quarta-feira, 3 de junho de 2015


03 de junho de 2015 | N° 18182
FÁBIO PRIKLADNICKI


NEM TUDO É VIRAL

Um bom público compareceu ao Theatro São Pedro para o concerto da Orquestra de Câmara ARCO, fundada na Rússia e sediada nos Estados Unidos. Em seu elenco internacional de 19 músicos, estão sete brasileiros – entre eles, cinco do Rio Grande do Sul. O regente foi Levon Ambartsumian. Estavam lá espectadores que não se intimidaram com a segunda- feira, nem com um programa que incluía composições menos conhecidas por aqui.

Sempre me intriga esse tipo de comportamento que passa ao largo dos fenômenos de massa: eventos de música clássica e ópera sempre – ou quase sempre – têm bom público em Porto Alegre, e frequentemente contam com casa lotada. Não apenas isso.

No domingo, foi encerrado o 10º Festival Palco Giratório Sesc/POA, que também teve boa frequência de espectadores em suas atrações de teatro, dança e circo. Alguns espetáculos, como O Jardim, da Cia. Hiato (SP), tiveram ingressos esgotados rapidamente, comprovando se tratar de um público bem informado que sabia que este seria um dos grandes destaques da programação do festival, como de fato foi.

Estamos tão acostumados, hoje, a medir o sucesso de qualquer coisa pelo número de visualizações – de um vídeo, de um post etc. – que parece haver uma nova regra de ouro: ou você é viral ou não é relevante. Esse pensamento tem apenas um problema: está errado.

Felizmente, os fenômenos sociais são mais complexos. Penso em vários comportamentos que fogem da regra. Pessoas que ainda frequentam livrarias pelo prazer de passear pelas prateleiras, para tomar um bom café ou porque precisam de um livro com urgência e não podem esperar a encomenda vir pela internet.


Pessoas que ainda compram CD para ter acesso ao encarte ou porque a qualidade do som é melhor do que na internet, em geral. Pessoas que ainda compram – ou voltaram a comprar – vinil pelos mesmos motivos. Pessoas que frequentam teatros, concertos, museus, enfim. Nem tudo relevante é viral. E muita coisa viral não é relevante. Mas isso deveria ser o óbvio para nós.