quarta-feira, 31 de maio de 2023

31/05/2023 - 08h34min
ESTADÃO CONTEÚDO Felipe Frazão 

Uruguai e Chile criticam regime chavista e criam mal-estar com Lula e Maduro

Os presidentes do Chile, Gabriel Boric, de centro-esquerda, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, de centro-direita, reagiram ontem às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que relatos de violações de direitos humanos, autoritarismo e restrição das liberdades democráticas na Venezuela eram fruto de uma "narrativa".

"Não se pode fazer vista grossa a princípios importantes. Discordo do que Lula disse ontem (segunda-feira, 29). Não é uma construção narrativa, é uma realidade e tive a oportunidade de ver em centenas de milhares de venezuelanos que vivem na nossa pátria", afirmou Boric.

Lacalle Pou se disse surpreso com as declarações de Lula. "Vocês sabem o que pensamos da Venezuela e do governo da Venezuela", reagiu o uruguaio. "Se há tantos grupos no mundo tentando mediar a volta da democracia plena na Venezuela, para que haja respeito aos direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com um dedo. Vamos dar o nome que tem e vamos ajudar."

Primeira vez

O presidente chileno afirmou a jornalistas, após deixar a reunião de países sul-americanos promovida por Lula, que foi a primeira vez que muitos dividiram o mesmo espaço com Maduro.

Ele disse ter visto com satisfação o retorno do venezuelano às instâncias multilaterais, mas frisou que era relevante expor as diferenças, ainda mais pelo fato de seu governo também ser de esquerda.

"Como representante da esquerda, disse que era importante falar cara a cara com Maduro", explicou o presidente chileno, pressionado em seu campo político por suas críticas ao regime chavista.

De acordo com a chancelaria chilena, Antonia Urrejola, Maduro apenas ouviu as críticas sem responder às intervenções pessoais dos dois líderes.

Tensão

Dirigindo-se a Lula, Lacalle Pou afirmou que abordou o tema porque o comunicado conjunto, negociado e assinado pelos 12 presidentes, trata de questões relacionadas à democracia, liberdade política e direitos humanos. "Até pouco tempo, o Uruguai não tinha embaixador na Venezuela, e nós nomeamos um, como temos em Cuba e em tantos lugares. Nossa afinidade é com o povo venezuelano", explicou Lacalle Pou, no momento de maior tensão da cúpula.

As respostas de Boric e Lacalle Pou expuseram o desconforto entre os chefes de Estado. Mais do que a presença de Maduro, causou incômodo o prestígio hipotecado pelo petista ao chavista, recebido com pompa no Planalto.

Petro

Também em tom de crítica, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, outro líder de centro-esquerda, afirmou que a união entre países da América do Sul não passou do discurso e carece de projetos concretos. "Temos uma potencialidade em nossas mãos, várias soluções no nosso território para a crise integral da humanidade. Temos de debater para chegar a um consenso."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


27/05/2023 - 11h30min
Juliana Bublitz

Em homenagem ao pai, irmãos Zaffari lançam novo restaurante em Porto Alegre.

Benjamin Osteria Moderna tem abertura prevista para julho e vai funcionar no edifício JBZ, na Avenida Carlos Gomes.

Porto Alegre está prestes a ganhar um novo restaurante, criado a partir de uma história de afeto, admiração e respeito. Com abertura prevista para julho, o Benjamin Osteria Moderna será uma homenagem de uma das mais tradicionais famílias gaúchas ao homem que ajudou a consolidar uma das grandes marcas empresariais do Rio Grande do Sul.

Falecido em 2016, João Benjamin Zaffari foi diretor-superintendente do Grupo Zaffari, a maior rede de supermercados do Estado e uma das maiores do Brasil. Agora, ele dará nome a um empreendimento que promete o melhor da culinária italiana, em um ambiente sofisticado e único (veja as projeções acima), onde cada detalhe foi pensado pelos filhos Bruno, Mauro e Fernanda.

— A partida do pai foi um baque para nós. Ele era um amigo, um mentor, um homem que fez muito. Esse projeto é uma forma de lembrar dele e de receber bem as pessoas, que é uma característica da nossa família. Decidimos fazer isso aqui, em Porto Alegre, porque é a cidade que amamos e que escolhemos para viver — diz Bruno, lembrando que a Capital vive "um ótimo momento".

Com 90 lugares e design exclusivo, o novo espaço é o primeiro projeto comercial assinado pelo arquiteto Sig Bergamin e realizado pela Belmondo (empresa de investimentos dos irmãos Zaniol Zaffari) no Rio Grande do Sul. O restaurante vai funcionar no andar térreo do edifício JBZ (que leva as iniciais do patriarca), na esquina da Avenida Carlos Gomes com a Rua Anita Garibaldi.

Para tocar a cozinha, a família convocou o chef Bruno Hoffmann, que comandou o Caos Brasillis, em São Paulo, e passou pelo estrelado Al Castello di Alessandro Boglione, na Itália. Ele também participou do programa Mestre do Sabor, da TV Globo.

No menu, o chef aposta em clássicos - do Cacio e Pepe ao All’Amatriciana - e em pratos criativos que fogem do clichê, como o Crocantino di polenta (chips de polenta e emulsão cremosa de bacalhau) e o Plin de costelão (massa típica da região do Piemonte, recheada com a tradicional costela defumada gaúcha). A ideia, segundo Hoffmann, é oferecer uma "cozinha italiana afetiva".

— Vamos nos pautar pelo frescor dos ingredientes e pelos produtores locais. Vai ser uma cozinha que abraça, mas que vai um pouco além, com um toque autoral — resume o chef.


31 DE MAIO DE 2023
OBITUÁRIO

Amor pelo símbolo da cultura gaúcha Luciane Dalla Lana

Faleceu na sexta-feira a ex-secretária-geral da Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria Luciane Dalla Lana Dalfolo. Ela tinha 54 anos e morreu em decorrência de uma infecção contraída após um procedimento cirúrgico.

Natural de Santa Maria, na região central do Estado, Luciane era filha de Sirlei Dalla Lana, ex- vereadora, e irmã do vereador Juliano Soares (PSDB). Ela atuava no setor de decoração de interiores. Em depoimento ao jornal Diário de Santa Maria, a irmã Daniela Dalla Lana contou que Luciane era uma pessoa muito ativa e vaidosa. Não por acaso, se dedicava intensamente e adorava trabalhar como decoradora.

- Nossa família é muito unida, nós nos ajudamos muito. Ficam as lembranças das coisas boas que ela fez durante os 54 anos em que esteve com a gente. Vai deixar muita saudade - afirmou Daniela. A Câmara de Vereadores do município utilizou as redes sociais para lamentar o falecimento de Luciane.

