quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013



NÃO DEIXE A SUA LUZ INTERIOR APAGAR.

A VIDA TEM SEUS PERCALÇOS.
MAS NÃO DEIXE QUE DESMEREÇA,
QUE DESBOTE E PERCA A COR NATURAL.
NINGUÉM TEM ESSE PODER DE INVADIR
FAÇA O QUE SEU CORAÇÃO PEDIR.
POIS ELE É SEU COMPANHEIRO INSEPARÁVEL.
NUNCA VAI TE DEIXAR SOZINHA.
BATE BATE CORAÇÃOZINHO. . .
 É LONGO O TEU CAMINHO.

__SOL HOLME__


DOCE ENCANTO 

POESIAS GERA MAGIAS.
DEIXA A CENA PERFEITA PARA UM ENCONTRO.
DOS DEUSES E HOMENS ARTICULANDO E DANDO
PODERES PARA SELAR CORPOS E ALMAS.
NA BRISA DAS DIVINDADES SÓ  O AMOR NO COMANDO 
COMPORTA E SUSTENTA LEVEZA DE SENTIR E TROCAR 
SENTIMENTOS QUE ELEVA E TRANSCENDE AO INFINITO.
AMOR BONITO DE DENTRO PARA FORA. . .
 NÃO DEMORE.  


Bom soninho pra você...

















Hoje estou em Silencio,só quero
Pensar e te sentir em Mim!
Renata Mangeon


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28 de fevereiro de 2013 | N° 17357
EDITORIAIS

ÁGUAS AGITADAS

Ao se despedir dos católicos na Praça de São Pedro, na sua última aparição pública como papa, Bento XVI voltou a sur- preender a todos os que o ouviam, não só por explicar com clareza os motivos de sua renúncia mas também por se referir, ainda que metaforicamente, aos pecados da Igreja que de certa forma contribuíram para a sua retirada precoce. Ainda que a cada instante surja uma teoria nova para justificar sua abdicação, parece inquestionável que o líder religioso já não tem energia e saúde para desempenhar a contento as atribuições eclesiais e administrativas que o cargo exige.

O papa de 85 anos fala baixo, movimenta-se com dificuldade e contabiliza uma série de moléstias debilitadoras, entre as quais a insuficiência cardíaca que o obriga a usar um marca-passo.

Os problemas da idade, apontados por ele mesmo como causa maior da sua decisão, foram reafirmados ontem: “Nesses últimos meses, senti que as minhas forças tinham diminuído e pedi a Deus com insistência, na oração, que me iluminasse com a sua luz para me fazer tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja”.

Mas os problemas da Igreja parecem ser ainda mais graves, como se pode interpretar pela referência que Bento XVI fez às dificuldades enfrentadas durante o seu papado. “O Senhor nos deu muitos dias de sol e ligeira brisa, dias nos quais a pesca foi abundante, mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir.”

Águas agitadas! A metáfora remete inevitavelmente aos escândalos que a Igreja vem enfrentando nos últimos anos, notadamente os casos de abuso sexual envolvendo sacerdotes, a corrupção no banco do Vaticano, o vazamento de documentos reservados da Santa Sé e a disputa fratricida pelo poder na cúpula da organização religiosa.

Ao lado desses episódios, alinham-se desafios que dividem os católicos e que certamente exigirão muita energia e sabedoria do comandante supremo da Igreja. Provavelmente, o sucessor de Bento XVI tenha que administrar polêmicas recorrentes, como o fim do celibato obrigatório, o acesso de mulheres ao sacerdócio, o uso de preservativo, a união entre homossexuais e as experiências médicas com células-tronco, entre outros que contam com a oposição radical do Vaticano.

Embora seja reconhecido como conservador e como defensor intransigente da doutrina católica, Bento XVI deixa como legado final uma tênue abertura para a modernização da Igreja. Suas referências claras ou simbólicas às turbulências enfrentadas, assim como o relatório que encomendou sobre o vazamento de documentos confidenciais, certamente servirão de subsídios para o sucessor que deverá ser escolhido no conclave programado para os próximos dias.

Diante de tais fatos, é de se esperar que a corajosa retirada do papa e sua opção pela transparência propiciem ao Vaticano uma oportunidade para passar a limpo hipocrisias históricas, para remover estruturas enferrujadas e para revitalizar a religião preferencial de expressiva parcela da humanidade.



