terça-feira, 5 de novembro de 2024



05 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

Uma mulher presidente dos EUA?

Só nas séries era possível ver uma mulher presidente dos Estados Unidos.

Em Commander in Chief, de 2006, Mackenzie Allen, interpretada por Geena Davis, emerge ao poder devido à morte do presidente Teddy Bridges.

Em Veep, de 2012, Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus), senadora de Maryland, tenta ser indicada por seu partido para concorrer à presidência, mas não ganha a nomeação e termina sendo vice-presidente. No decorrer do mandato, o presidente renuncia repentinamente em função de problemas de saúde de sua esposa, fazendo com que Meyer assuma o comando.

Na polêmica House of Cards, Claire Underwood, encarnada por Robin Wright, sai da sombra de primeira-dama para, numa manobra do Congresso, suceder o marido, o ex-presidente e ex-congressista Frank Underwood (Kevin Spacey).

O que Kamala Harris tem pela frente não é brincadeira: transformar a ficção em realidade, pondo abaixo a última fronteira da misoginia - a Casa Branca.

Enfrenta o todo-poderoso Donald Trump, um dos homens mais ricos do mundo, intransigente, megalomaníaco, representante de um grupo de outsiders conservadores que se sentem excluídos e decepcionados com a política atual, nostálgicos de uma América forte, xenofóbica e unilateral.

Figura controvertida dos extremos (ou me ame, ou me odeie), Trump renasceu de uma condenação, de processos criminais e de acusações após sobreviver a atentado na campanha, em Butler, Pensilvânia. Com o punho em riste, desafiou a morte: "Lutem, lutem, lutem".

São duas reeleições em jogo, a do Partido Democrata, com a desistência de Joe Biden, e a de Trump, que busca reaver o segundo mandato perdido na eleição passada. Ambos almejam atingir o número mágico de 270 de um total de 538 delegados, que assegura matematicamente quem irá ocupar o cargo pelos próximos quatro anos.

Neste tradicional e ufânico dia de hoje, os dados serão lançados. Desde 1845, a votação se desenrola na primeira terça-feira depois da primeira segunda-feira de novembro. Numa disputa acirrada, em que os dois se declaram favoritos e azarões ao mesmo tempo, existe um misterioso empate técnico nas pesquisas de intenção de voto.

A igualdade é tamanha na briga voto a voto, que até se cogita algo que jamais aconteceu na história americana, um lendário placar de 269 a 269, com o voto de minerva ficando para o Congresso.

Kamala pode vingar a derrota de Hillary Clinton para Donald Trump em 2016. Apesar de a candidata democrata e ex-secretária de Estado ter recebido 65,8 milhões de votos na ocasião, quase 3 milhões a mais do que Trump, pelo sistema eleitoral indireto dos EUA, Trump derrotou Hillary com 56,5% dos delegados (276) contra 42,2% dela (218).

Filha de uma cientista indiana e de um professor universitário jamaicano, Kamala ascendeu de uma família de imigrantes para ser eleita, em 2010, a primeira procuradora-geral negra da Califórnia, sua terra natal, e a primeira senadora negra pelo mesmo Estado em 2016.

O desafio que tem agora é maior do que aquilo que já fez no controle da criminalidade em São Francisco, que resultou num aumento das condenações na cidade e num programa inédito que incentivou traficantes a abandonarem a atuação nas ruas e retornarem à sala de aula, a partir de uma reabilitação pelo ensino.

Na sua agenda presidencial, carrega a bandeira de "uma economia de oportunidade", que se concentra no fortalecimento das classes média e de baixa renda, e na redução dos custos abusivos dos medicamentos e dos alimentos.

Todos os olhos estão nos sete decisivos Estados-pêndulos: Arizona (11 delegados), Carolina do Norte (16 delegados), Geórgia (16 delegados), Michigan (15 delegados), Nevada (6 delegados), Pensilvânia (19 delegados) e Wisconsin (10 delegados).

Ninguém vai dormir, para acompanhar a apuração e maratonar a série da vida real. 


05 de Novembro de 2024
NÍLSON SOUZA

O general verde

Numa calçada do bairro Azenha, observo o movimento dos adolescentes que saem da escola e tomam o caminho do shopping. Passa lentamente um ciclista na direção da Redenção, escoltando um garotinho de seis ou sete anos, também ele na sua pequena bicicleta. Ouço o menino perguntar:

- Pai, quem é aquele homem no cavalo?

O pai olha rapidamente para o monumento no canteiro central da avenida e responde: - É o Bento, da Guerra dos Farrapos.

Penso que o menino vai perguntar algo sobre a batalha que dividiu os gaúchos, mas sua curiosidade é outra: - E por que ele é verde? Rápido no gatilho das palavras, o paizão aproveita a oportunidade para repassar uma lição de casa:

- Porque ele não toma banho!

E seguem adiante. Resolvo, então, olhar com mais atenção para um dos principais monumentos da Capital. Ele não ficou ilhado como o Laçador nem teve os pés molhados como os poetas da Praça da Alfândega, mas a água das chuvas e o dióxido de carbono emitido pelos veículos que circulam no entorno deixaram o general e sua montaria mais verdes do que o incrível Hulk nos seus momentos de fúria. 

É mesmo duro ser estátua, como cantou Erasmo Carlos. Mas os atuais inimigos do militar não são os pombos da canção. Ele sobreviveu a batalhas, a duelos e ao encarceramento, mas está sendo derrotado pelo "verdete", que é como os portugueses chamam a oxidação do bronze.

Sei que outros monumentos da cidade também estão cobertos de zinabre. O próprio marechal Osório, no coração da Feira do Livro, já se confunde com a vegetação quando observado do alto. Mas a situação de Bento Gonçalves parece pior, pois seu pedestal também está degradado - não pela umidade ou pela descarga dos veículos, mas sim por vândalos e pichadores. Porém, o que mais chama a atenção mesmo é aquela ferrugem verde.

Já li que qualquer objeto de bronze recupera sua cor original, que é um marrom alaranjado puxando para o vermelho, quando devidamente lavado com água morna, suco de limão e bicarbonato. Também não ignoro que os monumentos da cidade são limpos periodicamente pelo setor especializado da prefeitura municipal. Mas o pai do garotinho da bicicleta tem razão: o general está precisando de um novo banho. _

NÍLSON SOUZA

EDITORIAL

Combate incansável e abrangente

A redução nos principais números da criminalidade no Estado desde a segunda metade da década passada não significa que a batalha contra a delinquência organizada está vencida. A alta frequência de operações policiais voltadas a dissolver esquemas e prender membros de facções mostra que o combate a esses grupos não tem trégua por parte das forças de segurança, mas ao mesmo tempo expõe a diversificação da atuação dessas quadrilhas e uma significativa capacidade de se reestruturarem. 

Apertar o cerco em várias frentes, do policiamento ostensivo ao trabalho de inteligência, passando por uma política penal efetiva, é essencial para o êxito nessa luta. É preciso acabar com a sensação de que se está enxugando gelo na repressão às facções.

