sábado, 30 de novembro de 2019



30 DE NOVEMBRO DE 2019
LYA LUFT

A velhice e o envelhecer

Muito já escrevi sobre o assunto, seja em colunas seja em personagens de romances ou contos, muito refleti sobre isso – mais porque me perguntam do que por curiosidade minha.

Pois digo, e acredito: velhice é natural como infância e juventude. Tem mais problemas? Talvez. Mas há velhos saudáveis e crianças enfermiças, morrem velhos, jovens e crianças, a vida é um privilégio desde que de qualidade boa, então a idolatria da juventude pode acabar sendo um tiro no pé.

Primeiro, porque disfarçamos o tempo por alguns anos, mas não sempre. Muitas vezes o excesso de cirurgias plásticas provoca um desmoronamento cruel e repentino do que de outro modo poderia mudar lenta e docemente. Não sou contra plásticas: aos 50 anos, depois de um momento difícil, eu tinha ar de 70 mal vividos, e o lifting, discreto e por ótimo cirurgião, me deixou com cara de 50 anos normais.

Coisas boas de envelhecer? Curtir mais a família, a vida, a arte, a natureza, as amizades, observar o aumento da família, o crescimento de netos e bisnetos, acompanhar tantas vidas e destinos Eventualmente sofrendo perdas, sentimos o tempo em seus misteriosos ciclos.

Outra vantagem: a gente pode ficar mais livre. Não precisamos dar satisfação de nossas ideias e atos, não há mais pai, mãe, professor, para nos criticar tentando nos educar... aprendemos que a opinião alheia não importa – a não ser poucas pessoas cuja opinião, sim, nos vale muito. 

Posso ler quanto quiser, caminhar ou preguiçar, tomar minha taça de vinho mesmo depois dos 80 anos se o médico permite, ficar horas contemplando a natureza ou vendo bons filmes na TV, posso conversar com netos e netas, filhos e filhas, exercitando ternura e alegria, além das naturais preocupações.

Posso curtir amizades novas e outras antigas, de anos, de décadas atrás, que com o tempo não se esvaziaram nem se perturbaram mas continuam como esteios da minha alma. Uma ou outra some, se desinteressa, se atrapalha com alguma coisa que não entendo nem pretendi, mas as especiais permanecem e são uma companhia incrível, mesmo que não nos vejamos muitas vezes: temos internet, e-mail, Whats, Skype e tantos recursos para curtir nosso convívio.

Coisas ruins de envelhecer? Primeiro, morrem pessoas amadas, mais do que quando somos jovens, e isso abre feridas  que podem cicatrizar na superfície, mas nunca saram: a dor corre como um riozinho silencioso e triste, para sempre. Em compensação, acho que ficamos mais tranquilos quanto à nossa própria finitude: ela vai parecendo mais natural.

Problemas de saúde são inevitáveis numa vida longa. Boa ocasião de aprender a não ficarmos queixosos, nem obcecados  com doenças e receitas. A dádiva especial é ficarmos lúcidos, podendo usufruir afetos, objetos, paisagens, música, as memórias melhores, e algum projeto ainda: o bisneto, a visita,  o telefonema, o livro, o quadro, o sono, o sol e a doce chuva.

No meio dos dramas, dilemas, desconfortos que possam acontecer e ocorrem em todas as idades, há esse privilégio de poder, ainda, observar, curtir e amar todas essas coisas a que chamamos vida.

LYA LUFT

30 DE NOVEMBRO DE 2019
MARTHA MEDEIROS

Depois do The End

Muitas pessoas têm nojo de baratas. Ou medo. As danadas vivem pelos cantos e podem nos surpreender a qualquer momento, desestabilizando nossa rotina e nossa paz. Uma barata no mesmo recinto é uma perturbação, nada volta ao normal até que ela seja eliminada. Quem dá cabo dela vira instantaneamente um herói.

Mas elas se reproduzem e reaparecem. Não há solução, só paliativos. Manter a casa limpa, não espalhar resto de comida, providenciar uma dedetização de vez em quando. O jeito é se contentar em mantê-las fora de visão, fazendo de conta que não existem.

Parasita, o tão comentado filme sul-coreano, é uma metáfora caricatural da nossa relação com o que não enxergamos. Uma família pobre mora num espaço insalubre que fica abaixo da linha da calçada, junto a lixeiras. Eles espiam o mundo como se por uma fresta de um bueiro. Não por acaso, nas cenas iniciais, são atingidos pelo jato de um pesticida que está desinsetizando a rua. Surge então a chance de entrarem na casa de uma família rica, e aí, um por um, se infiltram na sala, na cozinha, nos quartos, tomando conta de todo o ambiente doméstico. Até que descobrem o porão, e essas "baratas" intrusas encontram baratas ainda mais subterrâneas, que já estavam ali antes.

Há muitas maneiras de filmar a desigualdade social. Coringa investiu em um personagem dos quadrinhos, A Odisseia dos Tontos optou por um duelo quase infantil entre mocinhos e bandidos. Já Parasita tem um roteiro deliciosamente pirado que intercala o cômico e o trágico. A luta de classes nunca alcançará um happy end, mas ao menos ainda veremos outros tantos filmes usando o tema como gancho e, através dele, realizando arte de primeira categoria.

O cinema é uma lente de aumento exuberante. Seja qual for a história contada, é a nossa humanidade que está na tela, hiperdilatada. Nunca saio indiferente de uma sala de cinema. É como se eu tivesse sido sequestrada por duas horas (ou ido à Ásia por duas horas, vivido um amor louco por duas horas, chegado perto da morte em duas horas). Quando as luzes se acendem e as portas se abrem, custo a levantar do assento, continuo imersa nos sustos que levei, nas emoções que senti. É estranho voltar aos corredores iluminados do shopping e pagar o ticket do estacionamento como se nada tivesse acontecido. A vida real é que passa a ser violenta, louca, pirada. Por um tempo, transito entre duas dimensões.

Se você se envolve da mesma maneira, vai gostar: estou lançando Comigo no Cinema, uma seleção de crônicas inspiradas por filmes que vi de Almodóvar, Woody Allen, Jorge Furtado, Jim Jarmusch, Scorsese e tantos outros. Mais de 70 reflexões escritas assim que cheguei em casa, com o filme ainda agindo dentro de mim (como Parasita continua agindo). Porque quando um filme mexe conosco, ele dura mais do que duas horas.

MARTHA MEDEIROS


30 DE NOVEMBRO DE 2019
CLAUDIA TAJES

Terapia de vidas passadas

Há alguns dias comecei a praticar regressão. Não é bem o que parece, voltar no tempo para me descobrir uma escrava da Cleópatra ou a ajudante de quarto da Rainha Vitória. Nada disso. É que estou arrumando as fotografias antigas e, de olhar para elas, viajo para outras épocas, algumas das quais não tenho lembrança alguma. Mas as fotos estão ali, desmentindo o meu esquecimento.

Com horas de nascida, enrolada como uma pequena múmia, mas não parente da Cleópatra. Minha mãe estreante me olhando daquele jeito como as fêmeas de todas as espécies olham para seus filhotes. Estranho a foto manter seu preto e branco, deveria estar sépia já, tantas décadas depois. O que será que aquela nenê sentia, será que sonhava ou que só dormia? Em outra foto, eu um pouco maior com inexplicáveis cabelos loiros. Poderia ser filha do leiteiro - piada politicamente incorreta e historicamente incompreensível, já que há muito os leiteiros desapareceram do cotidiano das famílias. Eu mesma, para ser sincera, nunca vi um.

