sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Jaime Cimenti

O crônico presente efêmero e a saudade do futuro

Decididamente, nunca passamos por tantas mudanças com tanta rapidez em tão pouco tempo. Vivemos num eterno presente, num efêmero crônico, por vezes com saudades do que não foi e saudades do futuro que ainda não veio. Isso disse o Alvin Toffler, no velho passado de 1972, por aí, no clássico livro O choque do futuro. O futuro já está velho, nem estamos mais chocados. O passado, o presente e o futuro são imprevisíveis, tipo assim nossas eleições de 2014.

E o que será que o Sigmund Freud, que tentou explicar os humanos e que passou dos porões do inconsciente para o andar de cima em 1939, diria sobre nossas crianças hightech? Pouco antes de morrer, o pai da psicanálise se perguntou o que, afinal, queriam as mulheres - para ele, um “continente desconhecido”. Querem tudo, doutor. Querem o falo, o próximo desejo, a próxima pergunta e querem querer e questionar sempre, o que eu acho ótimo.

Essa gurizada de hoje, que parece já nascer com iPhone e tablet nas mãos e que parece já “ficar” com os companheirinhos de berçário logo que saem rápido das barrigas das mamães, decididamente não vai ter saudade da infância querida, da aurora da vida e nem ver o avental da mãe sujo de ovo. Os maiores, com seus videogames e outros aparatos, vão ter outras saudades.

O que desejo para a piazada de hoje é que não perca o contato real com a família e com os amigos e que desligue, ao menos por uns minutos, o celular quanto estiver com os outros. Dialoguem real, andem de bicicleta, curtam a simplicidade sofisticada da natureza, o rústico chique das estações do ano e não abram mão da fantasia e da inteligência que só a leitura silenciosa de um livro impresso pode inspirar.

Sei, isso é meio conversa de tiozão velho, mas vou dizer a vocês que quando eu terminar de crescer - se isto ocorrer - o meu plano é ser um menino, como me ensinou o Fernando Sabino, que uns chamavam de Fernando Bambino ou Fernando Sabido. Ele sabia tudo, mesmo. Baita guri.

No quarto do Frank Sinatra, The voice, o maior cantor do século XX, tinha um quadrinho com as palavras: morre mais feliz quem morre com mais brinquedos. É isso. Boa infância para vocês, crianças, curtam legal, se preparem para o futuro que já chegou. Brinquem a sério, levem a sério a brincadeira.

Os meninos e as meninas são os pais dos futuros adultos. Os sonhos de infância são os tesouros mais sagrados. Não abram mão. Há que amadurecer e até endurecer, é da vida, mas sem jamais perder o olhar terno e esperançoso da infância, o continente sagrado, o jardim das flores eternas.

Jaime Cimenti