quarta-feira, 30 de novembro de 2016



30 de novembro de 2016 | N° 18702
MARTHE MEDEIROS

O inusual

Costumo ir ao Rio com frequência para cumprir compromissos, e sempre volto com alguma história para contar, ainda que nem sempre conte. Desta vez, trouxe duas que valem o registro.

A mais incrível foi ter sido entrevistada pelo Tony Ramos para a segunda temporada do programa A arte do encontro, que vai ao ar pelo Canal Brasil. Não bastasse o privilégio do convite, o que aconteceu durante a gravação me fez duvidar do meu instinto de preservação: sem aviso prévio, sem ensaio, com o programa em andamento, fui intimada a fazer com ele a leitura de um trecho de um livro de Philip Roth. 

Cinco páginas de diálogos entre um homem e uma mulher. Deveria ter saído correndo, mas não só encarei, como fui atrevida o suficiente para dar um leve toque de interpretação à minha personagem, a fim de não deixá-lo atuando sozinho. Ao final da cena, eu estava emocionada, não porque tenha sonhado alguma vez em ser atriz, mas porque sempre acreditei que a maravilha da vida está nesses pequenos milagres embrulhados para presente e entregues na sua mão num dia que você pensava que seria igual aos outros.

A segunda história: eu estava no Rio, também, para fazer uma sessão de autógrafos, que aconteceu às seis da tarde numa livraria lotada, em Ipanema. Eu estava sentada nos fundos do ambiente, à distância de uns 50 metros da única porta de entrada. 

Havia dezenas de pessoas à minha frente, todas aguardando sua vez, com celulares em punho para a selfie. Perto de mim, meu editor, alguns amigos, o staff da livraria, um garçom oferecendo água. Todos os olhares convergiam para onde eu estava, e então, casualmente, dei falta da minha bolsa, que estava apoiada no encosto da cadeira. Achei que alguém a tivesse guardado, mas não: ela foi furtada diante dos olhos de todos por uma gangue. 

As câmeras internas de segurança registraram a ação. Um homem e duas mulheres entraram na livraria apinhada, caminharam até onde acontecia a muvuca, e com uma ousadia bem ensaiada, fizeram um furto num ponto onde não haveria rota de fuga no caso de um flagrante – mas nada disso os intimidou. Foram bem-sucedidos não porque não houvesse ninguém olhando: foram bem-sucedidos porque todos estavam olhando – mas as pessoas só enxergam aquilo que esperam ver.

O inusual nunca está no script. Mas ele acontece, para o bem e para o mal, desmontando as nossas previsões. Estamos em plena vigência da experimentação da vida, com tudo o que ela traz e nos tira. Nossa obrigação? Manter os olhos abertos para além do previsível, e a alma preparada.    -

Este texto já estava pronto quando soube da tragédia de ontem: para esse tipo de episódio inusual, nunca estamos preparados. Minha profunda solidariedade à família dos atletas e jornalistas falecidos, e um abraço muito especial aos amigos Georgete e Paulo Paixão.



30 de novembro de 2016 | N° 18702
EDITORIAL

O CONFORTO DA SOLIDARIEDADE

O Brasil se une num mutirão de solidariedade para o mais importante: dar integral atendimento aos sobreviventes e apoiar as famílias das vítimas.

A tragédia que vitimou atletas, jornalistas, dirigentes, profissionais do esporte e tripulantes do avião que conduzia a delegação da Chapecoense à Colômbia une o Brasil na dor e no desalento, mas também desperta um forte sentimento de solidariedade coletiva. Impactados pela triste notícia da madrugada de ontem, os brasileiros logo começaram a se mobilizar para aliviar o sofrimento dos familiares e amigos das vítimas, primeiro pela busca de informações consistentes e confiáveis sobre o acidente, em seguida pelas providências das autoridades para dar assistência aos parentes dos mortos e feridos e, na medida em que as piores notícias se confirmavam, pelo sentimento de pesar, pela oração, pela disposição de ajudar e pelo carinho de milhares de pessoas anônimas que se alinham voluntariamente ao clima de consternação nacional.

Dar integral atendimento aos sobreviventes e apoiar as famílias das vítimas são as urgências do momento. Neste sentido, merecem reconhecimento a agilidade e a presteza dos governos federal e catarinense para dar acompanhamento às famílias e também para colaborar com as autoridades colombianas na identificação, liberação e transporte dos corpos.

Igualmente sensatas e oportunas têm sido as providências adotadas pelas entidades que dirigem o futebol ao reorganizar o calendário esportivo e garantir condições especiais à Chapecoense para que continue participando das competições, com a anuência explícita e solidária dos demais clubes. Algumas agremiações, inclusive, já manifestaram a intenção de ceder atletas ao time catarinense, para recompor seu elenco.

O Brasil está unido neste mutirão de solidariedade. Porém, tão logo seja superado o impacto inicial, é essencial que as autoridades apurem com rigor as causas do acidente, principalmente para que dele se tirem os devidos ensinamentos no sentido de prevenir outros desastres dessa natureza. Reconforta constatar tanta cooperação e fraternidade, mas precisamos também transformar esses sentimentos grandiosos em ações práticas, para que a normalidade da vida seja retomada no seu devido tempo. A melhor homenagem que todos podemos fazer aos jovens atletas e aos demais profissionais que tiveram sua viagem interrompida é continuarmos a caminhada – com bravura e humanidade.


30 de novembro de 2016 | N° 18702
TRAGÉDIA NA COLÔMBIA

VOZES QUE SE CALARAM

O avião que carregava a Chapecoense rumo ao título da Copa Sul-Americana também conduzia os sonhos de profissionais que queriam contar essa glória.



A maior tragédia futebolística da história foi ao mesmo tempo a maior tragédia da imprensa brasileira. Ao todo, 20 profissionais de comunicação morreram na queda do avião. O sobrevivente Rafael Henzel está internado na Colômbia.



Entidades ligadas à comunicação em todo o país emitiram notas e prestaram homenagens aos profissionais mortos no acidente.



