terça-feira, 31 de janeiro de 2023

 McDonald's abre nova loja na Zona Norte de Porto Alegre

Unidade na esquina das avenidas Assis Brasil e Sertório aproveita grande fluxo da região
Unidade na esquina das avenidas Assis Brasil e Sertório aproveita grande fluxo da região
TÃNIA MEINERZ/JC
Patrícia Comunello
A rede de fast-food mais popular no mundo estreia nova operação em Porto Alegre nesta terça-feira (31). Como a coluna Minuto Varejo (MV) havia antecipado em outubro passado, a Zona Norte da Capital ganha mais uma unidade e uma das maiores da marca no Rio Grande do Sul.
A loja, com dois pisos, drive-thru e delivery, fica na esquina das avenidas Sertório e Assis Brasil, um dos pontos com maior fluxo na região, o que foi decisivo para a escolha do ponto. Clientes poderão acessar a partir das 10h.
No fim da tarde desta segunda-feira (30), trabalhadores faziam as finalizações na parte externa do jardim e áreas de estacionamento e limpeza em aberturas. 
Outras duas unidades estão a caminho na Zona Sul da Capital, uma delas na esquina da avenida Aparício Borges e rua Oscar Pereira, pertinho do Bourbon Teresópolis, do grupo Zaffari, como apurou a coluna no local. A outra será no futuro mall que está sendo erguido na avenida Juca Batista, na região da Serraria.
A informação sobre a inauguração da loja na Assis Brasil foi repassada pela PLDA, empresa gaúcha que faz a expansão física da rede no Estado. O investimento foi de R$ 4 milhões na que deve ser a 28ª filial na Capital, pelo acompanhamento do MV.
"A nova unidade vai trazer o que há de mais moderno para operação de loja, com foco muito forte para operação de drive e delivery", destaca João Lopes de Almeida, diretor da PLDA.
"Nos últimos três meses, inauguramos duas lojas, incluindo a da vizinhança do Shopping Iguatemi e esta da Assis Brasil. No primeiro semestre de 2023, a expectativa é de inauguração de mais duas unidades", antecipa o sócio da empresa, confirmando que uma delas, da Juca Batista, será no mall Guadix, onde também terá um supermercado da rede catarinense Bistek.
A loja que está abrindo tem terminais de autoatendimento, para pedidos sem ter de passar pelo balcão, e self-checkout para pagamento. Foram abertos 22 empregos diretos. Pela localização e porte para atendimento, a nova operação deve ser uma das maiores em tíquete de venda por metro quadrado do Rio Grande do Sul.
A Capital tem a loja com um dos maiores faturamentos no Sul do País, que fica na esquina da avenida Ipiranga e rua Silva Só. Outra também com um dos melhores desempenhos é a unidade de Alvorada, aberta em 2021 no acesso ao futuro empreendimento do Open Mall Carnetti, na avenida Getúlio Vargas, 1957.
Em 2022, três novas operações em diversas regiões foram abertas. As novatas inauguraram na Zona Leste, na esquina das avenidas Protásio Alves e Antônio de Carvalho, em janeiro, e duas na Zona Norte, na esquina da rua Dom Pedro II com avenida Cristóvão Colombo, em março, e em frente ao Iguatemi, em julho, rua Antônio Carlos Berta.
No Estado, são quase 60 lojas da marca. A rede também fechou um ponto, em Rio Grande, na Zona Sul gaúcha, em agosto do ano passado. Era o único da marca na cidade portuária.

30/01/2023 - 16h41min
Fabrício Carpinejar

A porta da cozinha 

Tempo feliz em que não sofríamos com a preocupação e a infelicidade dos adultos. A porta da frente era somente para visitas. As visitas tinham o direito exclusivo de apertar a campainha e de pisar no capacho verde em que se lia “bem-vindo”. Ai de nós se sujássemos o tapete com os nossos tênis enlameados!

Entrávamos em casa pelo pátio, abrindo o portão de ferro da garagem. Nem precisávamos de chave. Jamais carreguei chave de casa na minha infância. A porta dos fundos estava sempre destrancada.

Vivíamos uma sequência planejada de cenas: o cachorro pulava nas nossas pernas, brincávamos com ele no chão para amenizar a sua carência e acalmar os seus latidos, largávamos a mochila no armário da limpeza como se fosse um peso morto e seguíamos para dentro do lar, a partir da cozinha.

Chegávamos da aula por volta do meio-dia. Um pouco antes até, já que morávamos perto da Escola Estadual Imperatriz Leopoldina e andávamos a pé por algumas quadras. Jamais mudávamos o nosso roteiro: atravessávamos parte da rua Palmeira, depois Guaporé, em seguida Bagé para desembocar na Lageado.

Gritávamos “ô de casa” para ver se pai ou mãe se encontravam por perto. Nosso primeiro impulso consistia em abrir as tampas das panelas fumegantes para espiar o que iríamos comer. Ninguém fazia spoiler da refeição no dia anterior. Descobríamos o cardápio desse jeito, com o vapor na cara. Uma nebulização sem igual do perfume da comidinha caseira. Fechávamos os olhos para inspirar longamente o aroma.

Na maior parte das vezes, desfrutávamos de um momento sozinhos com o fogão. Com a comida pronta e prestes a ser servida. Ninguém estava por ali vigiando e fiscalizando a nossa invasão. Pegávamos sorrateiramente um garfo na gaveta para experimentar um pouquinho de cada iguaria. Soprávamos para não queimar o céu da boca. Um bafejava o talher do outro pela pura algazarra.

Sabíamos que não podíamos profanar o cardápio, mas não temíamos a reprimenda. Valia a pena. Negávamos o mandamento sagrado e a regra geral de apenas comer na mesa e com as mãos limpas. Tempo feliz em que enganávamos a fome ciscando o que achávamos pela frente, como passarinhos penetras que pegavam rapidamente o alimento e logo voavam. Tempo feliz em que ninguém tinha morrido e todos se ajudavam. Tempo feliz em que não sofríamos com a preocupação e a infelicidade dos adultos.

Melhor do que provar o conteúdo das panelas, só quando a mãe fazia panquecas e nos antecipava as massinhas quentes e douradas. Ríamos da chance única e autorizada de comer antes da família. Pouco importava a falta de recheio, deliciávamo-nos com o favoritismo. Nas vésperas de nossas festas de aniversário, contávamos com o luxo de raspar o brigadeiro. Recebíamos uma colher de pau para o banquete dos restos do doce, um cetro da nossa primazia e realeza. Lavávamos o fundo do aço com os beiços.

Vocês ainda se lembram disso, meus irmãos?


31 DE JANEIRO DE 2023
COMBUSTÍVEIS E PETROBRAS

Prates projeta criação de fundo para frear preços

O novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, aposta na criação de um fundo para tentar frear a alta dos preços dos combustíveis nas bombas e reduzir o impacto da volatilidade dos derivados do petróleo, do gás de cozinha e do gás natural para o consumidor final. Especialistas alertam que o mecanismo deveria se restringir ao diesel, devido ao alto custo para os cofres públicos.