Um ponto que sempre desperta indignação é o fato de lideranças condenadas e mantidas em casas prisionais continuarem recebendo informações e enviando ordens para os seus comandados nas ruas, com grande facilidade. Neste sentido, vai na direção correta a iniciativa apresentada ontem pelo governo gaúcho, em cooperação com o Judiciário e o Ministério Público (MP), para isolar lideranças criminosas na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Espera-se que o programa consiga ser implementado de acordo com o planejado e produza os resultados esperados, em especial a redução de homicídios que ocorrem devido à guerra entre grupos rivais.

O isolamento será feito em um módulo construído na Pasc, ao custo de R$ 30 milhões, onde funcionará um regime diferenciado de prisão. São 76 vagas, em celas individuais, com bloqueio de sinal de celular, mais revistas e visitas íntimas restringidas. A segregação no próprio Estado também evita um problema notado com o envio de lideranças para presídios federais em outras unidades da federação. Essas chefias estavam se articulando com facções de outras regiões.

Para a iniciativa ser bem-sucedida, obviamente é preciso uma colaboração institucional, a observância da legislação penal e a busca por fechar brechas legais que beneficiem os criminosos. Será fundamental a instalação da 3ª Vara de Execuções Criminais (3ª VEC), prevista para entrar em funcionamento no próximo dia 29. Passará a controlar a execução de penas dos condenados em definitivo e dos provisórios presos na Pasc. Terá ainda responsabilidade de manter uma visão mais ampla sobre a criminalidade no Estado. Outra medida relevante, prometida pela Secretaria Estadual da Saúde, é ampliar o atendimento no sistema carcerário, inclusive na média complexidade. Isso dificulta que presos busquem a prisão domiciliar alegando problemas de saúde. Há o registro de vários casos de fugas após a obtenção do benefício previsto em lei.

Além do regime diferenciado de prisão, o governo gaúcho anunciou outras medidas para sufocar as facções. Uma delas é estender um protocolo adotado na Capital para todo o Estado, com a ampliação do policiamento em áreas com assassinato vinculado à disputa entre quadrilhas e a busca por responsabilizar as lideranças. São ações complementares a outras estratégias como o estrangulamento financeiro dos grupos e a detecção de lavagem de dinheiro. O combate às facções, para ser exitoso, tem de ser incansável e abrangente.  



05 de Novembro de 2024 
SEGURANÇA PÚBLICA - Leticia Mendes

SEGURANÇA PÚBLICA

Plano contra homicídios adotado na Capital será ampliado para o Interior

Protocolo já empregado há dois anos em Porto Alegre consiste em medidas que atinjam as organizações criminosas sempre após ordenarem uma execução, tais como o reforço da presença policial na área em que houve a morte. Outra providência é o isolamento dos líderes desses grupos nos presídios

O governo do Estado vai estender a todo Rio Grande do Sul o protocolo aplicado nos últimos dois anos em Porto Alegre para a redução de homicídios. Um termo de cooperação assinado ontem no Palácio Piratini é um dos passos para marcar a adoção da estratégia. O foco é endurecer as medidas contra o crime organizado quando acontecem execuções.

A estratégia prevê uma sequência de medidas, como a saturação de áreas com policiamento sempre que houver um assassinato ligado a disputas entre facções e a responsabilização das lideranças. A medida mais severa é o isolamento dos líderes que ordenarem mortes.

- Todo grupo criminoso que determinar homicídios vai para a lista de prioridades das investigações. E vamos vir com várias ações: asfixia financeira, prisão da liderança e do segundo escalão, combate à lavagem de dinheiro. Esse grupo vai sofrer as consequências - afirma o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron.

O governador Eduardo Leite destacou a queda nos indicadores de crimes no RS, mas reconheceu que é preciso avançar:

- Nesses últimos anos, empregamos uma estratégia de segurança pública coerente, baseada em evidências. A gente tem conseguido reduzir fortemente os indicadores. Estamos dando um passo importante num momento que não é de crise.

Mandantes incomunicáveis

Para isolar os líderes do crime será usado um módulo construído, ao custo de R$ 30 milhões, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

- Na Pasc, temos um módulo, com 76 celas individuais. Com pátio individual, com investimento em bloqueadores de celular. Tudo para impossibilitar que as grandes lideranças possam, de dentro dos presídios, comandar o crime organizado - detalha o secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Luiz Henrique Viana.

Um dos intuitos ao manter os presos isolados, mas dentro do Estado, é evitar que lideranças estabeleçam novas conexões com grupos criminosos de fora do RS, criando ramificações.

- Envios de presos para o sistema federal serão excepcionais e estudados caso a caso - afirma Caron.

Saúde nas prisões

A secretária de Saúde, Arita Bergmann, disse que serão ampliados os atendimentos de saúde no sistema prisional, para evitar que presos precisem deixar as unidades para receber tratamentos. Esse, muitas vezes, é um dos motivos que leva detentos a ganhar direito à prisão domiciliar.

- Hoje estamos aqui porque a saúde cuida da atenção primária, já instalada devidamente, e cuida da área hospitalar. Há um vazio que é atenção especializada de média complexidade. Criamos um ambulatório especializado, com atendimento de médicos especialistas que irão para dentro do presídio para consultas - afirma Arita. 



05 de Novembro de 2024
INFORME ESPECIAL  - Rodrigo Lopes

Fantasmas do 6 de Janeiro assombram a América

Ganhe quem ganhar hoje nos Estados Unidos, a história estará sendo escrita. Se Kamala Harris vencer, será a primeira mulher a chegar à presidência. Se o eleito for Donald Trump, será a segunda vez na longa trajetória política americana em que um presidente consegue um novo mandato após perder a primeira tentativa de reeleição - o único até agora a conseguir essa façanha foi Grover Cleveland, no distante 1892. Sem falar que, se der o republicano, os americanos terão, pela primeira vez, um presidente eleito condenado criminalmente pela Justiça.

Entretanto, não é apenas pela biografia dos contendores que essa eleição é histórica. Há uma conjunção de fatos e características que tornam essa edição única.

Kamala é negra e descendente de imigrantes asiáticos. Trump é a própria encarnação do acrônimo "Wasp" - as iniciais de "branco, anglo saxão e protestante".

Mais: se você acha que o Brasil está dividido ideologicamente, saiba que, por lá, a situação é mais grave: o país está cindido ao meio a ponto de especialistas em relações internacionais não descartarem, em um futuro, a hipótese de uma nova guerra civil.

São duas visões opostas: se Kamala vencer, os EUA viverão a continuidade do governo Joe Biden, com aposta no multilateralismo. Se Trump ganhar, a tática, a exemplo do primeiro mandato, será de maior isolamento. Ela quer o país dentro dos acordos globais do clima. Ele deseja a nação fora.

