quinta-feira, 4 de dezembro de 2014


04 de dezembro de 2014 | N° 18003
ARTIGO - SEBASTIÃO MELO*

A HONRA E A HUMILDADE NA POLÍTICA

A finitude nos rouba a perspectiva do tempo. Nossa memória não comporta todos os saberes e todas as informações. Não por acaso, julgamos o passado como o melhor lugar para se viver, quando o desconforto com o presente bate à nossa porta. Essa limitação humana é resistente aos fatos: em 1914, nossa expectativa de vida era de 40 anos; a morte de parturientes era a regra e ler e escrever um privilégio; o regime democrático era um luxo e o voto universal uma utopia. E foi naquele ano que a primeira Grande Guerra ceifou 10 milhões de pessoas e devolveu às cidades 20 milhões de feridos. De fato, o passado não é o melhor lugar para vivermos.

Vivemos mais, sabemos mais e em boa parte do mundo as pessoas percebem uma renda maior do que há cem anos. E isso, inegavelmente, é obra do desenvolvimento científico e da atuação dos governos. Mas, então, fica a pergunta: por que a desconfiança com a política e os políticos atravessou o último século?

Creio que a resposta não esteja tão somente nos problemas que as sociedades ainda enfrentam mundo afora, especialmente a pobreza, a violação dos direitos humanos e os limites da democracia. No Brasil, esses ainda são desafios não superados, além da reforma urbana e humanização de nossas cidades.

Proponho uma pausa neste ritmo alucinante que dificulta nossa reflexão, para que possamos olhar com humildade a forma como nos comportamos no espaço público. Porque uma sociedade é o resultado das ações e dos valores, tanto de quem se recolhe livremente às coisas da vida privada como dos que atuam em torno de causas, nos partidos políticos, nas entidades e nas instituições da República. É esta sinergia que “ergue e destrói coisas belas”, perenizando ideias e ideais.

Com efeito, é uma honra ser concebido e habitar o mundo, pertencer a uma comunidade, conviver no espaço público, ser escolhido para representar projetos políticos de sociedade, ocupando postos nas instituições, pois já sabiam os antigos que a “grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”.

Pensando assim, talvez encontremos a resposta para o descrédito da política e dos políticos, como também, de uma vez por todas, aceitemos, cada um de nós, que devemos nos esforçar para merecer uma cidade e uma sociedade saudáveis.

*Vice-prefeito de Porto Alegre

SEBASTIÃO MELO