AS VÍTIMAS



GIOVANE KLEIN VICTÓRIA

Repórter da RBS TV de Chapecó, 28 anos
Gaúcho de Pelotas, Giovane desembarcou em Chapecó há pouco mais de três anos para acompanhar a mulher, Isabella Ibargoyen, também jornalista, na cidade do Oeste. Em 2015 entrou na RBS TV, onde fez amigos e deixou lembranças das brincadeiras na redação.
LAION MACHADO ESPÍNDULA
Repórter do Globo Esporte de Santa Catarina, 29 anos
Gaúcho de Terra de Areia, trabalhou no Correio do Povo e no Globo Esporte RS antes de ser contratado pelo site em Santa Catarina para, justamente, acompanhar a Chapecoense, que chegava à Série A do Brasileirão em 2014, após a Copa do Mundo. Em Chapecó, Laion também virou professor do curso de Jornalismo em uma faculdade da região.
DJALMA ARAUJO NETO
Cinegrafista da RBS TV Florianópolis, 35 anos
Pai de dois filhos, ele estava desde 2003 nos quadros da RBS TV e tinha experiência em coberturas esportivas, como os Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007. Era considerado um dos melhores cinegrafistas do Estado, principalmente em partidas de futebol.
BRUNO MAURI DA SILVA
Técnico de externas da RBS TV, 25 anos
O cuidado com o sinal de imagem dos jogos dos times catarinenses estava sob sua responsabilidade. O palhocense de 25 anos era um dos profissionais de confiança do setor técnico para grandes coberturas. Formado no curso de tecnólogo de Telecomunicação do Instituto Federal de SC (IFSC), Bruno trabalhava na RBS TV desde 2012.
André Luiz Goulart Podiacki
Repórter de esportes do Diário Catarinense, 26 anos. Era natural de Florianópolis e formado pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina.
Victorino Chermont
Repórter do Fox Sports, 43 anos. Era natural do Rio de Janeiro e tinha passagem pela Rede Globo.
Deva Pascovicci
Narrador do Fox Sports, tinha 51 anos. Passagens por TV Manchete, SporTV e Rede CBN.
Edson Luiz Ebeliny
Nascido em Chapecó e conhecido como Picolé, era repórter e locutor na Rádio Super Condá (AM 610), de Chapecó, onde trabalhava desde 2003. Viajava acompanhando as partidas do time. Instantes antes do embarque em São Paulo, na segunda- feira, postou no Facebook: “Vai começar a viagem. Guarulhos para Bolívia/Bolívia Colômbia. #cobrirdecisão #chapecoense é o Brasil na final. Um abraço a todos!” Deixa mulher e filhos.
Gelson Galiotto
Natural de Rondinha (RS), 41 anos. Era narrador esportivo da Rádio Super Condá (AM 610), de Chapecó. Atuava na emissora desde 2001.
Jacir Biavatti
Conhecido como Jotha Biavatti, era locutor esportivo na Vang FM Xaxim e repórter da RICTV. Nasceu em Dois Vizinhos (PR) e tinha 46 anos.
Renan Carlos Agnolin
Repórter da Rádio Oeste, 27 anos. Também era apresentador na RicTV, filial local da Rede Record, e já havia sido repórter na Rádio Super Condá AM. Renan era natural de Erechim.
Fernando Schardong
Conhecido como Fernando Doesse, era narrador esportivo da Rádio Chapecó. Somava mais de 25 anos de atuação como radialista, jornalista e cronista esportivo. Mantinha o Blog do Fernando Doesse, em que dava destaque à Chapecoense. Casado, era natural de Ibirubá (RS).
Douglas Dorneles
Repórter esportivo da Rádio Chapecó, era setorista da Chapecoense. Tinha 36 anos.
Paulo Júlio Moraes Clement
Comentarista do Fox Sports, 51 anos. Jornalista, tinha passagens por SporTV, pelo Jornal do Brasil, pelo jornal O Globo e como editor da versão brasileira do jornal Marca. Foi assessor de imprensa do ex-centroavante Ronaldo Nazário.
Lilacio Pereira Júnior
Conhecido como Jumelo Pereira, era coordenador de externas da equipe do Fox Sports. Ele tinha 48 anos.
Rodrigo Santana Gonçalves
Cinegrafista da equipe do Fox Sports, 35 anos. Recém havia retornado da Alemanha, onde havia participado de uma entrevista especial com o técnico do Bayern de Munique, Carlo Ancelotti.
Guilherme Marques
O repórter Guilherme Marques tinha completado 28 anos na sexta-feira. Ele estava na Globo desde 2013. Antes, tinha trabalhado como produtor e repórter na TV Brasil. Guilherme nasceu no Rio e era apaixonado por futebol e samba. Ele cobriu a elite do Carnaval carioca no ano passado.
Guilherme Laars
O produtor Guilherme Van Der Laars tinha 43 anos e trabalhou nos jornais Lance! e Extra. Trabalhava na TV Globo desde 2011. No Esporte Espetacular, Guilherme foi um dos responsáveis pela série “A base”, que fez uma análise sobre os problemas do futebol brasileiro. Ele era casado, tinha dois filhos e a mulher está grávida do terceiro.
Ari de Araújo Júnior
Cinegrafista da Rede Globo, 48 anos. Recebeu uma homenagem de colegas da emissora. Para Tiago Leifert, apresentador da emissora, “foi uma lenda, um gênio, o melhor cinegrafista da equipe”.


NOTA DE PESAR GRUPO RBS



O Grupo RBS sente profundamente a tragédia ocorrida com o avião que transportava a delegação da Chapecoense na Colômbia e se solidariza com familiares e amigos das pessoas que estavam a bordo: jogadores, integrantes da comissão técnica, dirigentes, profissionais da imprensa e tripulantes. Aos resgatados com vida, desejamos força, coragem e pronta recuperação.

Lamentamos a perda de uma equipe formada por jovens talentos do futebol e de uma comissão técnica competente e comprometida em elevar o nome da Chapecoense.
Dedicamos o nosso carinho especial às famílias dos profissionais de imprensa que acompanhavam o clube e estavam engajados em registrar da melhor forma uma final inédita para o time catarinense: André Podiacki, Giovane Klein, Bruno Silva, Djalma Araújo Netto e Laion Espíndula, colaboradores da RBS em Santa Catarina, e os colegas da Rede Globo, Fox Sports, Rádio Super Condá, Rádio Chapecó e Rádio Oeste Capital.
Nosso pesar e amparo se estende ao Estado de Santa Catarina e à comunidade de Chapecó, que ajudaram a construir uma história de sucesso e superação no esporte brasileiro e vivem um momento de desolação por essa perda dolorosa e irreparável.

30 de novembro de 2016 | N° 18702
ARTIGO

UMA LÁGRIMA DOLORIDA POR CHAPECÓ

Se o Brasil todo, inclusive o Rio Grande do Sul, fosse metade da pujança de Chapecó, seríamos hoje Primeiro Mundo. Chapecó reuniu, há poucas décadas, gente, principalmente do RS, Paraná e São Paulo, que queria progredir.

Permitam-me explicar aos leitores jovens. Com as imigrações alemã e italiana, os colonos se fixaram em terras, inclusive do nosso Estado, que, com o aumento populacional, logo se mostraram insuficientes. Ocorreu, então, há menos de um século, uma diáspora de colonos, pequenos comerciantes, artesãos, para o oeste catarinense. Eu era um menino e me lembro que vários tios, por parte da mãe, eram agricultores e partiam com caminhões velhos, em direção às “terras novas” de Santa Catarina.

Itapiranga, São Miguel do Oeste, Chapecó, eram as palavras mágicas. A colonada, rude e determinada, largou Santa Cruz, Venâncio Aires, Lajeado, Estrela (as colônias velhas), em direção a uma vida melhor.

Chapecó foi isto: o destino dos sonhos de quem queria mais terra para trabalhar.

Chapecó não tinha praias, nem palmeiras, nem cachoeiras. Muito menos facilidades e mordomias.

Foi sua gente que fez a diferença. Em todo o mundo é assim: a gente faz o lugar ser bom ou ruim.

“Labor omnia vincit”, como me ensinaram os jesuítas.

Em Chapecó, portanto, ocorreu um progresso, em todos os sentidos, que não perde para lugar nenhum do mundo.

E não é que um grupo de abnegados decidiu montar um clube de futebol como organizam seus próprios negócios? Com probidade. E a semente germinou, como todos constatamos.

Uma tragédia, infelizmente, se abateu sobre Chapecó.

Que nos sirva de lição o gesto do clube colombiano que pediu que a Chapecoense fosse coroada a campeã da Sul-Americana. Gesto nobre em homenagem a uma gente nobre.

Chapecó, ao menos para mim, será para sempre a cara que o Brasil, às vezes podre, deveria ter.

Cara limpa, alegre, séria, honesta, empreendedora.

O mundo se dá conta, agora, de um Brasil diferente.

Pena, lástima, que foi desse jeito.

Advogado ruy@gessinger.com.br




29 de novembro de 2016 | N° 18701
CARPINEJAR

Pasta de couro

É cada vez mais comum executivos com mochila. Homens engravatados carregando uma mochila, como se estivessem indo ou voltando da escola. Adultos feitos, mas com um toque infantil atrás das costas, tal asas de querubins.