"Neste momento de dor e consternação, prestamos nossas mais sinceras condolências à família de Luciane Dalla Lana. (...) Desejamos que encontrem conforto e serenidade para superar essa perda irreparável. A memória de Luciane será sempre lembrada com carinho e admiração por todos aqueles que tiveram a honra de compartilhar sua jornada", escreveu a Câmara.

Conforme as mensagens de amigos e familiares nas redes sociais, Luciane tinha muita alegria de viver e um sorriso contagiante. "Mais lindo que uma flor, só esse teu sorriso. Te amo minha amada. Por toda eternidade", escreveu o marido Manoel.

Luciane deixa a mãe, Sirlei Dalla Lana, o esposo, Manoel Dalfolo, os irmãos, Daniela Dalla Lana e Juliano Soares, e a sobrinha, Maria Eduarda Dalla Lana. O diretor-executivo da Escola do Chimarrão, Pedro Schwengber, morreu ontem, aos 71 anos, em sua casa, em Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo.

Empresário, Schwengber começou a atuar na divulgação do chimarrão no final da década de 1990, com um trabalho que tinha como objetivo ampliar o consumo da bebida, beneficiando, assim, a cadeia produtiva da erva-mate, tradicional em Venâncio Aires, a Capital Nacional do Chimarrão. Em 2004, foi fundado o Instituto Escola do Chimarrão. Em 2016, Schwengber recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha, concedida pela Assembleia Legislativa.

De ônibus, o empresário rompeu as divisas do Rio Grande do Sul ensinando a preparar os mais diferentes tipos de chimarrão. Percorreu diversos Estados e também foi ao Exterior divulgar as tradições gaúchas.

Assim, tornou-se referência para reportagens sobre o chimarrão. Na segunda-feira, participou do programa Gaúcha+, na Rádio Gaúcha, falando sobre a polêmica nas redes sociais em torno do chimarrão com Nutella. Na véspera, já havia dado entrevista a Zero Hora sobre esse mesmo tema.

Após assistir ao vídeo, Schwengber fez ressalvas mas se mostrou curioso a respeito da nova receita.

- O que se vê (no vídeo) é uma pessoa fazendo mate, não chimarrão, porque mate e chimarrão são sinônimos, mas quando houver adição de açúcar ou outros ingredientes, deixa de ser chimarrão e passa a ser mate doce, principalmente porque está sendo feito com leite.

A única ressalva que ele fez é o cuidado com as calorias dos ingredientes utilizados no vídeo, em especial aos diabéticos. - Sempre falamos que o chimarrão é democrático - acrescentou.

Homenagens

O governador Eduardo Leite, em postagem nas redes sociais, se mostrou chocado com a notícia e disse que na segunda-feira ainda se encontrou com Schwengber em um evento em Rio Grande, no sul do Estado.

"Atento e gentil como sempre. Um dedicado promotor da nossa cultura. Meus sentimentos a família e amigos", escreveu o governador em seu perfil.

Já a prefeitura de Venâncio Aires publicou uma nota de pesar e decretou luto oficial de três dias no município. "Foi ensinar São Pedro a preparar o chimarrão em 11 segundos e também os outros 36 tipos da nossa bebida preferida", diz o texto.

Pedro Schwengber deixa dois filhos, Rosileia e Tiago.


31 DE MAIO DE 2023
SISTEMA PENAL

Mais um pavilhão do antigo Central vira pó

Mais um pavilhão do emblemático Presídio Central de Porto Alegre virou pó. Depois de uma semana de trabalho, a derrubada da galeria F foi concluída ontem. Após a limpeza de entulhos, prevista para os próximos dias, o local dará espaço à nova estrutura que já vem sendo erguida e deve ser entregue em setembro de 2023.

Retrato do caos no sistema carcerário, o Central já foi considerado o pior presídio do país. Com as novas instalações, o governo pretende deixar esse cenário no passado. Para iniciar a derrubada do F, foram transferidos 529 presos, nos dias 11 e 15 de maio. No dia 23, a demolição foi iniciada. Apenas dois pavilhões seguem em pé, o A, já esvaziado, e o B, que ainda abriga apenados. Os dois ainda serão demolidos.

No espaço desses três prédios, serão construídos seis módulos com 1.320 vagas, que se somam aos três já prontos. As nove galerias vão comportar 1.884 presos, em uma área construída de 14 mil metros quadrados.

A demolição do presídio já era debatida por governos havia mais de 10 anos, e virou uma das principais promessas da atual gestão no campo da segurança. A obra começou em julho de 2022, em um investimento de R$ 116,7 milhões. O trabalho é feito pela Verdi Sistemas Construtivos.

"Marco"

Para o titular da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), Luiz Henrique Viana, a entrega de um novo Central é um "marco" para o RS e representa o compromisso da gestão com a ressocialização de detentos.

- Com essa entrega, nós faremos história, vamos apagar um passado que foi vergonhoso para toda a sociedade do RS. Vamos transformar um lugar de degradação, que não tinha a mínima condição de tratar o ser humano com a dignidade que merece, em um modelo de presídio. Isso tudo para que possamos ressocializar as pessoas privadas de liberdade, oferecer melhores condições de trabalho para os servidores e, ao mesmo, dar mais segurança à sociedade - diz.

BRUNA VIESSERI

31 DE MAIO DE 2023
+ ECONOMIA

Plano para reativar os polos navais

Além de carimbar a decisão de não privatizar a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, confirmou em Porto Alegre a intenção de retomar algum tipo de incentivo aos polos navais como o de Rio Grande.

O modelo ainda não está pronto, mas Prates antecipou que não será retomada a maior exigência de conteúdo nacional, como foi no passado. E o presidente da Transpetro, Sergio Bacci, avisou que não será "a qualquer preço e a qualquer prazo". Os dois diagnósticos ecoam as preocupações em relação ao modelo anterior, que tornava a produção nacional de cascos ou componentes para plataformas de produção de petróleo cara e suscetível a atrasos recorrentes.

Prates ponderou que haveria duas formas de retomar esse tipo de estímulo: de maneira forçada - como era a exigência de percentual mínimo de conteúdo nacional - ou "indutora" - que será a que a Petrobras vai perseguir.

Mesmo sem detalhar, Prates já sinalizou como poderia funcionar essa indução: uma das formas seria por meio de "descontos" no pagamento das obrigações que as petroleiras precisam recolher à União. Os principais compromissos são os royalties, no caso das áreas regulares, e as participações especiais, cobradas de quem opera em campos de alta produção.

Normalmente, essas cobranças correspondem a um determinado percentual dos ganhos das petroleiras, que varia conforme a localização da área, o número de anos de produção e o volume extraído a cada trimestre. A intenção seria fazer redução nessas alíquotas para quem se comprometer com determinado patamar de contratação de equipamentos no Brasil.

