem de GZH das declarações do presidente mostra que, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), são cerca de 8 mil. A tarefa é desafiadora, de qualquer forma.

Na entrevista ao Atualidade, Lula acenou que o Rio Grande do Sul deve receber cerca de R$ 5,7 bilhões de investimentos do orçamento federal para iniciativas relacionadas especialmente à infraestrutura. Referiu-se especificamente a estradas. Mencionou ainda a intenção de estimular outros R$ 2 bilhões em aportes privados. Projetos relacionados à transição energética também são preferenciais.

É louvável a pretensão do governo de finalizar obras paradas e acelerar as que se arrastam. É salutar também que as prioridades sejam definidas a partir do diálogo com prefeitos e governadores. Convém lembrar, no entanto, que boa parte desse acervo é de iniciativas que começaram em gestões anteriores do PT no governo federal e seguem inacabadas por uma série de fatores como escassez de recursos, falhas de planejamento, problemas nos projetos de engenharia e irregularidade em licitações. No Estado, os exemplos mais eloquentes são as duplicações da BR-116, de Guaíba a Pelotas, e da BR-290, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande. Recordar erros do passado é importante por ajudar a alertar para que os mesmos equívocos sejam evitados.

O governo Lula pretende apresentar em julho os detalhes do novo programa de investimentos, talvez batizado de PAC 3, uma sequência dos planos de aceleração do crescimento de gestões anteriores do PT. Serão obras com recursos do orçamento federal, com empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e viabilizadas por parcerias público-privadas (PPPs). O país e o Estado precisam, de fato, de uma infraestrutura que auxilie a combater o chamado Custo Brasil e a elevar a competitividade nacional.

Ocorre, porém, que de forma justificada existe certo ceticismo quanto aos aportes puramente públicos. Há não muitos anos, o descontrole fiscal fez obras que já andavam em ritmo incompatível com o cronograma prometido serem paralisadas ou andarem em velocidade ainda mais lenta. O histórico de projetos concedidos à iniciativa privada, ao contrário, mostra maior eficiência e rapidez. Como a preferência do governo Lula é usar o orçamento federal, o mínimo a se esperar é a aprendizagem com o que deu errado, evitando desperdício dos recursos dos contribuintes e o risco de o cemitério de edificações e vias inacabadas crescer. A sociedade exige obras iniciadas e entregues, que cumpram os objetivos pelos quais foram demandadas.

OPINIÃO DA RBS 


30 DE JUNHO DE 2023
DANIEL SCOLA

Revivendo junho de 2013

O Brasil foi engolfado por uma convulsão social em junho de 2013. Começou com o protesto pelo preço da passagem de ônibus e foi reunindo grupos diferentes com suas insatisfações particulares. Os manifestantes não precisaram ser convocados, mas havia as mensagens por redes sociais para unir a turma. As marchas, as jornadas de junho, como foram chamadas depois, juntaram até gente que protestava contra um projeto de lei sobre o qual não se tinha conhecimento massificado.

Era um tipo de protesto diferente dos demais - não tinha um ou dois representantes. O "poder" estava diluído. Em Porto Alegre, o ponto de encontro era o largo da prefeitura. A marcha percorria ruas do Centro e, em geral, parava na frente do prédio onde morava o prefeito à época, José Fortunati. Os manifestantes, então, tomavam destinos como o Largo Zumbi dos Palmares e o Parque da Redenção. Ali, uma parte dos participantes, muitos vestidos de preto, seguia Avenida João Pessoa abaixo, destruindo contêineres de lixo, quebrando vidraças de salas comerciais e incendiando pneus. Só a Brigada Militar conseguia conter os chamados black blocs.

As marchas de junho de 2013 se espalharam pelas capitais brasileiras. Em Brasília, os manifestantes chegaram a tomar o prédio do Congresso Nacional. Uns dias depois, com o encerramento das manifestações e ainda assustada com a adesão, a então presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote com cinco medidas que atendiam, em parte, às demandas das ruas. Mais tarde, Dilma não colocou as medidas em prática, o que ajudou a manter a tensão.

As jornadas de junho estão sendo rememoradas em um podcast narrado pelo jornalista Paulo Rocha, da Rádio Gaúcha, e produzido por Eduardo Rosa e Pietro Meinhart, de GZH. O podcast Junho Sem Fim se encontra em GZH e em todas as plataformas de áudio. É um documento completo que recupera os principais personagens daquelas semanas que sacudiram o Brasil.

DANIEL SCOLA

30 DE JUNHO DE 2023
INFORME ESPECIAL

Tecnopuc é destaque internacional Mais celeridade

Desde março, todos os processos ajuizados contra o INSS no Judiciário gaúcho tramitam na Vara Estadual de Acidente de Trabalho (VAT), liderada pela juíza Clarissa Costa de Lima. Desde então, processos que antes esperavam, em média, dois anos para ser julgados, agora levam menos de seis meses.

No ano em que completa duas décadas, o Parque Científico e Tecnológico da PUCRS recebeu um reconhecimento internacional inédito em Barcelona, na Espanha. O Tecnopuc foi considerado o quarto melhor ecossistema de inovação global de 2023 no prêmio Triple E Awards, espécie de Oscar do setor.

E não é só isso: a instituição também ficou em primeiro lugar no People?s Choise Award, na mesma categoria. A escolha se deu por votação popular na internet e mobilizou a comunidade gaúcha.