Não levam nada nos bolsos da calça e do casaco, tudo segue nos ombros: documentos, celular, garrafinha d’água e algum agasalho na hipótese de uma esticada do emprego para a noite.

A mochila é o equivalente à bolsa feminina. Os varões se renderam à prevenção de um dia fora de casa. E também é a herança de uma adolescência que não termina mais.

São outros homens de outros tempos. Não mais como os antigos funcionários de bancos, empresários e corretores que andavam com uma pasta de couro e precisavam de uma mesa inteira para abrir as suas verdades.

A pasta de couro está extinta, esta que já foi um grande símbolo da virilidade financeira. Quem tinha emprego importante exibia a sua pasta preta ou marrom. Ela era um cofre com senha e chave, havia espaço para papéis e canetas especiais. Muitas continham um fundo falso para ocultar documentos preciosos.

Os filhos esperavam o momento para espiar o seu conteúdo. Ficavam às voltas da chegada paterna para ver se ele abriria distraidamente a pasta. Sempre foi emocionante ouvir o claque da abertura dos dois lados. O suspense alterava o meu batimento cardíaco.

Lembro da seriedade do meu paizinho. Ele largava o pacote dos pãezinhos em cima do sofá para nos abraçar e eu me esforçava para me livrar dos beijos dele e acompanhar os movimentos da pequena maleta.

Além da pasta, ele pertencia ao time das carteiras de mão. Quando não estava a trabalho, caminhava segurando uma carteira imensa, algo como uma pochete longe do cinto. Naquela época, o cheque mandava no pagamento das contas.

Ninguém circulava com cartões de crédito, o que vigorava era o talão com espaço nobre na carteira, que permanecia esticado com duas tiras prendendo as suas pontas.

Não acho que o passado fosse melhor, eu apenas não consigo olhar qualquer coisa sem comparar. Ver é automaticamente retornar ao passado. Talvez esteja sempre comparando o que sou e não sou.

Ou comprei todas as lembranças de minha infância no fiado e só agora, depois dos 40 anos, vou pagando.

29 de novembro de 2016 | N° 18701
ARTIGO | DENIS LERRER ROSENFIELD*

 "NORMALIDADE"

Há uma exigência incontornável da sociedade brasileira hoje: a da moralidade pública.

Tudo o que foge desse parâmetro na vida política é, imediatamente, objeto de crítica, senão de execração. As reações são imediatas. Os partidos e os políticos que não souberem reconhecer esse dado de base estarão fadados ao fracasso.

Veja-se a indignação da sociedade em relação à autoanistia que um grupo de deputados e vários partidos, ocultamente ou abertamente, está tentando construir como se crimes eleitorais e outros pudessem ser simplesmente apagados.

A reação foi imediata, levando, inclusive, o próprio presidente da República a declarar publicamente ser contra tal medida.

Crimes políticos dos mais diferentes tipos não são mais perdoados. Casos que outrora poderiam ser considerados como menores, atualmente, possuem uma outra significação.

Característico desse contexto é o episódio envolvendo o agora ex-ministro Geddel. Em uma situação absolutamente bizarra, a República ficou completamente paralisada por causa de um apartamento na Bahia, como se o país não mais tivesse com que se preocupar.

O presidente da República, três ministros, a advogada-geral da União e um subsecretário da Casa Civil terminaram se envolvendo com os interesses particulares de um ministro incomodado com uma decisão administrativa que o contrariava.

É como se o governo tivesse entrado em crise. O gabarito de um edifício baiano terminou produzindo uma tormenta de proporções. Dois ministros renunciaram e o próprio presidente foi obrigado a se explicar.

Por que isto? Porque dois mundos não se comunicam, o da classe política, com seus costumes pouco afeitos à ideia do bem coletivo, e o da sociedade que clama pela ética na política.

Há duas noções de normalidade em questão.

Uma é a da classe política, que não viu nada de anormal no comportamento do ex-ministro Geddel, como se fosse algo corriqueiro. Foi preservado em um primeiro momento, pois o seu padrão de conduta caía em uma estranha noção de “normalidade”.

Outra é a da sociedade, para a qual a moralidade é um eixo central da vida pública. Exige que a política se paute pelo bem coletivo.

Ocorre que a classe política age segundo uma “normalidade” que não é reconhecida pela sociedade, que considera tal tipo de comportamento completamente anormal. É como se tivéssemos duas formas de vida que não se comunicam e, mesmo, se rechaçam. O preço a pagar por isto é alto.

*Professor de Filosofia - denisrosenfield@globo.com

29 de novembro de 2016 | N° 18701Alerta
EDITORIAIS

O DRONE E O AVIÃOZINHO


Versão moderna do aviãozinho com a faixa Eles estão fora, que virou hábito no Estado sempre que um dos integrantes da dupla Gre-Nal fica para trás na etapa classificatória de alguma competição, o drone que sobrevoou o Beira-Rio no último domingo acrescentou um elemento preocupante na tradicional rivalidade: a reação insana do grupo que depredou uma residência nas proximidades do estádio, na suposição de que o objeto voador tivesse partido de lá. O aparato portava um pequeno cartaz com a letra B, evidente alusão a uma eventual queda do Inter para a Série B do Campeonato Brasileiro.

A “flauta” é tão antiga quanto a própria rivalidade, mas também não é raro que resulte em violência quando torcedores mais exaltados entram em confronto. Tanto é assim, que as autoridades responsáveis pela segurança tomam providências preventivas sempre que há clássico ou risco de conflito, às vezes até mesmo entre torcedores do mesmo clube. 

Mas ninguém poderia prever que pessoas desequilibradas atacassem uma residência para depredar e agredir moradores, que nem sequer sabiam o que estava acontecendo no estádio. Mesmo que não tivesse sido um equívoco, como ficou constatado quando o dono da casa se revelou torcedor colorado, continuaria sendo um absurdo – e um caso de polícia, como efetivamente está sendo tratado.

Espera-se que os responsáveis pela selvageria sejam identificados e punidos. É essencial, também, que o triste episódio sirva de alerta não apenas para as autoridades, mas também para os próprios torcedores, independentemente de suas cores clubísticas, pois só eles têm poder para conjugar rivalidade com civilidade, e para manter a competição esportiva na sua devida dimensão.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016



28 de novembro de 2016 | N° 18700
SEM BARREIRA | David Coimbra

OS SES DO INTER


Valdívia havia corrido já uns 30 ou 40 metros com a bola nos pés. Estava na intermediária de ataque. Levantou a cabeça e, para seu desespero, viu seus companheiros de time mal posicionados. Não tinha opção de passe, não sabia o que fazer. Abriu os braços, demonstrando irritação. Então, decidiu arriscar. Enquadrou o corpo para bater com o pé direito.

Bateu. E não é que a bola entrou?

Foi uma dessas espetaculares ironias do futebol. Se o Inter estivesse bem treinado e organizado, Valdívia teria para quem dar o passe e talvez o Cruzeiro se fechasse a tempo e impedisse o gol. Como o contra-ataque foi obra de um homem só, uma iniciativa pessoal meio atrevida, acabou dando certo.

O gol de Valdívia demonstrou o que tem sido o Inter no Campeonato Brasileiro de 2016: um time que conta mais com as individualidades e com a eventualidade do que com a coordenação.

No jogo de ontem, essas individualidades até apareceram. Anderson, sem nenhuma dúvida, é o jogador com mais condições técnicas do grupo. Foi ele quem temperou o meio-campo e conseguiu, até certo ponto, fazer o que fazia D’Alessandro: dar ritmo ao time.

O Cruzeiro, que não tinha mais nada a fazer no Campeonato, jogou uma partida protocolar, esperando o erro do Inter para dar uma espetada e vencer. Poderia ter vencido, se o Inter não tivesse um goleiro diferenciado. Danilo, mais uma vez, salvou o time. Se o Inter se salvar, será por causa dele.

