FERNANDO
RODRIGUES
O enigma de
Dilma
BRASÍLIA
- Dilma Rousseff ficou encantada com a exposição do novo ministro da Secretaria
de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, sobre o crescimento contínuo da renda
dos brasileiros, mesmo em momentos de economia morna.
Ontem
cedo, ao falar a um grupo de jornalistas, a presidente explicou de maneira
minuciosa que o aumento da renda foi sempre muito superior ao crescimento do
PIB desde a chegada do PT ao poder, em 2003. Só que não ocorreu a
correspondente elevação de qualidade nos serviços gerais --deu-se em um ritmo
menor.
Os
brasileiros compraram TV, computador, micro-ondas e até milhões de imóveis com
a ajuda do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas o transporte público continua
ruim, a saúde de qualidade é inacessível, a insegurança nos grandes centros é
motivo de medo. Por causa desse descompasso, cresce o mau humor de grande parte
dos cidadãos.
"É
o caso da pessoa que compra um liquidificador e percebe que não tem luz em
casa?", perguntei à presidente. Bem-humorada pela manhã, ela não comprou a
provocação. Preferiu responder que os investimentos em infraestrutura e na
melhoria de serviços serão sentidos só mais na frente, daqui a dois ou três
anos.
Como a
conversa de ontem era a respeito do relatório anual do CPJ (a respeitada ONG
"Committee to Protect Journalists", com sede em Nova York), Dilma
evitou temas eleitorais. Mas o substrato de sua explicação sobre o avanço da
renda média do brasileiro e o crescimento insuficiente dos serviços parece ser
o enigma a ser decifrado pela campanha de reeleição da presidente.
Para
vencer, Dilma terá de descobrir uma fórmula que convença os eleitores de que
ela está habilitada para continuar a aumentar a renda das pessoas com a
promessa de melhorar serviços lá para 2016 ou 2017. Não é uma tarefa fácil. Só
que a interpretação do problema parece estar bem clara na cabeça da presidente.