sábado, 3 de agosto de 2013


03 de agosto de 2013 | N° 17511
EU AMO O QUE FAÇO - PROFISSÃO PAIXÃO

TRABALHAR NAQUILO QUE SE GOSTA É UM IMPORTANTE FATOR PARA A REALIZAÇÃO PESSOAL E PROFISSIONAL

Certa feita, Freud foi questionado sobre o que, no seu entender, seria fundamental para a saúde mental de uma pessoa. Enquanto se esperava uma complexa relação entre os diversos aspectos da vida humana, o fundador da psicanálise teria surpreendido ao responder com apenas duas palavras: “Lieben und arbeiten” (amar e trabalhar).

Freud relacionava o amor com os sentimentos de afinidade e ligação, a partir da entrega e do reconhecimento pelo outro. Quanto ao trabalho, entendia que este tinha um efeito mais poderoso do que qualquer outro de vincular uma pessoa à realidade. O exercício laboral teria a capacidade de desempenhar um importante papel na autoestima, no equilíbrio psicológico e no senso de identidade. Seria o responsável por nos dar um lugar no tecido social. Apesar de curta, a resposta não era simples.

A relação do homem com o seu trabalho, que vai do prazer ao sacrifício, torna-se ainda mais complexa nos dias atuais, quando as escolhas profissionais são definidas não somente pelas vontades e afinidades de cada um, mas pelas exigências cotidianas, como sucesso, dinheiro e reconhecimento.

u Aos 24 anos, ela descobriu sua verdadeira vocação: fazer rir

Isso leva muitas pessoas a escolherem trabalhos que não refletem seus interesses pessoais, mas que dão uma aparente garantia de sustento. As funções ficam cada vez mais padronizadas, as rotinas tornam-se cansativas, e o prazer pelas conquistas, escassos. Não por acaso, o período de férias é visto como uma recompensa pelo sacrifício das atividades cotidianas.

Numa realidade em que a profissão é mais sinônimo de obrigação do que prazer, amar o seu trabalho, ou trabalhar no que se ama, às vezes chega a ser surpreendente. E é exatamente a cara de surpresa que Mariana Ferreira, 39 anos, vê expressa nas pessoas que a conhecem.

– Sou palhaça – diz, ao ser questionada sobre sua profissão.

– Mas, como assim? – é normalmente o que segue à conversação.

Daí em diante, Mari não só explica que optou por transformar a paixão pela arte de rua em profissão, como ressalta os benefícios desta escolha. A artista, apaixonada por felinos desde a infância, acreditava que seu destino era cuidar de animais. Depois de passar pela faculdade de biologia e de trabalhar em laboratórios, pet shops e até em um zoológico, ela viu que seu futuro era outro. Foi aos 24 anos, quando decidiu morar na Argentina, que descobriu sua verdadeira vocação: fazer as pessoas rirem.

Ao se aproximar da arte de rua, bastante comum nas calçadas portenhas, a jovem começou a imergir em um mundo até então desconhecido. Realizou vários cursos de teatro e oficinas de palhaço, viveu em um galpão em Buenos Aires, trabalhou e aprendeu com outros artistas, voltou para Porto Alegre e seguiu a carreira por aqui. Com o nome artístico Camomila, Mariana montou a CiaUmPédeDois com o também palhaço e músico Mauro Bruzza.

Desde então percorre o Brasil e o Exterior – com direito a um tour pela Europa uma vez por ano – para fazer as pessoas rirem pelas calçadas do mundo. Hoje, completando quase duas décadas na profissão, a artista encara as escolhas com a certeza que tomou as decisões certas:

– Eu dei muitas voltas até encontrar o que realmente me faz feliz. Consigo ganhar dinheiro e sustentar minha família com esse trabalho e ainda me sinto realizada profissionalmente. O contato com as pessoas, estar sempre aprendendo coisas novas e a cada apresentação ter a sensação de uma nova conquista é o que me mantém viva – comenta.

Mais

Trabalhar no que se ama traz benefícios tanto para o bem-estar físico quanto mental. Conforme a psicóloga Cláudia Sampaio, orientadora profissional do Núcleo de Apoio ao Estudante e Serviço de Orientação Profissional da UFRGS, estudos mostram que as pessoas que vivem de acordo com seus valores e interesses apresentam maior satisfação de vida.

– São pessoas que experimentam tanto alegria e contentamento no seu dia a dia quanto um senso de que suas vidas valem a pena – explica Cláudia.


jaquelini.sordi@zerohora.com.br