Organizada pelo Conselho de Credenciamento para Universidades Empreendedoras e Engajadas, com sede na Alemanha, a premiação ocorreu na última terça-feira, durante a Conferência Mundial da Triple Helix Association, presidida pelo consultor catalão Josep Miquel Piqué, guru do Pacto Alegre. Neste ano, mais de mil instituições e ecossistemas participaram da disputa.

- Estamos muito felizes e orgulhosos, em especial, pelo primeiro lugar no People?s Choise Award, que só aconteceu pelo engajamento dos nossos amigos e parceiros. A gente deve muito a eles - destaca Jorge Audy (foto), superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Tecnopuc.

O prêmio coroa um longo e importante trabalho. - Este é, de fato, um ano muito especial para nós, e agora mais ainda - celebra Audy.

INFORME ESPECIAL

30 DE JUNHO DE 2023
INFORME ESPECIAL

Para "voar" sobre o cânion Uma história de superação

Ele trabalhou na roça, em fábrica de calçados, vendeu picolés, foi guardador de carros, guia turístico, funcionário de hotel e pedreiro. Valdir Cardoso (foto), 58 anos, é um desses casos de empresários que construíram impérios do zero, com uma boa dose de teimosia. Natural de Caxias do Sul, ele é o nome por trás do Parque Terra Mágica Florybal, em Canela, elencado nesta semana entre os melhores do mundo pela plataforma TripAdvisor .

- A gente até se surpreende, né? - brinca o executivo.

Cardoso estudou até o 4º ano do Ensino Fundamental na zona rural de Caxias, onde ajudava o pai na lavoura. Mudou-se para a cidade ainda guri, em busca de oportunidades. Até os 17 anos, fez de tudo. Aprendeu muito ao trabalhar em hotel (foi camareiro, faxineiro, recepcionista) e mais ainda quando migrou para a construção civil.

- Sei tudo sobre obras. Posso construir uma casa inteira - diz.

Aos 26 anos, já casado com Janete Mayer - que segue sua parceira nos negócios, embora hoje os dois estejam separados -, Cardoso ouviu um conhecido falar sobre a fabricação de chocolates caseiros e decidiu começar uma produção própria nos horários de folga. Ajeitou o porão da casa, comprou duas panelas e uma geladeira velha (que consertou) e construiu a pia e a bancada. Separou uma pá de pedreiro, limpou e passou a usá-la para dar forma ao doce.

Assim, em 1991, com um investimento que ele calcula ter sido de R$ 7 mil, nasceu a Florybal, hoje uma rede com 18 lojas próprias e mais de 30 autorizadas. Em 2002, a loja principal e a fábrica ganharam fachadas temáticas e, em 2008, Cardoso comprou a área em Canela que, logo depois, daria origem ao parque, inspirado na imaginação infantil.

- Eu queria um lugar onde as pessoas pudessem se encantar. Desde então, a gente não parou. Estamos sempre inventando novidades - conta o empresário. O segredo do sucesso, resume Cardoso, é um misto de coragem, trabalho duro e persistência. Desistir, jamais.

Na próxima sexta-feira, o cânion Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral, em Cambará do Sul, vai ganhar um novo equipamento de aventura: uma tirolesa situada a 1.099 metros de altitude, que permitirá uma vista única de uma das fendas da região, em meio à natureza exuberante.

Segundo a Urbia, responsável pela administração dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, será a tirolesa "mais alta das Américas" (nas fotos).

Com seis cabos de aço, de 720 metros cada, a atração, já em testes, poderá alcançar velocidade média de 30km/h e ser utilizada por até três pessoas de uma só vez. A experiência completa - que envolve uma série de itens de segurança e só ocorre com condições climáticas favoráveis - terá entre 5 e 10 minutos e estará disponível para pessoas com peso entre 40 e 110 quilos.

Quem preferir uma aventura, digamos, menos ousada, pode optar pelo Balanço Infinito, retratado aqui na coluna em janeiro. Mais detalhes em urbiaparques.com.br.

INFORME ESPECIAL

quinta-feira, 29 de junho de 2023


29 DE JUNHO DE 2023
CARPINEJAR

Quem nunca?

Espremeu a pasta de dente até ela confessar quem usou a sua escova.

Cortou o outro lado do tubo para o derradeiro esguicho da pasta na escova.

Abriu conserva de pepino ou de palmito sabendo que estava vencida e disse: "são apenas alguns dias, ninguém vai morrer".

Contou vantagem de ter comprado um carro seminovo, eufemismo para um veículo velho.

Pôs um adesivo no carro e se arrependeu na hora de tirar.

Esqueceu o forno aceso após servir o assado.

Avisou para uma visita não reparar na bagunça quando tudo estava fora do lugar.

Deixou uma última volta do papel higiênico somente para não trocar o rolo.

Comeu alimento que caiu no chão, aplicando a regra dos cinco segundos.

Misturou água com o restinho do xampu, chacoalhou e fingiu que estava novo.

Uniu restos de sabonete boiando no box do banheiro para formar um segundo sabonete Frankenstein.

Tentou remendar a tira das Havaianas com isqueiro.

Exagerou no desodorante pela culpa de ter cabulado o banho.

Requentou pedaço de pizza como café da manhã.

Postou uma selfie esquecendo o que havia no fundo da imagem.

Pregou um quadro para esconder as infiltrações da parede. Ou encheu a geladeira de ímãs para cobrir os arranhões.

Molhou com a língua a ponta dos dedos para virar as páginas das revistas.