Assim, compensaria um eventual custo inicial maior com uma redução de despesa. Mas essa é apenas uma intenção inicial da meta, que deve ser detalhada até o final do ano, quando a Petrobras revisar seu plano estratégico que define seu investimento.

toneladas de aço serão usadas pela Gerdau nas estruturas do festival de música The Town, previsto para setembro em São Paulo e já chamado de "Rock in Sampa". Todo esse volume é obtido a partir de sucata, reciclado. Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, participou ontem do lançamento, com a cantora Iza. Pesadão, dão, dão.

Com guindaste a rapel, RS fará a maior pizza do Brasil

Está prevista para este sábado uma quebra de recorde nacional. Em Serafina Corrêa, vai ocorrer a produção e degustação da maior pizza já feita no Brasil. Das 6h às 12h, na Piazzetta San Marco, terá representantes do Ranking Brasil para certificar o recorde. O objetivo é produzir uma pizza de sete metros de diâmetro e 370 quilos. Serão 150 quilos de massa, 40 quilos de molho de tomate, 120 quilos de queijo muçarela ralado, cem quilos de calabresa e quatro quilos de manjericão, divididos em cerca de 2 mil fatias.

A responsabilidade será do chef Igor Cândido, bicampeão brasileiro da Copa Brasileira de Pizzas, que comanda a Cândido?s Pizza Gourmet em Gramado e Canela e participou do recorde anterior, de 2019 (foto). O evento é da prefeitura e da Associação Comercial, Industrial e Serviços (Acisco), com apoio do Espaço Gastronômico Importadora.

ENTREVISTA ZEINA LATIF Economista

No governo anterior, a economista Zeina Latif fez críticas a medidas adotadas na economia. No atual, segue preocupada com a ausência de sinais de mudanças mais ambiciosas em problemas antigos do Brasil, como a má qualidade do gasto público. Com as credenciais de quem já foi economista-chefe da XP Investimentos e secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Zeina avalia que o novo marco fiscal evita o descontrole das contas públicas, mas o país precisa de um plano mais ambicioso.

Como avalia a regra fiscal?

É necessária uma sinalização, com credibilidade, de que haverá arrumação nas contas públicas para estabilizar a dívida em relação ao PIB. A dívida alta tem consequências na política econômica. Então, se não der para reduzir, é preciso ao menos conter. Para isso, precisamos ter superávit primário (resultado positivo entre receitas e despesas sem contar o pagamento da dívida) na casa de 2% do PIB. Aumentar a carga tributária é uma forma ruim de fazer ajuste em um país com impostos já altos. Tem eficiência menor e machuca a atividade econômica, com consequên- cias de curto prazo na inflação.

A regra não é adequada?

Não tem consistência suficiente para gerar superávit primário e a estabilização da dívida pública. Como depende do aumento da carga tributária, é necessário que se concretize para ter consistência. Era preciso prever contenção de gastos obrigatórios e novas reformas estruturantes, porque o aumento necessário da carga pode não ser factível. O arcabouço evita quadro de descontrole, mas o Brasil precisa ter mais ambição. Há muitas políticas públicas ineficientes que precisam ser reavaliadas. Seria importante que um governo de esquerda se dispusesse a discutir reforma administrativa, mesmo sem impacto de curto prazo.

A reação do mercado não foi relativamente favorável?

O mercado ficou aliviado porque a regra evitou cenários extremos e, no fim do dia, foi estabelecida uma regra. Pode não ser boa, mas está lá. E havia medo de que fosse mais frouxa. Tira o elefante da sala. Não é tão ruim assim e, além disso, o quadro internacional está bem mais favorável do que se imaginava. O preço das commodities anda de lado, mas já é uma mão na roda para o Banco Central (BC). É o Princípio Goldilocks (Cachinhos Dourados): não está nem tão ruim nem tão bom, então está ótimo (na história infantil, a personagem testa dois extremos e fica com a média).

O BC alega cautela com nú- cleos de inflação, mas a meta não é baseada no IPCA cheio?

Os núcleos (cálculos que excluem preços que variam muito) são instrumento de trabalho, mas de fato o mandato é focado na inflação cheia. A julgar pelo comportamento da inflação corrente, há boas notícias. Existe certa rigidez na inflação de serviços, mas não seria absurdo pensar em relaxamento monetário (redução da Selic) aos poucos. O que é entrave, ainda, é a expectativa de inflação e a incerteza sobre a meta.

Meta de inflação é dogma e mudar é tabu?

Na época em que a meta começou a ser reduzida em 0,25 ponto percentual a cada reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional, que define a baliza para o BC), sugeri que a meta fosse entregue, para depois reduzir. A meta era de 4,5%, passou para 3,5%. O passo para 3% foi muito rápido. O problema, como disse o presidente do BC, é mexer em momento tumultuado. Pode piorar as expectativas de longo prazo. Mas isso não tira meu sono. O que me deixa intranquila é a pouca ambição de fazer reformas e o apego a políticas do passado, como dar novos benefícios tributários, que deveriam estar superadas.

MARTA SFREDO

terça-feira, 30 de maio de 2023


O remédio dos lençóis

Quando estou triste, uso um método eficaz: troco a muda de roupa da cama. Dificilmente a minha melancolia, o meu abatimento, a minha mágoa resistirão a lençóis perfumados. É um bem-estar indescritível esticar os pés no fundo deles. Deslizam na sensação de frescor.

Fico com a impressão de que a cama é nova com o incenso da lavanda. O edredom lavado completa o trabalho de reposição de energias. Ocorre uma fotossíntese entre os tecidos e a minha pele: aqueles lençóis limpos, que passaram por horas de sol, transmitem a sua luz para mim.

A fronha não estará mais marcada pelo suor dos cabelos, não terá o peso dos serões difíceis. Trata-se de uma reestreia, a página do calendário virada, a despedida dos problemas antigos. Se a cama estiver com o cheiro vencido, com o cheiro usado do corpo, de quem rolou por ali pela insônia das preocupações, a tristeza aumenta. Sou capaz de chorar inclusive por dores antigas. Sou capaz de reprisar feridas do ego e misturá-las no coração.

Com o quadro de abandono do meu cantinho de repouso, redobram as minhas chances de isolamento e de vitimização. As lágrimas saem fáceis e fartas quando percebo que nada mudou na minha vida. Existirá um apego a um esconderijo, a uma porta fechada, ao escuro.

Diante do enxoval reposto, organizado, esticado, é como se houvesse a transposição de lugar. Por uma noite, durmo com a alma fora de casa, durmo com a alma em hotel, durmo com a alma em viagem.

Minha esposa já conhece a minha tática de dar a volta por cima no humor, o meu feng shui amador, e nem mais reclama quando substituo os lençóis antes de eles completarem uma semana. De onde vem esse remédio caseiro, que não exige nenhuma receita médica?