28 de fevereiro de 2013 | N° 17357
ARTIGOS - Pedro Westphalen*

Assim caminha a democracia

Num mundo interconectado pela tecnologia – em que temos a possibilidade do conhecimento dos fatos em escala planetária e em tempo real –, a imprensa tem garantido papel de destaque, levando à opinião pública denúncias, críticas, descobertas científicas, informações políticas, econômicas, enfim, possibilitando às pessoas serem agentes ativos no processo social.

Assim é que soubemos da tragédia que abalou a cidade de Santa Maria e nos mobilizamos, todos. Assim conhecemos o resultado dos pleitos eleitorais de todos os lugares e as ações de lideranças políticas e civis. Assim nos chegam notícias da queda de um meteorito na Rússia, dos conflitos no Oriente, da renúncia do Papa, da cotação dos alimentos, dos índices de crescimento ou estagnação, do que pensam os outros países a nosso respeito. Informação é conhecimento e conhecimento é poder.

Jamais devemos esquecer que por longos períodos históricos ele permaneceu trancafiado por uma minoria, temerosa de que as camadas populares pudessem acessá-lo. E que dessa negação brotaram – e ainda brotam – preconceitos detonadores de sangrentas guerras. Que tal negação chegou ao obscurantismo de lançar mulheres sábias nas fogueiras.

A imprensa está para a contemporaneidade do mundo assim como a liberdade enquanto valor mais profundo. Atividade humana na construção de si mesma, ela erra e acerta, assim como a humanidade inteira caminha: em movimentos espirais ascendentes. Rumo ao futuro. Evoluindo. Saber é poder. Nas democracias, ele emana do povo e em seu nome deve ser exercido. O parlamento gaúcho reconhece esta dinâmica e busca constantemente aprimorar sua relação com o cidadão e com os meios de comunicação.

Atividade humana que é, algumas vezes erra e, outras tantas, acerta. Queremos a imprensa apontando nossos erros. Precisamos disso para o amadurecimento desta instituição. Igualmente queremos a imprensa informando nossos acertos, que não são poucos. Precisamos disso para renovar nossas forças e seguirmos o caminho espiral ascendente da democracia.

dessa negação brotaram – e ainda brotam – preconceitos detonadores de sangrentas guerras. Que tal negação chegou ao obscurantismo de lançar mulheres sábias nas fogueiras.

A imprensa está para a contemporaneidade do mundo assim como a liberdade enquanto valor mais profundo. Atividade humana na construção de si mesma, ela erra e acerta, assim como a humanidade inteira caminha: em movimentos espirais ascendentes. Rumo ao futuro.

Evoluindo. Saber é poder. Nas democracias, ele emana do povo e em seu nome deve ser exercido. O parlamento gaúcho reconhece esta dinâmica e busca constantemente aprimorar sua relação com o cidadão e com os meios de comunicação. Atividade humana que é, algumas vezes erra e, outras tantas, acerta.

Queremos a imprensa apontando nossos erros. Precisamos disso para o amadurecimento desta instituição. Igualmente queremos a imprensa informando nossos acertos, que não são poucos. Precisamos disso para renovar nossas forças e seguirmos o caminho espiral ascendente da democracia.

*PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


28 de fevereiro de 2013 | N° 17357
PAULO SANT’ANA

Agradeço a solidariedade

Recebi uma montanha de e-mails de pessoas que se solidarizaram comigo em face da agressão física e verbal, além de racismo, que sofreram membros da minha família na semana passada.

Muita gente condenando as atitudes da patrulha da Brigada Militar que produziu as ofensas, mas mais gente ainda protestando por já ter sido maltratada por integrantes da BM, quando de revistas e abordagens.

Se não houver uma providência por parte do comando da PM no sentido de mudar a ação de prepotência dos agentes, que caracteriza infindável número de abordagens, esse absurdo persistirá. Infelizmente alguns PMs acham que são donos do mundo por portarem fuzis ostensivos, já por si intimidatórios.