A irmã que nasceu com um intervalo de apenas 11 meses, nós duas sempre com roupas iguais, só a cor diferente. Eu de azul, ela de vermelho. Virei gremista - como meu pai. Ela, colorada. Se não foi cármico, foi o leiteiro. Embora eu já tenha uns três anos nas fotos, não lembro do que a gente brincava, dos passeios, das brigas. Não demora, minha irmã caçula começa a figurar nas imagens. É uma bebê gorducha, olhos redondos. São muitas as fotos da mãe com a gente. Se não me visse nelas, diria que nunca estive naquele apartamento.

Fotos na casa dos avós com as primos, os primas, os tios, as tias. Não chega a ser lembrança, é mais uma sensação de coisas acontecidas. Como na vez em que a vó matou uma galinha na nossa frente para o almoço do domingo. Nós, as crianças, comemos chorando, mas comemos. Não tinha essa de escolher o cardápio. O tio mais moço tocando bateria, meu irmão bebê já incorporado, de colo em colo nas fotos. O batizado dele, o padrinho e a madrinha na estampa dos anos 1970, os dois com grandes óculos de sol que assustariam o afilhado, não estivesse ele ferrado no sono. Fui, mas não lembro.

Sete de Setembro, marchando na ala dos mais baixinhos do colégio. Pobres alunos, tomara que esse desfile não seja mais obrigatório. Concorrendo a Mais Bela da Escola, os cabelos falsamente cacheados, uma tragédia estética. Fiquei em último lugar. Chuchi e Nara, as melhores amigas. Algumas professoras de diferentes colégios. Troquei muito de colégio, disso eu lembro bem, a repetida sensação do primeiro dia de aula e o desconsolo de começar tudo outra vez.

Minha adolescência não ficou registrada, odiava fotos e aposto que proibi os flashes. Era chata de doer. Então o tempo dá um salto e me vejo em outra vida, com o namorado que importou em casas desconhecidas e praias desabitadas. Aquela na turma da Geologia, de bornal e tudo, sou eu? Mais uma vez, não me reconheço.

Meio sem perceber, o trabalho substituiu a família. É onde eu mais fico, onde mais me divirto, onde começo a ganhar um dinheirinho que vai melhorando à medida em que a vida avança. Grana para as compras que antes não podia fazer, para viajar. Queria que as meninas e os meninos que começam uma de suas vidas agora tivessem essa oportunidade também. Nunca é fácil, mas parece que nunca foi tão difícil.

A partir do nascimento do meu filho, lembro de tudo. Só quase não dá para acreditar que ele já tenha sido tão pequeno. Talvez a gente documente a vida dos filhos assim, quase que minuto a minuto, para ter a impressão de que acontece tudo de novo a cada vez que se mexe nas fotos antigas.

A arrumação vai chegando ao fim e a regressão, também. Pai e mãe não aparecem mais nas fotos, ficou só a falta ocupando o lugar dos dois. Surgem personagens novos, as sobrinhas e o sobrinho, amigas e amigos, o namorado e a família dele. Quantas vidas mais todos nós teremos antes de tudo acabar, é um mistério. Que nunca nos faltem selfies, nem fôlego, para nenhuma delas.

CLAUDIA TAJES


30 DE NOVEMBRO DE 2019
CARPINEJAR

Inesperada timidez

No amor verdadeiro, todos viram tímidos. Mesmo os mais seguros, os mais confiantes, os mais sociáveis, os mais comunicativos, os mais expansivos. É o que chamo de apagão da personalidade. Você se importa tanto com a opinião do outro que se vê inesperadamente retraído, capaz de agir como uma criança apertando a campainha e saindo correndo.

Com a dúvida da reciprocidade, nega-se o que aconteceu e o que foi realizado, apesar das evidências contrárias. É tipo um "não fui eu" absurdo.

Enfrenta situações patéticas, embaraçosas, desprovidas de sentido para um adulto. É telefonar, esquecer o que iria dizer e desligar na cara e depois não atender a chamada de volta. É falar uma verdade e se arrepender, mentir que é brincadeira e jamais repor o que realmente pensa. É mandar mensagens de madrugada, um pouco bêbado, reconhecer a hora adiantada e imprópria e apagar com receio de se mostrar excessivamente dependente. É abandonar de fininho a cama de manhãzinha para escovar os dentes e voltar fingindo que está dormindo, como se a companhia não tivesse notado a sua saída.

Isso sem contar a precocidade das juras que cria a vergonha e o rubor das bochechas. Você está começando a relação e passa a fazer declarações definitivas que só assustam.

Não há maior medo do que estar amando sozinho ou amando mais rápido do que o andamento dos fatos. Como, do nada, revelar que gostaria de ter filhos e quais os nomes sonhados. E a pessoa fiscalizar o uso dos preservativos de modo obsessivo. Daí você fica sem chão.

Ou fazer montagem de imagens do casal para comemorar 15 dias do primeiro beijo. E a pessoa lhe confundir com um psicopata. Daí você fica sem pai nem mãe.

Ou colocar a foto da parceira na tela de proteção do celular. E a pessoa considerar que está forçando a barra, afinal recém vêm se conhecendo. Daí você fica sem sinal.

Ou oferecer metade do chiclete da boca. E a pessoa recusa, já que é uma situação íntima demais para não sentir nojo. Tudo bem em partilhar o mesmo copo de cerveja, taça de vinho e canudinho, mas goma mascada é exagero. Daí você fica sem moral.

Ou propor morar juntos quando mal assumiram o romance. E a pessoa julgar que você é carente e inconsequente. Daí você fica sem teto.

Ou dar um presente caro demais perto das poucas experiências vividas lado a lado. E a pessoa distorcer que busca comprar a presença. Daí você fica sem crédito.

Amar é não saber ao certo como se comportar, se é cedo demais para se comprometer ou se cabe demonstrar a emoção quente na hora em que ela aparece.

A timidez é sempre esse medo ingrato e aterrorizante de decepcionar.

CARPINEJAR


30 DE NOVEMBRO DE 2019
LEANDRO KARNAL

Existem conceitos que se espalham e que usamos sem muita reflexão. Quando as pessoas notam que existem oferendas no dia 2 de fevereiro para Iemanjá, dia de Nossa Senhora da Luz ou das Candeias, imediatamente classificam que esse seria um gesto de sincretismo, de elementos combinatórios entre a mãe de Jesus e a orixá dos mares. O mesmo poderia ser percebido em Santa Bárbara, tratada como Iansã no candomblé, ou São Jerônimo/Xangô ou São Jorge/Ogum. O mesmo sentimento geral afirma que as combinações eram estratégias de escravos que, impossibilitados de continuar seus cultos tradicionais, disfarçaram o panteão africano com os canonizados católicos. 

Ir à Igreja do Senhor do Bonfim, lavar as escadas com água de cheiro louvando ao bom Jesus que acompanhava a agonia derradeira era, no fundo, um culto a Oxalá presente no branco das roupas das baianas e nas comidas de homenagem. Esse parece ser um consenso tão universal no Brasil que se assemelha à ideia clássica da origem da feijoada: um prato com restos do porco levados para a senzala e lá cozidos com o feijão-preto enquanto os senhores brancos da Casa Grande tinham aproveitado o lombo e o pernil. Como as entidades poderosas iorubas, a feijoada era uma estratégia do possível para um grupo oprimido e violentado física e espiritualmente.

