11 de outubro de 2014 |
N° 17949
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio
Araujo
Dois lados do mesmo drama
Além de reconhecer com o mesmo
prêmio dois notáveis combatentes pelos direitos de crianças, adolescentes e
mulheres, o Comitê Norueguês reunirá na cerimônia de entrega do Nobel da Paz,
em 10 de dezembro, em Oslo, cidadãos de dois Estados em guerra desde 1948.
Índia e Paquistão foram fundados após a divisão da antiga colônia britânica em
duas frações, uma destinada a hindus, e outra, a muçulmanos.
A fórmula de
“dividir para reinar”, patrocinada por Londres, deu vazão a uma onda de
violência e limpeza étnica que deixou mais de 1 milhão de mortos dos dois
lados.
Pelo menos uma chaga jamais
cicatrizou: a Caxemira, território de maioria muçulmana, ao norte, que, por
conveniência do marajá local, optou por se unir à Índia. O arranjo provocou
quatro guerras e a nuclearização dos dois lados. Também contaminou a região por
meio da intervenção aberta ou camuflada no Afeganistão e em Bangladesh
(ex-Paquistão Oriental) e de acusações mútuas de agressão e terrorismo.
Malala e Satyarthi sempre
evitaram se pronunciar abertamente em relação a esse imenso passivo histórico.
Os destinos de ambos, porém, só podem ser entendidos à luz do conflito
indo-paquistanês. Uma das bandeiras mais caras do Talibã Paquistanês, que quase
tirou a vida de Malala, é a libertação do “território em disputa” (como a
Caxemira é conhecida nos círculos oficiais do Paquistão). Sathyarti se define
como discípulo de Gandhi, assassinado por um fundamentalista hindu que o
acusava de simpatia pelos muçulmanos.
O grupo ao qual pertencia o
fanático é antecessor do nacionalista Bharatiya Janata Party (BJP), do atual
primeiro-ministro, Narendra Modi, eleito sob o lema de “limpar a Índia”.