12 de outubro de 2014 |
N° 17950
ANTONIO PRATA
O chapeiro e o dono da padaria
As vitórias da Dilma, no Nordeste, do Aécio, no
Sudeste, e a mesma divisão mostrada pelo Datafolha para o segundo turno
ressuscitaram o velho preconceito de que pobre não sabe votar. Os mais ricos e
escolarizados escolheriam racionalmente e votariam no PSDB, enquanto os mais
pobres e com menos anos de estudo, iludidos pelas “esmolas” e falsas promessas
do governo, fechariam com o PT.
Essa ideia equivocada deriva de
uma falsa premissa: a de que existiria o voto certo e o errado. Candidaturas
não representariam interesses distintos de diferentes camadas da sociedade, mas
sim a verdade ou a mentira. Uma eleição não seria, portanto, uma escolha entre
múltiplas propostas, mas se assemelharia àquele golpe em que, sobre um tabuleiro,
uma pessoa vai rolando uma bolinha e a escondendo cada hora sob um de três
copos; no fim, você tem que descobrir qual copo esconde a bola, quais estão
vazios; qual candidatura é a certa, boa para todos, quais são as vazias,
querendo nos enganar.
Ora, bolas, o Nordeste não deu
60% dos seus votos à Dilma porque foi enganado por ela. Deu porque, sob o
governo do PT, as condições de vida daqueles milhões de eleitores melhoraram. E
o Mensalão? E o escândalo da Petrobras? E a inflação? Nada disso conta? Não a ponto
de escolherem outro candidato. É um voto racional.
A mesma coisa vale para os 39,45%
do Aécio, no Sudeste. O Sudeste é mais rico, vê seus interesses representados
pelo candidato, não precisa tanto de programas sociais – só quer menos Estado,
evidentemente, quem não depende dele. E o Mensalão mineiro? E o escândalo do
metrô? E a compra de votos pra reeleição? Nada disso conta? Não a ponto de
escolherem outro candidato. É um voto racional.