Do quintal da minha infância. Da alegria de correr no pátio com os lençóis estendidos no varal, devidamente levantados por uma vara para suas bordas não tocarem no chão. Eu atravessava paredes de pano para poder brincar nos extremos do nosso terreno e alcançar a bergamoteira e o abacateiro. Serviam de biombos a meu teatro de fantoches, de obstáculos ao pega-pega com os irmãos.

Eu encostava a testa no lençol úmido, esticando-o ao máximo pelo rosto, até chegar ao outro lado. Ia e vinha sem parar.

Eu me enxergava curado com as repentinas compressas geladas pela cabeça. Para uma criança pequena, não deixava de ser uma aventura não enxergar o que tinha pela frente. Querer descobrir o futuro é estresse do adulto. Querer controlar o futuro é o que nos adoece.

Naquele tempo da minha meninice, bastavam o sol lá fora e um dia de cada vez. Os lençóis simplesmente me devolvem uma época feliz da minha existência, em que nada sabia e tudo sentia, em que eu era livre e solto pelo mundo.

CARPINEJAR 

Presidente da Corsan anuncia saída do cargo antes de concluir privatização da estatal

Em coletiva, Roberto Barbuti fez um balanço positivo de sua gestão
Em coletiva, Roberto Barbuti fez um balanço positivo de sua gestão
CORSAN/ DIVULGAÇÃO/ JC
O diretor-presidente da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Roberto Barbuti, anunciou nesta segunda-feira (29) que irá deixar o cargo depois de quatro anos de gestão. Segundo informou, os motivos para o anúncio repentino são pessoais, incluindo um convite para um novo projeto profissional. Apesar disso, Barbuti não deu prazo para deixar oficialmente a sua função na estatal, nem revelou a oportunidade que o fez deixar a empresa às vésperas da privatização do órgão. 
Ele deve seguir no cargo até que o governador Eduardo Leite (PSDB) anuncie o próximo titular, o que ainda não foi definido pelo Palácio Piratini. Em coletiva, Barbuti aproveitou para fazer um balanço de sua gestão, ressaltando os investimentos dos últimos quatro anos, as mudanças na governança e o projeto de privatização, atualmente travado por liminar do Tribunal Regional do Trabalho e no Tribunal de Contas do Estado (TCE).

• LEIA MAIS: Federações manifestam-se em apoio à venda da Corsan

Em 2022, a Corsan fez investimentos na casa dos R$ 600 milhões em CAPEX, mas para cumprir a meta de R$ 15 bilhões até 2033, precisa aumentar a velocidade dos investimentos. "Buscamos maior eficiência, mas a velocidade ainda não é a ideal. Nós dobramos os investimentos, mas teríamos que quadruplicar. A Corsan é cobrada pela qualidade, pelas entregas, mesmo que tenhamos melhorado bastante, isso só será viabilizado quando não houver mais amarras que colocam a empresa estatal num pé de desigualdade em relação a uma empresa privada", considerou o presidente.
De acordo com Barbuti, o ciclo da sua gestão cumpriu o esperado, inclusive, no que diz respeito à privatização do órgão, que foi arrematado em leilão em dezembro do ano passado pelo grupo Aegea. A previsão de assinatura do contrato era até 20 de março, mas processos no Tribunal de Contas do Estado (TCE) e no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região seguem barrando a conclusão da privatização. "Temos aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para ser concluído, o que dependia da empresa foi feito, busquei cumprir o planejamento, mas agora tenho que buscar outras alternativas", explicou. 
O próximo nome para dar seguimento no processo de privatização, segundo o presidente, deve ser uma decisão que "sinalize a continuidade." "Posso opinar, mas a decisão não é minha, a análise está com o governo. A companhia tem mais de uma alternativa de perfil para conduzir a reta final [da privatização].

Relatora do processo de privatização da Corsan no TCE é convocada na AL

No mesmo dia em que o diretor-presidente da Corsan Roberto Barbuti anunciou que está de saída do cargo, uma reunião extraordinária da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, realizada nesta manhã (29), aprovou por unanimidade a convocação da conselheira-substituta do Tribunal de Contas do Estado, Ana Cristina Moraes Warpechowski, relatora do processo de privatização da Corsan no Tribunal.

O vice-presidente da comissão, deputado Rodrigo Lorenzoni (PL), fez a defesa da convocação da relatora e também do convite ao procurador-geral do Ministério Público de Contas do RS, Geraldo Da Camino. Ele deverá falar sobre o aspecto sigiloso do processo de privatização da Corsan.

A decisão de convocar a conselheira e convidar o procurador-geral foi tomada depois do TCE ter recusado o pleno acesso dos integrantes da comissão a documentos e auditorias que integram o processo de venda da estatal. 
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado do Rio Grande do Sul (Sindiágua RS), Arilson Wünsch, a convocação representa uma "derrota retumbante" no processo de privatização. "Os deputados aprovaram por unanimidade, tanto os do governo quanto os da oposição. Ela [Ana Cristina Moraes] vai estar em uma conversa com os deputados onde poderá esclarecer algumas partes do processo, incluindo o sigilo de valuation da empresa", disse. A Corsan foi vendida por R$ 4,1 bilhões. 
Segundo Barbuti, o tema da avaliação é bastante complexo. "Foi analisado com muita profundidade por quem tem essa capacidade técnica." Ele disse também que entende o debate pela questão da transparência. "Totalmente legítima", considerou. O presidente da Corsan acrescentou que para a empresa o processo de privatização é uma "tranquilidade." "O processo foi feito da forma que deveria ser feito, não tem nada que não possa ser explicado para quem tem conhecimento." Perguntado pela reportagem se isso poderia atravancar a privatização, o presidente da Corsan afirmou que "quanto tempo vai demorar eu não sei dizer."
Com a convocação de Ana Cristina, o contrato não deve ser assinado em maio, como esperava a empresa que arrematou o leilão. "Acredito que a assinatura está mais longe do que perto", refletiu o presidente do Sindiágua.

Perrengues a bordo e no caminho

Antes de começar a viajar, pesquisaram todos os lugares que queriam conhecer e traçaram uma linha que, por enquanto, seguem com poucos desvios, alguns motivados por pessoas encontradas no caminho, em viagem ou não - surpreenderam-se, aliás, com a quantidade de gente se deslocando de motorhome. Como eles pretendem chegar a Ushuaia antes do inverno em 2024, ainda não decidiram se vão completar todos os 27 Estados brasileiros - certo é que vão visitar os Lençóis Maranhenses e subir o Monte Roraima. Depois, querem descer pelo Centro-Oeste e chegar a Farroupilha para visitar a família antes de empreender a parte mais desafiadora de sua viagem, a rota de Ushuaia ao Alasca.