A proposta já foi aprovada no Senado no início de 2022, com relatoria do próprio Prates, então senador pelo PT do Rio Grande do Norte. Agora, o projeto deve voltar à pauta na retomada do ano legislativo, em fevereiro, quando tramitará na Câmara dos Deputados.

A interlocutores, Prates argumenta que o mecanismo da conta de estabilização - abreviada na sigla CEP-Combustíveis - seria a melhor opção de curto prazo para os combustíveis. O mecanismo seria capaz de conferir preço aceitável pelo consumidor final, mas sem punir produtores e importadores, recompensados pela conta.

No médio e longo prazos, a saída avaliada pela Petrobras seria aumentar a capacidade de refino da estatal. Isso reduziria a exposição do mercado brasileiro às variações das cotações internacionais, porque eliminaria a dependência de derivados importados.

Ontem, Prates disse, em evento no Rio de Janeiro, que preço de combustíveis é um assunto de governo. A declaração vem em linha com o que afirmava ainda antes da posse. O tema dos preços dos combustíveis, para ele, não deve ser tratado pela Petrobras, mas pelo governo e suas autarquias, como a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Ingerências

Ainda assim, Prates é defensor de uma solução dupla, que passa pela criação de um fundo de estabilização de preços e pelo aumento da capacidade de refino da estatal.

A atual política de preços da Petrobras - de paridade com o mercado externo - foi alvo constante de críticas do então presidente Jair Bolsonaro, e também já foi atacada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mercado teme que ingerências políticas possam afetar os resultados financeiros da companhia.

Países desenvolvidos têm optado por tributação flutuante para equilibrar o preço dos combustíveis ante as oscilações do petróleo no mercado internacional. Outros, mais próximos ao perfil do Brasil, como Chile e Peru, têm fundos de estabilização para proteger a população da variação de preços, aponta estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Avaliação

No Chile, o mecanismo protege apenas o querosene doméstico, e é usado com tributos flutuantes. Já o Peru usa fundo de estabilização para equilibrar os preços de gasolina, diesel, gasóleo e óleo combustível em sistemas isolados. O país tem ainda um plano de subsídio para o gás liquefeito de petróleo (GLP), em estratégia similar ao que pode acontecer no Brasil.

Especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo alertam que o ideal seria ter um modelo mais próximo ao do Chile, ou seja, estabilizar os preços apenas de um produto. No caso brasileiro, afirmam, o produto a ser escolhido deveria ser o diesel, que tem cerca de 30% do volume consumido importado de outros países. Alguns sugerem, inclusive, que o fundo se restrinja a caminhoneiros, diante de limitações orçamentárias para compor algo mais amplo, que contemple a gasolina.

Questionado por jornalistas, Prates disse que os novos nomes do conselho de administração e de sua diretoria executiva serão conhecidos ainda nesta semana. Todos esses nomes terão ainda de passar pelo crivo interno da estatal e do atual colegiado. Ele afirmou, ainda, que a diretoria de Transição Energética será construída em um segundo momento, só depois da nomeação dos indicados para a estrutura que já existe, com oito diretorias.

O nome mais cotado para assumir a nova diretoria de Transição Energética é o do professor e ex-presidente da EPE Mauricio Tolmasquim. Segundo Prates, uma cerimônia de posse só deve acontecer quando todos os nomes forem aprovados pela companhia nas instâncias necessárias.


31 DE JANEIRO DE 2023
NOSTALGIA

Câmera digital agora é vintage

Estilo "retrô" é o principal diferencial apontado pelos novos usuários desses dispositivos, antes tratados como obsoletos

Pequenas, coloridas, com mais memória e uma tela que já possibilitava ver a fotografia de forma instantânea. As câmeras digitais amadoras marcaram toda uma geração nos anos 2000 pela praticidade, mas logo foram ofuscadas pelo "boom" dos smartphones. Duas décadas depois, elas estão de volta: alguns jovens estão deixando o celular em segundo plano para reviver os dispositivos com os quais tiveram contato apenas na infância.

Nas últimas semanas, os antigos aparelhos têm gerado interesse e feito jovens pesquisar na internet pelo assunto. Mas esses dispositivos voltaram a ser febre ainda em 2022 - quando começaram a ser vistos com maior frequência em festas e bares, por exemplo.

Um dos novos usuários dessas câmeras é o cineasta e designer Gabriel Ritter, 26 anos, que recentemente ganhou de um amigo uma Canon IXY. Morador de Porto Alegre, ele destaca uma curiosidade importante: a maioria das pessoas se refere a este tipo de dispositivo como "Cybershot", mesmo que o nome seja apenas do modelo comercializado pela Sony.

Resgate

Ritter conta que já vinha notando que algumas pessoas estavam resgatando essas câmeras para registrar momentos em festas e bares no início de 2022. Formado em Cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ele relata que se aproximou novamente desses equipamentos durante as atividades de experimentação na faculdade, quando um colega levou uma Cybershot e começou a compartilhar com todos os resultados:

- Ela é muito mais prática, porque é menor e ainda é digital, então tira as fotos e transfere via cabo para o computador.

O fotógrafo e técnico do Laboratório de Fotografia da Universidade Feevale Diogo Mascarenhas aponta que percebeu o movimento de retorno das digitais pelas redes sociais. Ele comenta que é comum que as pessoas procurem recuperar a cultura de uma determinada época, utilizando itens e ferramentas que produzam os mesmos efeitos - isso foi visto em outros momentos, inclusive, com breves retornos da fotografia analógica, que vem se tornando pouco viável em razão do preço dos processos.

E foi justamente a estética vintage das fotos que chamou a atenção de Ritter, que resolveu aderir à moda e buscar uma câmera digital para sua festa de despedida, realizada na último dia 20, antes de sua mudança para Sydney, na Austrália.

Para Ritter, a principal diferença é a definição da imagem, que é inferior àquela proporcionada pelos smartphones atuais. Além disso, aponta que os dispositivos antigos não oferecem tantas opções para controlar a luz das fotos, por exemplo, o que, na opinião do cineasta, garante um resultado mais espontâneo. E ele também destaca a nostalgia pelo equipamento.

A percepção de Ritter é corroborada por Mascarenhas, que esclarece que o smartphone possui maior tecnologia embarcada, produzindo um resultado mais padronizado, em razão da qualidade do software.

- Acho que é essa estética mais crua que está sendo buscada neste momento. Mas acredito que tenha poucas chances de ficar por muito tempo como um movimento popular, até porque introduz uma etapa entre fotografar e postar. Mesmo assim, vale por ser um recurso barato, que muita gente ainda tem em casa esquecido - diz o fotógrafo.

Procura

Proprietário do Bric Fotográfico, estabelecimento localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, Evaldir Garcia do Canto aponta que a procura pelas câmeras digitais não aumentou significativamente no último ano, mas garante que vende uma ou duas por mês.

Atualmente, estima ter cerca 50 unidades de diferentes marcas e modelos para comercializar - os valores dessas máquinas variam entre R$ 350 e R$ 550.

Na avaliação de Evaldir, que trabalha neste ramo desde 1979 e é mais conhecido como Didi, a chegada dos smartphones "matou" esse modelo de câmera:

- Essas digitais eram boas câmeras, muito famosas. Todo mundo comprava, mas o que acontece é que todo mundo quer vender agora. Elas tiveram uma fama muito grande, mas as coisas mudaram. Agora, a procura é baixa.