O país chega ao dia da eleição após uma campanha como poucas vezes se viu: houve a desistência de Biden, então candidato à reeleição, e um atentado que por pouco não tirou a vida de Trump. O 5 de novembro também é um teste para a própria democracia - ironicamente, a mais tradicional do mundo. Será o primeiro pleito desde a vergonha do 6 de janeiro de 2021 e da infame invasão do Capitólio por apoiadores de Trump, que não reconhecia - e nunca reconheceu - a derrota do ano anterior. Sem dúvidas, quando as urnas forem fechadas hoje à noite, fantasmas daquele dia assombrarão a América. _

Últimas pesquisas

The Hill/Emerson

Estados Trump harris

Pensilvânia 49% x 48%

Michigan 48% x 50%

Wisconsin 49% x 49%

Carolina N. 49% x 48%

Georgia 50% x 49%

Arizona 50% x 48%

Nevada 48% x 48%

NY Times/Siena*

Estados Trump harris

Pensilvânia 48% x 48%

Michigan 47% x 47%

Wisconsin 47% x 49%

Carolina N. 46% x 48%

Georgia 47% x 48%

Arizona 49% x 45%

Nevada 46% x 49%

InsiderAdvantage*

Estados Trump harris

Pensilvânia 49% x 48%

Michigan 47% x 47%

Wisconsin 47% x 49%

Carolina N. 49% x 47%

Georgia 49% x 48%

Arizona 49% x 46%

* Pesquisas divulgadas no domingo.

Dia agitado para campanhas e eleitores

Kamala Harris passou o dia na Pensilvânia, onde realizou cinco eventos. A democrata passou por cidades como Scranton, Reading, Allentown e Pittsburgh e encerrou a noite na Filadélfia, onde participou de um evento com artistas como Lady Gaga e Oprah Winfrey.

Já Donald Trump iniciou o dia na Carolina do Norte e também passou pela Pensilvânia, em eventos nas cidades de Reading e Pittsburgh. O encerramento da campanha ocorreu no Grand Rapids, Michigan.

O dia foi intenso também para os eleitores. Em Burnsville, na Carolina do Norte, placas indicavam "vote aqui" em inglês e em espanhol. _

Os horários em que terminam a votação

Já às 21h30min é a vez da Carolina do Norte, um swing state.

Às 22h em outros 17 Estados, incluindo a Pensilvânia. Michigan e Texas também se encerram neste horário. Às 22h30min é a hora do Arkansas e às 23h mais 15 Estados, incluindo Arizona, Michigan e Wisconsin.

Já amanhã, à 0h, o Arizona. Entre 2h e 3h, por fim, encerram as urnas no Havaí e Alasca. _

Lojistas com medo do que pode ocorrer após a eleição

INFORME ESPECIAL

segunda-feira, 4 de novembro de 2024


04 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

Pais intrusos

Por que os filhos adultos não gostam da visita dos pais?

Não tem nada a ver com ingratidão. Ou com falta de saudade. Ou com ausência completa do espírito de acolhimento e hospitalidade. Ou com diferenças de geração. Ou com descomprometimento na família. Ou mesmo com anseio por privacidade.

É que os pais não conseguem não mexer em tudo. São de uma natureza bisbilhoteira. Nasceram para a blitz, para a intromissão, para o controle. Vivem de um lado para o outro da residência, procurando faxina ou problema. Não sossegam se não realizam a inspeção. Conferem se as cortinas estão puídas, se o sofá se encontra manchado, se avulta algum sinal de cupins nos armários e de traças nas roupas. Vistoriam as lâmpadas queimadas, as janelas emperradas, o vencimento dos alimentos na geladeira.

Há dentro deles uma voltagem irrefreável por reforma, por revolução, por golpe de Estado.

Não compreendem ou reconhecem o seu papel de visita. Colocam o parentesco vitalício na frente de sua condição provisória. Há um desejo paterno e materno de ainda mostrar utilidade, de despertar um sentimento antigo de dependência, e não se cansam de tirar os objetos de lugar sob o pretexto de que estão arrumando e ajudando.

Os pais consideram que qualquer ordem distinta das suas métricas é bagunça. Não entendem que os filhos foram criados por eles, mas não são eles, não são suas extensões, e mantêm seus próprios hábitos.

Jamais aceitam que os filhos são independentes e livres da imitação. Continuam enxergando suas crias, já emancipadas, como suas crianças.

Eu, por exemplo, apareci no apartamento do meu filho. Passei uns dias lá. Vi uma caixa na área de serviço, pensei com os meus botões que era lixo e que Vicente estava com preguiça de levar para o subsolo do prédio. Quis fazer a cortesia de despachar.

Estranhei que tinha um baú de acrílico dentro.

- Ué, será que ele não viu que iria jogar fora uma caixa tão boa? Mas concluí que deveria apresentar algum defeito, e que ele deveria estar ciente disso. Respeitei o caráter descartável do amontoado de papelão, e botei o conjunto inteiro na lixeira. Arejei o ambiente daquela tralha.

Quando ele voltou da universidade, questionou: - Você viu a embalagem que deixei na área? Eu sorri, satisfeito com os meus préstimos. - Levei para baixo. 

Ele não pareceu nem um pouco animado com a minha gentileza. - Era um produto que veio errado, e separei para a troca. Em nenhum momento, cheguei perto dessa hipótese. Jamais cogitei que se tratava de uma devolução. Sempre partimos do óbvio e cometemos as nossas maiores mancadas. Gerei um prejuízo gratuito. Ele não tem mais o que trocar.

Antes de agir, antes de promover um favor para os filhos, respire pausadamente, contenha o ímpeto, espere o retorno deles e execute um tira-teima. Pergunte o que significa cada objeto. Ou simplesmente aprenda a existir sem interferir em nada. _

CARPINEJAR


04 de Novembro de 2024
CLAUDIA LAITANO
Dois discos

Em uma casa sem livros, fui alfabetizada pela música popular brasileira. Nas letras das canções, descobri o desejo, o êxtase amoroso, a solidão e a fossa, por exemplo, muito antes de aprender a ligar o sentimento poético às experiências reais, singulares, que viriam anos mais tarde. Fui alfabetizada no sentido literário também, percebendo, na arquitetura perfeita de um verso, o rio de significados que corre dentro de uma única palavra - e como essa correnteza me levava a sentir e a pensar de maneira mais livre e mais bonita ("Uma meta existe para ser um alvo/ Mas quando o poeta diz: Meta/ Pode estar querendo dizer o inatingível"). Alfabetizada ainda no sentido político, porque eram os anos 1970 e 1980, e naqueles dias apenas uma canção poderia dizer, para quem soubesse ouvir, que um "cálice" às vezes é também um "cale-se".

Escrevo pensando em Chico, Caetano, Gil e outros compositores que escrevem e interpretam as próprias canções. Se Chico, Caetano e Gil são como amigos de infância, é porque não consigo lembrar de algum período da minha vida sem a trilha sonora das suas vozes como acompanhamento. Os poetas que não cantam (ou não cantam tanto) nem sempre soam tão familiares. São como amigos por correspondência. Penso em Fernando Brant, Aldir Blanc, Antonio Cicero.

Cicero foi parceiro de Caetano, Gil, João Bosco, Lulu Santos, Adriana Calcanhotto e outros tantos, mas foi a voz de Marina que o colocou no rádio - e na vitrola do meu quarto - na década de 1980. Naquele momento em que tudo era estreia, a poesia de Antonio Cicero fez um país dentro de mim. Ainda hoje, e para sempre, quando ouço Fullgás, tenho 18 anos de novo e estou apaixonada. Por um disco.