Por sinal, esqueci-me de citar um detalhe além dos desmandos que cometeu aquela patrulha: os seus integrantes, fato que se repete aos milhares no cotidiano, esconderam os crachás que são obrigados a manter colados nas fardas, de tal sorte que meus familiares que foram vítimas de seu arbítrio não puderam identificá-los para usar em provável queixa. É uma atitude que se repete todos os dias sob os olhos dos oficiais superiores da PM.

Ainda sobre o mesmo tema, cheguei só ontem de Santa Catarina e encontrei sobre minha mesa uma mensagem do secretário da Segurança gaúcha, Airton Aloisio Michels:

“Prezado Sant’Ana: sobre tua correta e digna crônica na ZH deste domingo, com legítimo aguardo de minha atenção e do governador (que a tudo sempre acompanha, especialmente na segurança pública), sobre o fato que narras, me permito registrar:

1. Ainda na noite de terça-feira (e não na quarta, mas isso não importa), tomei conhecimento do fato através do comandante da Brigada Militar, o qual me informou dos acontecimentos e, também, das providências apuratórias que o episódio demandava e já por ele determinadas;

2. Asseguro-te (não sem lamentar) que outras denúncias da natureza da que vitimou teus familiares já me foram informadas e a todas temos dado atenção investigatória legal e devida, mas, admito Sant’Ana, que as tenho recebido mais do que devia, pois, de fato, ainda temos uma minoria de policiais militares que não compreenderam que os tempos são outros e, de qualquer sorte, o abuso de autoridade não se justifica em tempo nenhum;

3. Não ‘jogues a toalha’ (e esta é a única discordância com tua coluna), vai em frente, precisamos apurar e punir os maus servidores para o bem da sociedade e, mais ainda, da própria BM.

Finalmente, Sant’Ana, observo que as imperfeições ortográficas deste meu texto se devem ao fato de que, no momento, só tenho acesso a um aparelho desatualizado; ademais, não se trata de uma resposta, ou pedido de publicação ao teu texto, que não comporta contradita, salvo tua eventual desistência, como apontei.

Um abraço (estava assinado) do Airton Aloisio Michels, secretário de Segurança Pública do RS”.


28 de fevereiro de 2013 | N° 17357
L. F. VERISSIMO

Slogans

Durante 15 anos, trabalhei como redator na MPM Propaganda. No fim dos 15 anos, sabia tanto sobre como funciona ou deixa de funcionar a publicidade quanto no meu primeiro dia. Amiúde (sempre quis usar a palavra “amiúde”!), me surpreendia com o resultado de uma campanha publicitária ou de marquetchim. Não entendia como, muitas vezes, boas campanhas não davam resultado enquanto outras, medíocres, tinham efeito imediato. Mas mesmo sem, literalmente, saber o que eu estava fazendo durante os 15 anos, foram 15 anos, alguma coisa eu aprendi.

Aprendi, por exemplo, que o bom slogan publicitário é o que com poucas palavras tem mais de um sentido. Quando eu estava lá, a MPM ganhou a conta da Riocell, uma empresa de celulose que, do outro lado do Guaíba, o rio que não é rio, mandava maus odores sobre Porto Alegre, revoltava a população e provocava críticas ferozes da imprensa.

Dependendo da direção do vento, o cheiro de ovo podre era mesmo insuportável. Para se defender, a Riocell começou a instalar um sistema antifedor – filtros, ou coisa parecida – e contratou a MPM. Para melhorar a sua imagem. Bolamos uma campanha convidando os porto-alegrenses a visitarem a fábrica e descobrirem o que estava sendo feito para acabar com o mau cheiro e ouvir as explicações dos seus técnicos.

O slogan da campanha era “Conheça o outro lado”. O outro lado do Guaíba e os argumentos contra os ataques que a Riocell sofria, o outro lado da questão. Hein? Hein? Está bem, não era genial. Mas funcionou.

Se alguém me pedisse (ninguém pediu) um exemplo perfeito do duplo sentido que vende, eu responderia sem hesitar: o nome do xampu anticaspa Head and Shoulders, ou “cabeça e ombros”.

Como sabe quem tem, a caspa não é um problema só dos cabelos, é também dos ombros, quando se está vestindo roupa escura. E em inglês, quando se quer dizer que alguma coisa é muito superior a outras, se diz que está cabeça e ombros acima das outras, “head and shoulders”. O xampu vende sua eficiência contra a caspa nos cabelos e nos ombros e ao mesmo tempo a sua superioridade sobre as outras marcas, com um sutil autoelogio.

