FERREIRA
GULLAR
Somos todos
responsáveis
Somos
responsáveis por essa situação, já que os que governam e os que fazem leis
foram eleitos por nós
A
frequência com que critico o quadro político brasileiro --e especialmente a
atuação de certos partidos e dirigentes-- pode fazer parecer que considero
todos os políticos corruptos ou ineptos, mas não é assim.
Há
muitos políticos honestos e, bem ou mal, o país caminha, muitas coisas
melhoraram, apesar de que falta muito por fazer, falta muito para que se
alcance o nível dos países avançados. Isso não se fará em apenas um governo,
mas que pelo menos os problemas mais graves como saúde, educação, saneamento,
sejam enfrentados com a necessária seriedade e não com intenções meramente eleitoreiras.
Por
sua vez, o eleitor deve entender que se as questões básicas não são resolvidas,
os problemas de todos tendem a se agravar.
Na
verdade, não escrevo para que apenas os políticos leiam, pois certamente têm
mais o que fazer. Escrevo, sobretudo, para que você, cidadão, me leia e reflita
sobre o que digo e os erros que aponto. Não para que você simplesmente concorde
comigo, mas, sim, para que, mesmo não concordando, reflita sobre essas questões
e procure entendê-las.
Não
alimento ilusões quanto à solução imediata dos graves problemas que dificultam
o crescimento do país e menos ainda quanto ao atendimento das necessidades da
população, particularmente das camadas mais pobres.
Não
obstante, acho que muito pode ser feito e esse é o motivo que me leva a
criticar os responsáveis, não apenas os membros do Executivo, mas igualmente
dos dois outros poderes, o Legislativo e o Judiciário.
Alguns
mais diretamente responsáveis pelo mau funcionamento da máquina do Estado,
muito embora todos, de um modo ou de outro, tenham culpa nisso, seja por agir
mal, seja por omitir-se diante dos abusos e dos erros.
Aliás,
a rigor, todos nós somos responsáveis por essa situação lamentável, uma vez que
tanto os que nos governam como os que fazem as leis foram eleitos por nós.
Um
aspecto a observar, no Brasil, é o alto custo dos poderes da República. Esse
pode ser um dos motivos de sua omissão quanto à destinação dos recursos
públicos, uma vez que esses três poderes têm, aqui, um custo relativamente mais
alto do que na maioria das nações, incluindo as mais ricas como os Estados
Unidos, a Alemanha ou a Inglaterra.
Se o
Senado brasileiro emprega cerca de 10 mil funcionários e cada deputado federal
tem à sua disposição dezenas de funcionários --que nem em pé caberiam em seu
gabinete--, se cada ministro do Supremo tem, para servi-lo, mais de 200
funcionários, é compreensível que de nenhum deles poderiam partir iniciativas
para corrigir uma tão injusta destinação dos recursos públicos.
A
conclusão inevitável é que os integrantes daqueles poderes constituem uma casta
que se apropriou do Estado brasileiro e o usa conforme seus exclusivos
interesses.
Pouco
se lhes dá, portanto, se não há recursos suficientes para atender à população
em suas necessidades básicas. Os hospitais públicos vivem abarrotados de
pacientes, pelos corredores, à espera do atendimento médico que nem sempre
chega a tempo.
No
setor judiciário, conforme relatório recente, nada menos de 30 milhões de
processos esperam julgamento, sendo que uma parte deles dizem respeito a
interesses de cidadãos cuja vida, muitas vezes, depende dessas decisões.
Os
gastos com educação estão muito abaixo do que seria necessário para atender à
parte jovem da população que precisa estudar. Os políticos parecem não perceber
que a educação é a base do desenvolvimento do país.
O
que fazer então? Deixar tudo como está ou iniciar a luta pela mudança radical
desse quadro? Se a opção for o conformismo --ou mudanças aparentes que
caracterizam o populismo-- tão cedo não alcançaremos a condição de uma
sociedade efetivamente moderna --no sentido correto da palavra-- e menos
injusta.
Se a
opção for o inconformismo, deve-se distinguir entre a ação política consciente,
que define seus objetivos e compreende as dificuldades de alcançá-los, e o vandalismo
que, em última instância, termina por impedir a mudança real.
Lembre-se
disso, hoje, ao escolher em quem vai votar.