Para quem acha que casos de amor à primeira audição só acontecem quando a gente tem 18 anos, proponho um desafio: coloque pra tocar na vitrola (ou na sua plataforma de streaming favorita) o novo disco do Vitor Ramil, Mantra Concreto, com poemas musicados de Paulo Leminski, e me diga se não parece que tudo em volta (e por dentro) ficou maior e mais bonito.

Amanhã, às 20h, vou estar no Sarau Elétrico, no Ocidente (Av. Osvaldo Aranha, 960), com Katia Suman, Luís Augusto Fischer e Diego Grando, falando sobre viagens e também do meu livro novo, Recado dos Dias, lançamento da editora Libretos. Apareçam! _

CLAUDIA LAITANO

Nada deve cair no esquecimento

A grandeza da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul há seis meses, com uma extensão de estragos sem paralelo no país, fez os governos federal e estadual se comprometerem a não poupar recursos para o amparo aos atingidos e às empresas afetadas, para a recomposição da infraestrutura e para fortalecer os sistemas anticheia. A soma de todos os anúncios chega a R$ 114,8 bilhões, contabiliza o Painel da Reconstrução, ferramenta criada pelo Grupo RBS, instrumento referencial para acompanhar o quanto, de fato, já chegou à ponta em cada programa. Deste total, R$ 54,9 bilhões, o equivalente a 47,8%, foram efetivamente desembolsados.

Para a sociedade gaúcha cobrar que toda ajuda prometida se materialize, é determinante saber, no detalhe, o andamento individualizado das ações. Jogar luz sobre a informação pormenorizada facilita a reivindicação para destravar medidas que se mostrem sendo executadas em um ritmo inadequado à urgência atravessada pelo Estado. É uma infeliz tradição da cultura da burocracia do Brasil, a existência de uma distância significativa entre o que é anunciado com estardalhaço e o que é entregue. A passagem do tempo também costuma levar ao descompromisso e ao abrandamento das demandas.

A enormidade da catástrofe do Estado, com a previsão de anos a fio de obras, e o risco da repetição de eventos climáticos extremos impõem manter a vigilância para que nenhuma pessoa física ou jurídica fique sem o respaldo esperado, toda moradia prometida e aguardada seja recebida e cada palmo de estrada destruída reste restabelecido. Nota-se uma desaceleração no ritmo dos repasses. É algo até natural. Em um primeiro momento, logo após o dilúvio e suas consequências imediatas, a ajuda financeira a pessoas físicas e jurídicas tem de ser imediata. Em uma segunda etapa, as obras mais complexas de engenharia, como pontes e diques, exigem estudos aprofundados e projetos que levam mais tempo para serem elaborados.

Mas além das ações estruturantes, de mais longo prazo de maturação, há iniciativas que deveriam ser de pronto apoio aos atingidos e enfrentam entraves sérios. Precisam de uma solução rápida. É gritante o caso do Auxílio Reconstrução, formulado pelo Palácio do Planalto ainda em maio, mês da enchente. Iniciativa meritória, previa o pagamento de R$ 5,1 mil por família diretamente afetada, em parcela única. Trata-se de apoio fundamental em especial para as milhares de famílias de baixa renda atingidas. Até agora, 377 mil foram beneficiadas, com o desembolso de R$ 1,9 bilhão. Ainda assim, existem mais de 330 mil pedidos sem resposta, seis meses após a cheia. É possível que nem todas tenham de fato o direito, mas muitas estão enquadradas e devem ter essa pendência solucionada com a maior celeridade possível.

Reconstruir o Estado será uma tarefa longa. Diante de magnitude da destruição, o suporte do poder público é basilar. Acompanhar e cobrar periodicamente a ajuda prometida é essencial, sem deixar que nada caia no esquecimento. _

Opinião do leitor

OPINIÃO 


04 de Novembro de 2024
ANDRESSA XAVIER

Da Philadelphia, EUA

O que, afinal, são os Estados-pêndulo

Com um sistema bem diferente do que estamos acostumados no Brasil, os Estados Unidos têm o voto indireto. Quer dizer que a população vai às urnas, mas somente indica o seu favorito à presidência.

Quem dá o voto é o Colégio Eleitoral, a partir de seus delegados. Cada Estado tem um peso, que leva em consideração o tamanho da população e o número de representantes no Congresso.

No total, o país tem 538 delegados nos seus 50 Estados. Para ganhar, o candidato à Casa Branca precisa chegar a 270 votos no Colégio Eleitoral.

Há Estados historicamente republicanos e Estados democratas. Nesses casos é jogo jogado. Mas tem sete, dos 50, que podem oscilar, dependendo de vários fatores. Eles são decisivos para a eleição.

Confira abaixo quais são os Estados-pêndulo de 2024, como eles se posicionaram nas duas últimas eleições e o peso de cada um no Colégio Eleitoral. _

Arizona

Em 2020, deu seus votos para os democratas (Joe Biden). Em 2016, ficou com os republicanos (Trump). Tem 11 delegados.

Carolina do Norte

Os 16 votos das últimas eleições foram no Partido Republicano (Trump nas duas vezes).

Geórgia

Votou com os democratas (Biden) em 2020 e, em 2016, com os republicanos (Trump). São 16 delegados.

Wisconsin

Com 10 delegados, votou com os democratas em 2020 (Biden) e com os republicanos em 2016 (Trump).

ANDRESSA XAVIER

04 de Novembro de 2024
POLÍTICA E PODER - Paulo Egídio

Piratini vai reenviar projeto da Agergs

O governador Eduardo Leite vai reenviar à Assembleia Legislativa o projeto que reformula a estrutura da Agergs, agência reguladora estadual responsável por fiscalizar serviços concedidos à iniciativa privada, como energia elétrica, saneamento básico e rodovias. A intenção do Piratini é protocolar o texto em regime de urgência e aprová-lo ainda neste ano.

O governo almeja encaminhar a proposta nesta semana, mas não descarta deixar o ato para a seguinte, visto que ainda trabalha em ajustes na redação. Leite deseja submeter a proposta antes da viagem que fará ao Japão e à China. A chegada a Tóquio está marcada para o dia 17 e o retorno ao Brasil, para o dia 28 de novembro.

Na Assembleia, articuladores governistas trabalham com o dia 14 de novembro como data-limite para o envio do projeto em tempo hábil para cumprir os ritos necessários e chegar ao plenário antes do recesso de final de ano. Líder do governo, o deputado Frederico Antunes (PP) diz que o texto está sendo revisado em conjunto por Casa Civil, Procuradoria-Geral do Estado e Secretaria da Reconstrução.

Segunda tentativa

No mesmo pacote, Piratini encaminhará outros dois projetos de lei para fazer ajustes formais na legislação orçamentária, autorizando a alteração no calendário de pagamento da dívida com a União, que foi suspensa por três anos em razão da enchente, e formalizando o ingresso no caixa de recursos recebidos de outros poderes para enfrentar a calamidade.