A ideia pareceu funcionar e foi bem repetida. A feijoada não é um prato da senzala e não nasceu na colônia. O prato típico da mão de obra escravizada é a farinha de mandioca com carne-seca. A feijoada é urbana e, provavelmente, nasceu na capital do país de então, o Rio de Janeiro. Com variantes expressivas, cozinhar partes do porco com feijão existe em quase todo o mundo.

Voltemos ao sincretismo. O conceito tem um problema: ele implica dizer que existiria uma religião pura e original. Não há. Mitos combinados fazendo surgir uma espécie de signo aberto no qual o Zé do Burro (a personagem do O Pagador de Promessas, de Dias Gomes) via Iansã e Santa Bárbara ao mesmo tempo, para horror do padre na obra.

Não existe uma religião original ou uma fonte absoluta. Explico-me. O Deus de Israel é fruto da fusão de uma entidade chamada El e outra denominada Iaveh (e suas muitas variantes de escrita). Cada entidade era separada e atingia mais os habitantes do norte ou do sul do corredor sírio-palestino. Há abundantes evidências imagéticas e literárias de que eram seres separados, com narrativas distintas, esposas, imagens específicas e valores apartados. No exílio da Babilônia, sacerdotes costuraram um processo que vinha aumentando fazia anos: a fusão dos dois deuses em uma nova entidade nacional dos hebreus, cada vez mais imaterial e única. Israel passou do politeísmo para a monolatria e, muito mais tarde, para o monoteísmo. As narrativas foram colocadas por escrito por um processo visível ainda nas linhas de colagem da Bíblia. Existe o texto eloísta e o javista e eles foram unificados de forma mais ou menos eficiente pela chamada tradição sacerdotal. Isso explica algumas contradições notáveis do texto bíblico, deixando ainda revelar dois seres completamente diferentes com atributos desiguais.

E o demônio? Talvez seja a mais sincrética das criaturas. A serpente que provocou a queda do homem, a entidade que obtém de Deus autorização para atormentar Jó e o ser que dialoga com Jesus no deserto são completamente distintos. Porém, a narrativa cristã uniu todos como Lúcifer ou Satanás, aquele que sussurrava ações maléficas a Judas e que luta contra o Bem no Apocalipse. A costura de toda a ação malévola em um ser específico é um processo de intenso sincretismo.

Maria passou a ser cultuada em Éfeso, mesmo lugar do culto a Diana/Ártemis, uma entidade sempre virgem. A fusão de deusas-mãe do Crescente Fértil com a figura de Nossa Senhora foi bem documentada. Em alguns casos, transforma-se o lugar: o Partenon de Atenas, consagrado a outra virgem, Palas-Atena/Minerva, virou igreja de Nossa Senhora. Dogmas marianos foram proclamados em Éfeso e o processo de construção da imagem de Maria vai até o século 20 (dogma da Assunção). Nascer de uma virgem é comum a Mitra e a Jesus. Ressuscitar é lembrado como atributo de Osíris e Cristo.

Todos os deuses e cultos do mundo são costuras de muitas tradições. Mesmo que alguns religiosos fiquem um pouco chocados, heróis submetendo dragões (como São Jorge, São Marcelo de Paris ou Santa Margarida) não começaram com Game of Thrones. São mitos antigos e fortes. Como o arcanjo São Miguel pesa as almas em imagens medievais, Anúbis fazia isso há mais tempo no Egito. Tudo no campo do sagrado é feito de sobreposições, imbricações, fusões e mestiçagens.

Sob esse aspecto, tudo é sincretismo, inclusive aquele processo de criação de Deus ou de Maria. Não existe uma religião original e pura ou uma fonte primária. Religiões funcionam como cebolas com muitas camadas e, enfim, depois de retiradas, inexiste uma essência primeira. Sincretismo é a base de todas as culturas, não apenas de Iemanjá ou Xangô. É preciso ter esperança, esta sim, uma virtude pura e original.

LEANDRO KARNAL


30 DE NOVEMBRO DE 2019COMPORTAMENTO




NÃO HÁ SEGUNDA CHANCE PARA TER UMA BOA PRIMEIRA IMPRESSÃO

O argentino Tomas Chamorro-Premuzic atua na área de psicologia organizacional, pesquisando assuntos como perfil de personalidade, análise de pessoas e desenvolvimento de liderança. Ele é autor de 10 livros, incluindo Confianza: La Sorprendente Verdad Sobre Cuánto la Necesitas y Cómo Lograrla, e leciona psicologia de negócios na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e na University College, de Londres. O pesquisador concedeu a seguinte entrevista por e-mail a Zero Hora:

O que faz com que a gente confie em algumas pessoas e não em outras?

Cordialidade, carisma, inteligência emocional, atratividade e pertencer à mesma cultura/tribo. É também por isso que cometemos erros: desconfiando de pessoas honestas que não se encaixam nesses critérios e confiando em algumas que se enquadram, mas que não são confiáveis.

Há maneiras de saber se alguém realmente merece a nossa confiança?

Nunca podemos saber com certeza, mas as atitudes passadas, o altruísmo e ter consciência são elementos a serem levados em conta. Não é algo científico como engenharia aeroespacial, mas também não é aleatório.

Uma vez perdida, a confiança pode ser recuperada?

Sim, mas geralmente não é isso que ocorre. Não há segunda chance para ter uma boa primeira impressão, e as pessoas geralmente são teimosas, então usam viés de confirmação (a tendência de interpretar informações de maneira a confirmar crenças originais) para acreditar nas suas primeiras impressões.

Quando o assunto é confiança, você diria que a dinâmica social no ambiente de trabalho é distinta da vida pessoal?

Acredito que não. As pessoas são as mesmas e depois de poucas semanas trabalhando em um novo lugar começam a se comportar da mesma maneira como se comportam fora do escritório (com algumas exceções).

Quanto devemos confiar em alguém que recém conhecemos? Há um equilíbrio entre, digamos, bancar o trouxa e exagerar no ceticismo?

O suficiente para que a sociedade funcione: se não confiássemos automaticamente nos outros, não seria possível comer em restaurantes, voar em aviões, andar de táxi ou cruzar ruas porque qualquer pessoa poderia nos machucar a qualquer momento. Então, o padrão deve ser confiar, mas quando as decisões apresentam um grande risco e as situações são ambivalentes, um grau saudável de ceticismo certamente é útil.



30 DE NOVEMBRO DE 2019
DRAUZIO VARELLA

DAS DORES

Já passava das duas da tarde quando Maria das Dores entrou. Era a quinta paciente que vinha para consulta sem estar agendada.

Dia de atendimento na cadeia é feito coração de mãe. Às vezes, fico com a sensação de que estou preso na cela em que atendo, na Penitenciária Feminina de São Paulo.

A robustez envelhecida do prontuário médico deixava claro que se tratava de uma prisioneira da categoria "patrimônio público". Num ambiente em que condenações de cinco ou seis anos são consideradas "cadeia de poeta", para ser enquadrada no grupo "patrimônio" é preciso receber penas superiores a 20 anos ou ter múltiplas passagens.

