11 de janeiro de 2015 |
N° 18039
L. F. VERISSIMO
Gênio, gênio!
Pais preocupados com a
possibilidade de seus filhos não serem gênios têm um consolo: o apelido do
Albert Einstein quando criança era “der Depperte”, que em alemão quer dizer,
mais ou menos, “o bobão”. Não desespere do garoto nem proíba videogames até que
ele pegue um livro, portanto.
Ele ainda pode, um dia,
revolucionar a Física. O próprio Einstein descreveu o momento em que revelou-se
sua vocação para a especulação científica e, pode-se dizer, ele deixou de ser
bobo. Foi quando ganhou uma bússola do seu pai e descobriu o magnetismo, e com
ele a ideia fascinante de uma força invisível por trás de tudo. Quando cresceu,
mais do que qualquer cientista na História do mundo, Einstein examinou e
definiu, por dedução ou por intuição, essa força invisível.
O mais admirável nas conclusões
de Einstein é o que ele intuiu. Muitas das suas teorias só foram provadas há
relativamente pouco tempo, anos depois que ele as botou no papel. Uma vez,
imaginei um encontro de Einstein com Deus (parênteses: se Einstein entraria no
céu, mesmo depois da sua participação na construção das primeiras bombas
atômicas, é discutível, mas, para efeito da minha parábola, ele entra). Assim
que Einstein chega ao céu, Deus manda chamá-lo. Einstein vai ao escritório de
Deus, indagando-se “o que será que o Velho quer comigo...?”. E, quando chega, a
primeira coisa que Deus faz é pedir seu autógrafo!
Einstein fica embaraçado diante
dos elogios de Deus. “Gênio, gênio!”, repete Deus.
– O que é isso, Senhor?
– As coisas que você descobriu
sobre o Universo. Algumas eu nem tinha me dado conta!
– O que o senhor fez foi muito
mais importante, Deus. E difícil de decifrar. Olhe, seu universo me deu
trabalho, viu? Eu é que tenho de cumprimentá-Lo.
O entusiasmo de Deus parece
diminuir.
– Você não está entendendo,
Albert – diz Deus. – Não há comparação entre o meu trabalho e o seu. O que Eu
fiz, fiz porque sou Deus. Posso fazer tudo. Você não tinha essa vantagem!
Einstein nota um certo
ressentimento na voz de Deus. Decide ir embora antes que Deus, com ciúme, o
fulmine com um raio. Quando sai do escritório, olha para trás e vê Deus se
dirigindo para o armário de bebidas.
Quando visitou os Estados Unidos
pela primeira vez, Einstein, na companhia da sua segunda mulher, Elsa, esteve
em Hollywood e pediu para conhecer Charlie Chaplin. Este convidou o casal para
acompanhá-lo na estreia do filme Luzes da Cidade. Ao descerem, os três, da
limusine em frente ao cinema, o público aplaudiu-os, e Chaplin comentou para
Einstein: “Eles me aplaudem porque entendem o que eu faço, e você porque
ninguém entende o que você faz”.
Se a história é verdadeira,
Chaplin acertou: Einstein ficou famoso pelo que fez, apesar de poucas pessoas
no mundo terem a capacidade de entender o que era. Foi o maior exemplo de
alguém que se torna uma celebridade sem que se saiba por quê. Só se sabia que
ele era um gênio.
Einstein foi um namorador
notório, mas só recentemente, num livro sobre a sua vida, ficou-se sabendo que
ele esteve sob investigação do FBI por estar supostamente dormindo com uma
espiã russa chamada Margarita Konenkova. Se houve ou se não houve alguma coisa
entre eles dois, só o FBI ficou sabendo. Deve haver gravações de momentos
íntimos de Einstein com a russa, mas que não adiantaram muito. Se ele revelou
algum segredo atômico para a espiã na cama, os agentes do FBI também não
entenderam nada.