A promessa de fortalecer a Agergs é reverberada há um ano e meio por Leite, diante da ampliação na quantidade de concessões nos últimos anos e da estagnação salarial dos funcionários da agência. O compromisso foi reafirmado em janeiro, quando um temporal deixou mais de 1,1 milhão de consumidores sem energia elétrica.

Em julho, o governo chegou a enviar um projeto ao Legislativo durante convocação extraordinária para ampliar o quadro da instituição, mas o retirou para facilitar a aprovação das alterações em carreiras do funcionalismo.

Na época, o texto sofreu críticas de servidores e do comando da agência, por acabar com a diretoria jurídica e delegar a prestação desse serviço à Procuradoria-Geral do Estado. Outra queixa foi de que o reajuste concedido aos funcionários era insuficiente. _

Pedido de recontagem

(Interino)

Derrotado por 1.263 votos no segundo turno em Pelotas, Marciano Perondi (PL) procurou o presidente estadual do partido, Giovani Cherini, para saber se haveria possibilidade de pedir uma recontagem dos votos na cidade.

Cherini não deu esperanças, mas levou o pleito ao PL nacional, sugerindo que, em troca do apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara dos Deputados, o partido negocie a aprovação de um projeto sobre "voto auditável".

No dia da eleição, Perondi parabenizou Fernando Marroni (PT) pela vitória e não contestou o resultado divulgado pela Justiça Eleitoral. _

Paula no secretariado

Após terminar o mandato na prefeitura de Pelotas, a prefeita Paula Mascarenhas irá assumir uma secretaria no governo estadual. Presidente estadual do PSDB, Paula é uma das pessoas mais próximas de Eduardo Leite na vida pública.

O governador diz abertamente que a aliada "já está convidada" para integrar o secretariado, mas não indica qual pasta Paula deverá ocupar. Em contrapartida, a prefeita afirma que tem disposição de integrar o governo. _

Sinais de despedida

O apoio efusivo do deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB) à candidatura de Marciano Perondi (PL) em Pelotas incomodou correligionários, inclusive o governador Eduardo Leite.

Derrotado no primeiro turno, o PSDB ficou neutro no segundo e havia recomendado que os filiados não se engajassem na campanha.

Reservadamente, tucanos admitem que a tendência é a saída de Daniel do partido na janela de 2026, diante do alinhamento à direita na Câmara dos Deputados. _

Camilo credita ao Pé-de-Meia aumento da participação no Enem

O governo Lula comemorou ontem a ampliação do quórum no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), especialmente entre os alunos que estão terminando a formação escolar.

Conforme dados do Ministério da Educação, a participação dos concluintes cresceu em todos os Estados na comparação com 2023 e chegou a 100% dos inscritos em 14. No RS, o índice pulou de 51,1% para 89%.

O ministro da Educação, Camilo Santana, visitou a sala de monitoramento do exame junto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e creditou o aumento das inscrições ao programa Pé-de-Meia, criado no ano passado, que paga um incentivo de R$ 200 mensais aos estudantes. Aqueles que prestam a prova do Enem recebem uma parcela adicional do benefício.

- Vários Estados dobraram o número de alunos inscritos no Enem por conta de o senhor (Lula) ter decidido criar uma das maiores políticas de incentivo à permanência no Ensino Médio - afirmou Camilo.

A criação de um apoio financeiro para evitar a evasão no Ensino Médio foi proposta em 2022 por Simone Tebet (MDB), hoje ministra do Planejamento, e incorporada pela gestão de Lula. _

Reação varejista

Representantes do varejo ficaram decepcionados com a ausência de protagonismo do setor no plano de desenvolvimento lançado pelo governo estadual na semana passada.

Líderes setoriais avaliam que o projeto deveria conceder mais espaço ao segmento, que representa mais de um terço da arrecadação de ICMS.

O presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo, Vilson Noer, chegou a enviar mensagem ao secretário do Desenvolvimento, Ernani Polo, relatando o descontentamento. _

mirante

Mônica Leal (PP) garante que não será beneficiada pelo projeto que aumenta o número de vereadores de Porto Alegre de 35 para 37. Mônica, que ficou na suplência neste ano, apoia a proposta de Cláudio Conceição (União Brasil).

Fernanda Barth (PL), que havia subscrito o projeto de Conceição, retirou a assinatura.

Fernanda Melchionna (PSOL) apresentou na Câmara dos Deputados projeto para regulamentar a profissão de escritor, concebido junto de entidades da classe.

POLÍTICA E PODER

sábado, 2 de novembro de 2024


02 de Novembro de 2024
MARTHA MEDEIROS

Partir com elegância

Não é a primeira vez que escrevo sobre eutanásia, mas o assunto voltou ao debate, inspirado pelo poeta e pelo novo filme de Almodóvar. A morte com data marcada pode ser uma benção. A pessoa fez os outros felizes, contribuiu de alguma forma para a sociedade e, durante o inventário de suas perdas e ganhos, resolve que é hora de partir, sem esticar seu suplício. Nem simples, nem fácil, mas uma escolha legítima.

Claro que não se pode banalizar o assunto e aceitar que adolescentes deprimidos façam o mesmo: a decisão tem que estar lincada a um diagnóstico de doença terminal, sem chance nenhuma de recuperação. Jovens: vivam, sofram e avancem. O tema aqui são os casos irreversíveis, quando só há duas opções: aguentar o total declínio físico e mental, esfacelando a si e à família, ou acelerar o fim de forma dramática e chocante.

A terceira opção seria apagar serenamente, ao lado de um médico e dos afetos mais íntimos, vivenciando a morte com a mesma elegância com que se viveu a vida. Mas não. Fizeram a gente acreditar que a dor enaltece a existência, como se sofrer fosse não apenas normal, mas obrigatório. De fato, a dor nos amadurece, mas não é preciso penar para dar sentido à vida. O portador de uma doença incurável e debilitante, quando cogita o suicídio, é porque chegou a um grau elevado de consciência, entendeu que depois de uma vida bem usufruída, a morte deixa de ser inimiga para se transformar em aliada.

A doença já impedia Antonio Cicero de desfrutar seus prazeres cotidianos. Usou, então, o resto de sua lucidez para tomar uma decisão extrema, assim como nós também decidimos nossas pequenas mortes: divórcios, demissões, emigrações. Encerramos etapas em vida, em troca de outros desafios. Ele optou pelo encerramento absoluto, em troca de nada. O impacto é bem maior, mas ainda compreensível.

Essa crônica não é um empurrão para as trevas, mas para a luz. Um dia, talvez, o país acolha a ideia de uma saída digna diante dos desafios radicais da velhice e desmistifique a morte como vilã. Ela não é vista da mesma maneira por todos, então não sejamos arrogantes diante da escolha de alguém que passa por uma angústia intolerável. Se a vida de cada um merece respeito, a morte de cada um, naturalmente, também. 