Em março do ano passado, Cândida Vitória Martins, 21 anos, recuperou uma câmera que era usada por seus pais durante sua infância. A estudante de Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) encontrou o dispositivo guardado em uma caixa e levou até o Bric Fotográfico para consertar.

- Ela estava em perfeito estado, a única coisa que não funcionava era a bateria, então só trocaram e deu tudo certo, funcionou superbem. Decidi usar justamente por ser uma câmera antiga e pensei que seria diferente da câmera da Canon (profissional) que tenho agora e do celular - conta.

Moradora da Capital, ela explica que usa a câmera em festas e para fotografar aniversários de amigos. Também afirma que gosta muito do resultado, justamente por não conseguir controlá-lo:

- Gosto desse conceito da câmera ser antiga e registrar as fotos desse jeito mesmo.

A experiência de Carlos Iuri Simoni de Souza, 20 anos, com uma câmera digital começou em novembro de 2021. O estudante de Design Gráfico na UniRitter e morador de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, relata que decidiu comprar um modelo em um site de itens usados porque sempre foi fascinado pela estética vintage dos anos 2000. Para ele, a Cybershot abre uma porta para esse universo e é uma opção mais acessível, em comparação com as câmeras analógicas.

Ele comenta que prefere utilizar o dispositivo no lugar do celular justamente para se desconectar um pouco.

- Estamos vivendo em uma era do imediatismo, tudo é para ontem, e eu acho muito legal que eu saio com meus amigos com a câmera e tiramos as fotos, nos divertimos e não ficamos vendo o resultado na hora. Isso que é o mais bacana: ter aquela surpresa das fotos, todas saem muito diferentes umas das outras. E eu gosto muito do resultado - ressalta.

Ele acrescenta que a câmera digital não gera uma foto perfeita, permite registrar a espontaneidade das pessoas e traz uma certa memória afetiva, já que era utilizada por seus pais antigamente.

 JHULLY COSTA

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023


José Lins do Rego narra sua infância

Jaime Cimenti
José Lins do Rego nasceu em Pilar, Paraíba, em 1901 e faleceu no Rio de Janeiro em 1957. Escritor, contista, cronista, tradutor e jornalista, ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1956 e já com o grande livro de estreia Menino de Engenho (1932) passou a marcar grande e inconfundível presença na literatura brasileira do século XX.
Meus verdes anos (Global Editora,222 páginas, R$ 59,00), publicado em 1956, traz um de nossos maiores autores rememorando percepções pessoais e episódios de infância vivenciados, num gesto sincero de compartilhamento das descobertas, das conquistas e dos dramas que tingiram de forma definitiva sua existência.
Quando um grande escritor opta por registrar os principais momentos de sua vida, o leitor pode ter a sorte de captar pistas que, ainda que incompletas ou mesmo nubladas, o auxiliarão a decifrar os meandros formativos de seus enredos. O depoimento memorialístico de José Lins, acima de tudo auspicioso e sensível, aponta que o Nordeste dos engenhos da cana-de-açúcar e do sertão, marcado pelas agruras da seca e pelo cangaço que ele tão magistralmente ficcionalizou em seus romances, foi visto e sentido por ele com intensidade durante os anos da infância e da primeira mocidade.
Meus verdes anos é um livro que ensejará ao leitor a chance de vislumbrar Zé Lins recuperando e dimensionando o peso que algumas experiências vividas ao longo de sua vida exerceram sobre a concepção de seus escritos. Destaca-se, como exemplo, os registros de infância repleta de descobertas passado no engenho Corredor, propriedade de seu avô, quando viveu sob os cuidados de sua tia. Foi época marcante na qual ouvia com toda a atenção do mundo as histórias contadas pelas negras sobre o passado então recente da escravidão. O contato próximo com cangaceiros serviu para belas narrativas ficcionais.
Ao lado de seus romances e crônicas, estas memórias mostram como se consolidou um de nossos maiores autores, desde a infância. 

Lançamentos

Contra o Gelo (Almedina Brasil, 260 páginas, R$ 79,00), de 1955, inédito no Brasil, traz memórias do explorador Ejnar Mikkelsen sobre uma missão realizada ao nordeste da Groelândia em 1909. A história de sobrevivência e de vinte e oito meses de provações no Ártico deu origem ao filme lançado pela Netflix, disponível no Brasil.
Uma canção de amor e ódio (Editora Nacional, 288 páginas) é o novo livro de Vinicius Grossos, um dos maiores autores de jovens adultos do Brasil. O livro traz uma comédia romântica envolvendo Benjamin e Theodoro, dois cantores rivais do mundo pop. A obra traz cenas quentes, depois um fracasso no festival Pop In Rio.
Café com Deus Pai (Editora Vida, 424 páginas, R$ 89,90), do pastor Junior Rostirolla propõe 365 dias para renovar a vida. Com mais de 150 mil cópias vendidas, a obra traz páginas datadas de 1º de janeiro a 31 de dezembro, com reflexões, textos bíblicos e inspirações para contar com Deus para viver mais e melhor. 

Penso, logo reflito

Nesses tempos loucamente hipercinéticos, de velocidade supersônica, com aviões voando a quase 4 mil quilômetros por hora e naves espaciais a quase 600 mil quilômetros por hora, falar em pensar mais devagar, repensar, refletir e não ter pressa de ficar opinando toda hora sobre tudo, todo o tempo, parece algo totalmente anacrônico. Não é bem assim. É bom lembrar que o tempo se vinga das coisas feitas sem a colaboração dele e que a pressa continua a ser a maior inimiga da perfeição, e também da refeição.
Aliás, geralmente uma boa refeição e outras tantas coisas boas da vida precisam de passos, velocidades e tempos corretos. Até os poderosos algoritmos que nos dominam digitalmente tem lá seus passo-a-passo e não são completamente apressados como parece. Até eles.
Num belo artigo-ensaio sobre comportamento intitulado O poder da reflexão, a competente jornalista Duda Monteiro de Barros, na Veja de 25 de janeiro, mostra estudos comprovando que as melhores escolhas são feitas por quem tem dúvidas e demora a decidir, ao contrário do que sugerem os tempos atuais, com opinião sobre tudo e falando antes de pensar. Pesquisa publicada na revista alemã Science Direct, de autoria da psicóloga Jana-Maria Hohnsbehn, da Universidade de Colônia, mostra que pessoas mais hesitantes, em comparação aos que sempre têm uma resposta na ponta da língua, são mais imparciais, flexíveis nas ideias e fazem escolhas melhores.
Recomendo vivamente, a leitura da matéria de Duda, que vem em momento mais do que adequado. Estamos vivendo anos estupidamente escalafobéticos, está na hora de dar um tempo e de nos darmos um templo budista. Templo às vezes é dinheiro, geralmente tempo budista não é.
Pausa para meditação, tempo para avaliar melhor as coisas e as pessoas, contar até 250 antes de sair lascando nas redes, viver bem vigiando a própria racionalidade e seguir os ensinamentos de Sócrates (470 a.C - 399 a.C) vale a pena. Sócrates falava na importância do autoconhecimento, de refletir para viver uma vida que valesse a pena e de ser menos assertivo e imediatista.
Nessa era de milhões de fake news estonteantes que por vezes parecem a melhor versão da mentira ou da verdade, e nesse momento de informações instantâneas em nível mundial, é decididamente uma ótima ideia dar uma desacelerada. Mesmo essas nossas cabecinhas pós-modernas, tão pretensiosas e arrogantes, não tem maquinismo psíquico capaz de processar, pensar e voar tão rápido, em meio aos oceanos de palavras, sons, imagens, palpites e "dados científicos" que andam por aí.
Especialmente na internet, há tempo se sabe o que os impulsos demasiadamente impulsivos podem fazer. Andamos todos rápidos demais. Está na hora de acalmar e refletir. O apressado come cru e quente, já decretou a sabedoria popular, que precisa ser mais prestigiada. A pressa e a atitude impensada rendem processinhos judiciais e fortes dores de cabeça. Calma é bom, a gente gosta, fortalece as famílias, protege as amizades e diminui o consumo de calmantes. Não dou os nomes para não fazer propaganda e me incomodar. 