Poderá se salvar? 

Continua difícil. Os “ses” ainda pesam sobre o Beira-Rio. Se o Vitória, se o Sport... Quer dizer: o gol de Valdívia não significa nada. Mas pode significar tudo.

VONTADE DE FAZER GOL A vantagem do Grêmio sobre o Atlético Mineiro, na decisão da Copa do Brasil, significa tudo.

Mas pode não significar nada. Basta o Grêmio levar um gol, e os 15 anos sem conquistas relevantes desabarão sobre os ombros dos jogadores na Arena, a torcida ficará apreensiva, o ar ficará mais denso.

O Grêmio terá de jogar, basicamente, como jogou no primeiro tempo da partida de Belo Horizonte: com calma e sabedoria, mas também com agressividade. Se é verdade que não há necessidade de se arriscar parta marcar um gol, também é verdade que um time que espera demais o adversário acaba encontrando-o.

O Grêmio tem que atacar. Sem loucuras, sem dar espaço para o contragolpe. Mas com vontade de fazer o gol, com vontade de vencer. Time que não tem vontade de vencer não vence.



28 de novembro de 2016 | N° 18700 
EDITORIAIS

OS PODERES E A VOZ DAS RUAS

A pressão popular funcionou, e o ajustamento institucional anunciado ontem pelo presidente Michel Temer com o Congresso, para barrar articulações pela aprovação de uma anistia a políticos envolvidos em caixa 2, contribui para recolocar o país diante de sua real prioridade: o enfrentamento de uma perversa combinação de crise política com econômica. A crise política, inesperada por ressuscitar velhas práticas, como a mistura de interesses públicos com privados, não pode crescer a ponto de prejudicar a retomada do crescimento. Por isso, o compromisso público de presidentes de dois poderes com a moralidade não pode ficar apenas no discurso.

Na manifestação de ontem, o próprio presidente da República se disse convencido de que é preciso ouvir “a voz das ruas”. A sociedade, majoritariamente, tem consciência da gravidade da crise. Sabe também que não há saídas fáceis. No momento, as iniciativas que estão colocadas como prioridade são a aprovação da PEC fixando um teto de gastos para o poder público e a reforma da Previdência. Quem se desviar desse curso, como ocorreu no caso que levou à troca de comando na Secretaria de Governo e nas tentativas do Congresso de aprovar a anistia ao caixa 2, estará causando males irreparáveis ao país.

As medidas de austeridade propostas pelo Planalto apontam no sentido da recuperação econômica, mas este esforço pode ser prejudicado se o governo se descuidar de seus compromissos éticos. O governo não pode transigir com condutas pouco republicanas, nem contemporizar com os que veem o Estado como propriedade de quem está temporariamente no comando. Foi essa promiscuidade que tirou o PT do poder e, agora, pode inclusive obstaculizar reformas que são inadiáveis.

O FIM DE UM MITO

Com a morte de Fidel Castro, extingue-se também um modelo político que já vinha sendo substituído gradativamente em Cuba pelo pragmatismo da abertura comandada por seu irmão Raúl. Ainda assim, muitas das mudanças implantadas há mais de cinco décadas persistiam romanticamente associadas à figura mitológica do comandante da revolução socialista que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959.

Desde então, o líder cubano impôs um regime de opressão ao povo da ilha caribenha e desafiou o capitalismo, representado principalmente pela superpotência vizinha, os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, tornou real uma experiência de sociedade baseada no igualitarismo, com conquistas inegáveis nas áreas da educação e da saúde. Hoje, esses avanços se mostram cada vez mais prejudicados pela deterioração acelerada de uma economia que não tem como se manter isolada indefinidamente.

Em boa parte de seus 90 anos de vida, o personagem visto por uns como ditador e por outros como líder revolucionário atuou como protagonista não apenas da história cubana, mas da América Latina e até mesmo de países africanos. Nessa trajetória polêmica, marcada por desrespeito aos direitos humanos e à atuação da imprensa independente, acabou comprovando uma verdade insofismável: a de que não pode haver igualdade sem liberdade.



28 de novembro de 2016 | N° 18700 
NÍLSON SOUZA

Zaz

Ninguém mais tem tempo para nada.

Dia desses, lendo o blog do meu amigo Mário Marcos, deparei com uma cantora francesa de voz rascante, que canta na rua e enche calçadas e auditórios com o poder de um flautista de Hamelin. Fiquei tão impressionado com o ritmo da moça, com seu visível prazer em cantar e com sua alegria contagiante, que acabei assistindo a vários vídeos de suas apresentações, tanto nas avenidas de Paris quanto em excursões pelo mundo. Ela já esteve até no nosso Araújo Vianna, no ano passado, mas, na época, eu ainda não a conhecia e sua passagem por aqui não me chamou atenção. Se a conhecesse, teria ido, sem dúvida. Seus fãs vão me chamar de analfabeto musical, mas assumo a minha ignorância.

Refiro-me a Zaz, o nome artístico de Isabelle Geffroy, que se tornou famosa com a canção Je veux, um hino ao desapego e à simplicidade. Não fui o melhor aluno de francês no pretérito imperfeito da minha vida estudantil, quando essa disciplina era obrigatória no segundo grau de então. Só lembro que “Quand trois poules s’en vont aux champs, la première s’en va devant, la seconde suit la première et la troisième va derrière”. Mas a tradução simultânea proporcionada pela tecnologia digital me permite compreender as belas letras dos versos de Zaz. Resumindo: fiquei fã da moça e passei a recomendá-la para os meus amigos.

Aí entra o tema desta crônica: selecionei cinco dos meus melhores amigos e amigas e passei-lhes alguns links de vídeos da francesinha, com recomendações efusivas para que assistissem e me comentassem. Esperei três semanas, e nada. Nenhum retornou. Quando os encontrei pessoalmente e cobrei, responderam com as mesmas palavras, do primeiro ao quinto:

– Ainda não tive tempo de olhar!

Socorro, as pessoas estão enfeitiçadas. Ninguém para sequer para ouvir uma canção. E dizer que as máquinas foram criadas sob o pretexto de nos proporcionar mais tempo livre? Onde foi parar esse tempo? Passamos 25 horas por dia conectados nos nossos brinquedinhos eletrônicos, digitando, trocando mensagens, olhando imagens rápidas que desaparecem em seguida – e raramente paramos tempo suficiente para apreciarmos coisas agradáveis como uma canção romântica.

Diante da ingratidão dos meus amigos, repito a estratégia com os meus leitores. Nos links ao lado, a canção mais famosa da moça, com legendas em português, e uma entrevista em espanhol na sua passagem pela Plaza de Mayo, em Buenos Aires.

Se receber cinco comentários, ficarei feliz.

O colunista Luis Fernando Verissimo está em férias.

sábado, 26 de novembro de 2016




26 de novembro de 2016 | N° 18699 
LYA LUFT

“Ser feliz”

Certa vez, em lugar de “perdas” escrevi “peras”, num texto qualquer. Ao revisar, eu ia corrigir, mas achei que seria bem mais interessante deixar como estava. Pois, lendo aquilo, as pessoas um dia talvez pensassem: “O que será que ela quis dizer?”. Afinal, o interessante nos fascina e o desinteressante nos entedia. Salvem-nos as surpresas, de preferência as boas...

Essa “ilogicidade” da arte me encanta, embora nem todos os artistas concordem, como minha querida amiga e mestra Lou Borghetti, em cujo atelier uma vez por semana me recupero, tentando pintar – entre diálogos deliciosos e estimulantes –, da hoje assustadora situação deste país. No mágico clima da arte, ainda que aprendiz tardia no campo da pintura, aprendo um pouco mais essa ilogicidade a que me refiro com minhas peras: digamos que se trata antes de liberdade. 