Eu estava com fome e de mau humor, estado de espírito que ela desarmou com um sorriso delicado e o pedido de desculpas pela intromissão, motivada por uma amigdalite que diagnostiquei em menos de cinco minutos.

Quando terminei de preencher a prescrição, ela levantou-se para sair. Estranhei. Carentes de atenção, mulheres na cadeia costumam ser poliqueixosas, mal o médico acaba de resolver um problema, vem uma enxurrada de outros: dores nas costas, enxaqueca, queda de cabelo, manchas na pele, irregularidades menstruais, insônia, vista cansada, vácuo no estômago e uma infinidade de achaques não descritos nos livros de medicina.

Perguntei há quantos anos estava na prisão. Respondeu que havia cumprido 12 de uma pena de 36. Pedi que sentasse.

Contou que o nome lhe foi dado em pagamento à promessa que a mãe fizera para Nossa Senhora do Bom Parto aliviar as dores horríveis ao dar à luz a ela, num vilarejo próximo de Quixadá, no sertão cearense. Considerava inútil o nome Maria, jamais utilizado pela família ou pelas pessoas que veio a conhecer.

Aos 11 anos de idade, foi mandada para a casa de uma tia, em São Paulo, para afastá-la do escândalo familiar causado pelo avô paterno que a estuprou.

Na Zona Leste, com a tia e duas primas, pôde estudar até conseguir emprego num escritório de advocacia que, anos mais tarde, possibilitaria a compra de uma casa vizinha à das primas, quando se casaram. Ela continuou solteira:

- Pra mim, homem sempre foi coisa meio nojenta, quando chegavam perto eu me sentia mal.

As primas tiveram três filhas que fizeram a felicidade da "tia" Das Dores, sempre disposta a vê-las e a ficar com elas, quando os pais saíam.

- Tinha paixão por aquelas crianças; mais do que se fossem minhas filhas. Queria me ver feliz, era me deixar com elas.

A tragédia aconteceu no dia em que uma das primas pediu para Das Dores voltar mais cedo do trabalho, para fazer companhia à filha de nove anos que estava para chegar da escola.

A casa da prima estava fechada. Ela achou que a menina ainda não tinha chegado. Enquanto procurava a chave na bolsa, ouviu um choro abafado que vinha do quarto.

Encontrou a sobrinha de nove anos encolhida na cama com os lençóis revirados e as mãos entre as pernas, sobre uma poça de sangue.

- A hemorragia foi tanta que, quando ficou em pé, desmaiou.

Desesperada, ligou para o Resgate, que levou a criança para o pronto-socorro. Depois de duas horas de cirurgia e uma transfusão de sangue, a menina contou que fora violentada por dois irmãos que moravam no caminho da escola. Das Dores fez a criança jurar que não revelaria a identidade dos dois para mais ninguém; nem para os pais.

No mesmo dia, ela se apresentou a um traficante da vizinhança, para comprar um revólver.

Vigiou a casa dos agressores durante horas. Viu o primeiro homem chegar do trabalho, e esperou pelo segundo, que não tardou.

No portão, interpelou-o com voz doce. Disse que o observava havia algum tempo e que se sentia atraída por ele. Conversaram por alguns minutos, até ser convidada para entrar.

- Homem é bicho idiota, cai na primeira conversa de mulher.

O amigo estava no fogão. Foram apresentados. Ela tem certeza de que viu uma calça manchada de sangue num balde com água, atrás da porta do banheiro. Pediu um copo de cerveja. O primeiro caiu sobre o fogão; o outro, junto à porta da geladeira.

Na manhã seguinte, Das Dores foi ao Instituto Médico Legal. Identificou-se como uma parente encarregada de reconhecer os mortos. O funcionário retirou-os da geladeira e se afastou, em respeito. Ela abriu a bolsa, pegou o vidro com gasolina, esparramou sobre os corpos e ateou fogo, antes que o funcionário estupefato pudesse impedir.

DRAUZIO VARELLA


30 DE NOVEMBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

O gorro perfeito

Comprei o chapéu de Shackleton. Um gorro, na verdade, mas não um qualquer. Estou falando do gorro perfeito.

Acontece que sinto muito frio nas orelhas. Será normal isso? A investigar. De qualquer forma, o fato é que, ao dormir, tenho de tapar as orelhas mesmo no verão, e aqui, no inverno feroz do Norte, não posso sair sem que a cabeça esteja coberta.

Dia desses, porém, saí desprevenido. Culpa da Marcinha. Ainda estava em casa, quando ela chegou da rua, livrando-se do casaco com alguma urgência e anunciando: - Está quente! Se estiver saindo, vai sem touca!

Eu estava saindo, e já empunhava a minha brava touca de lã, mas, como a Marcinha se punha a repetir que estava quente para fins de novembro, que fazia 11 graus e luzia o sol, saí a descoberto.

Que arrependimento. Em poucos minutos, a temperatura despencou e um vento gelado veio uivando do Canadá. Foi aí que pensei em Shackleton. Ernest Shackleton foi um explorador inglês que liderou uma das maiores aventuras da história da humanidade. Só é possível acreditar no que ele fez porque existem documentos e testemunhos a respeito.

Foi o seguinte: quando a Primeira Guerra Mundial estava ainda no seu início, Shackleton decidiu que atravessaria a Antártica a pé. Conseguiu patrocinadores generosos, um navio robusto e até o apoio de Churchill para o empreendimento. Em seguida, passou para a fase de contratação da tripulação.

Essa parte deveria ser estudada por diretores de empresas mundo afora (Alô, Andiara! Alô, Toigo! Alô, Zuckerberg!), porque foi fundamental para o sucesso de Shackleton. E foi surpreendente. Porque Shackleton dava menos importância aos conhecimentos técnicos de seus contratados e muito mais à personalidade de cada um. Ele dispensava currículos bem fornidos, se o candidato demonstrasse possuir bom humor e bom caráter.

Finalmente, partiu com seu navio, o Endurance, que significa resistência, palavra bastante apropriada para aquela expedição. Porque, depois de alguns meses, o navio acabou preso por grandes banquisas de gelo que foram pressionando o casco até afundá-lo. Os tripulantes conseguiram escapar no último momento e, com três pequenos botes, rumaram para uma ilhota congelada. Estavam em uma situação desesperadora, no meio do gelo infinito da Antártica, com alimento escasso, a cerca de 1,5 mil quilômetros de distância de quaisquer outros seres humanos. O horror, o horror. O tempo ia passando, passou-se mais de um ano, e não havia sinal de salvação.

Enquanto isso, Shackleton esforçava-se para manter os ânimos do grupo elevados. Inventava jogos e celebrações, conversava com os homens, alentava-os. Finalmente, resolveu sair com um grupo e arriscar a travessia até a ilha da Geórgia do Sul, onde sabia que poderia encontrar socorro. Depois de quase um mês enfrentando tempestades e inclusive um furacão, ele chegou à ilha. Mas, no lado em que bateu, não havia ninguém. Teria de atravessá-la, percorrendo 50 quilômetros de terreno montanhoso, sem trilhas, sem referências, sem nada que o guiasse. E conseguiu!