Até o Alasca (2): a viagem de Tais e Luiz

O futuro

Não é estranho que tantos viajantes sonhem traçar o roteiro de Ushuaia - no extremo sul da América do Sul -, ao Alasca, um dos 50 Estados norte-americanos, com 5% de seu território recoberto por geleiras e chamado de a "última fronteira". É um desafio e tanto percorrer esses mais de 17 mil quilômetros entre um ponto e outro, seja da forma que for. Na semana passada, mostrei o projeto de Ale & Duda, do GetOutside, que iniciaram sua rota em 2020 e, ainda que impedidos pelo fechamento das fronteiras na pandemia, atingirão um dos objetivos, o Alasca, neste mês de junho.

Agora, é a vez de Tais e Luiz que, assim como o outro casal, viajam a bordo de um motorhome. Tais Ires Rancan, 31 anos, e Luiz Vinícius Canei, 31, abandonaram os respectivos empregos, o apartamento de quatro dormitórios e a vida confortável em Farroupilha (RS) para traçar essa mesma rota. O nome do projeto deles é um trocadilho com a forma com a qual decidiram se mover e viver: Viajo de Casa. Na estrada desde julho de 2022, por enquanto palmilham o Brasil de Sul a Norte - já haviam passado por 10 Estados quando conversamos e eles se encontravam em Maceió.

O sonho dos dois, juntos há quase oito anos, tem um marco inicial: começou em 2018, com a primeira viagem aérea de Tais, aos 27 anos. E não foi logo ali, não. Ela acompanhou Luiz no desejo que ele tinha de visitar o Japão, após se conhecerem na empresa em que ela trabalhava como designer e para a qual Luiz prestava serviço como técnico em informática. Ao ir para o outro lado do mundo, Tais, que até então só havia chegado até Santa Catarina, acabou picada pela mesma mosca viajante que já contaminava Luiz desde muito cedo.

Pensaram, os dois, em várias formas de viajar - inclusive testando algumas - e economizaram antes de lançarem-se ao projeto em que estão metidos até a medula com um roteiro delineado: primeiro o Brasil, depois, de Ushuaia ao Alasca e, por último, uma volta ao mundo sem data para acabar.

Além de brincar com a dificuldade de conseguir erva-mate para o chimarrão depois de o estoque acabar, a principal reclamação é o calor. É que eles prepararam o motorhome de oito metros quadrados para o frio, mas não para altas temperaturas. O jeito é, durante o dia, buscar locais com ar-condicionado para trabalhar. Entre os perrengues, descrevem, rindo, o dia em que o motorhome atolou e parou de funcionar, em Ilhéus, na Bahia. Abrigaram-se por dois dias numa fazenda de cacau. E surpreenderam-se com a solidariedade dos seguidores do Instagram que tentaram ajudar, inclusive fazendo chamadas de vídeo. Apesar de terem ficado felizes com o apoio, não conseguiram resolver o problema sozinhos e levaram mais de uma semana para consertar o veículo.

ROSANE TREMEA 


30 DE MAIO DE 2023
NÍLSON SOUZA

O ocaso da amizade

Li no El País digital. Vou logo dando a fonte porque o assunto tem potencial para controvérsias: a amizade entre os homens está minguando. Isso mesmo, segundo a reportagem, uma das tendências comportamentais pós-pandemia é a redução do número de amigos autênticos, principalmente entre os jovens do sexo masculino. Pesquisas de institutos respeitáveis como o Gallup demonstram que o percentual de cidadãos com pelo menos seis amigos próximos caiu pela metade - e mais de 20% dos norte-americanos consultados declararam não ter nenhum amigo íntimo.

Antes de entrar nas teses elaboradas para explicar o fenômeno, cabe fazer uma ressalva de gênero. A inusitada evasão de amigos atinge predominantemente os homens porque, na visão dos observadores, eles são educados para esconder suas vulnerabilidades emocionais, o que dificulta ainda mais a consolidação de amizades íntimas.

Até pode ser, mas uma das teses justificadoras da nova tendência - e a que mais me impressiona - atinge todos e todas. É a alegada falta de tempo para o cultivo de amizades. Com a migração da vida real para o mundo digital, as pessoas renunciam às interações presenciais para se dedicar a amizades virtuais - abundantes, mas superficiais. A plataforma Medium de jornalismo social até sugere uma fórmula matemática de testagem de amizades verdadeiras: 11-3-6. Para transformar um conhecido em amigo, são necessários 11 encontros de três horas de duração num período de seis meses. Quem, hoje, teria disponibilidade para isso?

Claro que há exceções. Confrarias, clubes de amigos com interesses comuns, praticantes de esportes e hobbies ainda operam por aí, unidos e solidários. Nem sempre, porém, a parceria momentânea perdura. Além disso, o que mais se vê atualmente em certos grupos é o encontro de solidões, indivíduos reunidos no mesmo ambiente, mas concentrados no mundinho individual dos seus equipamentos eletrônicos.

Ora, amizade é mais do que proximidade. É a convicção espiritual de que alguém acredita e confia em você. De que adianta ter um milhão de amigos nas redes sociais - e ninguém para trocar um abraço sincero e reconfortante na vida real? Como hoje tudo se resolve com decretos e medidas provisórias, proponho uma intervenção legal: a imediata aplicação do parágrafo único do artigo IV do Estatuto do Homem, escrito pelo poeta Thiago de Mello: "O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino". Revoguem-se as disposições em contrário.