Isto tudo é para comentar o slogan – se é que é um slogan para durar e não uma frase de ocasião – do PT, “O fim da miséria é apenas um começo”. Não sei se o slogan acabará como exemplo de propaganda enganosa ou se a realidade vai confirmá-lo, mas de um ponto de vista puramente publicitário é ótimo.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013



Sempre te encontro em tudo o
que penso, sonho e faço...
Assim permaneço fiel ao que de mais puro
domina o coração.
Um amor genuíno e forte,
Um amor sereno e cheio de graça
e que de tão imenso,
de tão intenso e feliz no sentir,
o permito ser inteiramente teu...

(Cida Luz)


Eu senti a morte de toda solidão vivente em mim
Quando afrontei o amor latejando por tua vida...
Eu senti um te amar inteiro, absoluto e todo meu.
Eu vi-me entregue em uma doação singela de tudo o
Que sempre preservei para não me machucar...
Eu me despi para ti... Nua em alma,
Em coração, em corpo e em qualquer vestígio meu
Que ainda não te ofertei.

(Cida Luz)




Para sempre

Amor cúmplice, amor infinito,
agarrado a almas que se beijam ao som do coração.
Sentimentos expostos na delicadeza da sinceridade
em olhares apaixonados e presos ao liame
de uma paz bonita...
Certezas infindas de uma eternidade amante fazendo
Cintilar a entrega inteira de uma vida em outra vida.
Amor bem vindo, sagrado, amado...
Promessas divididas no afã de um querer sem limites,
No prazer de se sentir, de se doar e de muito amar...
Amor para sempre... O meu... O seu...
O nosso amor.


(Cida Luz)


27 de fevereiro de 2013 | N° 17356
MARTHA MEDEIROS

Infiltrações

“Aqui tudo parece que é ainda construção, e já é ruína”.

Conversava com um amigo sobre o vexame que foi a abertura daquele buraco no conduto Álvares Chaves na semana passada, durante um dos temporais mais enérgicos ocorridos em Porto Alegre, e nos veio à lembrança essa parte da letra da música Fora da Ordem, do Caetano Veloso.

Não é o caso de tratar desse assunto isoladamente (por mais absurdo que seja o fato de um investimento tão alto numa obra de drenagem resistir apenas quatro anos), mas de analisarmos o contexto todo: vivemos num país maquiado, em que se as coisas “parecerem” benfeitas, já está ótimo.

A Arena também serviria como exemplo de uma obra entregue às pressas para cumprir calendário, mesmo sem condições básicas de uso. Mas também não pode ser visto como um caso isolado. Há outras tantas em andamento, todas com prazo máximo de 15 meses para serem concluídas (até o início da Copa), e me pergunto: o corre-corre não comprometerá o bom acabamento de viadutos, pontes, prédios e estradas?

Com a intenção de viabilizar orçamentos, não se estará sacrificando a qualidade do material empregado? Os funcionários em atividade estão bem preparados ou fazem um serviço matado, a toque de caixa? Dá pra confiar na espinha dorsal do Brasil?

Há que se ter cuidado com infiltrações. De todos os tipos, aliás. Com a infiltração de inconsequentes em meio a uma torcida, capazes de disparar um artefato com poder destrutivo em direção a outras pessoas, sem levar em conta que o gesto poderá ferir gravemente alguém ou até mesmo matar – como matou o garoto boliviano de 14 anos.

Com a infiltração de médicos e enfermeiros sem ética dentro de hospitais, que desligam aparelhos que mantêm vivos os pacientes, a fim de “desentulhar a UTI”. Com a infiltração de políticos desonestos nas entranhas do poder, que mesmo acusados por crimes diversos assumem cargos de presidência de instituições.

Por fora, bela viola. O Brasil hoje é visto como um país moderno e estável. É uma aposta mundial considerada certeira, um candidato VIP a juntar-se às superpotências. Mas como andará o esqueleto desse país que se declara tão sólido? Na verdade, o Brasil é um jovem com osteoporose precoce, um país descalcificado, que fica em pé à custa de aparências, comprometido com sua imagem pública, mas que segue com uma infraestrutura em frangalhos.