A propósito...

Então é isso. Se você é a favor do governo, se é contra, se é mais ou menos contra, se gostaria de uma terceira via ou se é anarquista romântico incurável, pense bem, reflita bem antes de sair falando, gritando e escrevendo. Te cuida. Cautela e caldo de galinha sempre fizeram bem. Não deixe de se manifestar, de algum modo, mesmo silencioso, como, aliás, mais ou menos um terço do eleitorado brasileiro que há décadas não vai votar, vota em branco ou anula o voto. Pense, logo reflita. Temos dois ouvidos e uma boca, diz o ditado oriental. Ah, como disse o Pfeifer, liberdade é o direito de escolher a própria cadeia. E disse a Clarice Lispector: a liberdade ofende.

 Rede do interior chega ao shopping do grande centro

Lucas voltou de Nova York e foi conferir a instalação da primeira loja em shopping da rede
Lucas voltou de Nova York e foi conferir a instalação da primeira loja em shopping da rede
CADILES/DIVULGAÇÃO/JC
Patrícia Comunello
A coluna Minuto Varejo acompanha a trajetória da Cadiles, rede de calçados nativa do interior gaúcho, desde 2018. Ou seja, antes mesmo de existir a coluna. O Jornal do Comércio conheceu Valdir Neuhaus e o filho Lucas quando a dupla foi à NRF Retai'ls Big Show em Nova York, na comitiva liderada pelo Sebrae-RS.
Lucas, com 18 anos na época, tinha ido com o pai para conferir as novidades da maior feira de inovação do setor no mundo e varejos que ditavam tendência na cidade. O jovem voltou para Ijuí, sede da Cadiles, e começou a mudar tudo, com o aval do pai, é claro.
"Decidimos fazer um jogo diferente. Revertemos de sapataria em geral para linhas esportivas", conta Lucas, em janeiro de 2023, aos 23 anos, formado em Administração e depois de voltar de mais uma NRF. A família, com seis lojas entre Ijuí, Santo Ângelo, Santa Rosa e Horizontina, vai dar o maior passo da história.
No começo de março, a Cadiles ganha a primeira operação em um grande centro gaúcho e em shopping center. Será no ParkShopping Canoas, na segunda maior economia gaúcha. A filial com 180 metros quadrados de área de venda envolve aporte entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão e terá novas tecnologias, como tótens de acesso a produtos e que conecta com estoque de outras unidades e acelerando o omnichannel.
"As pessoas (do interior) não esperam este movimento, que é sair do interior para um shopping do grupo Multiplan, um dos maiores do País. Mas varejo vive de inovação, e sem o movimento do dono, gerente e equipe não vivem bem", traduz Lucas. A frase carrega ações que vêm sendo executadas há cinco anos. Um dos pilares foi injetar tecnologia, buscar grandes marcas e formar a cultura da empresa com as pessoas, que começa pelo recrutamento, diz ele. Atuar com grandes marcas tem vantagem no volume e prestígio. "Hoje somos a cliente número 1 da Nike no Estado", orgulha-se Lucas. Na receita, a evolução veio no tíquete médio, que passou de R$ 200,00 para R$ 350,00.  
E não vai parar por aí a escalada da rede. Pisar com os modelos Nike, Adidas e Fila pertinho de Porto Alegre abre um novo momento. 
"Vamos começar com a franquia. A loja de Canoas vai ser referência, vai atrair pessoas de outros estados", aposta ele.
"Já estamos com tudo fechado, planilha de custos, formato, queremos entrar em cidades entre 100 mil e 200 mil habitantes. Podemos ter 17 lojas no Estado e depois vamos para fora. Já tem lojista interessado em Passo Fundo e na Capital", avisa.
A meta é ter 60 a 100 unidades físicas em cinco anos. Uma ideia é atrair lojista de calçados que queira converter a bandeira, acessando o modelo da Cadiles. Cada franquia deve envolver aporte de R$ 400 mil a R$ 600 mil, com estoque.
"Com o sistema que vamos implantar, é possível as lojas suprirem a demanda. Além disso, a Nike vai atender com estoque dela o que não tivermos", cita Lucas.
Esta operação será comandada a partir do marketplace que a rede estreia em fevereiro. Para isso, forma mais R$ 600 mil em recursos. "Trabalhamos com recursos próprios, reinvestindo o que temos ganho no negócio", explica o filho do Valdir, hoje no financeiro, e Elenira.
"O varejo é cada vez mais especialista", disse Lucas, na última quarta-feira, para a plateia lotada no teatro da Unisinos, quando ele e mais dois pequenos empreendedores subiram no palco do Pós-NRF, promovido pela CDL Porto Alegre. "Temos tudo muito bem alinhado, sabemos o que queremos, temos mercado, precisamos colocar isso em marcha". 

 Fórum gaúcho discute perspectivas econômicas para 2023

Público lotou evento para ouvir projeções e análises sobre o quadro econômico neste ano
Público lotou evento para ouvir projeções e análises sobre o quadro econômico neste ano
AMCHAM PORTO ALEGRE/DIVULGAÇÃO/JC
João Brum
Fórum econômico reuniu governo gaúcho e setor privado para discutir perspectivas econômicas em 2023. O evento, na sede regional da Câmara Americana de Comércio (Amcham Porto Alegre) na sexta-feira (27), focou diversos segmentos para falar sobre o futuro econômico do Brasil, perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), gastos fiscais do governo e taxas de juros para 2023.
O encontro contou com a presença do secretário adjunto da Fazenda do Rio Grande do Sul, Itanielson Dantas Silveira, do economista-chefe da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, da economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, do ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado Joel Maraschin e do secretário adjunto da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, Mario de Lima.
“Este evento é importante para entendermos o mercado e as perspectivas e traduzir para a realidade das empresas. Podemos perceber algumas tendências importantes, inovação vem como algo muito forte, inteligência artificial e bases de dados vem transformando o mercado, tudo isso se apresenta como motivo para que nós possamos auxiliar os nossos associados a construírem suas pontes para o futuro”, comentou Marcelo Borges, diretor Executivo Amcham Brasil.
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Subsídios apresentados pelos economistas devem ajudar nas decisões das empresas, diz Amcham
"O mundo vem vivendo uma sequência de crises. Com isso, o FMI projeta que um terço das economias vai sofrer algum processo recessivo. Temos países passando pelas maiores inflações dos últimos 70 anos, como a Alemanha. O que podemos ver mundo afora são os bancos centrais respondendo com a arma mais potente, a taxa de juros", explicou Patricia.