MARTHA MEDEIROS

02 de Novembro de 2024
COMPORTAMENTO

COMPORTAMENTO - Um amor escondido

Sinais de alerta. O primeiro passo para identificar se está em um relacionamento pocketing é observar o comportamento do parceiro ou parceira e avaliar se as condições da relação são transparentes e satisfatórias para ambos. Somente o diálogo permitirá entender se a questão pode ou não ser ajustada a contento dos dois, como destaca Andréa Alves:

- Há uma grande diferença entre esconder alguém deliberadamente, com a intenção de enganar, e fazer isso sem ter esse intuito, mesmo que acabe magoando. É importante conversar e identificar com qual situação está lidando. Quando se constata que há um comportamento traiçoeiro, a melhor opção é buscar formas de sair da relação.

Usado para definir laços nos quais um dos envolvidos esconde o parceiro publicamente, o "relacionamento pocketing" se tornou um tema frequente nas redes sociais e nas terapias

A expressão é derivada do inglês pocketing, que, em tradução livre, significa "colocar no bolso". Segundo a psicóloga Desirèe Monteiro Cordeiro, não se trata de uma característica das relações, mas de um traço tóxico.

- É como se a relação fosse um segredo, como se ela só existisse no ambiente privado das pessoas que a compõem. Fora desse ambiente privado, uma das partes não demonstra afeto, não inclui a outra no seu círculo de amigos e não apresenta para a família - exemplifica a profissional.

- Esse conceito está diretamente relacionado a um comportamento que acaba se mostrando tóxico, porque a outra parte não está de acordo. Quando há consenso e os dois decidem manter a relação em segredo, já não se configura mais o pocketing - pondera.

Para Andréa Alves, psicóloga especializada em atendimento a casais, são diversos os fatores que podem levar alguém a praticar esse tipo de relação, desde experiências ruins vividas em relacionamentos anteriores até a preferência pessoal por manter o sigilo.

Entretanto, em muitas das vezes, a motivação vem de um sentimento de vergonha em relação ao outro, em geral, por aspectos como a aparência, o jeito e a classe social. Também pode estar ligado à infidelidade, quando a pessoa esconde a relação porque já tem outro compromisso ou deseja continuar se relacionando com outras.

Independentemente da motivação de quem o executa, o pocketing pode causar prejuízos emocionais a quem é "colocado no bolso", conforme as especialistas.

- Às vezes, quem sofre isso nem percebe que está sendo escondido. Quando a pessoa se dá conta de que está vivendo uma relação assim, a sensação é de menos-valia. Ela vai questionar suas qualidades, questionar sua aparência e achar que o problema é com ela. É algo que pode trazer muitos danos e traumas, sobretudo à autoestima - afirma Desirèe.

- Dentro desse contexto abusivo, muitas vezes a pessoa que sofre o pocketing entende que precisa aceitar essa condição, mesmo que para ela não esteja bom. E aí ela vai tentando achar justificativas para a postura do outro, nutrindo esperanças de que um dia será diferente. Isso acaba gerando muito sofrimento psíquico - completa Andréa. _

Camila Bengo

02 de Novembro de 2024
CARTA DA EDITORA - Donna Beauty Pompéia

Sextou com a elegância fashion das Gu

Encontros com Astrid

As cores dão um toque especial nas produções, mas a sofisticação do preto tem o seu valor. A Alice Bastos Neves e a Kelly Costa investiram em looks Pompéia monocromáticos, que são a definição da elegância fashion.

Novos formatos e padronagens contemporâneas, aliados a elementos de alfaiataria, caracterizam as produções, que podem incorporar uma combinação de texturas e o clássico preto e branco. A consultoria de moda da Pompéia sugere adicionar um toque de criatividade ao visual por meio de aplicações, bordados ou listras, além de peças inteligentes, que transitam por todas as produções.

Encontre as opções nas lojas, no site lojaspompeia.com.br e no app. Quer auxílio para escolher os melhores looks? Conte com o serviço de consultoria de moda gratuito da Pompéia, disponível em todas as lojas, inclusive na Donna Beauty Pompéia, no Pontal Shopping (Av. Padre Cacique, 2.893, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 12h às 20h).

Para a geração de adolescentes e jovens adultos da década de 1990, a MTV era o escape de entretenimento nos moldes do que hoje representam as redes sociais. E Astrid Fontenelle marcava presença como uma das mais importantes apresentadoras do canal, a histórica pioneira dos VJs.

Sou dessa turma. Assim como fui do Happy Hour, já no GNT, e do apaixonante Chegadas e Partidas, em que ela surge como uma emocionada caçadora de histórias que começam (ou terminam) com abraços e beijos - reencontros e despedidas reais no saguão de um aeroporto. O comando de 10 anos do Saia Justa não preciso nem citar, quando a carioca virou praticamente sinônimo do programa.

Isso faz de mim uma fã da Astrid? Com certeza, acho uma das mulheres mais interessantes da televisão brasileira há bons 30 anos. Mas diz muito mais sobre ela, a entrevistada da capa desta semana. Com seu projeto mais recente, Admiráveis Conselheiras, a apresentadora conversa com mulheres 60+ com a desenvoltura de seu lugar no tempo, no espaço e nos sentimentos destas trajetórias. O que é envelhecer no Brasil? O que é envelhecer como mulher no Brasil?

Poderíamos aqui fazer uma análise simplista, porém não incorreta, de que Astrid acerta nos trabalhos porque sabe crescer junto com seu público.Mas prefiro dizer que, melhor ainda, ela ajuda a sua audiência a crescer como pessoas. _

Agendonna - Palestra - Concerto de moda

Na serra gaúcha

Caxias do Sul recebe de 4 a 8 de novembro a terceira edição do Festival Concerto de Moda da Serra Gaúcha (Rua Teixeira Mendes) com desfiles de grandes marcas, além de brechós, palestras, exposições, e muito mais. O evento destaca tendências e provoca reflexões sobre a identidade cultural a partir da moda. A entrada é gratuita mediante retirada antecipada na plataforma Sympla. Veja mais em @concertodemoda.

Força feminina

No dia 7 de novembro, a escritora indiana Nilima Bhat será uma das palestrantes do evento Chama, promovido pela escola de negócios Sonata Brasil, em Porto Alegre. Referência em pesquisas sobre força feminina, Nilima abordará o tema focando em quem exerce cargos de lideranças e como lidar em momentos de crise. O evento será realizado na Casa da Ospa (Av. Borges de Medeiros, 1.501). Mais informações e ingressos em sonatabrasil.com.br/chama.

bazar Na Capital

Para quem deseja renovar o guarda-roupa, a St.Trois irá realizar a segunda edição do Bazar de La Mode, em que reúne uma seleção de peças atemporais da marca gaúcha com até 60% de desconto. O bazar ocorre de 7 a 9 de novembro, das 10h às 18h, na St. Trois Maison (Rua Cel. Bordini, 1.111), no Moinhos de Vento.

Joias poéticas

Parceria

Uma joia inspirada em poesia? Foi o que a joalheira Rô Boff criou ao lado da poeta Claudia Schroeder na coleção Palavra - uma série de peças em diversos metais e pedras, com versos gravados de alguns poemas da escritora. Estão à venda na Aloja (Av. 24 de Outubro, 1.681) e também no Instagram da marca @ro_boff.

