sexta-feira, 7 de novembro de 2014


07 de novembro de 2014 | N° 17976
ARTIGO - FÁBIO RIBEIRO MENDES*

CONVICÇÕES POLÍTICAS: FORTES OU CEGAS?

Identificar quando nossas posições se convertem em convicções cegas é essencial à convivência democrática. O filósofo Karl Popper (1902-1994) pode nos ajudar nessa tarefa.

Segundo Popper, devemos ser capazes de testar nossas afirmações sobre a realidade. Isso só é possível quando sabemos em que circunstâncias nossas afirmações se mostram falsas. Nos termos do filósofo, uma tese deve ser refutável para ser científica, pois, se assumirmos que em nenhum caso ela pode ser refutada, então em nenhum caso ela é realmente testada.

Nesse caso, seu fundamento é meramente irracional ou emocional. Assim, devemos nos fazer a seguinte pergunta: “Que fatos mostrariam que minha afirmação é falsa?”. Se encontrarmos pelo menos um, ela é uma tese científica (racional, sobre a realidade); caso contrário, é nada mais do que a expressão de uma opinião (de foro íntimo) que nunca é testada pelos fatos.

O mesmo pode ser aplicado às nossas convicções políticas. As convicções cegas ocorrem quando não somos capazes de conceber fatos que as tornariam falsas. Isso é comum quando dizemos algo do gênero “isso é verdade, não importa o que digam as revistas, as pesquisas, as urnas ou a Justiça”.

Argumentar contra essa convicção é impossível, porque ela se coloca “acima dos fatos”. Quando isso ocorre, o que lhe contestaria é descartado “por princípio”; o que é favorável a “reforça”. Nasce, assim, a “certeza absoluta e inabalável” de que “estou certo” e, com isso, o radicalismo e autoritarismo. Note: sua força é aparente, pois nada mais faz do que abrir mão dos fatos.

As convicções fortes, por outro lado, são o oposto. Elas procuram fatos que poderiam colocá-las por terra e, não encontrando, se reforçam. O indivíduo não tem absoluta certeza da sua verdade e aprende com os pontos contrários. As convicções fortes geram debates (não embates) e fortalecem a democracia.

Então, antes de estufarmos o peito e bradarmos nossas certezas, cabe nos perguntarmos: “Que fatos me fariam revisar essa minha convicção?”. Se não encontrarmos nenhum, isso pode ser sinal de que estamos de costas à realidade e assumindo uma postura autoritária.


*Doutor em Filosofia - FÁBIO RIBEIRO MENDES