Antônio da Luz, Dantas, Maraschin e Lima apresentaram painéis falando sobre o Estado e seus segmentos e a economia aliada ao desenvolvimento, com temas como a recuperação fiscal do Rio Grande do Sul, investimentos e perspectivas nos próximos anos, potencialidade de investimentos, envelhecimento populacional e fortalecimento da educação.

"Um evento desta magnitude é uma oportunidade para alinharmos as discussões e os problemas sociais e políticos estaduais, nacionais e internacionais. Temos um público formador de opinião e tomador de decisão, assim como técnicos muito gabaritados que podem esclarecer e trazer luzes para aqueles tomam as grandes decisões”, destacou o secretário adjunto da Educação. 

30 DE JANEIRO DE 2023
ARTIGOS

O CONTEXTO TECNOLÓGICO NA TERCEIRA IDADE

Idosos não só podem como precisam vivenciar novas experiências. Aliás, há sempre algo novo para aprendermos, desde coisas a que nunca tivemos acesso até o surgimento de novas tecnologias. Viabilizar o acesso dos idosos a essas ferramentas digitais é de suma importância para o desenvolvimento pessoal, social e cognitivo da população acima de 60 anos.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), o número de pessoas com 60 anos ou mais que fizeram o uso frequente da rede mundial de computadores passou de 44,8% em 2019 para 57,5% em 2021. O crescimento deve ser comemorado, mas, no dia a dia, é possível observar que a exclusão digital entre idosos ainda é uma realidade, especialmente entre a população em maior vulnerabilidade. Precisamos considerar contextos sociais e históricos para compreender as relações do idoso com o uso das tecnologias.

Se por um lado as crianças já estão nascendo dentro dessa realidade, o que torna essa inserção no mundo digital bem mais fácil, por outro a dificuldade encontrada pelo idoso para entender o sistema de um smartphone, por exemplo, é justificada pelo fato de ser a primeira vez que essa tecnologia é apresentada para ele. Destaca-se que há, sim, uma dificuldade maior, mas que não significa a incapacidade de adquirir uma nova habilidade. Há dois ingredientes importantes nesse processo de aprendizado: a paciência e a constância.

Essa também é uma pauta que merece a atenção do poder público. A população brasileira está envelhecendo, a expectativa de vida no Brasil é de 79 anos para o público feminino e de 72 para o público masculino. Como inserir esses idosos no contexto digital? Pensar políticas públicas de inclusão para essa faixa etária é primordial, proporcionando cursos, capacitações e um acesso qualificado às tecnologias, bem como uma atenção maior aos crimes envolvendo idosos e meios digitais, com punição e fiscalização efetiva para tornar o ambiente mais seguro e atrativo aos anseios do idoso.

 ROBERTA DE OLIVEIRA


30 DE JANEIRO DE 2023
INDÚSTRIA DO RS

Incertezas pela frente

No levantamento de 2022, a Fiergs explica que o avanço das exportações gaúchas se dá, principalmente, pela elevação dos preços dos produtos vendidos, que apresentaram variação acima da quantidade remetida. Para este ano, especialistas afirmam que o cenário para as exportações no país e no Estado não está claro, porque conta com uma série de condicionantes.

Desaceleração das economias de países desenvolvidos, impactos da inflação, da guerra na Ucrânia e alterações no preço dos combustíveis podem prejudicar as vendas para o mercado externo. Por outro lado, eventual retomada de fôlego por parte da China, um dos principais destinos dos produtos brasileiros, pode ajudar a amenizar esses problemas, segundo a professora Camila Flores Orth, da Unisinos:

- A China, com essas medidas de retirada do covid zero, a expectativa é de voltar a ter crescimento mais acelerado em 2023. Com isso, a gente pode ver um aumento de exportação para a China.

No âmbito do óleo e do farelo de soja, o superintendente de estudos de mercado e gestão da oferta da Conab, Allan Silveira, afirma que o ambiente para as vendas brasileiras deve seguir positivo diante da desregulação do mercado internacional de óleos vegetais.

Vice-presidente de Indústria CIC de Caxias do Sul, Ruben Antonio Bisi diz que o desempenho do setor automotivo, principalmente na linha dos veículos pesados, deve seguir aquecido, mas em ritmo de acomodação. Parte dos empresários do ramo adota cautela nos investimentos à espera das primeiras ações do novo governo, segundo Bisi. Alguns problemas na produção, como a falta de semicondutores, também seguem pesando, mesmo que em patamar menor na comparação com anos anteriores:

- Vai ter uma pequena redução, um pequeno ajuste em alguns segmentos, mas depois teremos retomada no segundo semestre. Não é uma perspectiva pessimista. É otimista com um pouco de cautela.


Alimentos e automóveis são destaque nas vendas externas

Os dois segmentos tiveram aumento conjunto de US$ 1,76 bilhão nas exportações em 2022 em relação ao ano anterior

Com fatores que vão da abertura de novos mercados e aumento de preços a retomada sobre demanda reprimida, os ramos de alimentação e automotivo foram destaque no avanço das exportações da indústria gaúcha no ano passado. Em 2022, o setor de alimentos registrou US$ 5,86 bilhões em exportações - US$ 1,32 bilhão a mais e avanço de 29,1% ante 2021. Já as vendas externas de veículos automotores, reboques e carrocerias cresceu US$ 439 milhões, alta de 65,3% em relação ao ano anterior.

Esses dois segmentos estão entre os grupos com participação importante no aumento de quase 22% nas exportações da indústria de transformação em 2022. Os dados são da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). Além de impactar a produção, esse movimento reflete no emprego em algumas áreas, segundo especialistas. Para este ano, o cenário das vendas para o Exterior depende das políticas do novo governo e do apetite das economias ao redor do mundo.

A participação dos alimentos nas exportações não é algo inédito, mas o segmento teve salto expressivo no ano passado. O óleo de soja em bruto é um dos destaques, com US$ 776 milhões em vendas, acréscimo de US$ 354 milhões. Farelo de soja, com mais US$ 310 milhões em exportações ante 2021, também ocupou parcela significativa.

Superintendente de estudos de mercado e gestão da oferta da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Allan Silveira afirma que esse movimento é explicado por mudanças provocadas na oferta de óleos vegetais no mundo:

- Foi um ano (2022 )com pouca disponibilidade de óleo e farelo de soja da Argentina. E com a menor disponibilidade de óleo de girassol na Europa, menor quantidade de óleo e farelo de soja por parte da Argentina, que é o maior exportador, houve abertura de mercados para o Brasil.

