sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Jaime Cimenti

Luta de uma menina contra o irremediável

O romance A cor do leite, da romancista e dramaturga inglesa Nell Leyshon, nascida em Gladstonbury e atualmente residindo em Dorset, na Inglaterra, foi indicado aos principais prêmios literários do planeta, tendo grande repercussão na mídia norte-americana e na europeia. Nell é a primeira mulher a escrever uma peça para o Shakespeare’s Globe e ganhou o Richard Imison Award por sua primeira peça escrita para a BBC Radio. A cor do leite (Bertrand Brasil, 206 páginas), em síntese, é a história de uma menina que foi capaz de mudar o curso de seu duro destino.

Em 1831, Mary, de 15 anos, decide escrever sua própria história. Tem a língua afiada, cabelos da cor do leite, tão brancos quanto sua pele. Leva uma vida dura, trabalhando com as três irmãs na fazenda da família.

O pai é severo, se importa apenas com o lucro das plantações e lamenta ter apenas quatro filhas mulheres, que não podem fazer os trabalhos mais pesados. Com Mary, ele é ainda mais cruel. No verão, ela é enviada ao presbitério, onde sua função será cuidar da esposa do pastor, mulher de saúde frágil. Não gosta da nova casa, um mundo desconhecido, totalmente diferente do seu. Quer voltar para a fazenda e para seu melhor amigo, o avô inválido e divertido. A mulher do pastor gosta dela, uma menina simples e analfabeta, mas forte e decidida. Mary não tem escolha, nunca teve. Não pode decidir a hora de ir embora.

Depois de um ano, ela aprende a ler e escrever e tem urgência em contar a própria história. O tempo é escasso e tudo o que ela quer é contar os motivos de suas atitudes. O texto é escrito em primeira pessoa e todo em letras minúsculas. Sua estrutura é típica de quem ainda não tem o controle pleno da linguagem. A jovem intercala a história e as ações com opiniões, estas consideradas por alguns críticos como os trechos mais angustiantes da narrativa. A linguagem, seca e direta, envolve temas fortíssimos, como a supremacia masculina e o abuso de poder.


No início, a rotina simples e calma da vida rural da Inglaterra do século XIX e, depois, as revelações do potencial de uma menina e de sua vida destruída pelas piores falhas humanas. Mary tem muitas certezas, mas a principal é que homens e feras têm muito em comum. Os leitores brasileiros vão se encantar com o poder imaginativo da autora, a devastação sofrida pela protagonista e seu incrível poder de superação