Conheça alguns tipos de terapia e
veja qual é ideal para você
por
Jaqueline Sordi
02/05/2014
| 18h01
Psicanálise,
terapia de apoio e psicoterapia analítica possuem características peculiares de
tratamento
Conheça
alguns tipos de terapia e veja qual é ideal para você Bebel/Agencia RBS
Bem-estar
psicológico é imprescindível para ter qualidade de vida
Foto:
Bebel / Agencia RBS
"De
perto, ninguém é normal", cantarolava o jovem Caetano Veloso no auge do
tropicalismo baiano. De fato, o ideal que há muito circula por aí, de que uma
pessoa normal seria aquela isenta de conflitos, equilibrada e com bons
relacionamentos — o famoso vizinho, aquele que sempre tem a grama mais verde,
sabe? — passa longe da realidade. Mas isso não quer dizer que sejamos anormais,
muito menos loucos. Conflitos, medos e inseguranças fazem parte do ser humano
tanto quanto as dores de cabeça.
Os
dados da pesquisa Bem-Estar, uma iniciativa da Unimed Porto Alegre que mede o
bem-estar dos portoalegrenses, deixam claro o quanto essas angústias são
comuns: a maioria dos entrevistados apontou o bem-estar psicológico e a
avaliação da vida como os fatores mais importantes para alcançar a qualidade de
vida.
Não
à toa, desde o século 19 especialistas em diferentes áreas buscam entender a
origem destas angústias e a melhor forma de aliviá-las. Seja para tratar
doenças mais graves, como a depressão severa ou a esquizofrenia, ou apenas para
ajudar a se conhecer melhor, as diferentes correntes de psicoterapia promovem o
que muitos chamam de "cura pela palavra". Saber qual o melhor momento
para conversar com um terapeuta e qual corrente de psicoterapia escolher são os
primeiros passos para iniciar uma intrigante e surpreendente viagem ao interior
de si mesmo.
Relacionamentos,
a base de tudo
Você
namora com uma pessoa cheia de manias, explosiva e que, em muitas situações, o
deixa infeliz. Frequentemente, comenta com amigos, familiares e com o próprio
parceiro que ele (ou ela) precisa fazer terapia. Mas, você já parou para pensar
por que mantém um relacionamento assim? Será que não é você que também precisa
de tratamento? Reconhecer os próprios conflitos é o primeiro passo para quem
buscar se conhecer melhor e lidar de forma mais madura com a vida.
Conforme
a psiquiatra e psicanalista Anette Blaya Luz, presidente da Sociedade
Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA), o momento de buscar uma terapia deve
partir de uma decisão pessoal, quando o indivíduo se sente motivado a tentar
identificar as causas de suas angústias e quer encontrar soluções para elas.
—
Ninguém deve fazer terapia porque o "outro" acha que é bom ou que é
preciso. Conflitos todos nós temos, é parte da nossa condição humana. A hora de
buscar ajuda é quando os momentos de dor emocional sobrepujam os momentos de
bem-estar e de alegria por estar vivo — comenta a especialista.
Determinadas
fases da vida que geram sofrimento, como separações amorosas, perda de pessoas
queridas e insatisfações com o corpo ou profissionais são motivações comuns que
levam as pessoas a buscarem esse tipo de tratamento. Mas não é preciso estar
doente ou deprimido para consultar um terapeuta, alerta Nélio Tombini,
psiquiatra do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre:
—
Tudo na vida depende dos relacionamentos, da forma como nos relacionamos com os
outros e conosco mesmos. Além de tratar os sofrimentos e até doenças, as
terapias também tem a função de melhorar a capacidade de se relacionar com a
vida.
Persista,
nem sempre se acerta de primeira
Você
finalmente decide marcar uma consulta com um terapeuta. Pela recomendação de
amigos e parentes, escolhe um profissional com um excelente currículo e chega à
consulta. Durante os 50 minutos do encontro, você pode sentir-se
desconfortável, constrangido em compartilhar detalhes de sua vida, e sair da
sessão achando que foi tudo um grande erro.