A professora Camila Flores Orth, do curso de Ciências Econômicas da Unisinos, reforça o peso da guerra na Ucrânia no impulso da exportação do óleo de soja do Estado. Com a Ucrânia não conseguindo escoar a produção diante do conflito, o Brasil teve vantagem em cenário de demanda aquecida:

- Perdeu-se esse grande produtor e exportador de óleo vegetal e, com isso, o preço mundial, dentro da dinâmica de oferta e demanda, acabou aumentando. A gente se beneficiou de alguma forma, porque, mesmo não exportando tanto o óleo de girassol, o óleo de soja acaba sendo um bom substituto.

Retomada

Já o grupo de fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias registrou US$ 1,1 bilhão nas vendas externas em 2022. Esse avanço de 65,3% ante o resultado de 2021 ocorre na esteira de bons resultados nos produtos automóveis, chassis e carrocerias para veículos automóveis e autopeças, segundo a Fiergs.

O vice-presidente de Indústria da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Ruben Antonio Bisi, afirma que esse salto está muito ligado à retomada do segmento após o choque causado pela pandemia na produção e à expansão para novos mercados. Nesse sentido, ele destaca alguns movimentos observados na Serra, um dos principais polos da indústria metalmecânica gaúcha:

- Tem a nossa inserção em novos mercados, como a Randon, que está começando a entrar nos EUA, e a Marcopolo e o setor automotivo de carrocerias, que estão entrando fortemente na África. Teve bons pedidos do Chile, da Colômbia e, inclusive, da Argentina.

Bisi destaca que o aumento nas vendas externas e a recuperação de mercados ajuda nos investimentos e nas contratações. De janeiro a novembro de 2022, o segmento de fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias abriu 4,5 mil vagas no RS - quase o dobro do montante em 2021 (2,2 mil), segundo o Segundo dados do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.

Com tradição e polo na região do Vale do Rio Pardo, o ramo de tabaco também teve dados expressivos - avanço de US$ 947 milhões e alta de 78,3% em relação a 2021.

 ANDERSON AIRES 

domingo, 29 de janeiro de 2023


20/01/2023 - 09h00min
MARTHA MEDEIROS

O destino, às vezes, mexe as peças do tabuleiro só para nos pegar de surpresa

A renúncia de viver aquilo que tem potencial para nos desacomodar costuma ser uma garantia de futuro tranquilo. Há momentos que exigem um confrontamento com as escolhas que fizemos. Você chega na cidade em que nasceu, se hospeda na casa da sua irmã e vai até o supermercado comprar alguns ingredientes para o jantar. Aproveita para comprar sorvete, que sua irmã incluiu na lista, e fica feliz de poder fazer essa gentileza a ela, uma retribuição pela acolhida.

No corredor do super, encontra um ex-namorado, seu primeiro grande amor, com quem teve um relacionamento 20 anos atrás e cujo desenlace deixou alguns fios soltos. Depois de uma vacilante troca de palavras, ele te convida para um café. Seu marido e filhos estão lá na cidade onde você mora, a quilômetros de distância. Ora, é só um café.

Esse é o início do filme Blue Jay, disponível na Netflix. Quando a personagem aceitou o convite, a primeira coisa que pensei foi: o sorvete vai derreter. A segunda foi: por que raios fui lembrar do sorvete? Estamos livres da ilusão infantil de que se pode parar o tempo. Estamos livres da ilusão infantil de que se pode parar o tempo

Errar a grafia de um nome soa como desprezo. Errar a grafia de um nome soa como desprezo. Porque, apesar de já ter feito progressos, ainda tenho muito a evoluir no quesito “vou pensar em mim e que o mundo se exploda”, também conhecido, afetuosamente, por “f*da-se”. É uma questão cultural que herdei de casa. As amigas da minha mãe sempre contavam, entre gargalhadas, a longínqua ocasião em que elas propuseram um programa de última hora, sem chance de planejamento, e minha mãe respondeu: “mas hoje é o dia em que troco os lençóis”.

Esse foi o cenário da minha infância. Sair da rotina, repentinamente, atendendo ao apelo excitante da vida, era algo que perturbava. Desconsiderando o exagerado exemplo dos lençóis, acho que perturba muitas outras pessoas também. Ainda mais quando o apelo está relacionado a amor e sexo.

Cada hora continua tendo os mesmos 60 minutos que tinha no século 17, mas a impressão é que a vida tem passado feito um rato na sala, como dizia o saudoso Domingos Oliveira. Um dia somos adolescentes, no outro estamos debatendo a menopausa. Nem todo mundo encontra ex-namorados dentro de supermercados, mas a cena serve como metáfora: há momentos que exigem um confrontamento com as escolhas que fizemos, que nos colocam cara a cara com aquilo que preferíamos não saber, não remexer.

É típico do destino: às vezes ele mexe as peças do tabuleiro só para nos pegar de surpresa, a fim de testar nossa coragem, curiosidade e abertura para saltos sem rede, o velho e conhecido “ver qual é”. Quantas vezes você evitou se jogar? Apego à rotina também?

A renúncia de viver aquilo que tem potencial para nos desacomodar costuma ser um bom plano de previdência, uma garantia de futuro tranquilo, mas não demorará até que o olhar opaco denuncie a covardia. Você concorda que os relógios entraram em desacordo com o tempo e aceleraram os ponteiros? Você mal acordou e já é quase noite? Então deixe para trocar os lençóis amanhã e danem-se os sorvetes.

sábado, 28 de janeiro de 2023


28 DE JANEIRO DE 2023
PÓS-CREDITOS

A EXCELÊNCIA DO EXCESSO

Babilônia (Babylon, 2022), em cartaz nos cinemas de Porto Alegre, é um filme sobre excessos e um filme excessivo. Essa combinação mostrou-se repulsiva à maioria dos críticos e também ao público - apesar de trazer os nomes de Margot Robbie e Brad Pitt à frente do elenco, o título sobre a Hollywood das décadas de 1920 e 1930 escrito e dirigido por Damien Chazelle foi um fracasso comercial nos Estados Unidos: nas bilheterias, arrecadou menos de US$ 15 milhões, quantia que não paga nem 20% do orçamento.

Na temporada de premiações, faz um pouco mais de sucesso. No Globo de Ouro, ganhou em música original, composta por Justin Hurwitz, e disputou as categorias de melhor comédia ou musical (embora não seja nem uma coisa nem outra), atriz, ator (Diego Calva) e ator coadjuvante; no Critics? Choice, venceu em design de produção, assinado por Florence Martin e Anthony Carlino, e concorreu a outros oito troféus; compete como melhor elenco no SAG Awards, do Sindicato dos Atores dos EUA, e recebeu três indicações ao Bafta, da Academia Britânica: design de produção, figurino (Mary Zophres) e trilha sonora. São as mesmas categorias no Oscar, que não deu a onipresença merecida por Babilônia e nitidamente desejada por Chazelle.