E cada vez mais mergulho, agora com mais tempo, em uma das minhas formas de ser feliz: ler, ler, ler. De momento, uma rara biografia de Confúcio, cuja vida foi, segundo o autor, um relativo desastre, mas cujas ideias embasam a incrível cultura chinesa e fascinam os ocidentais.

O que buscamos afinal, em nossas breves e ilusórias existências? Fama, sucesso, ser magro, ser atlético, ser famoso e rico, enfim “ser feliz”, seja lá o que isso signifique para cada um – objetivo que muda em cada fase da vida. Quando criança, eu queria ser adulta, pois para eles me pareciam existir as coisas interessantes. Adolescente, eu queria entender o mundo, para isso lia feito desesperada para susto de minha mãe, que muitas vezes me mandou sair com as amigas: ler demais me deixaria “pateta” e, além disso, afastaria candidatos, “porque homens não gostam de mulheres muito inteligentes”. 

Adulta, quis ter uma família, filhos, que sempre foram meu maior e mais ardente desejo: o que seria de mim sem essas criaturas tão amadas, mesmo que eu fosse bela, magra, rica e famosa? Sempre quis muito ter uma relação pessoal positiva e boa e, embora duas vezes viúva, tive isso como dádiva do destino, agora mais uma vez – curtindo há bom tempo o aconchego de uma relação já mais para outono do que para primavera.

Nesta fase atual da vida, quase invernosa, o que desejo para esse “ser feliz” tão falado? Além dos afetos já citados, quero sossego: há algum tempo parei de correr pelo país e fora, em palestras, encontros, seminários. Foi quando um jornalista perguntou qual meu maior “sonho de consumo”, e respondi sem refletir: “Ficar quieta”. No avião, voltando para casa, indaguei de mim mesma: “Então por que você não fica quieta?”.

Reformulei muita coisa e tenho conseguido – o máximo possível sem virar uma estranha eremita – ficar sossegada com meus livros, este computador, meus afetos, sabendo que a família melhora este mundo pela sua decência e talentos, os amigos estão perto, ainda escrevo com alegria, curto a paisagem da minha cobertura mais rústica do que chique, e com meu parceiro escapo nos fins de semana para outro refúgio simples, na Serra. Mas confesso que, nestes estranhíssimos e inquietantes tempos, a alma se aflige mesmo quando a vida está boa: o que estão fazendo com este Brasil? E isso, meus amados leitores, não deixa ninguém “ser feliz”.


26 de novembro de 2016 | N° 18699 
MARTHA MEDEIROS

EU INTERMINÁVEL

A cada dia, eu vou assimilando novos elementos à minha identidade, essa identidade que nunca se conclui

Quando parece que já sabemos direitinho quem somos, um novo dia amanhece e traz hesitação: fica claro que não, que não existe essa história de estar completo, finalizado. Eu sei quem sou até este exato instante em que escrevo, mas antes de terminar este texto há uma chance de tudo mudar. Pode o telefone tocar e eu ser convidada para algo que nunca fiz, ser procurada por alguém que vai mudar minha vida ou golpeada por uma notícia que me amadurecerá. 

E serei um pouco mais (ou um pouco menos) do que sempre fui, este sempre fui tão cheio de ondulações e curvas minha vida é uma estrada quase sem retas e sem uma pista para acostar.

A cada dia, um fato vira memória, uma pessoa volta do passado, uma ilusão se desfaz, outra desperta, o céu troca de cor, um plano ganha avalista, as vontades confabulam, e eu vou assimilando novos elementos à minha identidade, essa identidade que nunca se conclui. Queria tanto saber quem sou, mas como arriscar uma definição se ainda me restam três ou quatro parágrafos e um punhado de anos pela frente?

Tenho duas dúvidas a tirar com um colega com quem iniciei um novo projeto, uma declaração ensaiada para quando estiver frente a frente com alguém que nunca ouviu de mim certos verbos, uma alegria ao antever o encontro com uma amiga que está longe dos meus abraços, fome de algumas coisas que ainda não provei e umas incertezas que doem e para as quais não há cura enquanto eu não acabar de me entender, e eu não acabo nem quando me deito e durmo.

Eu apago e acordo no sonho, no delírio etéreo de uma noite povoada por desejos inconscientes e mensagens que decifro com dificuldade, há alguma coisa em mim ainda sendo construída, e quando desperto de fato, este dia a mais de vida me encontra ainda mais indefinida.

Então abro a janela e o céu está com uma luz diferente, tenho um receio que não tinha antes e um problema a menos a resolver, um compromisso apressa meu banho e o reflexo do espelho revela que emagreci, descubro uma saudade ampliada de alguém e um desdém que não estava ali, o dia não é o mesmo de ontem e eu já não sou também.

E ao ligar o computador para responder à pergunta de um estudante de Jornalismo que pede para que eu me revele, que eu explique, afinal, quem sou, de preferência com poucas palavras e precisão, invento qualquer bobagem que justifique a que vim, que esclareça como fui parar aqui e ser assim, enquanto trato de espiar as previsões astrais para o meu signo, de lidar com os espantos e o mistério que ainda não elucidei – e diante de tanto “não sei” me deformo, me reformo, me amoldo, me dilato e admito, ao menos para mim, que sou isso, um eu sem fim.



26 de novembro de 2016 | N° 18699 
CARPINEJAR

O QUÊ?

A velhice vem aos goles. Nunca se bebe o tempo num único sorvo.

A visão é a primeira a não corresponder inteiramente aos seus comandos. Você enxerga com dificuldade, mas não aceita e adivinha mais do que reconhece com rapidez. Assim tem os seus primeiros constrangimentos sociais. O neto exibe as fotos da visita ao zoológico e você comenta: “Que araras azuis bonitas!”.

E o neto retruca que não são araras, mas macacos. Você acabou de demonstrar que é um analfabeto ecológico para a nova geração da família.

Sua teimosia em deduzir no lugar de enxergar vai lhe colocando em situações incômodas, como a de embarcar no ônibus errado, estacionar em vagas de portadores de necessidades especiais ou de realizar perguntas óbvias.

Depois é a memória que fraqueja e rasteja com esforço. Começa a brincar do jogo da forca com as lembranças. O bonequinho recebe contornos a cada lapso e sempre termina com a cabeça a prêmio.

As palavras são apenas figuras. Ou seja, aparece a figura sem a palavra, o raciocínio é próprio de livro colorido para bebês.

O que lembrava instantaneamente custa a vir à tona. Sem wi-fi das ideias, retrocede à internet discada do pensamento. Esquece primeiro o nome das pessoas, os filhos são as cobaias prediletas. Troca os nomes dos guris, Pedro chama de Felipe, Felipe de Pedro e não acerta mais quem se aproxima. No início, dedica horas se explicando, argumenta que o filho confundido deve estar pensando em você, mas a recorrência faz com que perca a credibilidade.

Em seguida, erra o nome trocando o sexo dos filhos, Felipe chama de Gabriela, Gabriela chama de Pedro, a confusão está instalada. Resta rir e levar os acidentes de gênero na brincadeira.

A caduquice cobra os juros. O pior se avizinha. Após falhar o nome das pessoas e não conciliar rosto com legenda, passa a tropeçar na identificação dos objetos. Liquidificador chama de secador, micro-ondas de máquina de lavar, televisão de aspirador de pó, até se contentar com o genérico Coisa: – “Liga a coisa!”, “Alcança a coisa!”, “Onde está a coisa?”.

Por fim, apaga o nome das ruas, das praças, das cidades, do país, até se tornar um cidadão do mundo. Do outro lado do mundo.


