segunda-feira, 5 de agosto de 2013


05 de agosto de 2013 | N° 17513
L.F. VERISSIMO

Se eu fosse Deus

Eu gostaria de ser Deus não para consertar o mundo ou melhorar a humanidade, mas, confesso, para um fim menos nobre: conseguir mulher.

Posso imaginar como seria ter ao meu dispor todos os recursos de Deus para impressionar uma mulher. A começar pelo seu espanto ao saber da minha identidade. (Ela: “Você quer dizer Deus, Deus mesmo?! O Cara?!”. Eu: “É”. Ela: “O Todo-Poderoso?!”. Eu, para mostrar, além de tudo, simplicidade: “Sim, mas pode me chamar de Todo”.)

Eu não a convidaria para jantar, apenas. Mandaria um anjo fulgurante convidá-la para jantar comigo, no meu apartamento celestial ou no restaurante da sua predileção. Onde já começaria a mostrar os meus poderes, pedindo mineral sem gás e transformando-a não apenas em vinho mas num Chateau Petrus 82.

Conversaríamos sobre banalidades: Ela: “Deve dar trabalho, ser Deus”.

Eu, modestamente: “No começo, foi difícil. Tive que fazer tudo sozinho, do nada. Desde então, só dou retoques.

Depois do jantar, Eu a convidaria para ir ver o eclipse da Lua do meu terraço à beira-mar.

– Mas hoje não tem eclipse da Lua! – Quer apostar?

Quando ficássemos mais íntimos, e ela mais crítica, Eu faria tudo que ela pedisse.

– Terremoto... Precisa ter? – Está bem. Não vai mais ter terremoto. – Dá para acabar com a má fase do São Paulo?

Vamos ver o que se pode fazer. Eu não lhe mandaria bilhetes amorosos, mandaria tábuas gravadas amorosas, entregues por profetas barbudos, junto com flores – todos os dias.

Presentes de pedras preciosas? Por que ser sovina e não lhe dar, logo, uma mina de diamantes?

E se, com tudo isso, Eu não a conquistasse, me restaria um último recurso: refazer-me completamente, do barro. Seguindo as suas instruções.


– Sem barba. Outro nariz. Mais alto...