Passou o dedo no chantilly de uma torta de aniversário.

Lambeu a tampa do iogurte.

Reutilizou o sachê do chá.

Colocou manta no sofá para disfarçar manchas e rasgos.

Carregou docinhos de uma festa enrolados em guardanapo, na bolsa ou no bolso do casaco.

Pulou de roupa na piscina da casa de um amigo.

Levou cerveja marca-diabo para um churrasco e só bebeu lá uma de melhor qualidade.

Inverteu as pilhas de lugar no controle remoto para ver se ele voltaria a funcionar.

Confundiu caipirosca com salada de frutas numa festa e ficou garfando os morangos.

Pediu para embrulhar sobras simbólicas da refeição em um restaurante avisando que era para o seu cachorro.

Repassou presentes que recebeu e não gostou no amigo-secreto da firma.

Coçou o ouvido com tampa da caneta Bic.

Entrou em bares ou lanchonetes somente para ir ao banheiro e não consumiu nada.

Saiu de casa com meia e chinelo, acreditando que logo voltaria. Encontrou seu chefe no caminho.

Mentiu que não foi você que devorou a última fatia do pudim na geladeira (apesar da consciência de que não era sua).

Você pode achar que isso é o cúmulo da pobreza, mas é o apogeu da espontaneidade.

Se não se identificou com nenhum item da lista, ainda não aproveitou a simplicidade desconcertante da existência, feita de singelos e perdoáveis pecados.

São transgressões aceitáveis da melhor vivência, muito além da sobrevivência.

Sofre do medo de desagradar. Tampouco descobriu que viver é um permanente vexame.

CARPINEJAR


29 DE JUNHO DE 2023
ARTIGOS

RESILIÊNCIA NOS DEFINE

O Ministério Público é persistente. Resiliência nos define. Como instituição essencial na defesa dos direitos fundamentais do cidadão, tem se mostrado um agente essencial no combate à corrupção e a quaisquer práticas que se mostrem contrárias aos interesses da sociedade.

Por isso mesmo, as prerrogativas funcionais e as atribuições de promotores e procuradores de Justiça frequentemente têm sido alvo daqueles que visam sobrepor os seus interesses individuais em detrimento da coletividade.

Apesar disso e de outras dificuldades, os membros do MP continuam firmes em sua missão constitucional, cada vez mais construindo, por meio do seu trabalho permanente, uma instituição cada dia mais sólida e essencial aos cidadãos e cidadãs.

O impacto da atuação do Ministério Público, todos sabemos, transcende o aspecto individual, afeta positivamente todos e promove efetiva transformação social nas mais diversas áreas de sua atuação. Assim o é quando atua na defesa da vida, dos direitos humanos e no combate à criminalidade, quando defende a ordem constitucional e a moralidade administrativa; quando protege os direitos do consumidor, os dos idosos, das pessoas com deficiência e os da infância e da juventude; quando garante o acesso à saúde, quando defende o meio-ambiente, o patrimônio público, a ordem urbanística e o patrimônio histórico; quando atua na fiscalização da lisura do processo eleitoral e no combate à sonegação.

Portanto, neste 29 de junho, data na qual celebramos o Dia do Ministério Público Estadual, há muito o que comemorar. Os êxitos logrados em prol de uma vida melhor para a sociedade gaúcha são muito maiores do que alguns reveses sofridos.

Contudo, também é uma data que convida à reflexão e à autocrítica, a fim de que nos aperfeiçoemos cada vez mais em nossas ações. Acima de tudo, é dia de reafirmar aos nossos colegas em atividade a importância de celebrar o trabalho que vem sendo realizado e também o legado deixado por aqueles que vieram antes de nós.

À sociedade, é dia de reafirmamos nosso compromisso de seguirmos trabalhando na defesa da democracia e da garantia dos direitos que asseguram o pleno exercício da cidadania.


29 DE JUNHO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

OS SINAIS DO CENSO

O país começou a conhecer ontem as informações do Censo Demográfico de 2022, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento costuma ser considerado um retrato nacional por mostrar o tamanho da população, seu perfil em vários recortes - como renda, características familiares, escolaridade e cor - e as condições dos domicílios. Novos detalhes serão divulgados posteriormente, pormenorizando ainda mais a contagem.

Mais do que uma imagem estática de seus habitantes, é um levantamento que deve ser analisado levando-se em conta os resultados obtidos em décadas anteriores, para que daí possam ser extraídas tendências. O principal dado do Censo indica que, em 1º de agosto de 2022, o Brasil tinha 203 milhões de residentes. São cerca de 12 milhões de pessoas a mais em comparação a 2010, quando foi feito o trabalho anterior. É um resultado surpreendente, pelo fato de que as próprias projeções do IBGE apontavam para uma população maior, de quase 208 milhões de pessoas. Mostra que a quantidade de brasileiros cresceu a uma média de apenas 0,52% ao ano, a menor taxa já observada.