CARTA DA EDITORA

02 de Novembro de 2024
60 MAIS

60 MAIS

- Nunca estamos preparados para perder alguém, ainda mais uma pessoa que teve uma vida muito intensa comigo - reflete a psicóloga de 67 anos. - A finitude nos dá consciência de que temos que viver bem o aqui e o agora, fazer o máximo possível, porque amanhã a gente não sabe se vai estar vivo.

A maior dificuldade foi enfrentar questões da vida prática, como papéis e contas a pagar. Tudo que era conversado e dividido por dois passou a ser responsabilidade apenas de Rosangela:

- Tive um sentimento de incapacidade: "Será que vou dar conta?" Isso me forçou a me organizar, a colocar os pés no chão.

No Dia de Finados, cabe destacar que a viuvez e o luto na terceira idade têm peculiaridades. Quem envelhece precisa ir se habituando a um ritmo mais intenso de perdas, e não só de familiares e amigos ao redor. É necessário se despedir do corpo e do rosto jovens, da carreira, dos anos mais produtivos, da mobilidade sem entraves. Para a mulher, a transição para a velhice é ainda mais marcante com a menopausa. Deve-se entender que tudo isso faz parte do ciclo da vida, pontua Ângela Seger, psicoterapeuta de família e de enlutados.

- Não temos controle sobre tudo. Por mais que a gente se prepare, as coisas vão acontecer. Posso cuidar muito da minha saúde e sofrer um acidente. Posso ser muito amorosa com meus filhos e eles irem morar em outro país. Tem coisas que vão acontecer se vivermos até a velhice, coisas que só acontecem com quem chega lá - afirma Ângela, também professora da PUCRS. - O processo de luto nos acompanha: morte de pessoas, animais de estimação. Aprender a lidar com perdas, dar-se conta de que morte e vida são indissociáveis, nos dá uma bagagem. Luto é uma reação natural a uma perda que envolve o emocional, a cognição, o social.

O luto na terceira idade requer mais cuidados e atenção do próprio enlutado e daqueles que o circundam, enfatiza a psicóloga Denise Cápua Corrêa, coordenadora administrativa do Cora - Núcleo de Luto do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (Cefi) de Porto Alegre.

- Um luto dentro do processo de envelhecimento, como a perda do parceiro, é mais complexo. Nossa rede de apoio é um dos fatores que podem facilitar o luto. Muitas vezes, o casal tem uma história de décadas. Em todas as perdas, um pedaço da gente vai junto, um pedaço da nossa história - reflete Denise.

Com a morte de um companheiro, é preciso reposicionar a relação que termina: antes ela era externa, agora terá de ser introjetada:

- Quem era essa pessoa, que tipo de relação eu tinha com ela, que falta ela faz na minha vida? Precisamos de tempo para entender isso, ainda mais se for uma morte abrupta. Há necessidade de adaptação e transformação. Somos uma pessoa antes de perder e outra depois.

O contexto em que o idoso está inserido - fora do mercado de trabalho, com os filhos envolvidos com suas próprias vidas - impacta muito esse processo. Existe o risco de o enlutado ficar muito sozinho. Ângela sugere:

- O suporte pode vir da família, dos amigos, de um grupo de mães, de um grupo de que a pessoa faça parte ou possa vir a fazer, até mesmo um grupo de enlutados.

Para Rosangela, as pessoas com quem cruzou pelo caminho foram fundamentais para dar conta dos compromissos a honrar e também da elaboração da morte do marido. A quem passa por situação semelhante, ela sugere "dar tempo ao tempo":

- É tão banal isso, mas tem que deixar o tempo agir. Quando quer chorar, chora. Quando quer rir, ri. Tenho momentos de risadas, mas, do nada, ouço uma música e desabo a chorar. Tem que deixar fluir os sentimentos, não censurar, ser flexível, baixar a guarda. Seguir a vida. _

60 Mais Larissa Roso

02 de Novembro de 2024
DRAUZIO VARELLA

Saul Newman, demógrafo das Universidades de Londres e de Oxford, conduziu um estudo para analisar a questão da longevidade em cinco localidades, sempre citadas por concentrar o maior número de supercentenários - pessoas com mais de 110 anos: Okinawa, no Japão; Sardenha, na Itália; Icaria, na Grécia; Loma Linda, na Califórnia; e Nicoya, na Costa Rica.

Essas regiões foram classificadas como "zonas azuis", denominação que aumentou o fluxo de turistas e gerou interesses econômicos. Todos querem saber que alimentos consomem seus habitantes, quais são os hábitos cotidianos, que tipo de atividade física realizam e que medicamentos consomem.

O levantamento realizado por Saul Newman chegou a resultados chocantes: a escolha dessas zonas azuis foi baseada em dados epidemiológicos cheios de erros e de vieses estatísticos que jamais poderiam ter sido aceitos pela comunidade científica.

Nos Estados Unidos, por exemplo, no tempo em que os registros de nascimentos e mortes não eram controlados, havia grande número de supercentenários. A obrigatoriedade de certidões de nascimento e atestados de óbito reduziu de 69% a 82% o número deles. Na Itália, França e Inglaterra, em que os registros são mais uniformes, os dados mostraram que a longevidade da população é comprometida pela pobreza, más condições de saúde, renda per capita baixa e criminalidade alta, entre outros fatores socioeconômicos.

Nesses países, apenas 18% dos habitantes considerados supercentenários resistiram à verificação criteriosa das certidões de nascimento e de óbito. Nos Estados Unidos, esse número ficou próximo de zero. Lá, entre 500 pessoas que alegavam ter mais de 110 anos, somente sete tinham certidão de nascimento e apenas 50 possuíam atestado de óbito.

Newman mostrou que cerca de 70% dos centenários na Grécia morreram antes de completar essa idade, mas suas famílias continuavam a receber as aposentadorias. Averiguações recentes do governo revelaram que estão nessa situação mais de 9 mil gregos, supostamente com mais de 100 anos.

O autor analisa com detalhes o caso dos habitantes de Okinawa, talvez o exemplo de longevidade mais citado na literatura, a partir de 2004. A revisão dos dados realizada por órgãos governamentais revelou que Okinawa tem a segunda renda mais baixa do Japão, a maior porcentagem de habitantes com mais de 65 anos vivendo de auxílio da previdência, o segundo salário mínimo mais baixo e os índices mais altos de desemprego de todas as regiões japonesas. Dos cidadãos considerados centenários, 82% estavam mortos havia anos.

Os dados sobre o consumo de vegetais, peixes gordurosos e batata doce, anteriormente usados para justificar a pretensa longevidade da população, continham erros em série. Entre as regiões japonesas, Okinawa tem o menor consumo per capita de frutas, vegetais, batata doce, sardinhas e outros peixes ricos em ômega 3. A ilha ocupa o segundo lugar no consumo de cerveja, o primeiro no de Kentucky Fried Chicken, e os índices de massa corpórea (IMC) dos que estão com mais de 75 anos são mais elevados do país.