Por fim, Shackleton tentou por três vezes buscar os companheiros que havia deixado para trás, mas o gelo o impedia de navegar. Na última tentativa, teve sorte. Todos foram salvos. Com sua liderança e inteligência, Shackleton os manteve unidos e confiantes por DOIS ANOS no frio extremo da Antártica. Sua façanha é uma das grandes realizações da vontade humana.

Eu, no lugar deles, só resistiria se tivesse densa proteção para as minhas orelhas. Era no que pensava naquele dia de frio, em Boston. Sentia-me um Shackleton, avançando contra os ventos gelados sem touca ou chapéu.

Então, vi algo que, para mim, pareceu aquela pequena ilha onde os marinheiros se homiziaram: uma Target, que é uma loja que tem de tudo, de hortifrútis a TV de plasma. Entrei e, logo no primeiro andar, vi um chapéu exatamente como o de Shackleton, com abas compridas, próprias para proteger orelhas sensíveis como as minhas.

- É muita coincidência! É um sinal! - exclamei, chamando a atenção dos outros clientes.

Comprei o chapéu por US$ 19 e o acoplei à cabeça. Era quente e aconchegante. Olhei-me no espelho: parecia um aventureiro. Sim, senhor! Satisfeito, segui o meu caminho, como os marinheiros ingleses rumo à Geórgia do Sul. Estava contente, debaixo do meu gorro perfeito. Depois de horas, cheguei feliz em casa. A Marcinha estava na sala. Ao me ver, gritou:

- Mas que coisa horrorosa é essa na tua cabeça?!?

Aquilo doeu. Mas toquei para o quarto, de queixo erguido, pisando firme, enquanto ela gargalhava no sofá. Que se ria. Viver uma vida de aventuras não é para qualquer um.

DAVID COIMBRA


30 DE NOVEMBRO DE 2019
VARIANDO

Dissonância cognitiva

Calma leitor, parece difícil esse título, mas com um exemplo você não esquecerá o conceito. Em 1954 uma "profeta" e dona de casa do Michigan, Dorothy Martin, previu que uma nave espacial levaria ela e seus seguidores para fora do planeta, pois a Terra seria inundada. Precisamente, ocorreria no dia 21 de dezembro daquele ano. Deus teria avisado apenas a ela. Então Dorothy e seus discípulos largaram suas posses, suas famílias para esperar o resgate.

Como a história era pública, psicólogos pesquisadores, chefiados por Leon Festinger, se infiltraram no grupo para observar a reação dos crentes quando a profecia não ocorresse. Estavam justamente estudando: como as crenças se transformam quando a realidade se impõe.

Quando a nave não chegou, os membros da seita concluíram que as orações deles teriam sido tão eficazes que impediram a destruição do planeta. Por isso a nave não foi necessária. Ou seja, o pensamento mítico, tanto quanto o pensamento paranoico, nunca é vencido. A experiência contrária, não só não afunda a tese, como a reforça. Sujeitos emocionalmente envolvidos com suas crenças não abrem mão do sistema que usam, eles torcem os fatos para encaixá-los na teoria prévia. Por isso o conceito de dissonância cognitiva, a diferença entre aquilo que ocorre e como isso é entendido pelo sujeito.

O conceito foi desenvolvido no livro When Profecy Fails (Quando as Profecias Falham) e nos ajuda a pensar os caminhos da nossa psique. A questão é que isso não ocorre apenas em seitas apocalípticas. O exemplo é grosseiro, para demostrar com clareza, mas existem gradações dessa forma de pensar. Podemos ter ilhas de dissonância cognitiva dentro do nosso sistema de pensamento.

Somos herdeiros de uma tradição racionalista que acreditou demais na tese de que o ser humano seria razoável e guiado pela razão. Como se o tempo da ciência tivesse chegado e o do mito ficado no passado. Somos racionais, mas de modo intermitente, nem sempre, ou nem em todos os assuntos.

Isso envolve a todos. Estou falando de mim e de você, caro leitor. Por que seríamos imunes a cantos de sereias de crenças quando elas nos convêm? Infelizmente o modo mítico de pensar é a nossa base natural. Nós não somos amigos dos fatos e sim da nossa maneira de pensar.

A saída é a radicalização da alteridade. Aceitar a parcialidade de nosso saber e furar todas as bolhas possíveis. Exercer de fato a tolerância com outras formas de pensar. O melhor termômetro é a dúvida, pois a paranoia é o paraíso da certeza. Siga quem menos parecer um profeta. Fuja de quem não se inclui no problema e culpa apenas os outros. Evite quem espuma ódio, pois é signo de uma paixão, logo de uma cegueira. E, principalmente, precisamos insistir na tese de que todos temos direitos a opiniões, mas não existe um direito aos fatos.

MÁRIO CORSO


30 DE NOVEMBRO DE 2019
JUBILADOS

Grupo RBS celebra seus colaboradores

Era um clima de celebração, com palmas, show ao vivo, palavras de agradecimento e largos sorrisos. Em cerimônia no prédio da Avenida Erico Verissimo, o Grupo RBS celebrou, na segunda-feira, a dedicação de seus 110 jubilados: funcionários que, em 2019, completaram 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 anos de contribuição à RBS.

O evento teve como mestres de cerimônia o comunicador Luciano Potter e a apresentadora Alice Bastos Neves, que convidaram cada um dos jubilados para uma arquibancada, completada conforme cada um era chamado e aplaudido pelos demais colegas. Eram jornalistas, técnicos de áudio e de vídeo, engenheiros, jornaleiros, publicitários, motoristas, administradores, entre outros profissionais. Gente que dá rosto e personalidade à empresa.

Na comemoração, houve quem se emocionasse ao comentar a trajetória na RBS, relembrando um que outro fato na empresa ou amarrando a vida pessoal à carreira. Muitos entraram como estagiários e seguiram em diferentes áreas da empresa. Cresceram em suas carreiras, mudaram de cidade, tornaram-se líderes, tiveram filhos e até netos.

Entre os homenageados, estavam o presidente do Conselho de Administração da RBS, Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda, completando 15 anos, e o CEO da empresa, Claudio Toigo, que soma 25 anos.

- Ao longo de mais de 60 anos, a RBS passou por transformações, desafios e mudanças. O que não mudou, no entanto, é um pilar muito representativo da nossa força: a confiança e o orgulho que temos das nossas pessoas. O que diferencia a nossa empresa é essa relação de amizade, de comprometimento e de lado a lado que temos com os profissionais que fazem diariamente a RBS ser o que ela é - destacou Eduardo, no encerramento da comemoração.

- O tempo significa as histórias que vivemos e o que contribuímos aqui nessa empresa que, em mais de 60 anos, passa por transformações e as faz também. Que a gente possa construir mais histórias de significado - declarou Toigo.

Presente na celebração, o acionista Nelson Sirotsky agradeceu aos funcionários pela dedicação.

- São 110 jubilados. Digamos que cada um tenha 15 anos de casa: são 1.650 anos de história. E cada um tem a sua, muito diferente da do outro. Fiz essa conta para valorizar cada ano de cada um aqui. São 110 pessoas que realizaram uma história fantástica. Parabéns - disse.

Ao final, uma miniatura com a frase "A gente vive junto", em acrílico, seguida do tempo de casa de cada um foi entregue aos homenageados, como forma de agradecimento pelo tempo de dedicação à empresa. O conceito expressa os atributos de marca que movem a RBS: proximidade, confiança, curiosidade, coragem, pluralidade e excelência.