Alçado à condição de jovem prodígio quando lançou, com 29 anos, Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014), pelo qual conquistou o Oscar de roteiro adaptado, o cineasta estadunidense já havia celebrado Hollywood em La La Land: Cantando Estações (2016). O musical estrelado por Ryan Gosling e Emma Stone igualou o recorde de indicações à estatueta dourada estabelecido por A Malvada (1950) e Titanic (1997). Das 14, venceu seis, incluindo melhor direção - Chazelle é o mais jovem ganhador da categoria (tinha 32 anos e 38 dias na data da premiação).

O espectador de Babilônia pode reconhecer características de La La Land, de Whiplash e também de O Primeiro Homem (2018), sobre o astronauta Neil Armstrong. Novamente, Chazelle conta uma história sobre dois jovens que perseguem o sucesso em Los Angeles - outra vez, temos uma aspirante a atriz, Nellie LaRoy, papel da australiana Margot Robbie, indicada ao Oscar de atriz por Eu, Tonya (2017) e ao de coadjuvante por O Escândalo (2019), e se não um pianista, temos um cara que carrega o piano, o faz-tudo Manny, interpretado pelo mexicano Diego Calva. Novamente, sonhos podem se tornar perigosas obsessões. Novamente, o cineasta busca sincronizar som e imagem, em uma simbiose alucinante orquestrada em parceria com seus colaboradores habituais: o editor Tom Cross e o compositor Hurwitz - autor de um tema absolutamente empolgante e totalmente contagiante, que parte da instrumentação de uma banda de jazz dos anos 1920 mas acrescenta toques de rock e música eletrônica.

O público também deve identificar semelhanças com o clássico Cantando na Chuva (1952) e o oscarizado O Artista (2011), afinal, esses três filmes abordam a complicada transição do cinema mudo para o cinema sonoro em Hollywood. A trama de Babilônia vai de 1926 a 1936, com um epílogo justamente em 1952. Para contextualizar a época, desenvolver os dramas dos personagens e reconstituir o impacto das transformações tecnológicas, Damien Chazelle adotou uma duração que uns encaram como exagerada - são três horas e nove minutos -, mas bem normal na comparação com outros filmes de destaque nas premiações e nas bilheterias: Avatar: O Caminho da Água tem 192 minutos; RRR, 187; Batman, 176; Pantera Negra: Wakanda para Sempre, 161; Elvis, 159; Tár, 158; Os Fabelmans, 151; Triângulo da Tristeza, 147; Nada de Novo no Front, 143; Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, 139; Top Gun: Maverick, 131.

Elefante

De qualquer forma, exagero é a palavra adequada tanto para definir Babilônia quanto a Hollywood daqueles tempos. Logo na primeira cena, o filme avisa sobre o que vem pela frente. No meio do deserto californiano, enquanto três homens tentam transportar um elefante em uma carreta, um deles acaba levando um banho de fezes do animal. Não haverá pudor em mostrar a orgia regada a álcool, cocaína e urina realizada na mansão do produtor cinematográfico Don Wallach, dono do fictício estúdio Kinoscope, festa em que o tal elefante é aguardado para ser uma surpresa literalmente de peso. Não haverá pudor nem limite: dezenas, talvez centenas de atores e figurantes participaram dos 10 dias de filmagens da festança. Chazelle demonstra ter absoluto controle sobre o caos, ora apostando em intrincados planos-sequência comandados pelo diretor de fotografia sueco Linus Sandgreen, para ilustrar a suntuosidade do ambiente, ora investindo em inúmeros cortes para traduzir a atmosfera febril.

Se as festas eram extravagantes, o trabalho era turbulento e arriscado. Antes de O Cantor de Jazz (1927), como o som ainda não importava, vários filmes podiam ser rodados ao mesmo tempo ocupando diferentes espaços do mesmo set: um faroeste aqui, um épico de capa e espada ali, um drama contemporâneo acolá. Outra vez, Chazelle consegue colocar o espectador dentro de um cenário confuso e nervoso sem jamais perder o foco, o objetivo.

O que não é exagerado em Babilônia é o número de personagens. Os principais são apenas três. Nellie e Manny compartilham a mesma ambição: querem estar em um set de filmagem - "o lugar mais mágico do mundo", como dirá alguém -, ela à frente das câmeras, ele, nos bastidores.

A suburbana Nellie atravessou o país (veio de New Jersey) a bordo de uma autoconfiança - "Ninguém se torna uma estrela. Ou é ou não é"- forjada por anos e anos de penúria e desprezo. De origem mexicana, Manny tem como trunfos um otimismo quase inabalável e sua capacidade de resolver as coisas. Por isso, acaba sendo empregado por Jack Conrad, um astro do cinema mudo inspirado em John Gilbert e Douglas Fairbanks, entre outros, e encarnado por Brad Pitt, vencedor do Oscar de coadjuvante por Era uma Vez em Hollywood (2019). Jack está sempre bebendo e trocando de esposa. Nos momentos de sobriedade, tece reflexões sobre o encantamento exercido pelas salas de cinema: "Filmes são mais importantes do que a vida. Filmes fazem você sentir. Filmes mostram que você não está sozinho!".

Ao redor desses três personagens, gravitam três coadjuvantes importantes. Lady Fay Zhu (Li Jun Li) é uma cantora andrógina. Sidney Palmer (Jovan Adepo) é um trompetista negro. Elinor St. John (Jean Smart, multipremiada pela série Hacks) é uma jornalista de fofocas. Somadas às histórias de ascensão e queda de Nellie, Manny e Jack, suas trajetórias ajudam a exemplificar a volatilidade de Hollywood e como o talento e o estrelato não protegem do moralismo e do racismo.

Pois é: apesar de se passar quase um século atrás, Babilônia não deixa de refletir sobre a Hollywood de hoje, igualmente pressionada a lidar com uma transformação de teores tecnológicos e mercadológicos - o avanço das plataformas de streaming, impulsionado durante os anos da pandemia de covid-19. E a descida ao inferno conduzida pelo assombroso personagem interpretado por Tobey Maguire parece apontar para o que seria o futuro, portanto, o presente da indústria cinematográfica: os tipos grotescos, a pirotecnia e a depravação daquele submundo de Los Angeles podem ser um espelho da hegemonia dos super-heróis, dos efeitos visuais e do apelo sexual das celebridades atuais.

Mas o desencanto convive com a esperança no filme. Por mais que haja tensão e tragédia, por mais que nos mostre como a glória e a destruição podem andar lado a lado, Damien Chazelle não deixa de declarar seu amor pelo ofício e de homenagear seus antecessores (fica o desafio: tente identificar todas as obras referenciadas no frenético e poético clipe de encerramento). Babilônia nos lembra do poder que o cinema tem de imortalizar os mortais - e algumas cenas hão de se tornar perenes na memória do espectador, vide a vibrante e emocionante sequência da estreia de Nellie LaRoy em um estúdio. É como a jornalista Elinor diz a certa altura para um certo ator: "O seu tempo acabou, mas você deve ser grato. Você passará a eternidade com anjos e fantasmas".

