segunda-feira, 3 de novembro de 2014


03 de novembro de 2014 | N° 17972
ARTIGO ZH

INVESTIMENTOS, O DESAFIO DE DILMA

Concluído o processo eleitoral, o grande desafio é como voltar a crescer. A inflação resistente, convivendo com o crescimento baixo, impõe limitadas ações ao governo. Surpreendeu a todos que, exatos três dias após a eleição presidencial, o Banco Central elevou a Selic, reconhecendo a gravidade da situação econômica.

É esperada, além do aperto na política monetária, também uma contração fiscal, com a redução do gasto público, um dos vilões da resistente inflação. Essas ações atuam alinhadamente para a retração da atividade econômica, inibindo o crescimento, com menor geração de emprego e renda e da lucratividade das empresas.

Há, portanto, um ciclo, do qual fazem parte ainda a questão cambial, com a desvalorização do real e a deterioração da balança comercial e do balanço de pagamentos, gerando um cenário preocupante, resumido na possível perda do chamado grau de investimento.

A quebra desse ciclo passa pelo enfrentamento de uma questão estrutural nunca bem resolvida pelos governos que se sucedem, que é a baixa taxa de investimento da economia brasileira. Uma das razões disso se explica pela reduzida poupança interna que deveria se somar aos recursos de investidores estrangeiros para alavancar o crescimento econômico.

O insucesso de sucessivas políticas está bem demonstrado em estudo do FMI que coloca o Brasil, em um ranking de 32 países da América Latina e do Caribe, na 23ª posição em relação à taxa de investimento, sendo que desde 1994 nos situamos sempre abaixo da média da região.

O esforço importante de dotar o BNDES de recursos para estimular os mais diversos setores, com taxas de juro subsidiadas, teve como fonte a emissão de dívida pública, hoje superior a R$ 400 bilhões, repassados ao banco pelo Tesouro.

O Investimento Externo Direto próximo de US$ 60 bilhões anuais se soma ao BNDES e, ainda assim, a taxa de investimento em relação ao PIB fica abaixo de 18%, devendo cair em 2014.

Portanto, o desafio passa pela capacidade do governo em atrair investimentos externos para perseguir níveis necessários de investimentos próximos a 23% do PIB e reduzindo a exposição do BNDES como fonte financeira básica, tendo em vista o esgotamento deste modelo.

O tema de casa é recuperar a percepção negativa da economia brasileira, com ajustes ortodoxos e a criação de condições que viabilizem investimentos, iniciando na infraestrutura, reduzindo seus históricos gargalos e dar base para a melhoria da matriz produtiva.

Economista

RICARDO HINGEL