26 de novembro de 2016 | N° 18699
PALAVRA DE MÉDICO | J.J. CAMARGO

A ALEPPO DE TODOS NÓS

A banalização da morte, que tanto choca as pessoas de bem quando envolve alguém que conhecemos, passa por um processo de amortecimento quando se trata de um desconhecido, mas que, para sorte nossa, vivia de preferência em outra cidade ou, se na mesma, ao menos em outro bairro, desses que nunca frequentamos, de modo que ele, com certeza, nunca cruzou nosso caminho.

Não é que não nos importemos, mas convenhamos: não dá para ficar sofrendo com a mesma intensidade que afetou os envolvidos, porque explodiríamos de dor, ainda mais depois que o mundo se transformou neste lugar tão perigoso de se viver e a mídia passou a nos inundar todos os dias com essa lava vulcânica de notícias ruins.

Então, parecemos indiferentes, como se todas as tragédias tivessem um palco remoto, uma espécie de Aleppo do mundo, que muitos nem sabem que fica na Síria e que foi a mais linda cidade daquele país, e que contou, nos bons tempos, com mais de 3,5 milhões de habitantes, que pareciam felizes e recebiam maravilhosamente os turistas ricos que se hospedavam no Sheraton Aleppo e percorriam de limusine os pontos turísticos da região. 

Como raros conhecem a história política da Síria (e para que conheceríamos?), soa incompreensível que periodicamente descarreguem bombas e mais bombas sempre sobre o mesmo e pobre lugar de nome estranho e, em seguida, emitam um boletim lamentando as mortes não previstas de dezenas de civis, catalogados apenas como danos colaterais. Seja lá o que isso signifique, ficamos sempre com a impressão de que mais do que pretender justificar, eles queriam mesmo era dizer: tanto faz.

Alienados do sofrimento alheio, nos comportamos como críticos apáticos do mal que não podemos modificar e citamos cifras horrorosas com a naturalidade de quem não tem nada a ver com isso. No entanto, quando alguém ousa transportar a desgraça para a nossa porta e debater conosco o sentimento resultante, bom, aí as coisas mudam tanto que usualmente choramos só de imaginar que aquilo podia envolver um dos nossos amados, intocáveis na nossa fantasia alienada.

Um vídeo impactante que circula na rede mostra um homem do povo questionado sobre o índice de criminalidade de uma cidade inglesa onde, no período de um ano, teriam ocorrido 252 mortes violentas. Admitindo que este número era alarmante (eles não têm ideia de que esta cifra corresponde a um feriadão pacífico numa grande metrópole brasileira), o repórter pergunta: “Que número o senhor consideraria razoável para esta situação?” Uma rápida reflexão e ele estipula: “Setenta, acho que 70 seria razoável”.

E, então, começa a migrar pelo amplo corredor de acesso a esta área um bando de gente de todas as idades que ele imediatamente reconhece como sua família. E o repórter lhe pergunta: “E agora, qual número o senhor acharia aceitável?”. E ele, secando as lágrimas: “Zero. Tem de ser zero!”.

Não importa a distância ou a latitude. Não existe ninguém que não faça falta para alguém.



26 de novembro de 2016 | N° 18699 
DAVID COIMBRA

A calça branca da professora

Minha professora de História, a Gilda, tinha uma ruga em forma de N na testa. Ela falava e eu ficava olhando para aquela ruga. O que não me distraía. Eu adorava as aulas da professora Gilda e muito lamentei que o segundo grau tivesse tão poucas aulas de História.

Distraía-me, isso sim, a calça branca da professora Paula, de química. Ela era uma morena meiga, de olhos azuis e gestos suaves de quem não receia o dia seguinte. Descrevia as propriedades do ácido carboxílico e do aldeído, e eu, de boca aberta, prestava muita atenção, mas não entendia uma só lhufa.

Um dia, escrevi sobre isso no jornal e gerei duas reações que não esperava. Uma, a de ex-alunos do segundo grau do Piratini. Quatro ou cinco me mandaram e-mails confessando que também haviam sido apaixonados pela Paula. Outra, da própria Paula, reclamando que eu havia elogiado as aulas das outras professoras, mas que a respeito dela só destacara a beleza física.

Considerei a queixa da professora injusta. Primeiro, porque a beleza física também é uma qualidade. Até porque não adianta a pessoa ser apenas bonita, ela tem de se fazer bonita, seja com o capricho consigo mesma, seja com o carisma, seja pela sabedoria de uma passada felina ou de um sorriso de lado.

Em segundo lugar, é que ela, Paula, não tinha culpa por eu não falar do conteúdo das suas aulas de química. A culpa era da química. Sempre odiei todas aquelas aminas e haletos. Sei bem que tudo, na vida, é carbono, que sem o carbono eu não sou nada, você não é nada e nem a Gisele Bündchen é coisa alguma, mas não importa: não quero pensar no carbono, não vou pensar no carbono, não me venha falar no carbono.

Então, ainda que a professora Paula não viesse dar aula de calça branca, ainda que viesse dentro de uma sacola do Zaffari, eu não aprenderia nada da maldita química orgânica ou mesmo da inorgânica.

Os estudantes brasileiros deveriam entender que não é ruim a ideia de permitir a eles que escolham algumas disciplinas em detrimento de outras. Aqui, nos Estados Unidos, é assim. Na high school, o segundo grau, há disciplinas obrigatórias e há as que são feitas por opção dos alunos. O professor não vai à classe, a classe é que vai ao professor.

O professor de geografia, por exemplo, fica na sua sala, com seus mapas, seus globos, seus computadores, seus instrumentos didáticos. Na hora da aula, os alunos que se matricularam no seu curso vão até ele. Muito melhor.

Eu, se pudesse fazer isso, no segundo grau, assistiria a muitas, muitas mais aulas de História.

Mas não assistiria a menos aulas de química, porque era bom olhar para a professora.

É isso. Quando se dá o casamento entre o interesse do aluno e a competência do professor, é a glória.

Na faculdade, essa união é mais frequente exatamente porque o aluno pode escolher.

Comigo e com dezenas, talvez centenas, não duvido que milhares de estudantes de Jornalismo ocorreu essa pororoca pedagógica. Graças a um professor especial chamado Marques Leonam.

O Leonam é do Alegrete, criado no fundo do campo. A primeira vez que ele saiu da campanha foi aos sete anos de idade, para ir à escola. Chegou lá, viu toda aquela gente e se assustou. Achou que havia perdido a sua liberdade.

Quando o Leonam me contou essa história, entendi um pouco de quem ele é. Aquela liberdade antiga, que conheceu nas coxilhas do Alegrete, ainda é e sempre será, um anseio de sua alma. O Leonam passa a vida a procurar a velha liberdade de guri.

Pela liberdade, tornou-se repórter. Trabalhou durante 20 anos na Folha da Tarde. Então, cansou-se dos vícios e das limitações da redação e, pela liberdade, foi ser professor da Famecos.

O jornalismo perdeu um ótimo repórter. E ganhou as dezenas ou centenas ou milhares que citei acima. Porque o Leonam, mais do que ensinar lides e técnicas jornalísticas, ensinava aos alunos o que significa ser repórter.

– O repórter tem que ter o mau hálito da fome – dizia, e nos mostrava a beleza que existe tanto em incomodar os poderosos quanto em fazer uma pauta de uma exposição de flores.

A gente assistia às aulas do Leonam e saía com vontade de pegar um bloco e uma caneta e, com eles, mudar o mundo.