Aqui pouco se investe seriamente em educação, em treinamento de pessoal, em qualificação de mão de obra, em fiscalização, em responsabilidade social, tudo o que alicerça de fato uma nação. Nossa mentalidade “espertinha” faz com que não gastemos muito dinheiro com o que fica oculto, com o que não dá para exibir. O resultado? Por dentro, pão bolorento. 


27 de fevereiro de 2013 | N° 17356
UMA RARA OCASIÃO

Vivendo a despedida de um papa

Enquanto outros pontífices saíram da Santa Sé apenas após deixar a vida, Bento XVI terá a oportunidade, hoje, de dar adeus
Despedida. Essa é a palavra que intriga católicos, jornalistas, padres, cardeais, fiéis e infiéis. Por quê? Porque papa não se despede.

– Papa apenas morre – disse ontem um padre brasileiro, em Roma.

Ou, no máximo, sofre um atentado, agoniza em público e... morre. Como João Paulo II. Mas não, papa não se despede.

É essa situação inusitada – a despedida de um papa vivo – que Roma e o mundo viverão hoje, a partir das 10h (6h em Brasília). Quando o pastor de branco, ungido para ser o 265º sucessor de Pedro, aparecer na praça do Vaticano, esse sopro de inquietação vai cortar, com o vento do inverno romano, centenas de milhares de pessoas ao longo da Via della Conciliazione. É uma inquietação travestida de espanto. Surpresa como a que tomou até o arcebispo emérito de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, um dos cardeais que elegerão o sucessor de Bento XVI.

– O Papa está que não se aguenta fisicamente – confidenciou ontem, em entrevista a ZH, em seus aposentos no Colégio Pio-brasileiro, em Roma.

Na versão oficial, o Sumo Pontífice está o cansado – o peso dos 85 anos, a hipertensão, o marca-passo.

– Mas, da cruz, não se desce – alertou, com veemência, dias atrás, o cardeal polonês Stanislaw Dziwisz, secretário particular de João Paulo II.

Se o seu antecessor padeceu na cruz até o último suspiro, por que Joseph Raztinger descerá dela? Seriam motivos os escândalos que transformaram pastores de Cristo em lobos capazes de abusar de crianças? Ou a corrupção nas entranhas do clero? São perguntas que vão pairar nas mentes das 200 mil pessoas que deverão se despedir, na Praça de São Pedro, hoje, pela primeira vez em 598 anos, de seu papa.

O último que desceu da cruz foi Gregório XII, no século 15, para encerrar o cisma do Ocidente, quando a Igreja teve dois papas. Por iniciativa própria, livre de pressões, o mais recente foi Celestino V, em dezembro de 1294.

Desde que foi eleito, em 2005, Ratzinger se colocou como “um humilde operário da vinha do senhor”. Não foi peregrino como o antecessor. Fechou-se na Cúria Romana, acusam alguns. Mais cerebral do que espetaculoso.

O fato é que Bento XVI abre um precedente que põe em xeque o futuro da Igreja em questões como a infalibilidade do papa e até a própria sucessão .

RODRIGO LOPES | ENVIADO ESPECIAL/CIDADE DO VATICANO

Próximos passos

A um dia da renúncia, o Papa se prepara para se retirar em oração e estudos. Será “papa emérito”. Leia o que virá agora:
- Após duas semanas, o Vaticano indicou ontem o próximo título de Joseph Ratzinger: “Sua Santidade Bento XVI, Papa Emérito”.
- O Papa se prepara para a audiência-geral de hoje, seu último encontro com os fiéis. Também organizará seus papéis nos cômodos que irá deixar. Vai separar os documentos sobre o papado dos pessoais.
- Para a última audiência, 50 mil ingressos foram reservados, sem mencionar a multidão na Praça São Pedro.
- Ratzinger fará um passeio mais longo que o habitual no papamóvel.
- Seu secretário, Georg Gänswein, lerá mensagens de todo o mundo.
- Em seguida, haverá audiência na Sala Clementina para pessoas como o presidente eslovaco Ivan Gasparovic.
- O Papa concluirá suas tarefas amanhã às 19h locais (16h de Brasília).
- Bento XVI, após a renúncia, vestirá uma batina branca papal diferente da utilizada pelos papas. Não usará sapatos vermelhos, mas marrons.
- Na manhã seguinte, o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, fará discurso de despedida, e cada cardeal se despedirá separadamente.
- No mesmo dia, Sodano enviará convites aos cardeais para as “congregações” prévias ao conclave. Devem começar depois de segunda-feira.
- O Papa irá para o heliporto do Vaticano às 16h. Viajará a Castel Gandolfo, 25 quilômetros ao sul de Roma, residência de verão do Papa, onde passará dois meses, antes de ir viver em um mosteiro no Monte do Vaticano.
- Chegará à residência de verão e, da varanda, saudará os fiéis: será sua última aparição como chefe da Igreja.
- Às 20h, a Guarda Suíça encerrará o serviço reservado ao Papa. A polícia fará a segurança do Papa Emérito.
- O conclave será iniciado a qualquer momento, antes do dia 15 de março.
- O novo papa será escolhido até a Páscoa, em 31 de março.


