13
de novembro de 2014 | N° 17982
LUCIANO
ALABARSE
O TEATRO BRASILEIRO PRECISA SE
REINVENTAR
Império
é uma novela ótima. Se você torce o nariz para o gênero e não dá o braço a
torcer, não sabe o que está perdendo. Os incensados seriados americanos, que
arrancam rasgados elogios, inclusive como superiores à maioria dos lançamentos
cinematográficos atuais, não são melhores. Não houve propaganda eleitoral ou
horário de verão que afastasse a audiência crescente. Folhetim shakespeariano,
a novela não decepciona.
Oferece
ao público o que o público espera: luta pelo poder, traições desmedidas, tramas
paralelas eletrizantes. Sem falar que a dupla de protagonistas, Lilia Cabral e
Alexandre Nero, carrega a novela nas costas, com atuações impecáveis. Merecem
aplausos e prêmios. Império é mais eficaz do que a maioria das estreias
teatrais do ano.
O
teatro brasileiro, aliás, precisa se reinventar urgentemente. Fernanda
Montenegro, atriz referencial, diz que está fazendo “teatro de catacumba”. Sem
pompas, tem preferido apresentar seus monólogos em circuitos de periferia. Fernanda
Torres, sua filha, aponta impasses cruciais em relação a um ofício cada vez
mais subserviente às regras mercadológicas das leis de incentivo.
Para
além das reivindicações atreladas às sempre minguadas verbas estatais, a questão
estética praticamente desapareceu como prioridade da discussão teatral. O que
montar hoje no Brasil? Qual o papel do Estado diante desse quadro de imprecisão?
Thomas
Bernhard enfatizou: a melhor forma de matar o talento de um jovem artista é subsidiá-lo.
Jovens artistas, porém, reivindicam mamar nas tetas do governo como se fosse a
coisa mais natural do mundo. O cachê nosso de cada dia parece ser sua única
prerrogativa.
Profissionais
experientes, por outro lado, aos poucos desistem de sua trajetória. Programas
consistentes para a produção teatral, sem assistencialismos paternalistas,
deveriam ser pauta prioritária das novas autoridades culturais do país. Sem bom
teatro, um país é só rascunho. Pense nisso. E vá ao teatro.