NÍLSON SOUZA

segunda-feira, 29 de maio de 2023


Investimentos em Gravataí

A percepção de brechas, como a existência de vazios urbanos, que podem se tornar áreas de moradia, com o desenvolvimento de novos bairros e geração de postos de trabalho em Gravataí (RS), levou a Consplan Empreendimentos Imobiliários, de Porto Alegre a concentrar suas obras neste município. A empresa tem trazido para a cidade um conceito mais moderno de urbanização, conectando bairros planejados com o restante da malha local. Atualmente, a construtora e incorporadora tem sete obras entregues na localidade, sendo a oitava, o Terranova Bairro Planejado, prevista para ser recebida em breve pela comunidade, com investimento de R$ 32 milhões.
As soluções imobiliárias
A B smart Hospitality Solutions, de Porto Alegre, especializada em soluções imobiliárias, mudou sua estrutura em janeiro de 2022, para foco em empreendimentos short e long stay. O resultado foi a entrega de mais de 100 unidades em 2023. E, para celebrar o êxito, o empresário Eduardo Braga está inaugurando em São Paulo a primeira filial. Em 12 anos, são mais de 900 clientes e 150 mil m² em projetos. Após a reestruturação, foram entregues mais de 200 unidades para locação, com a estimativa de mais 200 até 2024, gerando mais de R$ 15 milhões em vendas.
Atendimento à comunidade
A Atitus Educação, ex-Imed com sede em Passo Fundo, inaugurou terça passada o Núcleo de Atendimento ao Cidadão na Capital, disponibilizando à comunidade serviços realizados por acadêmicos, supervisionados pelos docentes. A estrutura oferece atendimento jurídico gratuito à população de baixa renda, em diferentes áreas do direito, incluindo os superendividados. Também são oferecidos serviços em psicologia nas áreas organizacional, clínica, infantil e avaliação psicológica.
O mercado de tecnologia
A Estácio, em colaboração com a Amazon Web Services (AWS), pretende habilitar estudantes gaúchos da instituição de ensino superior para o mercado de tecnologia através de iniciativas junto a clientes de diferentes setores. Quem não é estudante da Estácio, mas deseja aprender mais sobre computação em nuvem pode acessar cursos sob demanda gratuitos e em português no portal AWS Skill Builder.
Nova marca de colchões premium
O Grupo Herval de Dois Irmãos (RS) apresentará uma nova marca de colchões premium, a Hauzestern, no maior estande do 9º Salão de Gramado, de 05 a 08 de junho, no Serra Park. A primeira campanha terá três coleções com modelos selecionados de alta qualidade e design, unindo materiais de alto padrão com tecnologias de ponta em termos estruturais e estéticos. Ainda no evento, a Herval Móveis e Colchões lançará a coleção "Clássicos da Herval", composta por mobiliários que carregam estilo e história, além de uma linha de modulados para cozinha e quarto.

29 DE MAIO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

MOBILIZAÇÃO PELA BR-290

A duplicação da BR-290, ao menos entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, é uma causa que merece a mobilização da sociedade gaúcha. Assim como a cobrança para o restante do trecho, até Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, receber maior atenção para passar a oferecer melhores condições de trafegabilidade. Trata-se de uma das mais importantes vias federais no Rio Grande do Sul e principal corredor para o trânsito de mercadorias entre o Brasil e a Argentina. Não é aceitável que, de São Paulo a Buenos Aires, seja o único trecho de pista simples e ainda tenha uma manutenção abaixo do razoável. Não é uma questão apenas econômica, mas de segurança para os usuários.

As obras de duplicação de Eldorado do Sul a Pantano Grande começaram em 2015 e, desde lá, variam entre a paralisação completa e um avanço quase imperceptível. O andamento é ainda mais lento do que o observado na construção de uma segunda pista na BR-116, de Guaíba a Pelotas, iniciada em 2012. Onze anos depois, cerca de dois terços do trajeto estão concluídos. Já na principal ligação rodoviária entre os dois maiores países do Mercosul não há quase nada, a não ser duas ínfimas partes duplicadas junto a entroncamentos e passagens urbanas, além de alguns viadutos ilhados à beira da estrada, que mais parecem um monumento à incúria.

O governo Bolsonaro planejava fazer as obras do trecho em questão concedendo a rodovia. A gestão Lula, no entanto, demonstra a intenção de tocar a duplicação com recursos públicos. Se é essa a decisão, espera-se que os problemas de falta de recursos, um dos entraves à continuidade do projeto desde 2015, não voltem a se repetir. Será preciso um constante empenho político para garantir o fluxo de verbas necessário para o trabalho não ser interrompido e ter um ritmo razoável. É uma tarefa inadiável para a bancada gaúcha em Brasília desde já. A boa notícia é que o governo federal disponibilizou R$ 170 milhões para serem investidos em dois lotes ao longo deste ano.

O fato é que a BR-290, especialmente entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, é uma rodovia saturada, com sinalização deficiente, irregularidades na pista e, por isso, cada vez mais perigosa. O movimento de caminhões, especialmente carregados de toras de madeira, é constante. No verão, o trânsito de turistas argentinos, que usam a estrada para chegar às praias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, eleva em muito o fluxo e torna comuns os flagrantes de manobras arriscadas e ultrapassagens em pontos proibidos, aumentando o risco de acidentes. Dependendo dos dias e horários, é a lentidão que predomina. Chama atenção na reportagem publicada na superedição de Zero Hora a informação de que, em todo o ano de 2022, ocorreram 12 mortes devido a colisões frontais. Neste ano, até 23 de maio, já foram 11 vítimas fatais.

Duplicar e qualificar a BR-290 é essencial para melhorar a infraestrutura do Rio Grande do Sul. Idealmente, no entanto, os gaúchos teriam mais opções logísticas que atenderiam à potencialidade da economia gaúcha e desafogariam as estradas. O Estado, por exemplo, conta com trilhos de Uruguaiana a Porto Alegre, em um trajeto não muito diferente em relação ao da rodovia. É uma ferrovia subutilizada. A partir de Cachoeira do Sul, pelo Rio Jacuí, também existem condições naturais para ampliar o transporte fluvial. São alternativas, porém, que parecem a cada dia mais esquecidas e negligenciadas.

OPINIÃO DA RBS

29 DE MAIO DE 2023
MIRANTE DO MORRO SANTA TEREZA

Uma paisagem cada vez mais esquecida

Mesmo com o crescente investimento da prefeitura e do setor privado em turismo, um dos mirantes para a vista mais consagrada de Porto Alegre está há mais de uma década sem investimento em estrutura para receber visitantes. Oficialmente chamado de Belvedere Ruy Ramos, no alto do Morro Santa Tereza, a laje cercada por gradis no sopé de um barranco esteve nos planos do Executivo municipal antes da Copa do Mundo de 2014, mas depois, não.

Na manhã da última quarta- feira, ZH esteve no local. A estonteante paisagem, que é composta pelo horizonte de prédios, aviões chegando ao Aeroporto Salgado Filho, as pontes e a orla do Guaíba, contrasta com o visual de abandono do mirante. Algumas grades que o cercam estão caídas, uma delas amarrada com um plástico ao corrimão superior que funciona como parapeito.

Ao longo da meia hora que ficamos no local, nenhum visitante se aproximou da laje a pé ou em automóvel. Em redor dela, pichações e lixo descartado irregularmente na vegetação completam o cenário que seria supervisionado por uma câmera de monitoramento da prefeitura, caso ela ainda estivesse instalada no poste que está com os fios soltos pendurados no suporte.

Plano

Quem é responsável pela manutenção do local é a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus). A pasta diz que estuda uma forma de captação de recursos para revitalização. Entretanto, não há, ainda, projeto arquitetônico, prazo ou objetivo definido.

A Smamus ainda afirma que um plano antigo, de 2012, pretendia construir uma estrutura que receberia visitantes que quisessem observar a cidade e o Estádio Beira-Rio, aproveitando a oportunidade e os turistas da Copa do Mundo de 2014. A comunicação ressalta que este projeto não é mais considerado, por ter como destaque elementos de decoração que fariam referência ao futebol, como uma bola.