O Leonam transformou a mim e a muitos outros em repórteres românticos. Fez com que amássemos o que fazemos. Não é pouco. Quem ama o que faz em geral é uma pessoa feliz. Quer dizer: o Leonam proporcionou vidas felizes a várias pessoas. Uma façanha. Uma realização. Quando a sabedoria do professor encontra o interesse do aluno, eles viverão felizes para sempre.



26 de novembro de 2016 | N° 18699 
ANTONIO PRATA

INCLUA-SE ONDE COUBER

Como se sabe, na próxima terça-feira a Câmara dos Deputados poderá aprovar a seguinte pérola, enxertada no Projeto de Lei 4.850/2016, contra a corrupção (eu disse CONTRA A CORRUPÇÃO): “Inclua-se onde couber: Art. X. Não será punível nas esferas penal, civil e eleitoral, doação contabilizada, não contabilizada ou não declarada, omitida ou ocultada de bens, valores ou serviços, para financiamento de atividade político-partidária ou eleitoral realizada até a data da publicação desta lei”.

O supracitado “Artigo X” não só anistiará o caixa 2 como ajudará a encobrir uma série de maracutaias sob o tapete mágico do “financiamento de atividade político-partidária ou eleitoral”. Será, usando as já clássicas palavras de Romero Jucá, um grande passo para “estancar a sangria” da Lava-Jato.

Vossas excelências querem anistia, deputados? Pois eu também quero. Ampla, geral e irrestrita. Já que é pra esculhambar, vamos esculhambar direito, pra todo mundo, não só pra vocês, vossas famílias e os empresários que deram dinheiro pra vocês e vossas famílias. Proponho abaixo, portanto, algumas outras emendas ao PL.

Inclua-se onde couber: Art. Y. Não serão puníveis nas esferas penal e civil atrasos com impostos, aluguéis, condomínio, escola, celular, crediário ou quaisquer outras contas em aberto até a data da publicação desta lei.

Inclua-se onde couber: Art. Z. Não serão puníveis, nas esferas penal e civil, multas por excesso de velocidade, estacionamento proibido, desrespeito ao rodízio, racha, cavalo de pau ou atropelamento em série seguido de fuga realizados até a data da publicação desta lei.

Inclua-se onde couber: Art. ??. Não serão cobrados, nas bandeiras Visa, American Express, Diners ou Mastercard, os gastos efetuados com comida, bebida, vestuário, ouro, diamantes, passagens aéreas, carros de luxo, iates e pole-dancers realizados até a data da publicação desta lei.

Inclua-se onde couber: Art. µ. Não serão puníveis, nas esferas moral e estética, trocadilhos com pavê, peru, pernil, piadas com pum, fezes, urina, pegadinhas tipo chubaba, toca-aqui-deixa-que-eu-toco-sozinho e baleias-brancas realizadas até a data da publicação desta lei.

Inclua-se onde couber: Art. ß. Não serão contabilizadas nas esferas cardíaca, pulmonar, arterial ou hepática os excessos envolvendo churrasco, batata frita, leite condensado, cerveja, cigarro, sonho frito de doce de leite, Beyoncé na “Playlist” “corrida” do Spotify ou quaisquer outros entorpecentes consumidos até a data da publicação desta lei

Inclua-se onde couber: Art. Ø. Não será punível nas esferas terrena, divina ou infernal, haver: desejado a mulher do próximo, invejado o próximo, abaixado a vista e fingido não ter visto um próximo não tão próximo assim vindo em sua direção, fechado rápido o elevador pra não ter que conversar com o próximo, saído da festa sem se despedir do próximo, insultado o próximo, chutado o próximo ou passado o próximo no multiprocessador até a data da publicação desta lei.

Ficam aqui minhas sugestões a todos os deputados que pretendem, na terça-feira, em nome de Deus, da ética e da família brasileira, votar a favor da anistia para o caixa 2. Espero que as ideias aqui contidas os ajudem a compreender o quão grotesca é essa emenda e os façam mudar de opinião – ou, então, que amassem esta crônica e a incluam onde couber.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Por: Zero Hora
23/11/2016 - 18h22min

Procon de Porto Alegre notifica Banco do Brasil após anúncio de fechamento de agências

Instituição financeira diz que esclarecerá quais medidas serão tomadas para evitar que o consumidor sofra prejuízos com a mudança

Procon de Porto Alegre notifica Banco do Brasil após anúncio de fechamento de agências Fotos 
Orlando Pereira/Agência Leme/Agencia RBS


Foto: Fotos Orlando Pereira/Agência Leme / Agencia RBS

O Procon Municipal de Porto Alegre notificou o Banco do Brasil, nesta quarta-feira, após o anúncio de fechamento de 402 agências em todo o país. A entidade deu um prazo de 48 horas para que o banco esclareça quais medidas serão tomadas para evitar que o consumidor sofra prejuízos com a mudança.

Além disso, a instituição financeira também deverá informar quantas agências serão fechadas na capital gaúcha e quais canais de atendimento serão colocados à disposição do consumidor. De acordo com o diretor executivo do Procon Municipal de Porto Alegre, Cauê Vieira, Banco do Brasil deverá, ainda, apresentar ao órgão o plano de comunicação adotado para garantir a informação plena aos clientes sobre as mudanças.

Em nota, o Banco do Brasil informou que prestará a Procon todas as informações necessárias sobre as medidas anunciadas no último domingo:

"Nenhum dos municípios em que o BB atualmente está presente ficará desassistido. As contas dos clientes das agências encerradas serão transferidas para agências próximas, de forma automática, sem que os clientes necessitem realizar qualquer procedimento adicional. Os clientes poderão manter seus cartões e senhas para transações, mesmo que haja alteração no número da conta.

O Banco do Brasil informa que sua reorganização institucional busca trazer maior comodidade e conveniência aos clientes. A decisão pelo encerramento de qualquer agência teve como condição determinante a capacidade de plena absorção do atendimento por outras agências próximas, sem que haja qualquer prejuízo à qualidade e rapidez dos serviços prestados pelo Banco. Para isso, o Banco do Brasil investiu na migração de processos administrativos internos para estruturas de suporte e apoio; automatizou e simplificou rotinas internas e reviu critérios de dimensionamento de pessoal em sua rede de agências, de acordo com a quantidade de atendimentos realizados em cada unidade.

Canais diversificados irão disponibilizar todas as informações necessárias, como o hotsite www.bb.com.br/novoatendimento, SMS, aplicativo para celular, terminais de autoatendimento, além de correspondências, contato dos gerentes e cartazes nas agências. Equipes de funcionários foram treinadas exclusivamente para essa comunicação e atendimento. O Banco também divulgou telefones exclusivos para atendimento aos clientes sobre mudanças de agência: 0800 729 5282 para pessoas físicas e 0800 729 5281 para empresas, com funcionamento de segunda a sexta-feira, de 8h às 22h.

Além dos pontos físicos, o BB oferece a maioria das transações pelo aplicativo para celular e Internet - canais que mais crescem hoje na preferência dos usuários -, Central de Atendimento por telefone e nos terminais de autoatendimento próprios e da Rede 24Horas, além de correspondentes bancários".

No Rio Grande do Sul, o Banco do Brasil mantém 353 agências e 83 postos de atendimento bancário.
Por: Erik Farina
25/11/2016 - 05h52min | Atualizada em 25/11/2016 - 05h52min


A conta do condomínio está muito alta? Veja 10 dicas para baixar esta fatura

A partir de hoje, a seção Encare a Crise ganha mais espaço: será publicada sempre às segundas e sextas-feiras.