30 DE NOVEMBRO DE 2019
FLÁVIO TAVARES

AS INDÔMITAS

Ser professora é como ser mãe, é inaugurar uma vida no outro, dando à luz algo sublime. Quem ensina vive em quem aprende e, por isso, o magistério foi visto sempre como sacerdócio. Nada supera o aprendizado das primeiras letras.

Recordo sempre o momento em que (aos seis anos) escrevi minha primeira palavra e o mundo se abriu à minha frente. O sorriso da professora Maria Bezerra se renova em cada ideia que escrevo, mesmo que ela tenha morrido há décadas.

Ao longo dos séculos, todas as culturas, filosofias e religiões fizeram do professor um guia da sociedade, acima da política e dos governos. A escola é o pilar da vida civilizada, sem ela não há amanhã. Por isto, é impossível entender o desprezo com que, entre nós, se trata hoje o magistério, relegado a atividade menor ou desprezível, até.

A atual greve dos professores não busca vantagens ou regalias. Nem sequer reivindica salários, apesar da baixa remuneração. A greve procura, apenas, que não se altere o atual "plano de carreira", como pretende o governador. Por que fazer da carreira de professor um simples biscate?

Para o professor, greve equivale a um sacrifício, pois a grande gratificação é formar cidadãos. Ninguém opta pelo magistério para ganhar dinheiro. O enriquecimento está em abrir portas para o mundo.

Até poucos anos atrás, o Rio Grande do Sul foi exemplo de escola pública ampla e profunda, que partia da valorização do professor, hoje abandonada e inexistente. Numa cópia da nebulosa instalada em Brasília, fala-se até em abandonar a escola e substituí-la pela alfabetização ou educação no próprio lar. Esquecem-se de que educar é, antes de tudo, preparar a criança para a vida em sociedade, conhecendo e agindo com os demais.

Por tudo isto, chamo as professoras em greve de indômitas, pois não se deixam subjugar.

Escrevo agora de Búzios, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, junto ao mar, à espera de que as manchas de óleo cheguem à praia. Guardadas as proporções e as tragédias diferentes, sinto-me como os prisioneiros dos nazistas em Auschwitz, à espera diária de conhecerem o horror das câmaras de gás. O extermínio é outro, mas é aterrador. Após manchar o mar do norte e nordeste do país, o petróleo chegou ao Espírito Santo e já adentrou 70 quilômetros no Estado do Rio. Em Búzios, entrará pela Praia da Tartaruga, matando a fauna marinha que lhe dá o nome e que resistiu, até mesmo, à depredação do turismo.

Mais do que as águas degradadas, preocupa a desatenção e inércia governamental. Logo após aparecerem as primeiras manchas, levaram 41 dias para acionar o "plano de contingência" para casos semelhantes. Em seguida, o recolhimento do óleo transformado em piche foi caótico e afetou a saúde dos voluntários, que (ao aceitarem o desafio) foram também indômitos, sem medo de se expor.


FLÁVIO TAVARES

sexta-feira, 29 de novembro de 2019



29 DE NOVEMBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

A diferença entre Lula e Olívio

Gosto de Olívio Dutra. Nós o entrevistamos no Timeline de ontem. Você pode fazer quilos de críticas às suas gestões na prefeitura de Porto Alegre e no governo do Estado, mas não negará que ele é um exemplo de político honesto e bem intencionado. Além disso, Olívio tem aquele carisma missioneiro, aquele jeito de falar gingado do homem da Fronteira Oeste. É agradável ouvi-lo.

Lembro do Olívio sentado à mesa do bar de um português ali na Rua da Ladeira, acima do Tuim, bebericando seu martelinho com os companheiros do Sindicato dos Bancários. Lembro de quando fui entrevistá-lo em seu apartamento na Assis Brasil, onde mora até hoje. Viajei de ônibus com Olívio até o Centro, nós dois pendurados na barra de ferro, de pé, no corredor - ele era prefeito e só andava de ônibus ou lotação, continua andando só de ônibus ou lotação. Ou pedalando sua bicicleta pela cidade.

- Uma vez eu tive um Fuca - contou ele, na época. - Mas não sei guiar auto e os amigos tinham de me levar?

Um personagem e tanto, o Olívio.

Mas às vezes ele se equivoca.

Foi o que aconteceu na entrevista que nos concedeu, na Rádio Gaúcha. Quando perguntamos sobre a condenação do Lula, ele se saiu com a seguinte frase:

"Lula não roubou um centavo, não acumulou riqueza".

Ora, a Justiça bloqueou R$ 16 milhões que estavam depositados na conta bancária de Lula. Para um homem como Olívio Dutra, para mim e talvez também para você, nababo leitor, esse montante pode, sim, ser considerado "riqueza".

Tudo bem, vamos considerar que Lula tenha proferido todas aquelas palestras caras e enriquecido com elas, vamos acreditar? Mas e quanto às reformas do sítio que ele frequentava, como explicá-las? Olívio ponderou que eram "presentes" dos empreiteiros amigos. Quando ele falou aquilo, me arrepiei. Porque conheço o caráter ilibado de Olívio. Então, perguntei-lhe:

- O senhor foi prefeito e governador. Ao exercer esses cargos, aceitou presentes como esses?

Olívio respondeu que não, é claro. Eu já sabia. Porque existe diferença entre Olívio e Lula. É a diferença que havia, cem anos atrás, entre Emiliano Zapata e Pancho Villa, os dois maiores revolucionários da história mexicana. Quando tomaram a Cidade do México, Zapata vindo do Sul, Villa, do Norte, eles entraram no Palácio do Governo e ocuparam o gabinete presidencial. Reuniram-se para tirar uma foto histórica. Zapata se recusou a sentar na cadeira presidencial, deixou que Villa o fizesse. E assim eles foram retratados para a posteridade: Villa exultante, sorrindo, refestelado no trono de espaldar alto, e Zapata ao lado, sério, olhar de sanpaku fitando a lente do fotógrafo, segurando o sombreiro apoiado no joelho. Zapata representava a sisudez, as agruras da vida do povo; Villa era a brejeirice algo irresponsável de quem usufrui a vitória.

O exercício do poder é assim: produz reações diversas em cada indivíduo. Para uns, lhes aumenta a responsabilidade, torna-os sérios, quase tristes. Para outros é uma comemoração. Eles se sentem grandes, se inflam a cada dia com a bajulação e acreditam que elogios, afagos e presentes não têm consequências.

DAVID COIMBRA


29 DE NOVEMBRO DE 2019
OPINIÃO DA RBS

UM SALTO NO SANEAMENTO

Um passo histórico rumo a uma melhor qualidade de vida, com benefícios ambientais e para a saúde de quase 1,5 milhão de moradores da Região Metropolitana. É como merece ser definida a cerimônia de abertura das propostas da Parceria Público-Privada (PPP) da Corsan, na manhã de hoje, na B3, em São Paulo. Três empresas apresentaram propostas e a vencedora será a que oferecer o menor preço unitário por metro cúbico de esgoto faturado.

O projeto grandioso promete revolucionar o saneamento nos nove municípios envolvidos na iniciativa. Muitos têm hoje índices de coleta e tratamento de esgoto que remetem aos mais baixos níveis de desenvolvimento e, com a PPP, a meta ambiciosa é elevar o percentual a 87% até 2030.