27 de fevereiro de 2013 | N° 17356
SANTA MARIA, 27/01/2013

A tragédia um mês depois

No dia 27 de janeiro, os brasileiros acordaram sob o impacto do incêndio que atingiu a boate Kiss, em Santa Maria, asfixiando dezenas de frequentadores. A contagem chegaria a 239 mortos.

Hoje se completa um mês, e continua difícil de acreditar.

A lembrança das vítimas ainda comove, os exemplos de abnegação e heroísmo seguem colhendo aplausos, os atos de negligência que levaram à tragédia chocam cada vez mais. Neste caderno, Zero Hora revisita essas experiências por meio de histórias, personagens e detalhes inéditos.

Se as emoções geradas pela tragédia persistem, há algo que começa a provocar uma mudança no país. A sociedade não aceita mais que a irresponsabilidade, o descaso e a improvisão ceifem vidas e fiquem impunes. E cobra uma investigação minuciosa sobre as causas e a responsabilização dos culpados. Ainda que a dor seja permanente, Santa Maria deixou esse legado.


27 de fevereiro de 2013 | N° 17356
BOLA DIVIDIDA | LUIZ ZINI PIRES

Um clube na contramão

Os jogadores do Atlético-PR não falam com a imprensa?

Isaias Bessa – Não, nada, nem uma palavra. A proibição partiu do presidente do clube, Mário Celso Petraglia. Os jogadores não dão mais entrevista antes ou depois dos jogos. Não existe mais coletivas. A imprensa nem entra mais no CT do clube.

Qual a razão?

Bessa – Não sei, ninguém sabe ao certo. O Petraglia se julga maior do que Deus. Ele deseja controlar tudo. A TV não exibe os jogos disputados em Curitiba, mas as rádios podem transmitir nos estádios. Só que não há entrevistas. Ninguém fala. A torcida está revoltada. Não sabe mais o que acontece no Atlético-PR. O Paulo Baier pediu desculpas por não ter falado com os repórteres em uma festa beneficente na nossa capital. Imagina, nem nas festas os jogadores podem falar livremente.

O que a ACEP pretende fazer?

Bessa – Agora, vamos entrar na Justiça. Eu sei que o Petraglia liberou os jogadores para dar entrevistas em uma rádio comunitária local. Mas não está certo usar apenas um microfone. Ela já havia criado uma rádio do clube, que funciona na internet. Vamos buscar nossos direitos.

Radicalizou?

Bessa – Ele (Petraglia) proibiu um repórter de uma rádio paranaense de entrar nos estádios em jogos do Atlético-PR. Fomos à Justiça. Ganhamos. Caso o clube impeça a sua presença, deverá pagar uma multa de R$ 50 mil. Só que o profissional, que era setorista do Atlético-PR, hoje cobre o Coritiba. Ficou uma situação desconfortável para todos.

Mas a construção da Arena da Baixada (foto acima) vai bem?

Bessa – Vai mal, muito mal. Dos 12 estádios da Copa de 2014, é o mais atrasado. O clube se endividou. Guindastes foram retirados do estádio por falta de pagamento. Olha, Curitiba pode perder as partidas do Mundial. O risco é sério.

Visita oficial

Francisco Novelletto e Luciano Hocsman, da FGF, foram recebidos pelo vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, no Rio. Os dois dirigentes gaúchos queriam saber mais detalhes sobre a partida entre Brasil e França, dia 9 de junho, na Arena.

