RUTH
DE AQUINO
03/10/2014
20h55
É preciso mudar. Pelo voto
Não é
só pelos 20 centavos. Não é só pela Petrobras. Quem vive um dia normal sabe do
que o Brasil precisa
Não
basta ajoelhar, tem de rezar. Não basta se alfabetizar, tem de ler até o fim. Não
basta ler, tem de analisar. Não basta analisar, tem de lembrar. Não basta
papaguear slogans, tem de criticar. Não basta crer em marketing, tem de
construir um pensamento crítico. Não basta votar, tem de cobrar.
Falta
educação política ao eleitor brasileiro. Faltam consciência, razão, atitude. O
programa partidário na televisão, que de gratuito não tem nada, é uma
idiossincrasia de país subdesenvolvido. Beneficia quem está por cima. É nocivo,
antidemocrático e enganador por dar mais tempo na televisão a qualquer partido
que esteja no poder. É um bombardeio de telenovelas eleitorais com efeitos
especiais e personagens montados.
Às vésperas
do voto de 5 de outubro, o eleitor no Brasil parece suscetível à influência das
máquinas partidárias, das mentiras e da hipocrisia de candidatos a todos os
cargos. É só observar as tendências do mapa nacional eleitoral, com as múmias e
os ladrões, vivinhos e populares.
Penso
no eleitor maria-vai-com-as-outras, que prefere não se informar direito, por
preguiça, desinteresse ou apego a uma sociedade virtual de rapidinhas mentais,
em que se curte ou se demole um texto sem passar do primeiro parágrafo. Dedinho
para cima, dedinho para baixo. Adeus às sutilezas, elas só fazem perder tempo. Em
vez de ler, posso postar o prato de comida de ontem, as travessuras do
cachorro, a descrição detalhada de uma cirurgia, compartilhar textos e vídeos
falsos, posso ofender quem discorda ou apedrejar o próximo. Poderia dizer que
entendo. Mas não compreendo.
Quando
vejo que falsidades sem vergonha rendem votos, penso no voto de cabresto. Não
falo do povão nem de classes desfavorecidas. Mas da ignorância – do verbo “ignorar”.
Quem ignora é facilmente manipulável pelo marketing sem escrúpulo, não importa
a classe social ou o tempo de estudo. É assustador o nível de desinformação dos
eleitores brasileiros, especialmente dos mais jovens.
O país
que vai às urnas para eleger presidente, governador, senador, deputado federal
e deputado estadual é o mesmo que explodiu nas ruas há um ano. Foram protestos,
pacíficos e incendiários, contra a roubalheira institucionalizada nos últimos
anos, a farra dos desvios de verba pública, a tragédia do transporte, saúde,
segurança e educação, a insatisfação com indicadores sociais e econômicos, a
volta da inflação, a alta do custo de vida, as alianças espúrias com corruptos.
Será
que é o mesmo Brasil? Escândalos como o da Petrobras derrubam presidentes em países
com consciência política. No Japão, alguns governantes e executivos se suicidam
quando são flagrados num roubo dessa magnitude. Aqui no Brasil, não faz nem cócegas.
Dilma Rousseff, no debate de quinta-feira, disse que “todo mundo comete corrupção”.
Eu não cometo corrupção. Você comete? Ouvimos esse discurso há três mandatos do
PT, o mesmo partido que desfraldou a bandeira da ética na política.
Não
adianta desmascarar os elogios de Dilma a Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da
Petrobras, bandido e atual delator. Todo mundo sabe agora que ele renunciou em 2012
coberto de agradecimentos de Dilma, em ata, “pelos relevantes serviços
prestados à companhia no desempenho de suas funções”. Bota relevância nisso.
Por
enquanto, Paulo Roberto Costa virou um pária em casa, com tornozeleira eletrônica.
Vamos lavar a jato toda a sujeira, afinal ele devolverá quase US$ 26 milhões em
contas bancárias no exterior. E lancha, terreno, Range Rover.
Dilma
convence o eleitor de que foi ela quem pressionou o Ministério Público e a Polícia
Federal a investigar? Daqui a alguns anos, Paulo Roberto se candidata a
deputado. O marketing é fácil: o que rouba mas delata, o que rouba mas se
arrepende, o que poupa os amigos mais poderosos. Ou então escreve um livro best-seller
Como roubei durante oito anos a Petrobras e o Brasil do PT sem que ninguém
soubesse.
Não é
só pelos 20 centavos. Não é só pela Petrobras. Qualquer um, se vive um dia
normal de classe C, se anda de ônibus superlotado, se vai à emergência de um
hospital, se tenta abrir um negócio sem despachante, se vai ao supermercado
semanalmente, se esconde celular com medo de ser morto, se procura uma creche
que não cobre preços extorsivos, se matricula o filho na escola e compra o
material, se vai à farmácia, se precisa cuidar dos pais doentes, se convive com
os atuais níveis de poluição e péssimo manuseio do lixo, se assiste ao
aparelhamento do Poder, sabe hoje que é preciso mudar. Pelo voto.