São sinais que indicam, possivelmente, uma transição demográfica ainda mais acelerada no país. O Brasil envelhece de forma rápida, e talvez o início do período de declínio da população possa começar antes de meados de 2040, como estimava o próprio instituto. Isso reforça os alertas de que o país terá de dar maior atenção à área da saúde. São serviços cuja procura cresce conforme o perfil etário avança. Ao mesmo tempo, torna-se indispensável apressar o passo na corrida para repensar a educação. É premente encontrar meios eficientes para melhorar a aprendizagem e formar capital humano mais produtivo. A economia dependerá de um rendimento maior do trabalho para crescer. É uma transformação que trará ainda um imenso desafio para a sustentabilidade das contas da Previdência

A partir de agora, paulatinamente, é preciso se debruçar sobre os grandes números e seus detalhes. As informações do Censo são essenciais para formular e calibrar políticas públicas nos mais diversos campos. São basilares, também, para detectar as principais necessidades das populações de diferentes regiões e para guiar as empresas em seus negócios. Afinal, a partir dos microdados, é possível, inclusive, conhecer as minúcias da geografia humana de cada bairro de uma capital como Porto Alegre.

Ainda será necessário buscar melhores explicações sobre as razões dessa redução acima do esperado do ritmo de crescimento da população. Ao lado da redução da natalidade, a pandemia, as migrações e mesmo possíveis problemas na coleta das informações do Censo são fatores especulados. Foi, como se sabe, um levantamento tumultuado. Não foi realizado em 2020 por causa da crise sanitária, no ano seguinte, pelo orçamento insuficiente, e, em 2022, sofreu com diversos contratempos.

Por agora, no entanto, é preciso se dedicar a analisar os dados disponíveis. E eles mostram que o Rio Grande do Sul, com 10,88 milhões de moradores, foi o quinto Estado com a menor taxa de crescimento populacional. Passou do quinto para o sexto lugar entre as unidades da federação com o maior número de residentes. Entre os 20 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes que tiveram as maiores perdas de domiciliados, cinco são gaúchos: Uruguaiana (-6,6%), Viamão (-6,4%), Porto Alegre (-5,4%), Novo Hamburgo (-4,7%) e Alvorada (-4,3%). São fenômenos que ainda requerem melhor compreensão. Até para serem desenhadas ações capazes de contribuir para o desenvolvimento e a qualidade de vida do Estado como um todo, das regiões gaúchas e dos municípios que estão perdendo população.


O bipe de R$ 6 milhões

Irritado com um bipe enquanto trabalhava, o faxineiro apertou o botão e desligou o freezer do laboratório. Resultado: uma pesquisa de 25 anos sobre fotossíntese e painéis solares foi totalmente perdida. O prejuízo financeiro é de R$ 6 milhões. Aconteceu no Instituto Politécnico de Rensselaer, na cidade de Troy, Estado de Nova York. Agora, a instituição está processando a empresa que terceirizou o serviço. A acusação é baseada no argumento de que havia, no local, uma placa indicando como agir. 

O texto dizia: "Este congelador está bipando porque está em reparo. Por favor, não o mova ou desligue. Nenhuma limpeza é necessária nesta área. Você pode pressionar o botão alarm/test silencioso por 5-10 segundos se desejar silenciar o som". Não sei qual será o desfecho do litígio, mas, com certeza, ele nos oportuniza algumas reflexões sobre como treinar e cuidar das pessoas - e dos freezers.

Não absolvo o profissional da limpeza de sua responsabilidade, até porque não é essa a minha função. Mas há, nesse caso, graves problemas de comunicação. O primeiro: o aviso é muito longo e, apesar das diferenças na tradução, confuso. Diz, ao mesmo tempo, para mexer e não mexer, para não desligar e desligar e, de quebra, que o bipe significa algo, mas não é importante, porque pode ser descontinuado. Muito complexo.

Segundo, fica evidente a falta de um treinamento eficiente do colaborador. Se alguém tem acesso a um botão que pode causar um prejuízo de R$ 6 milhões, é dever da empresa ou da instituição agir para minimizar riscos. Nada de muito sofisticado, caro e demorado. Uma conversa de dois minutos resolveria tudo. Muitas vezes, quando falamos em treinamento, imaginamos processos longos, coffee breaks cheios de carboidratos e gurus mandando abraçar árvores em busca da conexão com a energia pulsante do planeta. Nada disso. 

Uma boa capacitação pode durar 30 segundos, se a mensagem for transmitida pensando, em primeiro lugar, no receptor. A boa comunicação jamais começa com aquilo que eu quero dizer, mas sim com a compreensão do "para quem eu vou falar". Tudo se constrói a partir daí e não o contrário. "Eu disse" nunca é um argumento suficiente. O que decide o jogo é se eu disse de um jeito - forma e conteúdo - que o outro consiga compreender. Sem isso, mais cedo ou mais tarde, por falta de informação, alguém vai apertar o botão errado.

TULIO MILMAN 

29 DE JUNHO DE 2023
INFORME ESPECIAL

Cidade da Advocacia espera 15 mil

Será lançada hoje, no Multiverso Experience, em Porto Alegre, a nova edição do Cidade da Advocacia, o South Summit do Direito. O evento, que reuniu 5 mil pessoas em 2022, será realizado de 8 a 12 de agosto, no Cais Embarcadero, com novidades.

Dessa vez, segundo Leonardo Lamachia, presidente da OAB-RS, entidade responsável pela iniciativa, haverá um dia a mais de discussões, 50 painéis sobre temas da atualidade e uma área maior para que os participantes possam trabalhar e estabelecer uma rede de contatos.

Além disso, as palestras magnas ocorrerão em um dos armazéns do cais, à beira do Guaíba. São esperadas cerca de 15 mil pessoas.

-Tenho dito que não vai ser uma cidade da advocacia, vai ser uma metrópole - brinca Lamachia.

Para a abertura do evento, já está definido o nome do palestrante escolhido. Será o navegador, escritor, economista e empresário Amyr Klink, que irá falar sobre temas como gestão, resiliência e superação de desafios.