Na realidade, Okinawa, Sardenha e Icaria são áreas pobres situadas em países ricos. Apesar de classificadas como zonas azuis, convivem com níveis de escolaridade mais baixos e com piores indicadores de saúde. Aparecem como campeões de longevidade graças a manipulações políticas, vieses estatísticos e fraudes contra a previdência social. Quando Icaria recebeu o selo de zona azul, tinha índices de obesidade mais altos do que os Estados Unidos.

Loma Linda, na Califórnia, e Nicoya, na Costa Rica, se destacavam não pelo número de supercentenários, mas porque a longevidade média da população seria alta. Dados recentes do Center for Diseases Control (CDC), no entanto, demostraram que Loma Linda está distante das cidades americanas com taxas altas de longevidade. Em Nicoya, ocorre fenômeno semelhante: no censo de 2000, apresentou um dos índices de longevidade mais baixos da Costa Rica.

Em entrevista ao jornalista André Biernath, da BBC, Newman afirmou: "Para mim, esses erros eram ignorados porque, em primeiro lugar, há algo muito lucrativo para ser vendido. Em segundo, porque as pessoas querem soluções fáceis para problemas que exigem trabalho árduo". _

Drauzio Varella

02 de Novembro de 2024
J.J. CAMARGO

Quando lhe perguntei se eles tinham razão para não acreditar, ele respondeu sem escolher as palavras: "Sim, doutor, razões para descrença não lhes falta porque eles sabem que eu não gostaria de ter vindo".

Prometi que faria isso desde que me desse uma razão suficientemente boa para justificar que ele, um adulto de aparência normal, tivesse marcado uma consulta com duas semanas de antecedência para encontrar um médico que ele anunciava, com todas as letras, que não tinha intenção de conhecer.

"Eu entendo a sua surpresa, doutor, porque o senhor não conhece a minha família." Foi só então que percebi que ele estava com falta de ar. E relaxei um pouco, por termos entrado num terreno onde transito com naturalidade, há muitos anos.

Com enfisema severo e já tendo esgotado todas as formas de tratamento clínico, ele parecia, de antemão, um candidato considerável para o transplante pulmonar. Mas a sensação de alívio pela perspectiva de ajudar durou pouco.

"Tudo começou quando meus filhos conheceram um paciente transplantado pelo senhor e me fizeram jurar que viria consultá-lo. Como não me empolguei, eles organizaram um encontro com o tal paciente, para que eu visse o que significava voltar a respirar depois de um transplante por enfisema. Por curiosidade, fui. Gostei do entusiasmo do meu companheiro de infortúnio, mas depois de 10 minutos de conversa ficou claro que só a doença, com sua falta de ar, nos assemelhava. 

Quanto mais ele falava do tempo de espera por um doador, dos pesadelos que tivera à espera de um chamado noturno, da preparação com fisioterapia, da semana na UTI e dos cuidados para que seis anos depois estivesse respirando maravilhosamente bem, mais me convencia de que os nossos modelos de felicidade em nada se pareciam."

Com um certo fastio que não conseguiu disfarçar, ele me alcançou uma pilha de exames que seu clínico zeloso o obrigava a realizar todos os anos, provavelmente movido pela sensação de impotência de não ter conseguido convencê-lo a parar de fumar.

A capacidade pulmonar de 19% do previsto era a única e trágica disfunção. Por todo o resto, era um ótimo candidato ao transplante do ponto de vista médico.

Meia hora depois, eu já estava convencido de que ele tinha boas razões para debandar. Todos nós estamos dispostos a lutar pela volta da vida boa que já tivemos. Mas não podemos pretender igual entusiasmo para quem nunca teve. Custei a aceitar que isso existia. Quanto mais paixão temos pela vida, menos entendemos que alguém possa não tê-la.

Diante de um paciente portador de uma situação grave, mas com chance de recuperação, muitas vezes me sinto estimulado a abraçá-lo, numa oferta explícita de parceria. Naquele dia, chocado com a descoberta do quanto era inútil oferecer-lhe ajuda, me dei conta de que a tal parceria era uma alternativa derradeira. 

E o abraço outra vez me pareceu urgente. "Que bom que o senhor entendeu. Agora ligue para os meus filhos e os convença que o transplante não está indicado no meu caso. A pressão deles está me enlouquecendo. E nunca vou ter coragem de admitir que estou desistindo. Não posso deixar essa imagem".

Arrasado, eu prometi que ligaria. _

J.J. CAMARGO

02 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

O filho do fim

Todos os filhos são filhos do início, mas somente um será o filho do fim. O filho que cuidará do pai ou da mãe na velhice. O filho que virá de longe para se oferecer por inteiro.

O filho que largará tudo para estar perto na hora do adeus. O filho que não pensará duas vezes para fazer as malas e se mostrar disponível. O filho que ficará na cabeceira da cama ouvindo com atenção as palavras derradeiras. Não desperdiçará nenhum som, nenhum suspiro, nenhum esboço de riso.

O filho que não se acovardará com a morte iminente porque se ocupará em registrar detalhe por detalhe do apogeu daquela vida. Toda lâmpada brilha mais antes de apagar, toda existência ilumina mais antes de ir embora.

Será o filho gentil, pronto para os extremos da condição humana. O guardião das confissões, que não passará adiante os segredos ditos nos sonhos e nos delírios, que saberá discernir o que é intenção e o que é medo.

Será o filho que controlará o nível das dores, o nível do cansaço, os limites de cada turno. Será o filho que entrelaçará o prendedor dos dedos como quem mede a pressão.

Será o filho que realizará o último desejo, com a determinação férrea daquele que cumpre a reabilitação de um vício. Será o filho macio, que promoverá a amizade com todos os tempos vividos, com todas as versões da pessoa.

Será o filho com a amnésia das brigas e discussões, já que o esquecimento é doce no aceno, já que o esquecimento não olha para trás. Será o filho que não se desviará da missão de ser útil, e afastará qualquer um que se aproximar com alarmismo.

Será o filho que não levará nenhuma ofensa, grito, desabafo, indiscrição para o lado pessoal. Não tem como esperar bons modos no desespero.

Será o filho que penteará os cabelos do pai ou da mãe, desfazendo os nós suavemente, que se preocupará com a aparência para as visitas, que limpará a remela dos olhos, que trocará o enxoval, que dará água de paninho na boca para umedecer os lábios, que não terá nojo ou repulsa da debilidade, que adormecerá dobrado no sofá aguardando o amanhecer.

Será o filho plantonista da madrugada, cobrindo os horários que ninguém pode, garantindo a paz paliativa do desfecho. Será o filho que não ansiará por ser amado de volta, muito menos se verá carente de reconhecimento. Não pedirá nada em troca, não exigirá retorno de coisa alguma, atendendo ao chamado da própria consciência.

Trata-se de um único filho entre todos, que se fará presente na despedida. De contato miúdo e estreito, com a rotina incansável das mãos livres.

E nunca costuma ser o filho predileto, jamais é o filho mimado e supervalorizado, mas o filho mais rebelde, o mais criticado, o mais desobediente, o mais inesperado. Esse filho vai parir, absolutamente sozinho, a partida do seu pai ou da sua mãe.

E dormirá em paz, quite com a saudade. 

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