Entorno

A poucos metros do mirante, um grupo de nove crianças brincava em uma pracinha que separa a Rua Correia Lima do barranco onde fica o mirante. Sob supervisão de uma mulher, chutavam uma bola de futebol, se revezavam em duas gangorras, uma pulava corda, outra se pendurava em um balanço, e todas pareciam estar se divertindo no espaço. Em volta do terreno, as lotações Menino Deus e seus motoristas faziam intervalos entre as viagens. Um dos trabalhadores das lotações relatou que visitantes aparecem por ali, eventualmente, e que ele e os colegas não se sentem inseguros ao frequentar a região.

ROGER SILVA

29 DE MAIO DE 2023
ACERTO DE CONTAS

Antigo hotel, novo lar

Foi inaugurado o residencial que ocupa um dos pontos clássicos do centro de Porto Alegre: o do antigo hotel Plazinha, na Rua Senhor dos Passos. A incorporadora Infinita, que comprou o prédio, investiu R$ 45 milhões no projeto, que conta com 183 apartamentos mobiliados, de 20 metros quadrados.

O projeto tem como público-alvo o morador final, mas algumas unidades foram compradas por investidores para locação. Quem faz a gestão dos aluguéis é a Housi.

No térreo, ficará uma unidade do restaurante Brique, do chef Marcos Livi, que também atuará em um café na praça Otávio Rocha, que será revitalizada, conta o CEO da Infinita, Diego Antunes.

Participaram da construção a Capa Engenharia e a ProduSchopping. Saiba mais em gzh.rs/plazinha.

Antecipado

A coluna recebeu relatos de aumentos de R$ 0,20 a R$ 0,30 no litro da gasolina na Região Metropolitana no final de semana. De acordo com o presidente do sindicato que representa os postos do Rio Grande do Sul (Sulpetro-RS), João Carlos Dal?Aqua, há distribuidoras retraindo as vendas no aguardo da mudança da cobrança de ICMS, que passará a valer a partir de 1º de junho com elevação estimada de R$ 0,29 no recolhimento do tributo por litro. Uma lei federal determinou que os Estados cobrem o mesmo valor de ICMS.

Há revendas, porém, com expectativa de que a Petrobras reduza nesta semana o preço do combustível para absorver a alta do imposto, como fez em maio, para o diesel.

DANIEL GIUSSANI INTERINO

29 DE MAIO DE 2023
ACERTO DE CONTAS

Popular dá espaço ao SUV no mercado

O cenário do venda de veículos mudou nos últimos 10 anos no Rio Grande do Sul. Os carros de entrada novos, com menor tecnologia embarcada e preços mais acessíveis, perderam espaço. Em 2013, detinham 24,53% do mercado gaúcho. Em 2022, foram 8,47%. Agora, nos quatro primeiros meses de 2023, representam 5,54% das vendas. Por outro lado, os utilitários esportivos (SUVs) saltaram de 10,04%, em 2013, para 54,09% no mesmo período, assumindo a liderança do setor.

Uma das explicações está na indústria. Hoje, são comercializados mais de cem modelos de utilitários esportivos no país, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Já os veículos de entrada estão reduzidos a praticamente dois: o Fiat Mobi e o Renault Kwid. Modelos que outrora eram líderes de venda, como o Gol, da alemã Volkswagen, foram, aos poucos, deixando de ser produzidos.

- É uma tendência mundial. Nos Estados Unidos, há apenas dois modelos por menos de US$ 20 mil. Em 2017, eram 11. No Brasil, dos 20 carros mais vendidos, só seis são de menor valor. Com a pandemia, falta de insumos e problemas de comercialização, as montadoras tiveram que produzir menos, então priorizaram os que dariam maiores ganhos - explica Paulo Siqueira, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado (Sincodiv RS), que enviou os dados à coluna.

Além disso, os próprios veículos de entrada foram ficando mais caros à medida que começaram a receber novas tecnologias, algumas obrigatórias de segurança e redução de emissão de poluentes. Isso, somado às crises econômicas que o país enfrentou recentemente, afastou uma parcela da população do mercado do "zero quilômetro".

Para fechar, o presidente avalia que o crédito restrito tem impactado as vendas. Também comenta que, para além do preço do carro em si, é preciso ser levado em consideração outros custos agregados.

- Não adianta ter um preço popular, mas a tributação, por exemplo o IPVA, ser impopular. Taxas de licenciamento, seguro, preços de peças de reposição caros também afastam o consumidor.

Sem mudança

As medidas do governo federal para baratear os carros não deve reverter a liderança das SUVs, avalia Siqueira.

- Dificilmente o cenário atual se reverteria considerando apenas o preço do veículo. Tem que estar atrelado a uma política de crédito eficaz entre outros elementos - finaliza.

DANIEL GIUSSANI INTERINO

sábado, 27 de maio de 2023



27 DE MAIO DE 2023
BRUNA LOMBARDI

BASTA UMA SÓ MULHER PARA FAZER UM PAÍS MAIS FELIZ

Assim como toda criança nasce feliz, dentro de todo adolescente que se preze tem que ter uma boa dose de rebeldia. Que vai desde? "o mundo não me compreende?" até "quero mudar tudo porque não concordo com nada!". A proposta nessa época da vida é sempre grandiosa, ousada, tem a audácia dos que sonham.

Todo jovem saudável tem uma natureza inconformista, sente que não pertence, acha tudo um absurdo. Quer ir contra o status quo, não quer repetir os erros das gerações que o antecedem.

Ele veio pra mudar todas essas convenções idiotas que não o traduzem. O que fazer e por onde começar? E como diz a canção, se os nossos ídolos ainda são os mesmos, vamos também sem perceber, acabar sendo como os nossos pais?

Mas se a gente pensar bem, a cada nova geração a coisa muda aos poucos. As ideias se ampliam, uma semente desse entusiasmo fica e nos tornamos agentes de alguma transformação. Até que de repente, numa dessas, vem Rita Lee e transforma tudo em maravilha.

A nossa Santa Protetora de todas as ovelhas negras das famílias já chegou propagando rebeldia. Mostrando aos mais comportados que era possível ter liberdade, humor e fantasia. Desfraldando convenções com a magia do lúdico. Com ela é possível criar uma realidade, inventar uma persona e o resultado é a alegria geral da nação.

A Rainha do Rock da Beleza, a Feiticeira que abriu a caixa mágica da criatividade e foi nos mostrando a Sabedoria de Todas as Coisas. A mulher que um dia resolveu mudar e fazer tudo o que queria fazer. E fez. E fez muito mais por todos nós do que seria possível sonhar. Com ela o sonho nunca acabou. O sonho foi se reinventando e seguiu mutante transformando e abrindo todas as portas da sua belíssima alma.