Lamachia lembra que a participação é gratuita para advogados e advogadas. Para saber mais detalhes, basta acompanhar o site cidadedaadvocacia.com.br.

Xô, burocracia

Porto Alegre segue na luta para desburocratizar o ambiente de negócios. Hoje, mais de 90% dos serviços que precisam ser feitos antes da abertura de um empreendimento estão automatizados na cidade, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Um exemplo: a consulta de viabilidade (anterior ao registro da empresa) leva, em média, 11 minutos. Antes da digitalização, explica a secretária Júlia Tavares, o processo demorava mais de 24 horas.

Ônibus 100% elétrico na Capital

Quem circular por Porto Alegre hoje e amanhã vai notar a presença de um ônibus de passageiros diferente (foto) dos usados no transporte público da Capital. É um veículo 100% elétrico da Marcopolo.

O modelo será usado por participantes de dois eventos no Instituto Caldeira e no Hotel Master: o 4º Fórum Gaúcho de Secretários e Dirigentes de Mobilidade Urbana e uma reunião do grupo QualiÔnibus. Com capacidade para 83 passageiros, o bus está entre os modelos que, até o fim de 2023, poderão ser adotados na cidade, em um projeto-piloto da prefeitura.

JULIANA BUBLITZ

quarta-feira, 28 de junho de 2023


Rato de biblioteca, de locadora, de streaming

Nunca peço nada emprestado, não sou bom de devolver pertences. Apresento o dom de procrastinar prazos. Eu me sinto eterno e me aposso indevidamente do que não é meu. Se estou com algum casaco de um irmão ou algum LP retrô de um amigo, venham buscar em minha casa. Só com oficial de Justiça batendo na porta. Não me lembro de jeito nenhum. O ressarcimento deve acontecer vasculhando o local.

A origem do defeito reside na escola. Eu sempre me dava mal na devolução de livros à biblioteca. Não conferia aquela ficha ao final de cada volume com a data do retorno e a minha assinatura. Eu simplesmente me esquecia do vencimento. Colocava o livro na cabeceira da cama e já o considerava parte natural da minha vida.

Quando eu o tirava da estante e me dirigia ao balcão para os encaminhamentos formais com a bibliotecária, sete dias pareciam suficientes para terminar a leitura. Tão suficientes que nunca iniciava a leitura.

Era o rei das multas na escola. Vivia negociando um desconto. Pelo menos, ajudei a custear a ampliação do acervo. No fim do Ensino Médio, cheguei ao constrangimento de ver a minha formatura suspensa caso não devolvesse uma obra. Não tinha noção de onde estava. Até perceber que emprestei a um vizinho. Ou seja, alcancei a proeza de sublocar uma propriedade literária.

Depois, na adolescência, a minha inadimplência migrou para o aluguel de fitas. Eu não resistia às promoções nos cartazes coloridos da vitrine: "Leve três fitas, não pague a quarta" ou "Leve cinco fitas e devolva em uma semana". Saía da loja cheio de sacolas brancas, com um orgulho nerd de rato de locadora.

Para o azar dos pais, tornei-me o cliente mais fiel e menos leal.

Facilmente seduzido pelos saldos, sem pensar direito, não consultava o meu tempo disponível. Não contava com duas horas por dia para consumir a montanha de caixinhas. Permanecia com um ou dois títulos virgens dos meus olhos e não me recordava de levá-los no momento de ir à faculdade. Já acumulei um mês de dívidas de diárias em atraso. Quase me encontrei a ponto de assumir o vício e frequentar as sessões dos "Locadores Anônimos".

O pior desse período era a obrigação de rebobinar as fitas. Jamais rebobinava, eita trabalheira e barulho desnecessários no videocassete. Agora, com streaming, jurei que estava livre das pendências. Que nada, tudo continuou igual, apesar das novas tecnologias e evolução dos hábitos. Ou eu continuei igual, com a mesma essência distraída e perdulária.

Nos cardápios dos canais fechados, você tem 24 horas para acabar um filme. Você acha que eu consigo? Óbvio que não. A diferença é que não há multas e que finjo ter assistido.

CARPINEJAR 

28 DE JUNHO DE 2023
ARTIGOS

ENVELHECER DEVE SER UM PRESENTE

Sabedoria e muito conhecimento de vida são desejos de todos, mas aqueles que já conquistaram isso e têm muito a compartilhar são invisíveis para parte da sociedade. Junho Violeta é o mês para debater o combate à violência contra a pessoa idosa e também é tempo de refletir sobre todos os aspectos da velhice. Com saúde, segurança, cultura, tecnologia, lazer, emprego, acesso aos serviços públicos e privados com dignidade e respeito, envelhecer pode ser um presente.

Está mais difícil se aposentar, e, ao mesmo tempo, o mercado de trabalho não absorve o conhecimento e a mão de obra das pessoas idosas. O que elas devem fazer? Como poderão se sustentar? O Brasil contabiliza mais de 210 milhões de smartphones, mas de que adianta se não há letramento digital? Eles passam a vida cuidando da família, dos amigos, gerando riqueza, compartilhando vivências e, no fim, quem está disposto a retribuir?