A conta do condomínio está muito alta? Veja 10 dicas para baixar esta fatura Arte de Gabriel Renner/Arte de Gabriel Renner


Foto: Arte de Gabriel Renner / Arte de Gabriel Renner
Substituições, controle de gastos e cuidados para evitar vazamentos são fundamentais. Na reunião mais recente de condomínio no conjunto Las Lenas, em Canoas, a vizinhança foi praticamente unânime: seria necessário cortar gastos para a conta mensal não subir. Com crise econômica, desemprego em alta e parcelamento de salários do funcionalismo estadual, a preocupação era com um eventual reajuste no valor da contribuição e a possibilidade de inadimplência por conta disso.

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O síndico, Giani Villagra, logo definiu a estratégia: visitaria todos os 126 apartamentos nas três torres, para verificar vazamento de água ou gás – já que a conta não é individual, e sim repartida entre todos os condôminos. Na última ronda, há três anos, identificou e mandou resolver incontáveis problemas na hidráulica. O resultado foi que o gasto mensal com água desabou de R$ 12,3 mil para R$ 5 mil.

– Condomínio é como se fosse uma grande casa: você tem que controlar os gastos diariamente e tomar medidas duras quando há desperdícios – afirma Giani Villagra. 


O síndico Giani Villagra conseguiu reduzir as contas do condomínio
Foto: Lauro Alves / Agencia RBS

Gastos

A exemplo do que ocorre no Las Lenas, enxugar despesas se tornou uma obsessão para condôminos e síndicos nos últimos anos. Quem coloca a lupa sobre os gastos, descobre formas de reduzir custos de luz, água, portaria e contratação de serviços, trazendo um refresco para o bolso dos moradores. Controlar o valor dos boletos também é uma forma de estancar a inadimplência, que, conforme o Secovi/Agademi, sindicato que representa as imobiliárias, chega a 13% no Rio Grande do Sul.

– Uma forma eficiente de reduzir custos é rever a folha de empregados de limpeza e segurança, que pode consumir de 50% a 65% do custo do condomínio – avalia Andreia Vendruscolo, advogada da administradora Casa dos Síndicos, especializada em gestão de conjuntos residenciais. 

Muitas vezes, os zeladores acabam assumindo as tarefas de faxina e portaria, e saem mais caro do que trabalhadores específicos nessas áreas. Há condomínios eliminando a figura do zelador para contratar prestadores de serviços. Contratar empregados que moram na vizinhança também pode trazer economia em custos de deslocamento. Alguns conjuntos residenciais têm substituído a portaria presencial pela virtual, em que a recepção é feita por interfone, de maneira remota. O custo mensal cai de aproximadamente R$ 7 mil para 2,6 mil. Também há a possibilidade de terceirização de serviços, reduzindo o peso dos encargos trabalhistas. 

– Neste caso, o condomínio ou a empresa administradora precisam redobrar os cuidados quanto à idoneidade da empresa, verificando se ela paga todos os direitos dos trabalhadores. Caso contrário, pode haver complicação na Justiça –afirma Andreia. 

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A profissionalização dos síndicos também pode ajudar. Cursos e programas de capacitação têm surgido para ajudar os administradores a controlar melhor os gastos, gerenciar o fluxo de recursos e fazer a cobrança adequada de inadimplentes. Ao síndicos, uma boa forma de combater a inadimplência é envolver todos os moradores nas reuniões de condomínio, para que saibam no que está sendo gasto seu dinheiro, e se estimulem a pagar em dia.

10 DICAS PARA DIMINUIR O CUSTO DO BOLETO

1. Na compra de produtos de limpeza, redobre o cuidado com a quantidade e o prazo de validade, para evitar deterioração e desperdício.
2. Compare o custo de serviços próprios com terceirizados, para avaliar o que mais vale a pena financeiramente.
3. Prefira contratar segurança e limpeza de pessoas da região, para economizar no valor do deslocamento.
4. Ao contratar serviço de jardinagem, reparo ou construção, faça pelo menos três orçamentos e busque referências com outros síndicos.
5. Faça campanhas internas para evitar o uso de elevador de um andar ao outro e para apagar as luzes da garagem.
6. A instalação de captadores de água da chuva ou painéis solares reduz a conta mensal. O investimento inicial costuma ser alto, mas a economia no médio prazo é garantida.
7. Manter a piscina coberta evita a evaporação da água e dispensa a necessidade de encher novamente. 
8. Quem ainda usa lâmpadas incandescentes está deixando de economizar: as opções de led e fluorescentes, embora sejam mais caras na compra, compensam a partir do terceiro mês pelo menor consumo.
9. Instale sensor de movimento nas áreas de trânsito comum, para que a iluminação ocorra apenas quando necessário. 
10. Estabeleça horário de funcionamento das praças, quadras esportivas e área de convivência, para dar um limite ao período de iluminação.


Por: David Coimbra
25/11/2016 - 04h03min | Atualizada em 25/11/2016 - 04h04min

Por que essa ânsia em se despir?

Coisa de Porto Alegre, talvez. Vez em quando, uma mulher se desnuda, em Porto Alegre. E, nua feito bicho, mais nua do que provavelmente jamais tenha ficado em sua vida, ela não se contenta com o recôndito do lar ou com a alcova. Não. Ela tem de sair à rua, tem que expor seu corpo descoberto para o exame de todos, conhecidos e desconhecidos.

Por que isso? Por que essa gana?

Observe o fenômeno dos nudes, proporcionado pelo advento dos celulares com câmera fotográfica. Muitas mulheres e até alguns homens sentem necessidade irrefreável de tirar a roupa e se fotografar. Por quê? Orgulho do próprio corpo? Intenção de registrar a juventude, quando os músculos são rijos e a pele é fresca? Fosse assim, o que explica a nudez pública de Stênio Garcia, ator em provecta idade, mais de 80 anos?

Lembro de uma vez. Estávamos na Redação. Entre nós havia uma bela mulher, de pernas longas e boca de promessas. Era uma mulher em tudo quieta, discreta, embora se fizesse notar pela suave sensualidade. Naquele dia, havia acontecido alguma coisa com ela. Parecia perturbada. Mas não falou nada, não reclamou e tampouco contou o que poderia ter sido. Só que, lá pelo fim da tarde, ela disse baixinho, para si mesma, porém audível:

— Que vontade de tirar a roupa...

Aquela única frase nos atingiu como se fosse um raio paralisante. Ficamos perplexos, alguns nem respirar respiravam. Era óbvio que ela não ia tirar a roupa, tinha dito aquilo apenas como desabafo, um tipo de suspiro, como se dissesse "que vontade de sair correndo". No entanto, a ideia de que ela estivesse pensando naquilo, em pôr-se nua bem ali, diante de nossos olhos ávidos, produziu duro desassossego no ambiente.

Aí está. Uma mulher nua é algo que motiva o homem. Donde o sucesso de revistas como a Playboy e, agora, dos sites tantos da internet. Homens gostam de ver, mulheres gostam de ouvir.

As mulheres sabem disso. Sabem que a nudez delas nos toca. Uma linda moça que conheci contou-me que, um dia, quando estava na casa de praia de seus pais, tomando banho, percebeu que o filho do vizinho a observava à sorrelfa, escondido atrás da basculante da cozinha dele. Primeiro ela se assustou e irritou-se com a ousadia. Depois... deixou... Permitiu que ele a visse nuinha enquanto se lavava, e até ofereceu-lhe umas poses especiais, um braço esticado, uma perna levantada. O show durou por uns dois ou três dias. Então ela se cansou e passou a fechar a janela. Uma mulher satisfazendo a própria vaidade. Compreensível.

Há nus compreensíveis, aceitáveis e mesmo desejáveis. Nelson estava errado, nem toda nudez será castigada.

Mas o Pedro Rocha tirar a camisa depois de marcar o gol?

Perdoar, perdoe-se. Ele fez dois gols. Mas compreender, não. Contenha essa fúria de se despir, Pedro Rocha.

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