Se a infraestrutura brasileira já é considerada carente, o quadro é ainda mais perverso no saneamento, com prejuízos maiores exatamente às populações mais humildes das periferias. Poucos setores precisam de recursos tão vultuosos, uma lacuna que pode e deve ser preenchida pelo capital privado. As companhias públicas da área, como a Corsan, não contam hoje com os montantes que seriam necessários para tamanho desafio. A PPP da Região Metropolitana vai movimentar R$ 2,2 bilhões em obras, com a previsão de gerar mais de 30 mil empregos, somando as vagas criadas durante a construção - uma dádiva em tempos de economia debilitada e mercado de trabalho claudicante - e ao longo da operação, nos 35 anos de contrato.

O cronograma original do projeto, é bom lembrar, está atrasado em ao menos dois anos devido à espera para quebrar as naturais resistências ao novo e para o projeto ser aprovado por todos os municípios - Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Eldorado do Sul, Esteio, Gravataí, Guaíba, Sapucaia do Sul e Viamão. Deve-se ter todo o zelo no processo, daqui para a frente, para que os prazos não mais se dilatem. Devido a aspectos como a relevância e o pioneirismo, como a primeira PPP de grande vulto no Estado, é desejável que as obras transcorram sem grandes embaraços. Assim, pode inspirar outras.

Repete-se que uma das razões de o saneamento não receber a merecida a atenção seria a crença de que enterrar canos não rende voto. Como se obras escondidas não sensibilizassem eleitores e a população não percebesse os seus benefícios. Um pensamento anacrônico que deve, este sim, ser sepultado. Saneamento de qualidade significa proteger mananciais da poluição. É ainda um dos sustentáculos de populações sadias, com efeitos positivos na redução da mortalidade infantil e diminuição de índices de doenças relacionadas à má qualidade da água e à falta de coleta de esgoto. É consagrado o cálculo de que, a cada R$ 1 aplicado em saneamento, são poupados R$ 4 em saúde. Qual investimento pode render mais?


29 DE NOVEMBRO DE 2019

INFORME ESPECIAL

O golpe de Jair Bolsonaro em Lula

A timidez da militância petista durante o julgamento de Lula, realizado ontem, em Porto Alegre, tem um grande responsável: Jair Bolsonaro. Contrariando o seu próprio estilo, o atual presidente vem, sistematicamente, ignorando o ex. Tem sido assim desde que o maior líder petista saiu da cadeia e chamou o capitão para brigar. A provocação ficou sem resposta direta. Surpreendentemente, Bolsonaro terceirizou a polarização e, com isso, desidratou possíveis reações. Foi um golpe de mestre, certamente aconselhado por algum interlocutor próximo.

Se Bolsonaro estivesse por aí chamando Lula de ladrão, de esquerdopata e de vagabundo, aposto que haveria bem mais gente nas ruas de Porto Alegre, que receberam um aparato de guerra à espera de um tsunami que não aconteceu.

É claro que havia também a chuva, a falta de verba para mobilizar os companheiros e um certo desânimo da outrora aguerrida militância. Mas a postura de Bolsonaro, ao não alimentar a tensão bipolar, teve um efeito decisivo no entorno do prédio do TRF-4. Fica provado que o presidente tem condições emocionais e cognitivas de evitar conflitos, quando isso convém a ele, o que, infelizmente, ocorre menos do que seria o ideal para o país.

Representatividade

A coluna reproduz o relato enviado por Moisés Pedone, prefeito de Mostardas, no sul do Estado.
"Após oito anos, estamos resgatando a maior festa do município, a Ovearte, Feira da Ovelha e do Artesanato em Lã, que terá a sua 19ª Edição. Somos um município de origem afroaçoriana, temos três comunidades quilombolas e uma cultura fortemente inscrita pelos negros. 

Um caso inédito ocorreu e confesso que sentimos ainda o racismo em algumas pessoas quando a sociedade conheceu, após um concurso, a composição da Corte que representaria a nossa maior festa, 100% negra (foto ao lado).

Eu, como ser humano e principalmente na qualidade de prefeito, estou muito feliz. Mesmo sabendo que ainda exista racismo, estamos aqui, em Mostardas, vencendo essas barreiras.

A festa ocorrerá de 4 a 8 de dezembro. Haverá shows de Vitor Kley, Acústicos e Valvulados, César Oliveira e Rogério Melo e Israel Novaes. Forte abraço!"

TULIO MILMAN

quinta-feira, 28 de novembro de 2019



28 DE NOVEMBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

Tentando pensar como um lulista

Fiz um esforço, tentei pensar como um lulista. Refiro-me às acusações de corrupção que existem contra o ex-presidente. Queria descobrir se, usando da maior boa vontade possível, conseguiria absolvê-lo do que pesa contra ele. Então, por princípio, tomei como verdade absoluta tudo o que Lula e seus advogados de defesa alegam. Tudo.

Acatei cada argumento, por menos plausível que parecesse. Acreditei que Lula não sabia de nada do que foi feito nos governos do PT, que ele foi traído por companheiros e perseguido por inimigos. Engoli o que pude. Mas houve algo que não me passou na garganta: o caso do sítio de Atibaia, pelo qual ele foi condenado em segunda instância pelo TRF4, ontem.

Defender Lula, neste caso, é uma agressão à lógica.

Explico: é certo e comprovado que Lula frequentava muito o sítio. Seguranças do Palácio do Planalto receberam quase mil diárias para fazer vigilância em Atibaia, mostrando que, em três anos, Lula esteve no local pelo menos 111 vezes, ficando lá 283 dias.

Ou seja: eu, como suposto lulista, até posso crer que o sítio não lhe pertencia, mas sou forçado a admitir que ele era assíduo do lugar, quase como se fosse um proprietário.

Também tenho de reconhecer que três empreiteiras fizeram grandes reformas no sítio, num valor de mais de R$ 1 milhão. E que ninguém pagou por esse trabalho.

Sendo assim, tortura-me a pergunta dura de pedra: "Por quê?"

Por que três empreiteiras fariam uma reforma de tamanho vulto, de graça, em um sítio frequentado por um presidente da República? Por quê? POR QUÊ?

Construtoras não trabalham sem cobrar. Se fazem uma reforma, querem receber algo em troca. O que elas receberam em troca?

Mesmo o lulista mais devoto terá de ver que há algo errado neste caso do sítio de Atibaia.

É óbvio que Lula recebeu favores dos empreiteiros, e isso não aconteceu porque todos torcem pelo Corinthians. Isso aconteceu porque ele foi presidente da República. E porque, como presidente da República, favoreceu os empreiteiros. Não há outro nome para dar a esse processo: é corrupção.

Há quem suspeite da lisura dos julgamentos de Lula devido à revelação da troca de mensagens entre o Ministério Público e o então juiz Sergio Moro. Milhares de mensagens foram publicadas, demonstrando que houve comunicação entre juiz e promotores. Mas nenhuma demonstra que algum inocente foi condenado. Nenhuma. Não há fabricação de provas, não há invenção de depoimentos. De certa forma, é um atestado de correção da Lava-Jato.

A condenação de Lula, portanto, é justa. Seria impossível que o TRF4 não o condenasse. Até o lulista mais dedicado é capaz de ver.