De acordo com dados do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), nos últimos 11 anos, a proporção de pessoas acima dos 60 anos em relação aos mais jovens aumentou 74% no Rio Grande do Sul. O Estado já ocupou o primeiro lugar do ranking brasileiro entre os Estados com maior expectativa de vida, mas hoje somos o quinto. Estamos envelhecendo aqui, no Brasil e no mundo, mas não tão bem quanto deveríamos. Velhice não é doença. E não sou apenas eu que estou dizendo. A OMS retirou da lista de Classificação Internacional de Doenças (CIDs) essa possibilidade.

A desigualdade e a falta de políticas públicas efetivas para não somente tratar as consequências, mas prevenir os problemas e oferecer um processo saudável, seguro e feliz de envelhecimento, aumentam diariamente os índices de violência contra as pessoas idosas. Abuso físico, psicológico, sexual, financeiro, sociopolítico, abandono, negligência. A rede de proteção precisa de fortalecimento, de gente disposta a não apenas falar sobre, mas fazer. O médico gerontólogo Alexandre Kalache afirma: "Quanto mais cedo, melhor. Nunca é tarde demais". Somos, do 0 aos 100+, o maior e mais valioso capital de uma nação. Façamos jus à dádiva que é viver.

Coordenadora do Programa Maturidade Ativa Sesc/RS MICHELE SILVEIRA


28 DE JUNHO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

RECONHECIMENTO AO CAMPO

O governo federal anunciou ontem que o Plano Safra 2023/2024 disponibilizará R$ 364,22 bilhões para médios e grandes produtores. É um montante 27% superior ao anunciado no ano passado. Após uma sequência de declarações desastradas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início do ano, a busca por assegurar crédito farto para agricultores e pecuaristas pode ser considerada um gesto no sentido de se reaproximar do setor, em grande parte refratário à gestão petista. Mas é, sobretudo, o reconhecimento da relevância da atividade rural, consolidada nas últimas décadas na condição de segmento mais pujante da economia nacional. Neste ano, especificamente, deu contribuições significativas que inclusive o Palácio do Planalto tenta capitalizar.

A safra recorde de 305,4 milhões de toneladas de grãos em 2023, conforme as estimativas mais recentes do IBGE, foi decisiva para o PIB brasileiro de janeiro a março surpreender e avançar 1,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Só a agropecuária cresceu 21,6%. Com o impulso, as estimativas para a alta da atividade econômica no país no ano, que há um mês se situavam ao redor de 1%, já superam os 2%. A grande produção do campo, também com a ajuda da conjuntura internacional, tem sido ainda essencial para conter a inflação dos alimentos. Não se deve esquecer ainda que itens como soja, milho, açúcar e carnes têm, há bastante tempo, se tornado pilares do saldo comercial positivo do Brasil.

Além das oscilações de mercado, a agropecuária, como atividade a céu aberto, é sempre sujeita a condições difíceis de serem administradas, como as questões climáticas. O resultado da safra 2022/2023, portanto, ainda é incerto em termos de volume e rentabilidade. Mas espera-se que o Plano Safra ontem detalhado concorra para que o país possa celebrar outra vez em 2024 novas marcas recordes, girando a roda da economia e assegurando maior disponibilidade de alimentos para os brasileiros. O próximo ciclo agrícola pode ter ainda a contribuição do Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor de grãos do país, mas assolado por estiagens severas nos últimos dois anos. A chegada do El Niño reduz as chances de novo déficit hídrico durante o verão no Estado. Isso eleva a possibilidade de os gaúchos voltarem a ter uma safra normal.

Com a Selic em 13,75% ao ano, as condições de crédito não são as melhores e, por isso, ainda é negociado o volume de recursos que o governo direcionará para a equalização do juro (diferença entre as condições de mercado e o efetivamente pago pelo tomador). As taxas anunciadas no plano variam de 7% a 12,5% ao ano. Mas neste tema do custo do capital, acerta o governo federal ao decidir por uma redução de até 1 ponto percentual no juro, conforme a adesão a práticas de agricultura sustentável. É uma medida sintonizada com a necessidade de conciliar cada vez mais produção com proteção ao meio ambiente, um caminho, aliás, já trilhado pela esmagadora maioria dos agropecuaristas, cientes da importância de conservar os recursos naturais de suas propriedades. Isso está atrelado, afinal, à própria perpetuação do negócio.

Hoje, o governo federal também anuncia as condições do Plano Safra da agricultura familiar, que terá mais R$ 75 bilhões. É outro segmento de grande relevância para a produção dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. O agronegócio brasileiro, de qualquer porte ou especialidade, é próspero graças ao trabalho diário dos homens e das mulheres do campo, à busca pela profissionalização e à consciência de que é necessário sempre estar incorporando novas tecnologias para reduzir custos e ter maior produtividade. Merece, portanto, todo o apoio possível. Melhor ainda se existir um esforço adicional para distensionar relações e garantir a paz no meio rural.


28 DE JUNHO DE 2023
+ ECONOMIA

Gaúcha fatura em um semestre o previsto para um ano

Fundada há 32 anos em São Leopoldo, a Meta tem sete escritórios em três países. A unidade criada em 2020 em Waterloo, no Canadá, já superou, neste primeiro semestre, o faturamento previsto para todo o ano. Em 2022, o braço canadense da operação já havia retornado todo o investimento, quando a projeção era obter esse resultado só em 2025.

A perspectiva é de que a unidade canadense represente, em 2025, 20% do faturamento total. Hoje, é 15%. A Meta levou ao Canadá 15 executivos e empresários de Banrisul, Randon e SLC, além de Sebrae, a convite do Instituto Caldeira e da Meta North America, para a Collision, conferência mundial de tecnologia que reúne 40 mil pessoas de 140 países.

