Março de 1964 visto por contistas
brasileiros
Nos idos de março – A ditadura
militar na voz de 18 autores brasileiros (Geração Editorial, 288 páginas, R$
29,90) com organização do consagrado e premiado
escritor, jornalista e professor
Luiz Ruffato, apresenta, antes e acima de tudo, um inesquecível março de 1964,
na ótica de nossos escritores, que colaboraram com contos para a edição.
Entre muitos nomes fundamentais
da literatura brasileira, estão os gaúchos João Gilberto Noll e Flávio Moreira
da Costa, com os contos Manobras de um soldado e Alguma coisa urgentemente.
Março de 1964, início do período da ditadura militar no Brasil, jamais sairá de
nossa lembrança e os relatos, como era de se esperar, tratam da falta de
liberdade, da violência e do arbítrio que marcaram a época.
As narrativas de Antônio Callado,
Wander Piroli, Roberto Drummond (com o célebre conto A morte de D.J. em Paris),
Nélida Piñon, Frei Betto, Luiz Fernando Emediato, Ignácio de Loyola Brandão,
Domingos Pellegrini, Ivan Ângelo, Sérgio Sant’Anna, Roniwalter Jatobá, Maria
José Silveira, Julio Cesar Monteiro Martins, Fernando Bonassi e Paloma Vidal
mostram alegorias, situações diversas de crueldade e a violência indireta que
atingia pessoas, situações e muitas partes do território.
Naqueles tempos, os contos e os
romances tinham que passar pela censura, um verdadeiro “corredor polonês” e
muitos saíram cifrados, alegóricos, metafóricos para poderem chegar ao público.
Não poucas obras de ficção do período adotaram um realismo melancólico em que o
exílio, a pátria, a tortura e as desilusões se perpetuavam, num ciclo
depressivo.
Os escritores não podiam falar
claramente naquele período e, no dizer de Ruffato, na apresentação, “esta
antologia é um retrato preciso daqueles dias, que ainda lançam seus raios
sombrios sobre os dias atuais e, até que se dissipem, muitos dos males
congênitos da sociedade brasileira terão de ser extirpados por, entre outros
fatores, uma literatura beneficiada pela democracia e engajada na denúncia
livre”.
Oficialmente, a ditadura acabou
em 1985, com o movimento das Diretas Já nas ruas do País, mas os efeitos do
desmanche da cultura, educação e civilidade promovido pelo regime se
perpetuaram e ainda mostram suas marcas autoritárias. Esta coletânea é um
excelente material ficcional para reflexão e busca de novos horizontes.