DAVID COIMBRA


28 DE NOVEMBRO DE 2019
JORNALISMO E ENTRETENIMENTO

Prêmio RBS faz homenagem aos melhores deste ano

Vencedores nas 17 categorias receberam troféus e certificados em evento realizado na Capital

Os autores dos trabalhos de maior destaque do Grupo RBS em 2019 foram agraciados na última terça-feira com a entrega do Prêmio RBS de Jornalismo e Entretenimento. A cerimônia, que ocorreu na sede da RBS TV, em Porto Alegre, teve a presença de colaboradores, líderes e acionistas da empresa.

A premiação foi dividida em 17 categorias. Ao final da cerimônia, houve a entrega do Grande Prêmio Jayme Sirotsky. O reconhecimento, que leva o nome do presidente emérito do grupo, foi concedido aos responsáveis pelo programa Posso Entrar?, exibido pela RBS TV e também vencedor da categoria Entretenimento.

Neste ano, a entrega dos troféus e certificados foi realizada no estúdio remodelado do Jornal do Almoço. Coube aos comunicadores Cristina Ranzolin e Mauricio Gasparetto a tarefa de conduzir a apresentação. Após terem seus nomes anunciados, os premiados puderam se manifestar brevemente sobre seus projetos.

Durante a cerimônia, o presidente do Conselho de Administração do Grupo RBS, Eduardo Sirotsky Melzer, destacou que a produção de conteúdos diferenciados de jornalismo e entretenimento faz parte da trajetória da empresa.

Ele também lembrou que, na véspera da premiação, o grupo promoveu uma homenagem a seus colaboradores jubilados.

- Quando penso no futuro, penso nas duas vertentes que simbolizam a empresa: a relação com as pessoas e a qualidade do jornalismo e do entretenimento. Estou entusiasmado com o que vem pela frente. Todo o planejamento que se faz aqui tem o objetivo de viabilizar o jornalismo e o entretenimento diferenciados - salientou.

Acionista do Grupo RBS, Nelson Sirotsky teve a missão de anunciar o vencedor do Prêmio Jayme Sirotsky. Ao discursar antes da entrega da honraria ao Posso Entrar?, relembrou episódios marcantes da história da empresa, como o início das operações da TV Gaúcha (hoje RBS TV), em 1962. Também ressaltou a adaptação do grupo a mudanças na comunicação ao longo das décadas, sem perder os "valores plantados lá atrás".

- Estou muito feliz e orgulhoso por dividir este momento. Participar da cerimônia é um combustível adicional. Isso nos torna ainda mais fortes e vibrantes no dia a dia - pontuou.

Categorias

Comandado pela apresentadora Cris Silva, o Posso Entrar? tem foco em histórias de pessoas que venceram dificuldades para realizar seus sonhos. A atração volta ao ar no próximo sábado, em temporada especial de Natal. O programa foi agraciado com o Prêmio Jayme Sirotsky após ser o mais lembrado em votação junto aos colaboradores do Grupo RBS.

- Estou muito feliz com o reconhecimento. Hoje tenho um trabalho que amo graças ao Grupo RBS - disse Cris.

Antes da entrega dos troféus e certificados, a orquestra da Pequena Casa da Criança apresentou uma série de canções.

As 17 categorias do Prêmio RBS de Jornalismo e Entretenimento 2019 foram as seguintes: Reportagem Investigativa, Reportagem Cultural, Reportagem de Economia, Reportagem de Política, Reportagem de Geral, Regional RS2, Cobertura, Imagem, Vídeo, Entretenimento, Formato, Sacada, A Gente Vive Junto, Opinião, Novo Produto, Esporte e Revelação.

GRANDE PRÊMIO JAYME SIROTSKY

• Posso Entrar?

• Autores: Cristiane Silva da Silva, Camila Rocha, Fernanda Alencastro, Sandré Sarreta, Carlos Porto, Rafael Porto, Jean Presser, Gustavo Bülow, Dariano Bramatti, Vinícius Möller, Tatiane Garbin e Carolina Marcinkowski

VENCEDORES DO PRÊMIO RBS DE JORNALISMO E ENTRETENIMENTO 2019

Reportagem investigativa

• Seguro furado: golpe armado para lesar aposentados 

• Autores: Carlos Rollsing, Jonas Campos, Marcos Ozanan, Alexandre dos Santos, Fernanda Farias, Marcos Hofmann e Jonatan Ruschel

Reportagem cultural

• De Radicci a Badin: como o humor colono ajuda na autoestima dos descendentes de italianos e alemães 

• Autores: William Mansque e Siliane Vieira

Reportagem de economia

• Mapa da inovação

• Autores: Erik Farina, Brunno Lorenzoni, André Roca, Isadora Neumann e Omar Freitas

Reportagem de política

• Lula: dos palácios à prisão

• Autores: Eduardo Matos e Douglas Webber

Reportagem de geral

• Caso Bárbara: médico vira réu após reportagem revelar acidente com morte não registrado pela polícia

• Autores: Vitor Rosa e Lucas Abati

Regional RS2

• Raízes da violência

• Autores: Adriano Duarte, Juliana Rech e Andressa Paulino

Cobertura

• Caso Bernardo

• Autores: Adriana Irion, Eduardo Matos, Letícia Mendes, Vitor Rosa, Jefferson Botega, Isadora Neumann, Alexandra Freitas, Carolina Cattaneo, Joyce Heurich, Lilian Lima, Janaína Lopes, Tatiana Lopes, Maria Eduarda Sfredo Ely, Jonas Campos, Fabiana Bonugli Gabriel e João Victor Teixeira

Imagem

• Nossa Senhora das Dores e os corpos de Brumadinho

• Autor: André Ávila

Vídeo

• Torcedora gremista e filho agredidos no Gre-Nal 421

• Autores: Gabriel Bolfoni e Victor La Regina

Entretenimento

• Posso Entrar?

• Autores: Cristiane Silva da Silva, Camila Rocha, Fernanda Alencastro, Sandré Sarreta, Carlos Porto, Rafael Porto, Jean Presser, Gustavo Bülow, Dariano Bramatti, Vinícius Möller, Tatiane Garbin e Carolina Marcinkowski

Formato

• RBS Vozes 

• Autores: Lidiane Santos, Fellipe Faria, Tatiana Tavares, Mariana Mondini, Zanandrea Medeiros, Wilen Manteli, Eva Ghisio, Graziela Maidana, Richard Moura e Caroline Hartmann

Sacada

• Everton vira o Cebolinha dos gibis

• Autores: Roberto Cabral Azambuja, Leonardo Müller, Alexandre dos Santos, Daniel Musa e Marcel Braga

A gente vive junto

• DG no busão

• Autores: Alberi Neto, Jéssica Britto, Lis Aline Silveira e Elana Mazon

Opinião

• Paulo Germano

Novo produto

• Vida de solteiro

• Autores: Ariel Bernardes, Barbara Saccomori, Duda Garbi, Vinícius Moura e Carlos Couto

Esporte

• Jogador de futebol que virou gari

• Autores: Alice Bastos Neves, Glaucius Oliveira, Marcos Ozanan, Sid Rafael, Thiago Pedruzzi, Jones Matos, João Santos e Raul Branco

Revelação

• Jornalismo: Bruno Pancot

• Entretenimento: Hans Ancina