A Meta foi uma das primeiras brasileiras a se instalar no corredor de inovação Toronto-Waterloo, que está entre os mais ativos polos de inovação. Entre os clientes, está a Maple Leaf Sports & Entertainment, dona do Toronto Raptors, único canadense na liga de basquete dos Estados Unidos (NBA).

Ata confirma que BC já não cumpre regime de meta

Além de transformar "frestinha" em "fresta" para o corte de juro em agosto e admitir divergências internas, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada ontem embutiu uma confissão: o Banco Central (BC) flexibilizou por conta o regime de meta, que define as regras do combate à inflação.

Não é pouca coisa: economistas muito ortodoxos - que consideram o freio aos preços mais importante do que o bem-estar da população - não toleram qualquer mudança na meta, alegando que vai comprometer a credibilidade do sistema. Ao detalhar a divergência no Copom - composto agora por sete diretores do BC, porque duas vagas ainda estão em processo de substituição -, a ata afirma que o grupo minoritário considera "necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação".

"Reancoragem das expecta­tivas longas" significa que esse grupo quer ver as projeções de inflação apontando para baixo em 2024 e 2025. É bom lembrar que, conforme as regras atuais, a meta deve ser cumprida ao longo do ano, até dezembro. A visão de cumprimento da meta ao longo dos meses, sem precisar alcançá-la a cada dezembro, é exatamente a mudan­ça que deve ser aprovada amanhã na reunião do Conselho Monetário Nacional (CNM).

Esse ponto de alteração é considerado certo pelo mercado há mais de um mês: em vez de "entregar" a inflação abaixo do teto da meta no ano-calendário, o limite seria considerado permanente, ou seja, sem data específica para alcançar o objetivo definido pelo CMN.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia sinalizado a flexibilização em março, quando disse que, para entregar a inflação dentro da meta neste ano, a Selic deveria ter sido elevada para 26,5%.

As expectativas dominantes para este ano, conforme o boletim Focus do próprio BC, situam a inflação de 2023 em 5,06%. Está há apenas 0,31 ponto percentual acima do teto da meta e vem caindo há seis semanas seguidas.

Imaginemos como estaria se o juro tivesse sido fixado em 26,5%. Então, o BC acertou ao flexibilizar a regra nesse ponto. Então, seria erro crasso flexibilizar também a meta, a ponto de comprometer a credibilidade?

É verdade que, com críticas apressadas e personalizadas ao presidente do BC, o presidente Lula acabou por confirmar desconfianças de boa parte dos economistas e do mercado financeiro sobre sua capacidade de dar prioridade ao combate à inflação, aceitando crescimento econômico menor. Mas o ditado popular "dois erros não fazem um acerto" salta nesse debate.

ENTREVISTA ROBERT JUENEMANN Advogado e conselheiro de empresas

Advogado especializado em governança corporativa, o gaúcho Robert Juenemann assumiu em 2021 sua homossexualidade em um universo com pouca diversidade, o dos conselhos de administração de empresas. Diz não ver uma grande transformação nesses dois anos, mas aponta melhoras, em parte graças à pressão de investidores estrangeiros. Neste Dia Mundial do Orgulho LGBT+, é parte crucial das boas práticas sociais e ambientais no ESG.

Como foi a decisão para começar a falar sobre diversidade no mundo corporativo?

Tenho um companheiro há quase 34 anos e, em abril de 2020, nós dois tivemos covid, e ele passou muito mal em determinado dia. Aí, me dei conta que ninguém pode passar por uma pandemia sem revisar valores. No ano seguinte, fui entrevistado por representantes de investidores. Quando perguntei aos brasileiros sobre diversidade, ficou claro que não era prioridade. Com os investidores estrangeiros, foi o oposto, estavam mais preocupados com diversidade e inclusão do que outro tema. Saí pensando que algo estava errado, os estrangeiros viam situações que os brasileiros ainda não conseguiam ver.

Houve evolução?

Aos poucos, mas ainda estamos muito atrasados nessa pauta. Desde 2021, ainda sou o único conselheiro de grandes empresas abertamente gay que trata desse assunto, e eu pergunto em eventos, ?onde estão os outros conselheiros LGBT? Sei que vocês existem?, mas ninguém aparece. Sei que é por medo de demissão, medo de agressão, de serem ridicularizados. Os conselhos ainda são formados por maioria de homens brancos, heterossexuais, com mais de 50 anos, que muitas vezes não conseguem ver valor na diversidade.

Qual o valor da diversidade?

Há sinal de mudança nas empresas porque a sociedade tem exigido. Nesta semana, muitas empresas pintam o logotipo com as cores do arco-íris, mas assim como existe ?greenwashing?, tem ?pinkwashing?, simulação de interesse na pauta só para alcançar consumidores homossexuais. Para os conselhos das empresas, digo o seguinte: ?se quiserem ser mais inclusivos para um mundo melhor, ótimo, mas, se quiserem fazer isso só por lucro, ajuda também?. Pesquisas mostram que conselhos diversos decidem melhor, pois há pessoas com formações, experiências e visões de mundo diferentes. Assim, os assuntos são analisados por mais facetas, e as empresas erram menos em suas estratégias.

MARTA SFREDO

28 DE JUNHO DE 2023
MÁRIO CORSO

Titanic, o retorno

Desde que afundou, o Titanic excita nossa imaginação. São inúmeras as peças de teatro, peças radiofônicas, livros e filmes sobre sua funesta história. Quando um acontecimento ganha múltiplas representações, indica que o fato deixou a história para tornar-se mito. O drama do naufrágio calhou para traduzir ideias opostas ao entusiasmo fabril da época.