Situações
como essa são frequentes, e fazem com que muitas pessoas abandonem o tratamento
antes mesmo de começar. É preciso ter em mente que o resultado de uma terapia
depende muito do tipo de metodologia e da relação que se estabelece entre o
paciente e o terapeuta. E nem sempre se acerta de primeira.
A
recomendação é, antes de começar qualquer tipo de tratamento, marcar uma
avaliação com o profissional, que pode ser um psicólogo, psiquiatra ou
psicanalista. Uma, duas ou três sessões geralmente já são suficientes para
identificar os problemas e a melhor forma de abordá-los. Muitas vezes é
indicado misturar intervenções das diferentes técnicas terapêuticas para tratar
diferentes aspectos do paciente.
As
terapias
Uma
delas pode ser a sua
Ainda
que com diferentes metodologias, grande parte das psicoterapias são baseadas em
autoconhecimento, ou seja, em entender melhor a maneira de se relacionar
consigo e com o mundo e, a partir disso, poder aliviar angústias e modificar
comportamentos que estejam causando sofrimento. Conheça algumas correntes de
psicoterapia:
Psicanálise
- para mergulhar nas memórias e na sua relação com o presente
Para
o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), o fundador desse ramo
terapêutico, nossos sentimentos e ações são guiados por aquilo que fica
registrado em nosso inconsciente, onde são armazenadas as experiências
emocionais desde o nascimento. A proposta da psicanálise é que o paciente fale
espontaneamente por meio de uma livre associação de ideias, ou seja, o que
ocorrer na mente no momento da sessão. Conforme o paciente fala, o psicanalista
interpreta não somente o que é dito concretamente, mas a relação entre os
assuntos apresentados e a conexão estabelecida com o analista. É indicada para
quem deseja identificar a origem de seus medos e angústias, para se conhecer
melhor e para quem quer amadurecer emocionalmente. As sessões acontecem com a
frequência de 3 a 4
vezes por semana, em geral com uso do divã, mas não obrigatoriamente. Cada
sessão dura de 45 a
50 minutos.
Psicoterapia
analítica - para viajar pelo inconsciente
Derivada
da Psicanálise, a Psicoterapia Analítica também é indicada para ajudar o
paciente a compreender melhor os seus sentimentos e comportamentos e a sua
relação com as experiências acumuladas ao longo da vida, porém de forma menos
aprofundada. As sessões tem normalmente a frequência de um ou dois encontros
por semana, quase sempre sem o uso do divã — paciente e terapeuta ficam
sentados frente a frente — e com duração de 45 a 50 minutos.
Terapia
breve - para resolver conflitos imediatos
Esta
terapia se baseia em tratar brevemente um conflito específico que esteja
acontecendo com o paciente naquele período, ainda que o terapeuta identifique
muitos outros conflitos e angústias durante as sessões. Ela busca resolver
problemas pontuais, como sintomas de ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático,
entre outros. Nas consultas, paciente e profissional sentam frente à frente, e
as sessões tem duração média de 45 minutos. O tratamento dura cerca de 12
meses.
Terapia
de Apoio - para mudanças pontuais
Como
o nome sugere, este tipo de tratamento busca apoiar o paciente, reforçando seus
aspectos positivos, e não tem como objetivo estudar profundamente conflitos
inconscientes numa tentativa de mudanças profundas. Ele se orienta para
mudanças pontuais de comportamento e alívio de sintomas, e é indicada para quem
não tem estrutura emocional para enfrentar intervenções mais densas, explica
Paulo Zimmermann, do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da PUCRS. As
sessões tem duração média de 45 minutos. O tempo de tratamento é variável,
podendo durar muitos anos ou até a vida toda do paciente.
Psicoterapia
Cognitivo-Comportamental - para mudar comportamentos
Desenvolvida
nos anos 1960 pelo psicólogo americano Aaron Beck, a terapia explora áreas
emocionais e sociais que afetam o cotidiano do paciente. É um tratamento breve
e focal, normalmente indicado para tratar distúrbios como fobias, transtorno
compulsivo-obsessivo (TOC), dependência química, entre outros. É um tipo de
psicoterapia mais ativa que envolve um conjunto de técnicas e estratégias com a
finalidade de mudança de padrões de pensamento e de comportamento. As sessões
tem duração de 40 a
50 minutos e o tratamento dura poucos meses.