Ouviram que tudo será definido no mês que vem, mas o amistoso está confirmado. Agora aguardam uma visita do presidente José Maria Marin a Porto Alegre.

Novelletto e Hoscsman voltaram impressionados com a confiança que a dupla Marin e Del Nero deposita no trabalho de Luiz Felipe Scolari na Seleção.

Sorteio duplo
A FGF define amanhã os nomes dos árbitros que atuarão nos dois jogos das semifinais da Taça Piratini, o primeiro turno do Gauchão. O departamento de arbitragem deseja ver os mais experientes em ação. Pensa sortear ao mesmo tempo o juiz da final, dia 10. Um dos nomes certos é Leandro Vuaden (Fifa), que dirige hoje, no Equador, Barcelona, de Guayaquil, e Boca Juniors, pela Libertadores.

Espionagem
Quando era técnico do Barcelona (2008/2012), Pep Guardiola contratou uma agência de detetives para seguir jogadores fãs de festas noturnas, como Piqué (com Shakira), Ronaldinho, Deco e Eto’o.


27 de fevereiro de 2013 | N° 17356
PAULO SANT’ANA

Um arranjo primário

O caso da morte de um menino de 14 anos no jogo do Corinthians na Bolívia continua dando pano para manga.

Estão presos na Bolívia 12 torcedores do Corinthians, as autoridades bolivianas supõem que entre eles esteja quem disparou o sinalizador que causou a morte do garoto.

Nunca pensei que um sinalizador luminoso desses pudesse ter tal ação mortífera. Mas teve.

A questão é que agora um menor brasileiro, com 17 anos, se apresenta como autor do disparo. E se apresenta aqui no Brasil, confessando que foi ele quem atirou o sinalizador assassino.

As autoridades bolivianas, penso, não vão cair nessa balela. Mesmo que esse menor confesso esteja falando a verdade, todas as tintas dessa confissão parecem ter cores falsas.

A começar pelo fato de que o menor confesso é inimputável, isto é, não pode ser atingido pela lei penal, que aqui no Brasil só pune quem for maior de 18 anos.

Ora, seria muito fácil para qualquer advogado arranjar uma pessoa que se autoacusasse, ainda mais uma pessoa inimputável. Muito fácil, visando inocentar os 12 presos corintianos que mofam por enquanto nos xadrezes bolivianos.

Tudo tem a aparência de uma esparrela. Talvez quem arranjou esse novo culpado não tenha calculado que na Bolívia a maioridade penal começa aos 16 anos, o que viria a atingir o autor confesso arranjado.

Ainda assim, é de todo impensável que o Brasil extraditasse o menor para responder a processo na Bolívia. O Corinthians já foi punido pelo fato, jogará todas as partidas pela Libertadores, no Brasil, com os portões fechados, isso no campo esportivo.

Mas quem pagará pela morte lamentável da criança boliviana? Como sempre, é muito difícil elaborar a Justiça.

Os métodos de Justiça empregados pelos humanos muitas vezes são precários. Nesse caso, tudo se encaminha para a não solução.

Ou para a injustiça.

Tudo porque engendraram uma maneira de libertar os corintianos que estão presos lá, mas não dão nada, nada, em troca.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


Richard Abel  - Les enfants qui s'aiment

Richard Abel-Sleep Well My Angel

Richard Abel - Dr Živago

Richard Abel - Le visage de nos etes


26 de fevereiro de 2013 | N° 17355
FABRÍCIO CARPINEJAR

Bendita

Palavra tem sentimento, muda o destino do casal. Um termo errado nos precipita ao desterro, o termo certo nos conduz ao paraíso. Falar não é um detalhe para as mulheres que nasceram para ouvir. É trocar um adjetivo, que renovamos o alvará do amor. Não podemos, homens, nos dar ao luxo da preguiça. A sedução é trabalho diário e incansável. Cultive o dicionário, colecione vocábulos, sente na gramática.

Não diga que ela é autoritária, diga que ela é uma liderança.

Não diga que ela é indiscreta, diga que ela é curiosa.

Não diga que ela mente, diga que ela possui uma imaginação poderosa.

Não diga que ela é estourada, diga que ela é corajosa.

