sexta-feira, 3 de outubro de 2014


Debates e pesquisas eleitorais

- Mas afinal, adversário, és de esquerda ou direita? Como é que é, vais te definir ou voas até a Muralha da China, feito um pássaro?

- Olha aqui, oponente, vivemos num mundo sem definições precisas, pós-moderno. Esse negócio de esquerda, direita, centro e coisa parecida é coisa velha, de políticos ultrapassados. Sou de ir para a frente, nada de esquerda ou direita. Sou pelo desenvolvimento, saúde, segurança, educação, habitação, mobilidade, qualidade de vida e tal.

- Nem precisava replicar. Ficou claro que o senhor não se define politicamente. Aliás, não se define em nada, não tem projetos. Quais são os eixos de sua campanha, afinal?

- Meus eixos estão nas lojas de autopeças, digno  concorrente. Quem não se define é o senhor, que já trocou de partido cinco vezes, coligou com não sei quantos e vai mudando a conversa  mole ao sabor das pressões, dos patrocinadores e das pesquisas. Francamente!

- Francamente digo eu, meu ilustre opositor! Por falar em pesquisas, estou na frente e vejo que isto lhe deixa profundamente atarantado e desesperado. Noto que o amigo não sabe mais o que fazer e nem tem o que dizer, me desculpe o mau jeito! Desculpe se lhe feri por dentro, no âmago de suas entranhas. Foi involuntário. Sou cabeçudo!

- Eu é que peço desculpas. Até a semana passada, quem estava amargando no terceiro lugar nas pesquisas eras tu, competente rival, sempre “competindo, competindo”, sem ganhar. Na pesquisa de amanhã, por certo vais estar atrás, feito rabo de cavalo.

- É o que vamos ver, meu prezado ex-coirmão de política. Deves estar arrependido de ter abandonado nosso vitorioso partido. Até agora não entendi por que saíste.

- Deus me livre desse arrependimento, compadre. Saí pelos motivos certos, na hora devida. Não me arrependo. Orgulho-me de ter saído da barca que ficou à deriva, fazendo água, com marinheiros duvidosos, num mar tenebroso.
- Olhe aqui, para quem quer se eleger, perdoe-me, candidato, mas seu debate nem é baixo nível ou subterrâneo, é da região abissal.

- Quem fala! O senhor desqualifica o debate, com ataques de natureza pessoal, eivados de mentiras, aleivosias e interesses inconfessáveis. - Senhores, por favor, considerações finais.

 -Meu estimado adversário, tu só vais competir, como sempre.  Espero que levante o nível da campanha, para que minha vitória seja valorizada. Tenho dito! Fui!

- O prezado opositor está se achando. Não perde por esperar. Vou lhe dar uma surra de urna, uma sumanta de votos, uma tunda de relho e uma sova de democracia no lombo.

Jaime Cimenti