quarta-feira, 8 de outubro de 2014


8 de outubro de 2014 | N° 17946
ARTIGO - JORGE BARCELLOS*

O RETORNO AO CONSERVADORISMO

Passado o primeiro turno das eleições, a questão é saber se o campo político no Rio Grande do Sul vive um novo momento de conservadorismo. A perda de espaço de políticos progressistas, a manutenção de nomes já presentes na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa, tudo, enfim, parece apontar que os gaúchos votaram com a crença desesperada de que o regresso ao status quo anterior é a salvação para quem vê a desordem no presente. Quer dizer, entre o pensamento revolucionário e o pensamento antirrevolucionário, os gaúchos fizeram uma opção. E pelo segundo.

O que isso quer dizer? Primeiro, que os gaúchos preferem um “espírito moderado” a uma suposta “reação intolerante”. Arrisco afirmar que talvez esta seja uma consequência não prevista e indesejada dos movimentos de junho, a de acirrarem na sociedade a visão de que as inovações da esquerda são destrutivas e a opção por aqueles que defendem a “moderação”, uma alternativa. Nada mais equivocado.

Segundo, o grande risco para a esquerda é que este novo “espírito do tempo” não volte mais atrás. Quer dizer, entre os defensores de que o estado de perfeição encontra-se no passado e aqueles que acham que ele se encontra no futuro, venceu o pensamento que condena toda e qualquer utopia revolucionária. Isso é um problema. Mas é verdade também que não se trata de um bloco ideológico uniforme.

Na sua versão mais extrema temos defensores homofóbicos do agronegócio reeleitos, mas a verdade é que muitas cadeiras ainda são ocupadas por integrantes de esquerda que conseguiram manter sua vaga, impedindo novos nomes de assumir o seu lugar. Nada indica que esta seja uma tendência somente do Rio Grande do Sul: as eleições de Celso Russomano e Collor de Melo mostram que o conservadorismo está de vento em popa de norte a sul do país.

Em política, devemos olhar para o passado? É claro que sim, mas abrir mão de uma proposta de futuro só constitui o conservadorismo como ideologia reativa. A vida, como tudo, também precisa de utopia. Nesta eleição, a direita conquista mais poder, mas a grande questão ainda continua sendo a formulada por Oakeshott: “Mas por que motivo devemos ser governados por eles?”.


*DOUTOR EM EDUCAÇÃO PELA UFRGS