10 de outubro de 2014 |
N° 17948
EDITORIAL
DESRESPEITO AO VOTO
A recomendação de políticos para
os eleitores votarem nulo ou em branco no segundo turno constitui-se num
inaceitável desserviço à cidadania.
Não dá para entender quando
partidos políticos derrotados no primeiro turno recomendam a seus filiados que
votem em branco ou anulem o voto. Ainda que tais opções sejam um direito do
eleitor tanto que a urna contempla essas duas possibilidades , as agremiações
políticas existem para captar votos e não para torná-los inúteis.
Ao sugerir aos filiados que
renunciem à escolha, o partido passa uma mensagem negativa e desrespeitosa à
maioria do eleitorado que optou por outras legendas no primeiro turno. Fica a
impressão de que os dirigentes políticos que assim agem consideram-se os únicos
capazes de administrar o país e os Estados. Muito mais digno seria liberar o
eleitor ainda que a filiação não tire o livre-arbítrio para votar em quem
quiser.
Mesmo antes de sugestões
equivocadas como essas, disparadas agora por líderes de partidos políticos, o
número de eleitores que votaram em branco, anularam o voto ou se abstiveram na
disputa ao Palácio do Planalto alcançou 27% no primeiro turno. O percentual perde
apenas para o de 1998, quando chegou a 36%.
Só os votos nulos e brancos para
a Presidência confirmados no último domingo superam em quase três vezes a soma
dos recebidos pelos partidos de pequeno porte. E é de alguns dirigentes dessas
legendas que mais partem recomendações inaceitáveis, como a de o eleitor fugir
ao seu compromisso cívico marcado para o próximo dia 26.
Infelizmente, a democracia
brasileira reduz as alternativas para os inconformados com a política ou
colocados diante de situações atípicas, como a de optar por candidatos que não
chegam a empolgá-los. Ainda assim, o eleitor precisa estar consciente de que,
ao abdicar do direito de fazer suas escolhas, como sugerem alguns líderes
partidários, delega esse poder para outros decidirem em seu nome. E voto não
tem como ser terceirizado.
A democracia e muitos políticos
vêm evoluindo, mas seguem às voltas com deformações. Mais do que em qualquer
outra época, porém, os eleitores dispõem hoje de uma série de mecanismos para
avaliar candidatos antes e depois de definirem seu voto. Por isso, a recomendação
de políticos para os eleitores votarem nulo ou em branco no segundo turno
constitui-se num inaceitável desserviço à cidadania.