sábado, 1 de novembro de 2014


01 de novembro de 2014 | N° 17970
NÍLSON SOUZA

O BICHO-PAPÃO DE GABRIEL

Em entrevista recente ao repórter Marcos Losekann, da Rede Globo, a presidente Dilma Rousseff relatou um episódio emblemático com seu neto no Palácio da Alvorada. Toda vez que o menino Gabriel, de quatro anos, tenta mexer em algum objeto da área oficial, a vó adverte:

– Não mexe aí, que isso é do povo brasileiro!

Conta ela que usa tantas vezes o mesmo argumento, que o garoto já tem medo desse tal “povo brasileiro”, provavelmente supondo que se trate de algum bicho-papão. Não é, mas é bom que Gabriel adquira respeito por essa entidade coletiva tão negligenciada pelos governantes e homens públicos em nosso país. Aliás, bem que a presidente podia aplicar o mesmo corretivo nos seus ministros e diretores de estatais que, com indesejável frequência, caem na tentação de mexer no que não é deles. Já na posse do nomeado, o recado podia ser o mesmo:

– Assume, mas não mexe aí, que isso é do povo brasileiro!

Também seria oportuno estender a advertência a companheiros de governo e a segmentos radicais de seu partido que não aceitam críticas e vivem envolvidos em articulações para controlar e censurar a imprensa. Para esses, o recado pode ser mais abrangente:

– Não mexe aí, que essa liberdade é do povo brasileiro!

Mais ainda: com a legitimidade concedida pela maioria do eleitorado para um segundo mandato, a presidente tem autoridade suficiente para sugerir aos integrantes de outros poderes que se valem da autonomia orçamentária para desviar recursos para os próprios bolsos:

– Por favor, não mexe aí, que esse dinheiro é do povo brasileiro.

Por fim, a presidente podia aproveitar o seu projeto de reforma política, seja por via congressual ou com plebiscito e Constituinte exclusiva, para incluir na Carta Maior do país um artigo inspirado no seu neto:

– É proibido apropriar-se do patrimônio do povo brasileiro. Revogam-se as disposições em contrário.


Gabriel, quando entender tudo isso, vai ficar orgulhoso da avó.