Tive a alegria de compartilhar momentos próximos com a Rita. Teve muita troca, conversa e risada. Tínhamos em comum um instinto de desobediência, uma certa indignação e uma vontade de abraçar o mundo.

Conversei com ela algumas vezes e numa dessas gravamos meu programa Gente de Expressão. Uma conversa de intimidade, sem máscaras, uma entrega feliz. Uma vez disseram numa matéria que nós falamos sobre o prazer da mulher, ela na música e eu na poesia, de uma forma inovadora. A gente simplesmente botou nossa verdade pra fora com vontade de dizer pro mundo: chega de repressão!

Num outro grande momento tive a delícia de estar com ela no palco, carregando a netinha dela no meu colo. Um desses presentes da vida, cantando junto "Toda mulher quer ser feliz".

Rita nos deixou e o nosso desejo continua. Todas queremos ser felizes. E podemos nos ajudar umas às outras, assim como a Rita nos ajudou a todas. Ela com certeza cantou sentimentos de todas nós, explodiu a paixão e nos libertou de papéis opressores.

A coragem da Rita deixou um lastro por várias gerações e um rastro luminoso que a gente segue pra não se perder mais no caminho. Ela teve uma linda e duradoura história de amor e nos fez amar mais e melhor.

Basta uma só mulher para fazer um país mais feliz.

BRUNA LOMBARDI


27 DE MAIO DE 2023
TECNOLOGIA

OMS FAZ ALERTA SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

ORGANIZAÇÃO TEME ERROS MÉDICOS E DANOS A PACIENTES COM ADOÇÃO PRECIPITADA DA IA

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou recentemente um comunicado que pede cautela no uso de inteligência artificial (IA) "para proteger e promover o bem-estar, a segurança e a autonomia humanas e preservar a saúde pública". Na avaliação da OMS, falta a preocupação comum à inserção de tecnologias em saúde.

"A adoção precipitada de sistemas não testados pode levar a erros por parte dos profissionais de saúde, causar danos aos pacientes, minar a confiança na IA e, assim, minar (ou atrasar) os potenciais benefícios e usos de longo prazo de tais tecnologias em todo o mundo", diz o comunicado.

No mesmo dia, Sam Altman, diretor-executivo da OpenAI, criadora do programa ChatGPT, disse no Senado dos EUA que regular a inteligência artificial é "crucial" para limitar os riscos do uso dessa tecnologia.

A OMS preocupa-se com a possibilidade de treinamento das IAs com dados tendenciosos, geração de respostas incorretas que parecem verdadeiras e possível estímulo à desinformação. A organização recomendou que formuladores de políticas se dediquem a garantir a segurança e a proteção do paciente enquanto as empresas de tecnologia trabalham na comercialização.

Segundo a OMS, os modelos de linguagem (LLMs, em inglês) gerados por inteligência artificial, como a que compõe o ChatGPT, tentam imitar a compreensão, o processamento e a produção da comunicação humana. A "difusão pública meteórica" e o "crescente uso experimental para fins relacionados à saúde estão gerando um entusiasmo significativo", avalia.

A OMS também se diz "entusiasmada" com o uso apropriado de tecnologias, incluindo LLMs, para apoiar profissionais de saúde, mas diz estar preocupada "de que o cuidado que normalmente seria exercido para qualquer nova tecnologia não esteja sendo exercido de forma consistente com as LLMs". É "imperativo" que os riscos da adesão dessas tecnologias sejam "cuidadosamente" avaliados.


27 DE MAIO DE 2023
INFRAESTRUTURA

Gargalo para o fluxo atual de veículos

No lado brasileiro, a rodovia termina no meio da Ponte Internacional Getúlio Vargas/Agustín Pedro Justo, no quilômetro 726, que liga a cidade gaúcha da Fronteira Oeste à argentina Paso de los Libres. A estrutura, construída na década de 1940, foi a primeira travessia entre Brasil e Argentina.

A construção leva o nome dos presidentes dos dois países à época do lançamento da pedra fundamental. O combinado era de que a estrutura seria dividida em duas partes iguais, usando ferro brasileiro e cimento argentino. A inauguração, comemorada principalmente por comerciantes da região, foi em maio de 1947. Desde então, o movimento sobre a ponte aumentou, mas as pistas não foram ampliadas. Ao mesmo tempo, uma via férrea, onde passava um trilho de trem, foi desativada e hoje está coberta por vegetação.

- Foi planejada para um trânsito vicinal e muito pequeno se comparado com o que cruza hoje. Não estava nos sonhos de ninguém que cruzariam, pelo menos, 20 mil caminhões por mês - conta a diretora-executiva da Associação Brasileira dos Transportadores Internacionais, Gladys Vinci.

As intempéries do tempo e a sobrecarga de veículos sobre a ponte cobraram seu preço e, em setembro do ano passado, a estrutura apresentou rompimento na laje, na região central do arco de acesso. Em março deste ano, houve cerimônia de entrega da restauração emergencial do trecho. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), foram investidos mais de R$ 6,3 milhões em serviços de recuperação da laje, viga e o reforço dos pilares.

O asfalto foi renovado e o guarda-corpo, pintado. Porém, passados alguns metros da parte revitalizada em direção à Argentina, já ficam evidentes buracos, sinalização apagada na pista e guarda-corpo danificado. O Dnit destaca que "no lado brasileiro da Ponte Internacional de Uruguaiana não há buracos no pavimento no momento e, quando surgem, a empresa responsável pela manutenção realiza o reparo o mais breve possível", e garante que "a sinalização é presente na ponte".

A estrutura não tem acostamento, e a pista é simples nos dois sentidos. Logo, motoristas de veículos de passeio e do transporte internacional de cargas trafegam pela mesma faixa, e não é incomum ver condutores dos veículos menores ultrapassando caminhões de maneira irregular.

O Dnit informou, em nota, que, "no que diz respeito à previsão de duplicação da ponte de Uruguaiana, o Dnit analisa reabilitação com alargamento da seção transversal. Há um projeto brasileiro pronto e estão sendo aguardadas as considerações do lado argentino para prosseguir na contratação das obras".

Gladys sugere uma solução para desafogar o movimento, que se intensifica na época do verão, quando turistas estrangeiros, principalmente argentinos, vêm passar as férias no Brasil:

- Ela tem duas calçadas laterais que não podem ser utilizadas pelos pedestres por uma questão de segurança. Elas poderiam ser retiradas para dar um espaço maior aos veículos.

A dirigente também apoia a criação de uma terceira pista que poderia ser liberada para os dois sentidos conforme fluxo ou bloqueios. Para isso, sugere um aproveitamento da estrutura que abriga o trilho desativado.