Neste caso, um protesto contra o triunfo das máquinas, a aceleração do tempo e a onipotência da tecnologia - como crença de não ter limite em suas possibilidades. É um mito sobre o preço da arrogância, uma lembrança da limitação humana. Em termos gregos, seria a hybris, isto é, a desmedida, o orgulho imprudente que atrai a ira dos deuses e, por consequência, sua punição.

Dita, ou inventada posteriormente - o que é mais provável -, paira a frase de que nem Deus afundaria o Titanic. O nome do navio provém de Titãs, entidades descomunais da mitologia grega. Pois, o gigante afundou na primeira viagem. Miticamente, o naufrágio foi lido como punição divina, Deus colocando os homens em seu lugar.

De fato, o Titanic afundou por uma sucessão de erros. Uso de rebites de baixo carbono e chapas de baixa qualidade. Incêndio num depósito de carvão antes da partida. Especula-se que, pelo incêndio, o aquecimento desigual dos metais afetou estruturalmente o casco. Para cortar custos, encolheram o número de botes salva-vidas. A tripulação era despreparada e o capitão tomou decisões erradas.

Em 1985, localizaram os restos do naufrágio, então o mito ganhou seu totem. Recentemente, a empresa OceanGate tem explorado viagens de turismo para ver os destroços. Uma visita caríssima, em um submergível minúsculo, com uma escotilha ínfima, que só se justifica na condição de reverência sagrada.

Por ironia do destino, a descida ao símbolo de uma tragédia fruto da negligência, ganância e imprudência era feita, agora sabemos, por uma empresa negligente, gananciosa e imprudente, que produziu outra tragédia. Na semana passada, cinco pessoas morreram na implosão do aparelho.

Alertas sobre a segurança foram ignorados pelo CEO da companhia, Stockton Rush, para o negócio não parar. O funcionário responsável pela segurança foi demitido.

Um século depois, Titanic volta às manchetes, para mostrar o preço por negligenciar alertas sobre segurança e como aprendemos pouco com desastres. Em nossa época, os demitidos da vez são os climatologistas.

MÁRIO CORSO


28 DE JUNHO DE 2023
INFORME ESPECIAL

Chegou a hora do Beco do Medo

Retrato do abandono, o Beco do Medo (ao lado), no 4º Distrito da Capital, será alvo de uma ação coletiva neste sábado. A iniciativa é parte de um movimento de transformação urbana - já retratado aqui na coluna - que revitalizou 15 pontos da cidade.

À frente da mobilização, estão quatro mulheres (foto) do projeto social DU99: as arquitetas Aline Fuhrmeister e Mariana Jardim, a psicóloga Fernanda Fuhrmeister e a jornalista Kellen Höehr. A ideia, agora, é dar novas cores à viela (veja o projeto) e devolver, na prática, o verdadeiro nome ao beco: Santo Guerra.

- Será nossa primeira ação em uma área pública. Setenta pessoas se inscreveram para participar - conta Aline.

Com apoio da prefeitura e em parceria com a Associação das Empresas dos Bairros Humaitá e Navegantes, o mutirão será das 9h às 17h. As vagas para voluntários já se esgotaram, mas o grupo realiza ações mensais. Vale seguir @dunoventaenove no Instagram.

Só 6% dos gaúchos se cadastraram para receber alertas

Não adianta querer tapar o sol com a peneira: a cultura da prevenção a desastres, apesar dos esforços de quem atua na área, não existe no Brasil. A duras penas, estamos sentindo isso na pele, a cada reviravolta climática, inclusive aqui no Rio Grande do Sul. Mas o que a gente pode fazer, na prática, para ajudar a mudar isso?

Tem algo que está ao alcance da mão e que não custa nada. Para começar, é só mandar um SMS pelo telefone celular. Isso mesmo. É só digitar o número 40199, escrever apenas o seu CEP na mensagem e apertar em enviar. É de graça. Você estará, automaticamente, cadastrado no sistema de alertas do Centro de Operações da Defesa Civil do Estado (Codec). O órgão atua em linha direta com a Sala de Situação, que se tornou referência no monitoramento e na previsão das condições hidrometeorológicas do Rio Grande do Sul.

Sabe quantas pessoas estão inscritas no sistema? Segundo o coronel Luciano Chaves Boeira, chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, cerca de 700 mil. Percebe o que isso significa? Só 6% da população gaúcha. É muito pouco. Isso precisa mudar e rápido.

- O nosso pedido à sociedade é para que nos ajude. O 40199 é um canal de comunicação que vai lá na ponta. Precisamos garantir que os alertas cheguem às pessoas - diz o coronel Boeira.

Não é só isso. Também é necessário que a gente leve os avisos a sério, ainda que nem sempre o pior se concretize nas previsões (justamente por isso é que se chamam "previsões").As advertências não servem apenas para alertar quem vive em áreas de risco - são cerca de 740 pontos mapeados em 60 municípios. Servem para todos.

Por exemplo: se você mora em um local seguro, o melhor a fazer, quando há um alerta de ciclone ou de inundação, é, sempre que possível, não sair às ruas, cancelando compromissos que podem ser adiados. Por que não? É simples e é preventivo. Pode, inclusive, salvar sua vida.

JULIANA BUBLITZ