Não diga que ela é atrapalhada, diga que ela é perfeccionista.

Não diga que ela é irritante, diga que ela é persistente.

Não diga que ela é consumista, diga que ela sabe escolher.

Não diga que ela é manipuladora, diga que ela é decidida.

Não diga que ela é dramática, diga que ela é emotiva.

Não diga que ela é vulgar, diga que ela ama a simplicidade.

Não diga que ela é imprudente, diga que ela é ousada.

Não diga que ela é ciumenta, diga que ela é interessada.

Não diga que ela é medrosa, diga que ela é sensível.

Não diga que ela cozinha mal, diga que sua comida é rústica.

Não diga que ela exagerou ao cortar o cabelo, diga que ela transpira independência.

Não diga que ela grita, diga que todos precisam ouvi-la.

Não diga que ela é agressiva, diga que ela é lutadora.

Não diga que ela é orgulhosa, diga que ela tem personalidade.

Não diga que ela é possessiva, diga que ela é cuidadosa.

Não diga que ela é mimada, diga que ela é uma princesa.

Não diga que ela não tem razão, diga que sua opinião é importante.

Não diga que ela sempre se atrasa, diga que admira sua calma.

Não diga que ela é confusa, diga que ela é misteriosa.

Não diga que ela é ambiciosa, diga que ela é sonhadora.

Não diga que ela entendeu errado, diga que você explicou muito rápido.

Não diga que ela é fofoqueira, diga que ela é bem informada.

Não diga que ela é obcecada, diga que ela não desiste.

Não diga que ela é maníaca, diga que ela é organizada.

Não diga que ela é gorda, nem tente encontrar um sinônimo, apenas não diga.


26 de fevereiro de 2013 | N° 17355
LUÍS AUGUSTO FISCHER

A causa do blogueira

Não tenho muito a acrescentar ao debate sobre a visita de Yoani Sánchez ao Brasil: sou cem por cento a favor de ela viajar, se manifestar, dar entrevista, escrever o que bem lhe parecer, direitos que eu exerço com gosto e que desejo seja partilhado por toda a humanidade; sou também a favor do direito de expressão dos que não vão com a cara dela, seja por que motivo for, mas é claro que não subscrevo a visão antidemocrática que preferiria que ela não pudesse dizer o que diz sobre o regime cubano, que cerceia liberdades fundamentais. Igualmente, lamento muito que Cuba não tenha sabido combinar avanços sociais importantes (saúde, esporte, educação) com liberdades democráticas.

Yoani nasceu em 1975 e ganhou este nome começado por “y”, como milhares, talvez milhões em sua geração; daí o blog chamar-se “Geração Y”. Fiquei pensando que o equivalente brasileiro seria talvez “Geração Éli”, ou “L”, tantas são as micheli, gabrieli, adrieli, francieli e similares, algumas dobrando o “l” e metendo também um “y” quando dá, tudo para tornar elegante e futuroso o nome, na opinião de quem acha isso elegante e futuroso, é claro.

Estatística que li certa vez dá conta de que o nome que mais aparece para homens no Rio Grande do Sul, para os nascidos nos anos 50 e 60, é Luís – o que poderia ter dado um “geração Luís”, se houvesse blogue naqueles tempos. Vindo ao mundo no auspicioso ano de 1958 (bossa nova e primeira Copa do Mundo para o Brasil, por exemplo), eu era menino quando a ditadura se instalou; cresci e comecei a me dar conta do mundo na virada dos anos 60 para os 70, e na adolescência tive minha chance histórica de militar contra a opressão política e as extremas desigualdades sociais brasileiras. E foi legal, pode crer.

O que é que foi legal? Algo parecido, em escala diversa, ao que acontece com Yoani e com os jovens brasileiros que a apuparam: a escolha de um inimigo para combater. Para a blogueira, é o regime de seu país; para os vaiadores, é ela, que expõe as fragilidades de sua utopia política, que prevê censura, ao que se percebe; para mim era a ditadura militar.

Ter o que atacar, nos ardores da juventude, é ter ar para os pulmões; ter um inimigo nítido ajuda muito mais. Como é isso para os atuais adolescentes? E como será a coisa para a geração da minha Dora, com seus três anos recém-feitos, e do meu Benjamim, que começou ontem seu primeiro ano escolar?