11
de agosto de 2013 | N° 17519
MARTHA
MEDEIROS
Um mergulho no oceano
A
última vez que entrei numa sala de aula foi no último dia da faculdade, e lá se
vão muitas luas, parece que foi em outra vida. Fazia tanto tempo que eu não era
estudante que fiquei apreensiva ao me matricular na The London School of
English, de onde retornei semana passada. Haveria quantos alunos por sala?
Ainda existe giz e quadro-negro? E sendo eu uma analfabeta digital, passaria
vergonha levando um caderno e uma caneta para anotações?
Éramos
poucos em cada sala – no máximo oito, entre tchecos, russos, japoneses,
italianos, espanhóis e brasileiros. O quadro-negro agora é um quadro branco
onde se escreve com marcadores coloridos (para os saudosistas, vale uma visita à
Saatchi Gallery, que expõe antigos quadros-negros das mais famosas
universidades do mundo – Cambridge, Harvard, Oxford – extraindo de nós um novo
olhar para o efeito das frases, fórmulas e gráficos rabiscados a giz).
E a
analfabeta digital não passou vergonha com seu caderno e caneta, mesmo cercada
por colegas equipados com tablets e laptops. Não conheço recurso mais eficiente
para reter e decorar informações do que escrevê-las à mão.
Fiquei
impressionada ao ver que alguns alunos fotografam o quadro antes de o professor
apagá-lo. Não copiam, simplesmente fotografam com seus celulares. Eu sempre
aprendi mais escrevendo, sublinhando, fazendo círculos em torno das palavras,
enchendo a página de flechas e asteriscos. Meu caderno ainda vai acabar sendo
exposto numa mostra de design.
O
mais valioso da experiência foi resgatar o prazer inocente de aprender. Cada
nova palavra, cada nova expressão era uma vitória particular que eu assimilava
com humildade. A minha vergonha em falar um idioma que não domino, e ao mesmo
tempo a disposição em me divertir com os próprios erros, me tornavam uma
aprendiz de mim mesma e da vida, essa venerável mestre.
Algumas
pessoas se satisfazem com o que já sabem, é como se seu conhecimento coubesse
numa piscina. Dão algumas braçadas para um lado, outras braçadas para o outro,
agarram-se às bordas e tocam o fundo com os pés: sentem-se seguras nessa
amplitude restrita.
Mas
nada como mergulhar num mar do conhecimento sem fim, onde não há limites, a
profundidade é oceânica e a ideia é nadar sem chegar à terra firme,
simplesmente manter-se em movimento. Cansa, mas também revitaliza. Uma pena que
nossa preguiça impeça a grandeza de se descobrir algo novo todos os dias.
Eu,
que além de apegada aos instrumentos rudimentares da escrita, tenho certo
receio de procedimentos estéticos em geral, descobri uma maneira de me manter
jovem para sempre, mesmo que, olhando, ninguém diga: não vou mais parar de
estudar e assim realizarei a utopia de me sentir com 20 anos até os 100 – depois
disso, aí sim, recreio.