quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020



13 DE FEVEREIRO DE 2020
FABRÍCIO CARPINEJAR

Nem amigo em excesso, nem inimigo mortal

Uma das salvações de nossa vida é o meio-termo. Abandonar a lógica extremista e passional: certo e errado, bom e ruim. O raciocínio dual somente nos leva para a culpa e a frustração. Além de nos impor uma predisposição pessimista, de demonizar os resultados.

Não devemos sofrer se as coisas não funcionam como desejamos. Ou nos atolar em tristeza e ressentimento, empacando o crescimento, não saindo do lugar enquanto impasses e dilemas estão abertos com quem gostamos.

Há relacionamentos que apenas o futuro pode ajustar. Não adianta forçar a barra. Se estamos prontos para dizer algo, de repente o outro lado ainda não está pronto para ouvir. Não dá para entrar pelo entendimento derrubando a porta.

Cabe a nós o papel de relativizar. Aceitar que nem tudo é para agora, que nem toda solução é imediata. Nem por isso temos que cortar os laços. Podemos nos afastar temporariamente, ou proteger o contato de modo amistoso e respeitoso, a distância. Não será como era, de profundidade e consenso, mas ainda se preservará o acesso para a conversa e a simpatia. Sustentar a disponibilidade proporciona, inclusive, chances para ser surpreendido positivamente.

A desgraça é o maniqueísmo: ou o ódio ou o amor, ou está junto ou não vale nada.

É natural que um melhor amigo deixe de ser tão amigo por um período, o que não significa que se deva destratá-lo por não alcançar a mesma cumplicidade de antes. Ele será um colega querido, com um passado em comum. Apesar de não apresentar igual intensidade de companheirismo, continuará sendo importante para o nosso bem-estar. Evitar o castigo, a lavação de roupa suja, a repreensão, a vingança produz incomparável leveza.

Assim como acontece quando nos afastamos um pouco de um filho ou de um pai ou de uma mãe ou de um irmão para enxergar a situação com maior distanciamento e entender o que vem gerando as brigas e discussões. Solidão não é prejudicial à saúde. O essencial é não rompermos o convívio. Falar menos, porém permanecer falando.

Admitindo realidades parciais, não arcaremos com os danos das idealizações e projeções. Não temos o que gostaríamos, porém seguimos desfrutando do básico até melhorar o contexto. Não se entra em falência emocional, em estresse, em esgotamento intelectual.

A devastação e o extermínio do nosso círculo de confidentes contentam unicamente o orgulho ferido. Já a cordialidade oferece tempo para não cometermos enganos irreparáveis.

Não precisamos transformar rapidamente os afetos em desafetos. É contentar-se com o que o próximo pode oferecer no momento. Nem inimigo mortal, nem amigo demais. Trata-se de uma comovente derrota vitoriosa. Representará um capítulo de nossa preciosa história com alguém, jamais o final da novela.

FABRÍCIO CARPINEJAR - INTERINO

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