PÓS-CREDITOS



28 DE JANEIRO DE 2023
FÍNDI DO CLUBE DO ASSINANTE

Novo roteiro de enoturismo na Campanha Gaúcha

Conhecido polo vitivinícola do Rio Grande do Sul, a Campanha Gaúcha conta com um novo roteiro de enoturismo. Lançado pela Miolo em setembro do ano passado, o passeio pela Vinícola Almadén, em Santana do Livramento, leva os visitantes a um passeio pelo vinhedo e pela estrutura recém reformada, que inclui museu, deque panorâmico, passarelas e um free shop de vinhos. Ao fim da visita, é oferecida uma degustação.

Dos 1,2 mil hectares da vinícola, fundada em 1973 pela Almadén da Califórnia, 450 têm vinhedos próprios em espaldeira com 25 castas, que dão origem a diversos vinhos (tintos, brancos e rosés). No total, a marca Almadén conta com 18 rótulos.

Da recepção o turista é encaminhado para o Museu Semente, que reúne, em cem metros quadrados, um acervo de fotos e objetos sobre a trajetória da marca.

Levado à área externa, o visitante caminha por um deque sobre os vinhedos. Uma passarela leva até a cantina, e, depois, o roteiro termina nas salas de degustação. No local, são oferecidos quatro produtos, selecionados de acordo com a estação.

No final, o já mencionado free shop de vinhos vende 120 rótulos da Miolo. Por ficarem isentas de impostos, as bebidas custam até 30% menos.

Passeio

A visitação custa R$ 30, incluindo uma taça personalizada, e ocorre diariamente, às 9h30min, 11h, 12h30min, 14h e 15h30min. As reservas podem ser feitas pelos telefones (55) 99687-2978 e (55) 99708-2461 ou pelo e-mail visitaalmaden@miolo.com.br.

Sócios do Clube do Assinante têm um benefício a mais: ganham R$ 10 de desconto no passeio.


28 DE JANEIRO DE 2023
LEANDRO KARNAL

Vejo pessoas tomadas de fúria. Observo outros humanos atacados de ciúmes doentios ou inveja corrosiva. A luxúria consome meus conhecidos e induz cada um deles a atos torpes. Por todo lado, o humano, demasiado humano domina. Egoístas sempre, altruístas de quando em vez. E eu? Sinto-me igual (ou pior) a todos os que perambulam neste umbral chamado vida.

Ressalto: minha estrutura iguala-me a toda a mesquinhez do mundo. Minha vaidade é tão imensa que tenho vergonha de demonstrar a fraqueza em público. Como funciona? Alguém me diz algo desagradável na rua. Fico perturbado, sempre, mas... teria muita vergonha de reagir com raiva desmedida, demonstrando que o agressor acertou o alvo; eu acuso o golpe, sentindo afluir o sangue da "vendetta". Prefiro fingir indiferença disfarçada por certo estoicismo de "minha paz me pertence". Olhando de longe, pareço sábio; de perto, sou uma besta-fera amordaçada.

Tenho ciúmes vários, mas nada digo. Parece que seria uma humilhação pedir que evite encontrar alguém. É algo similar a "como o meu concorrente pode ser melhor do que eu, prefiro que você não o encontre". Passar atestado de fraqueza, de medo e berrar ao mundo que não sou bom o suficiente? Minha máscara é a superioridade ocultando meu medo trêmulo: "Pode ir, amor... você quem sabe".

Em meu favor, o fino verniz consegue ter efeito denso. Tive um colega invejoso que me atacava na universidade. Num dia, em meio a uma chuva de críticas gratuitas em almoço coletivo, respondi com calma, trocando o nome dele por um similar. Vi como ficou perturbado. O ódio é um pedido de atenção, entretanto fingi, com sucesso, que ignorava a ação e o ser atrás de tal ação. Foi devastador, e ele perdeu o controle. Eu pisquei por último no fogo-fátuo das vaidades acadêmicas.

Sou vaidoso a ponto de controlar minha raiva. Meu orgulho é tão grande que gosto de emular a sabedoria. Insisto pouco se alguém não quer sair comigo. Disfarço e domestico, parcialmente, minha ira.

Uma pessoa sábia não pode ser atingida por ataques. Sua tranquilidade é profunda; sua paz é um lago sereno ao redor da consciência. O equilibrado de verdade é um monumento de granito que fica indiferente às ondas que se abatem. Não sou assim.

O segundo tipo é o ser impulsivo que enfrenta tudo e todos. Cada palavra seca é respondida com agressão verbal ou física. O raivoso imaturo deixa ao mundo a decisão sobre ter ou não equilíbrio. Basta um gesto e... lá vem a pororoca reativa. Essas pessoas são folhas frágeis que oscilam de acordo com o desejo do vento externo, carregadas para lá e para cá. Barulhentos, porém vítreos; brigões, todavia dependentes. Causam mais incômodo e pena do que medo. Também não sou assim.

Sou um mestiço estranho entre os dois tipos anteriores. Nunca fui o perfeito equilibrado em um mar de dificuldades. Melhorei, porém estou longe do modelo do filósofo Epicteto. Da mesma forma, não encarno o segundo modelo. O impulso não é soberano sobre meu mundo. Minha raiva existe e é controlada, como disse, pela vaidade. O zelo pela minha imagem me domina mais do que ter feito psicanálise ou ter lido tanta filosofia. Não me sinto guiado pela virtude. Meu freio está na fragilidade do meu ego, que finge, pretende, encena e age com serenidade, na maioria das vezes.

De alguma forma, existe uma secreta admiração pela sinceridade transparente de alguém que muda física e psiquicamente, porque outra pessoa deu uma buzinada indevida. É como se essa pessoa não tivesse vergonha de ser visceral e gritasse ao mundo: emita um som, e o meu mundo desmorona como Jericó diante das trombetas dos hebreus. Um perturbado é uma espécie de criança que fica emburrada diante da atenção dada ao irmão na festa de aniversário. 

Como os pequenos, alguns adultos parecem achar que mostrar carência e fraqueza em público é... legal. Eu morro de vergonha de berrar para todos que sou uma carne viva, sem pele, e um vento frio pode me fazer sentir dor. Há uma parte minha que admira a sinceridade na fraqueza de quem tem acesso de ciúme, em público, sem culpa de reconhecer que não se considera com atrativos suficientes para enfrentar a concorrência.

Volto ao tema: sou igual (ou pior) a todos os motoristas do mundo, a todos os maridos ou a qualquer outro profissional inseguro. Sou raivoso e cheio de complexos. Tenho medo e acho sempre que me abandonarão. Porém, no naufrágio do Titanic da espécie humana, eu me agarro à boia da minha vaidade, minha companheira fiel, vasta e segura. Fico à deriva sim, temo a água fria, a morte e... não grito para não atestar que sou feito do mesmo lodo de todos os fracos e pusilânimes.

Reconhecer-se igual a todos é quase humildade. Saber-se pior é próprio da consciência dos santos. Minha vaidade é tão enorme que, freando minhas raivas e acessos, ainda me fornece uma narrativa de superioridade: "Viu? Não sou como esses que se descontrolam". Assim, afundo, no mar gelado e patético da humanidade, como todo náufrago, mas... sem gritar. Diferente dos ruidosos, sou um imbecil silencioso e altaneiro. Afundo com total dignidade e estudada cenografia. Tenho esperança de, num dia, ficar sábio. O tempo está diminuindo...

LEANDRO KARNAL